MEDITAÇÃO, por Krishnamurti
“Numa tentativa de se evadir dos seus conflitos, o homem tem inventado diversas formas de meditação, porém todas elas se baseiam quer em desejo, na vontade ou na ânsia para obter algo, o que implica conflito e o emprego do esforço a fim de alcançar determinados resultados. Esta luta consciente e deliberada sempre se circunscreve nos limites de uma mente condicionada, que não possui liberdade. Todo o esforço empregue na meditação constitui a sua própria negação. A meditação consiste no término da ação do pensamento; só então pode chegar a existir toda uma dimensão intemporal.”
Tradução de A Duarte 2002
MEDITAÇÃO
Toda a meditação que envolve esforço deixa de ser meditação. Não se trata de nenhum acto de realização nem algo que deva ser praticado diariamente (mas sim a todo o momento) de acordo com um sistema ou método qualquer, para obtermos um fim almejado. Ao contrário, toda a imaginação e medida devem cessar. A meditação não é um fim em si mesma.
No entanto, aquele que medita deve deixar de existir (sem atentar contra a vida) para que a meditação possa ocorrer.
A meditação não é uma experiência nem lembrança erguida em torno de um dado prazer futuro. Aquele que experimenta move-se sempre dentro dos limites das suas próprias projecções de tempo e pensamento. Uma vez inserida nos limites do pensamento, a liberdade não passará de uma ideia e uma fórmula. O pensador jamais poderá alcançar o movimento da meditação.
A meditação diz sempre respeito ao presente enquanto que o pensamento pertence sempre ao passado. Toda a consciência é pensamento, porém, o estado de meditação não ocorre dentro das suas fronteiras. A meditação consciente é somente o ato de redefinir ainda mais esses limites, destruindo assim a liberdade.
Mas somente em liberdade poderá haver meditação.
Se não meditardes sereis sempre um escravo do tempo, cuja sombra é a dor. O tempo é sofrimento.
A meditação não é via para experiências únicas nem excepcionais. Essas experiências conduzem ao isolamento e aos processos autoencarceradores da memória, e estão sujeitos ao tempo, o que constitui a negação da liberdade.
O vale mais parecia um campo de flores… Lá estavam tão ricas e tão belas quanto o próprio vale; todavia, tanto a abundância da natureza como o homem estão destinados a morrer e a surgir de novo.
A abundância da meditação não é reunida pelo pensamento nem pelo prazer que o pensamento gera, mas acha-se para além da flor e da nuvem. A partir disso a abundância torna-se tão imensurável quanto a flor e a beleza…
Sem amor não pode existir silêncio. Para o poderdes compreender permanecei imóveis.
A mente meditativa é aquela que se encontra em silêncio. Não se trata do silêncio de um entardecer calmo, mas o silêncio que sobrevém quando o pensamento com todas as suas imagens, palavras e percepções cessa completamente Essa mente meditativa é a mente religiosa (que religa), a mente da religião que não é tocada pela igreja, pelos templos nem pelos cantos. A mente RELIGIOSA é a explosão (profusão) do amor; esse amor não comporta qualquer separação. Para essa mente, longe é perto.
Não é “um” nem “muitos” mas sim esse estado de amor em que toda a divisão cessa. Da mesma forma que a beleza, não cabe na avaliação das palavras. Só a partir deste silêncio é que a mente meditativa pode atuar.
Meditar é tornar-se vulnerável. Essa vulnerabilidade não tem passado nem futuro- ontem ou amanhã. Somente o que é novo (ó bendito o novo que é amado, não destruído! Benditos nossos pais!) pode ser vulnerável.
A meditação é uma das maiores artes na vida, talvez mesmo a maior, mas provavelmente não pode ser ensinada. Nisso reside toda a sua beleza. Não possui técnica alguma nem autoridade alguma…”
”
Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o
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