De acordo com a verdade absoluta… sem ilusão alguma.
“Como proceder para descobrir se existe ou não a verdade absoluta, que é completa, que não muda jamais por conta das opiniões pessoais (verdades relativas)? (E para viver de acordo com ela?)… estamos questionando algo que requer… uma fuga (pela compreensão) do que é falso.
Se a pessoa tem uma ilusão, uma fantasia, uma imagem, um conceito romântico da verdade ou do amor, então essa é a barreira que a impede de seguir em frente…. O que é a ilusão? Como surge? Qual a sua raiz? Não significará isso…algo que não é verdadeiro?
O verdadeiro é o que está acontecendo., seja aquilo que se pode chamar de bom, de mau ou de indiferente… Quando a pessoa é incapaz de encarar o que se está passando nela mesma (à sua volta é a consequência…), ela cria ilusões para escapar disso. Se a pessoa não quer ou tem medo de enfrentar o que está acontecendo (pedindo ajuda, por exemplo, se for caso disso) essa mesma fuga cria a ilusão, a fantasia, o movimento romântico, longe do que existe (o real). A palavra ilusão implica mover-se para longe do que existe (do real, com as devidas consequências).
A pessoa pode evitar esse movimento, essa fuga do que é verdadeiro? O que é o verdadeiro? O verdadeiro é o que está acontecendo, inclusive as respostas, as ideias, as crenças e opiniões que a pessoa tem. Encará-las é não criar ilusão.
As ilusões só podem acontecer quando existe um movimento que nos afasta do fato, daquilo que está ocorrendo, daquilo que é verdadeiro. Ao compreender “o que existe”, quem julga não é mais a opinião pessoal, mas a observação verdadeira. É impossível observar o que está acontecendo se a crença ou o condicionamento qualifica a observação; isso seria evitar a compreensão “daquilo que existe” (ocorre).
Se a pessoa olhasse para o que está acontecendo, evitaria toda a forma de ilusão. Alguém pode fazer isso? Pode observar verdadeiramente a própria dependência, seja ela de uma pessoa, de uma crença, de um ideal ou de alguma experiência que lhe provocou uma grande dose de excitação (dor, prazer)? A dependência, inevitavelmente, cria a ilusão.
Sendo assim, a mente que não vive a criar ilusões, que não formula hipóteses, que não tem alucinações, que não quer aferrar-se a uma experiência do que é chamado de verdade, agora trouxe ordem para si mesma. Ela está em ordem. Não existe mais a confusão produzida por ilusões, delírios, alucinações; a mente perdeu capacidade de criar ilusões. Então o que é a verdade? A astrofísica, os cientistas estão usando o pensamento para investigar o mundo material em volta deles, eles estão indo além da física, mas sempre movendo-se para fora. Mas, se nos voltarmos para dentro de nós mesmos, perceberemos que o “eu” também é matéria (energia, algo indestrutível, que morre e revive, e morre e revive…, …). E o pensamento é matéria (energia que pode fazer muito bem , assim assim ou muito mal…). Se a pessoa puder rumar para dentro de si (e para fora…), ela passará a descobrir aquilo que está para além da matéria (o espírito). Então, se a pessoa prosseguir assim, existirá o que se chama a verdade absoluta.”
Págs. 126 e 127 de: “Sobre a Verdade” (On Truth), de Krishnamurti, da Editora Cultrix, São Paulo, 2000
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