Saturday, April 10, 2010

PARA UMA SOCIEDADE DIFERENTE (melhor)

Por que é que o ser humano não tem sido capaz de mudar (ser bom)? Só muda (melhora) um pouco num ou noutro aspecto, e no entanto deseja que haja uma sociedade boa. Deseja ordem, não apenas em si mesmo, nas suas relações, íntimas ou outras, mas deseja também paz no mundo; deseja que o deixem viver em plenitude, ter alguma espécie de felicidade.
Ao longo da história, se repararmos, tem sido isso o que a humanidade tem procurado, desde os tempos antigos. E, contudo, quanto mais o homem se torna civilizado, mais cria desordem, mais guerras existem. Não tem havido na terra nenhum período em que não tenha havido guerras – os homens matando-se uns aos outros, uma religião (ou pessoa) reprimindo (ou pressionando) outra, instituições e organizações dominando e destruindo outras.
Conscientes desta luta constante, será que não perguntamos se é possível neste mundo, sem fugirmos dele, sem nos refugiarmos numa comunidade ou nos tornarmos eremitas ou monges, mas viver neste mundo de modo equilibrado, feliz, inteligente, sem toda esta batalha dentro e fora de nós? Se fazemos esta pergunta – e espero que a estejamos a fazer agora, porque estamos a refletir juntos – então temos de fazer o possível para que haja uma sociedade boa.
Criar uma sociedade boa foi o sonho dos antigos hindus, dos antigos gregos e epípcios. E uma sociedade boa só pode existir quando os seres humanos forem bondosos, porque sendo bondosos criam bondade nas suas relações, nas suas actividades, na sua maneira de viver.
O bem também significa beleza, também significa o que é sagrado (imensurável, inominável, verdadeiro, autêntico, sem contradição alguma, vivo…); está relacionado com Deus, com os mais elevados princípios. Esta palavra bem precisa de ser claramente compreendida. Quando há bondade em nós, então o que quer que façamos será bom, o nosso relacionamento, as nossas ações, a nossa maneira de pensar. Pode-se captar instantaneamente todo o significado dessa palavra, a sua extraordinária qualidade. Vamos refletir junto sobre tudo isto muito atentamente, porque se o examinarmos com muita profundidade, isso afeta a nossa consciência, afectará a nossa maneira de pensar, a nossa maneira de viver. Assim, demos atenção à compreensão desta palavra.
A palavra não é a realidade: posso descrever uma montanha de modo muito belo, ou escrever um poema sobre ela, mas a palavra, a descrição, o poema não é o real. Geralmente, porém, somos afastados emocionalmente e emocionalmente, da realidade, pela descrição, pela palavra.
A bondade não é o oposto do mal, porque não tem nenhuma relação com ele, tal como não tem com o que é feio, com o que não é belo. A bondade existe por si mesma. Se dissermos que o bem pode vir do mal, do feio, então o bem teria em si o mau, o feio, o brutal; portanto, o bem tem de estar, e está, totalmente separado daquilo que não é bem. ( Por vezes gostava muito de poder dialogar com Krish, mas, se calhar dialogo. Grande amigo: mas, no caso das fezes, não só fisiológicas, como mentais, psicológicas, espirituais, sociológicas, tecnológicas... algo que em dado momento não é bom e cheira mal e está separado do bem – benditos separadores e também os misturadores! - depois de tratadas naturalmente ou pelo homem, passam a sê-lo…)
O bem não pode existir quando há a aceitação de qualquer autoridade psicológica. A autoridade é algo muito complexo. Há a autoridade da lei que o homem tem criado através dos séculos. Há a lei da natureza. Há a lei da nossa experiência a que…"

In: Pág. 25 e 26 de: “MEDITAÇÃO a luz dento de nós”, de J. Krishnamurti, da Dinalivro, Lisboa - 2004

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