MEDITAÇÃO
“Estamos interessados na totalidade da vida, não apenas numa parte dela, dando atenção a tudo o que fazemos, ao que pensamos, ao que sentimos, a como procedemos. Estamos em relação com a totalidade da vida, portanto, não podemos tomar apenas um fragmento dela que é o pensamento, e através dele procurar resolver todos os nossos problemas. O pensamento pode atribuir a si próprio autoridade para juntar todos os outros fragmentos, mas é o pensamento que cria fragmentação.
Estamos condicionados para pensar em termos de progresso, de um aperfeiçoamento gradual. As pessoas acreditam na «evolução psicológica», mas será que o «eu» consegue realizar, psicologicamente, alguma outra coisa que não seja uma projeção do pensamento?
Para descobrir se há algo que não seja projectado pelo pensamento, que não seja uma ilusão, um mito, temos de investigar se o pensamento pode ser controlado, se pode ser reprimido, para que a mente esteja completamente serena.
Controle implica a existência de controlador e controlado, não é assim? Mas quem é o controlador? Não é ele também criado pelo pensamento, não é ele uma parte do pensamento que assume a autoridade como «controlador»? Se vemos a verdade disto, então o «controlador» é o controlado, o experienciador é o experienciado, o pensador é o pensamento. Não são entidades separadas. Se compreendemos isto, então não há qualquer necessidade de controlar. Se não há controlador porque o controlador é o controlado, então o que acontece? Quando há uma divisão entre o controlador e o controlado, há conflito, há um desperdício da energia.
Mas quando vemos que o controlador é o controlado não há dissipação de energia. Há então a acumulação de toda essa energia que é dissipada na repressão, na resistência produzida pela divisão em controlador e controlado. Quando não há divisão, tem-se toda a energia necessária para ultrapassar aquilo que se pensava que precisava de ser controlado.
É preciso compreender claramente que na meditação não há que controlar nem disciplinar o pensamento, porque aquele que disciplina, que controla o pensamento é um fragmento do próprio pensamento. Se vemos a verdade disso, então temos toda a energia que é dissipada através da comparação, do controle, da repressão, (imaginemos, somos capazes?, então a energia ao nosso dispor, para viagens não só interplanetárias como intergaláticas, para curas, para… com o fim de todas as comparações, controles, e repressões, não só das psicológicas!), para podermos ultrapassar a agitação causada pelo pensamento. (Que absurdo, não é, o desperdício de carradas e carradas, infinitas carradas de tanto pensamento e de tanta acção !! E, uma ignorância do tamanho do mundo! –: “Aquietemo-nos, sosseguemos, e, saibamos que Deus é Deus”!!!)
Assim, perguntamos se a mente pode estar em completa quietude, porque aquilo que está sereno tem grande energia, uma energia imensa.
Poderá a mente – que está sempre a tagarelar interiormente, sempre em movimento (e a fugir da verdadeira inteligência!); com o pensamento sempre a olhar para o que já passou, sempre a lembrar e a acumular conhecimentos, em constante alteração – ficar completamente serena (inteligente)? Já teremos tentado alguma vez descobrir se o pensamento pode ficar quieto? Como é que vamos descobrir como dar origem a esta quietação (infinitamente poderosa) do pensamento? Porque pensamento é tempo (e espaço) e tempo (e espaço) é (são) movimento, é (são) medida, o que significa compararar.
… Podemos deixar completamente de comparar… na vida diária (a cada momento)?... Quando essa comparação cessa, como é preciso que cesse, seremos então capazes de ficar inteiramente sós, sem sermos influenciados, e termos completa lucidez? É isso o que acontece quando não nos comparamos com outros – o que não significa que fiquemos a «vegetar»… Portanto, seremos nós capazes, no dia-a-dia, (momento a momento, segundo a segundo…) de viver sem nos COMPARARMOS com alguém (ninguém)? Façamos isso uma (duas, três, quatro…) vezes e descobriremos o que isso traz consigo: libertamo-nos então de um fardo tremendo; e quando nos libertamos de um fardo (completamente) desnecessário, temos uma (incrível) ENERGIA!!!!
In: Pág. 20 a 22 de: “MEDITAÇÃO a luz dento de nós”, de J. Krishnamurti, da Dinalivro, Lisboa - 2004
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment