Friday, April 30, 2010

“A meditação é a compreensão da consciência – a oculta e a exposta, bem como a compreensão do movimento que reside para além de todo o pensamento e sentimento.
Nós dificilmente escutamos o latido de um cão, o choro de uma criança ou sequer o riso do homem que passa. Separamo-nos de tudo e nesse isolamento observamos e escutamos todas as coisas. Tal separação é destrutiva por conter em si todo o conflito e confusão.
Se escutardes o som daqueles sinos com um silêncio completo, viajareis através dele, ou melhor, o som transportar-vos-á pelo vale e para além da colina. A beleza disso só pode ser sentida quando nós e o som não estamos separados, mas fazemos parte dele. Meditação é o fim dessa separação sem ser pelo ato da vontade nem do desejo; a meditação não é uma coisa separada da vida, mas a própria essência da vida, do viver diário. Escutar aqueles sinos ou o riso daquele camponês que passa com a sua mulher, escutar o som da campainha da bicicleta da menina que passa – isso é toda a vida que a meditação expõe e não somente um fragmento dela.” - K

Thursday, April 29, 2010

“ Se tomarmos uma atitude deliberada fim de meditarmos, isso torna-se num brinquedo da mente. Se nos determinarmos a pôr fim à confusão e à tristeza da vida, isso torna-se uma experiência da imaginação, mas não é meditação. Tanto a mente consciente como a inconsciente não devem tomar parte no seu processo; não devemos nem mesmo ter noção da extensão da beleza da meditação, porque se tivermos, bem que podemos ir ver uma novela romântica, que tem o mesmo valor.
Na atenção total da meditação não há lugar para o saber, para o reconhecimento nem para a lembrança do que ocorreu. Tanto o tempo como o pensamento terão terminado completamente, porque isso forma o centro que delimita a sua própria percepção. Num momento de clareza o pensamento desvanece-se, mas o esforço consciente para o experimentar – e a sua lembrança – consiste na palavra do que foi. A palavra nunca é o facto (em Portugal, fato é terno). Nesse momento, que não pertence ao tempo, o fim é imediato, mas esse fim não tem símbolo, e não pertence a nenhuma pessoa, a nenhum deus.
Meditar é descobrir a existência de um campo não contaminado pelo conhecido.
Meditação é o desabrochar da compreensão; esta não se situa nos limites do tempo, porque o tempo jamais traz entendimento. A compreensão não é um processo gradual de reunir pouco a pouco, através da paciência e do cuidado. A compreensão é agora ou nunca; é um clarão destrutivo (e construtivo) e não uma coisa insípida. Tememos esse despedaçar (ou re-ligar, donde vem religião verdadeira) e por isso, consciente ou inconscientemente tratamos de o evitar (ou não).
A compreensão pode alterar todo o curso da nossa vida, o modo de pensarmos e agirmos. Pode ser agradável ou não, porém, constitui um perigo (ou\e uma extraordinária bênção) para todo o relacionamento. Mas, sem compreensão, o sofrimento (do prazer), só se prolonga; o sofrimento termina unicamente por intermédio do auto-conhecimento – o conhecimento de todo o pensamento e sentimento, todo o movimento do consciente e daquilo que permanece oculto.” - Krish
"Não há qualquer liberdade se estamos buscando um fim, porque estamos amarrados a esse fim. Podemos estar libertos do passado mas o futuro segura-nos, e isso não é liberdade."
Meditar não pode ser um escape (K.), mas, que é uma enorme "arma" para quem medita vivendo, trabalhando, não se isolando do mundo, é.
"Meditar é ser-se inocente em relação ao tempo. A meditação não é um escapar do mundo, nem uma atividade fechada sobre si mesma, isoladora, mas consiste na compreensão do mundo e das suas expressões. O mundo possui muito pouco a oferecer aparte a alimentação, roupas e abrigo – e o prazer com os seus enormes tormentos. Meditar é vaguear para longe deste mundo; temos de ser completamente estranhos a ele, porque então o mundo adquire significado e a beleza dos céus e da terra torna-se uma constância. Então o amor deixa de ser prazer; daí provém toda a ação que não consiste num produto da tensão, nem da contradição, nem da busca do auto-preenchimento nem do conceito de poder." - K
Sem liberdade, total liberdade, interior e exterior, não há descoberta nem criação alguma de jeito. Pelo que, em Portugal e no mundo, deve ter havido muito mais liberdade nos idos anos de 500, do que há hoje!!!

Tuesday, April 27, 2010

Impor, que estupidez!
Inteligente não impõe
nem a coisa melhor do mundo,
e não foge, mas não fica com a merda
nos intestinos,nem a mais perfumada!!
Se o universo está em expansão, e deve estar,
é porque demasiados ainda se expandem
mais do que se contraem, assim se matando.
Toda a substituição, toda, é ignorância, estupidez.
Substituição é suborno, mas inteligência é compreensão
dos problemas, nos seus diversos níveis, logo assim
que eles acontecem.Quando há compreensão,
que é a verdadeira inteligência, os(as) imbecis
e tudo o que é imbecil desaparecem.
E, a VERDADE e a JUSTIÇA, seja do que quer
que for, jamais dependem de opiniões!
SOBRE A CRISE ATUAL

Pergunta: o senhor afrima que não houve no passado nada parecido com a crise actual. De que maneira é esta crise excepional?
Krish.: é óbvio que a crise que atinge presentemente o mundo é excecional, não tem precedentes. Tem havido crises de vários tipos em diferentes períodos da história, crises sociais, nacionais, políticas. As crises vão e vêm; surgem recessões económicas, depressões, que são modificadas, tendo depois continuidade sob diferente forma. Isto sabemos; este processo é-nos familiar. Certamente que a crise actual é diferente, não é? É diferente porque estamos a lidar, não (só) com dinheiro e bens materiais, mas com ideação. A crise é excecional porque se passa dentro do campo do idealismo. Estamos em luta suportando-nos em ideias, e assim justificamos o assassínio; por toda a parte estamos(estão) a justificar a morte do outro como um meio para se atingir um fim "correto", o que, em si mesmo, não tem qualquer precedente. No passado, o mal era reconhecido como mal, o homicídio como sendo apenas um homicídio, mas agora o matar alguém serve como um meio para se atingir um resultado nobre . O assassínio, seja praticado por um indivíduo, ou por um grupo de pessoas, é aceite porque o(s) criminoso(s) justificam-no como um meio de se conseguir um resultado que será benéfico para a humanidade (isto não é novo, só o número(humanidade) é maior)...

Sunday, April 25, 2010

“Sem meditação não existe auto-conhecimento, e sem isto não há meditação; deste modo temos de começar por saber o que somos (este saber é sem fim). Não podemos ir longe se não começarmos perto, compreendendo o processo diário do pensamento, do sentimento e da ação. Por outras palavras, o pensamento deve entender o seu funcionamento; devemos poder perceber como o pensamento funciona dentro dentro do campo do conhecido. Não podemos pensar com respeito ao desconhecido.
Aquilo que conhecemos não é real porque o objeto do conhecimento só existe no tempo (ou, é pouqíssimo real, pois, o Real, Deus, ou que quisermos é Intemporal, Ilimitado, Todo Poderoso, BOM…).
Ficarmos livres da rede do pensamento é a preocupção mais importante e não o pensar acerca do Desconhecido (o que, já vimos, não faz sentido). A mente é o resultado do processo do pensamento, resultante do tempo, e o processo do pensamento tem de findar (e, claro, com o fim do pensamento, o finito se vai; passamos ao Não Temporal, ao Eterno… JÁ, AQUI!). A mente que normalmente conhecemos não pode pensar no que é eterno e sem tempo; portanto, as nossas mentes têm de se livrar do tempo, os processos temporais da mente têm de ser dissolvidos. Só quando a mente fica completamente liberta do ontem e deixa de usar o presente como meio de alcançar o futuro fica (é) capaz de receber/tocar/experimentar o Eterno.
Portanto, o nosso interesse na meditação reside no conhecimento de nós próprios, não só superficialmente como todo o conteúdo da consciência oculta igualmente, a consciência interior.
Sem conhecimento de tudo isso e sem libertação do seu condicionamento provavelmente não podemos ultrapassar os limites da mente. É por isso que o processo do pensamento tem de cessar, e para tal tem de haver auto-conhecimento. A meditação é o começo da sabedoria; a compreensão da nossa mente e do nosso coração.” K e j
ENERGIA CRIADORA E REALIZAÇÃO

APERCEBERMO-NOS de que é necessária uma mudança radical na sociedade, nas nossas relações individuais e de grupo; como é que pode ser realizada?
Se a nossa mudança for feita através da conformidade com um padrão projetado pela mente, através de um plano racional e bem estudado, então ela está ainda dentro do campo da mente, e portanto o que a mente calcular torna-se o fim, a visão, pela qual estamos dispostos a sacrificar-nos a nós próprios e a outros.
Se defendemos isso, então segue-se que nós, como seres humanos, somos mera criação da mente (e da Mente?), o que implica conformismo, compulsão, brutalidade, ditaduras, campos de concentração – tudo isso. Quando endeusamos a mente, tudo isso está implicado, não é assim? Se compreendo isto, se percebo a futilidade da disciplina, do controlo, se reconheço que as várias formas de repressão apenas fortalecem o «eu» e o «meu», então, que devo fazer?
Para considerar este problema de maneira completa, temos de investigar a questão de o que é a consciência. Pergunto-me se já refletistes sobre vós mesmos ou se citais meramente o que as autoridades têm dito sobre a consciência? Não sei se compreendestes, a partir da vossa própria experiência, do estudo de vós mesmos, o que esta experiência implica – não só a consciência da atividade diária e dos seus objectivos, mas a consciência escondida, mais profunda, mais rica e muito mais difícil de atingir. Se queremos examinar esta questão de uma mudança fundamental em nós, e portanto no mundo, e nesta mudança despertar uma certa visão, um entusiasmo, um zelo, uma fé, uma esperança, uma certeza que nos dê o necessário ímpeto para a ação – se queremos compreender esta problema não será necessário investigar esta questão da consciência?
Podemos observar o que queremos dizer por consciência no nível superficial da mente. Ela é, sem dúvida, o processo pensante, o pensamento. O pensamento é o resultado da memória, a verbalização; é dar nome, registar e armazenar certas experiências, de modo a ser capaz de comunicar. Neste nível há também certas inibições, controlos, sanções, disciplinas. Tudo isso nos é bastante familiar. Quando vamos um pouco mais fundo, existem todas as acumulações da raça, os motivos ocultos, as ambições, do contato e do desejo. Esta consciência total, a oculta e a patente, está centrada à volta da ideia do «eu».
Quando investigamos como provocar uma mudança, queremos geralmente dizer ao nível superficial, não é assim? Através da determinação
-- , de conclusões, de crenças, de controlos, de inibições, lutamos para alcançar um fim superficial que desejamos, pelo qual ansiamos, e esperamos chegar lá com a ajuda do inconsciente, dos níveis mais profundos da mente; portanto pensamos que é necessário explorar as profundezas de nós mesmos. Mas existe um conflito permanente entre os níveis superficiais e os chamados níveis mais profundos – todos os psicólogos que têm cultivado o autoconhecimento estão completamente conscientes disto.
Será que este conflito interior produzirá uma mudança? Não será esta a mais fundamental e importante questão da nossa vida diária?: como provocar uma mudança radical em nós mesmos? Será que a mera alteração ao nível superficial a produz? Será que a compreensão das diferentes camadas da consciência, do «eu», a exploração do passado, das várias experiências da infância até agora, examinar em mim mesmo as experiências coletivas do meu pai, da minha mãe, dos meus antepassados, da minha raça, o condicionamento da sociedade particular em que vivo – será que a análise de tudo isso produz uma mudança que não seja um mero ajustamento?
Sinto, e certamente que vós também sentis, que é essencial uma mudança fundamental na vida de cada um – uma mudança que não seja uma simples reação, que não seja o resultado do stress e da pressão das exigências ambientais.
Como podemos provocar uma tal mudança? A minha consciência é a soma total da experiência humana, mais o meu contacto particular com o presente; pode isso criar uma mudança? Será que o estado da minha própria consciência, das minhas atividades, a percepção dos meus pensamentos e sentimentos, o aquietar da mente para observar sem condenação, pode esse processo provocar uma mudança? Será que pode haver mudança por meio da crença, pela identificação com uma imagem projetada, chamada o ideal? Será que tudo isso não implica um certo conflito entre o que sou e o que deveria ser? Será que o conflito provoca uma mudança fundamental? Estou numa batalha constante dentro de mim e com a sociedade, não estou? Há um conflito interminável entre o que sou e o que desejo ser. Poderá este conflito, esta luta provocar uma mudança? Percebo que é essencial uma mudança; será que a posso provocar examinando todo o processo da minha consciência, lutando, disciplinando, praticando várias formas de repressão? Sinto que tal processo não pode provocar uma mudança radical. Disso devemos estar completamente certos. E se esse processo não pode provocar uma mudança fundamental, uma profunda transformação interior, então o que a provocará?
Como se pode produzir a verdadeira revolução? Qual é o poder, a energia criadora que provoca essa revolução e como libertar essa energia? Já experimentastes disciplinas, vários ideias e várias teorias especulativas: que sois Deus, e que se puderdes realizar o estado de divindade ou experienciar Atman, o Supremo, ou como quiserdes chamar-lhe, então essa mesma realização produz uma mudança fundamental. Produzirá? Primeiro postulais que existe uma Realidade da qual fazeis parte e construís à volta dela várias teorias e especulações, crenças, doutrinas, suposições, e viveis de acordo com elas; pensando e agindo de acordo com esse padrão, esperais provocar uma mudança fundamental. Provocareis?
Suponhamos que admitis, como a maioria das chamadas pessoas religiosas, que existe em vós fundamentalmente, profundamente, a essência da Realidade e que, se através do cultivar da virtude, de várias formas de disciplina, controlo, repressão, renúncia, sacrifício pudermos entrar em contato com esta Realidade, então a requerida transformação acontece. Esta suposição não faz ainda parte do pensamento? Não será ela resultado de uma mente condicionada, uma mente que tem sido educada para pensar de uma certa maneira, de acordo com determinados padrões? Tendo criado a imagem, a ideia, a teoria, a crença, a esperança contamos com estas coisas, por nós criadas, para provocar este mudança radical.
Devemos, antes de mais, aperceber-nos das atividades subtis do eu, da mente; temos de dar-nos conta das ideias, crenças, especulações, e pô-las de lado, porque são de fato ilusões, não é assim? Outros podem talvez ter experimentado a realidade (absolutamente boa), mas se nós não a experienciamos, qual a vantagem de especular sobre isso ou de imaginar que somos, na essência, algo real, imortal, divino? Isso está ainda no campo do pensamento e tudo o que nasce do pensamento é condicionado,
… é produto do tempo e da memória; portanto, não é real.
Se realmente compreendermos isto – não especulativamente, não imaginária ou insensatamente, mas se virmos a verdade de que a atividade da mente na sua pesquisa, no seu tatear filosófico, toda a suposição, toda a imaginação, ou esperança é apenas auto-ilusão – então qual é o poder, a energia criadora que produz toda esta transformação fundamental?
Talvez até aqui tenhamos usado a mente consciente; tenhamos seguido a argumentação, ou opondo-nos a ela ou aceitando-a, tenhamos compreendido claramente ou só vagamente. Ir mais adiante e experienciar mais profundamente requer uma mente silenciosa e desperta para descobrir, não é assim? Não se trata mais de ir atrás de ideias porque, se vamos atrás de uma ideia, há o pensador a seguir o que está a ser dito, e assim criamos imediatamente dualidade. Se queremos penetrar mais profundamente nesta matéria da transformação fundamental, não será necessário que a mente ativa esteja quieta? Seguramente, só quando a mente está silenciosa é possível compreender a enorme dificuldade, as complexas implicações do pensador e do pensamento como dois processos separados (mas que passam a uno), do experienciador e do experienciado, do observador e do observado.
A revolução, esta revolução psicológica e criativa na qual o eu não está presente ( ou está, mas no devido lugar), só vem quando o pensador e o pensamento são um só, quando não há dualidade (no fim de contas até as fezes fazem parte de nós…), tal como o pensador a controlar o pensamento; e sugiro que só esta experiência liberta a energia criadora que por seu turno faz acontecer uma revolução fundamental, a quebra completa do eu psicológico (monstruoso).
-- Conhecemos o caminho do poder – poder pelo domínio, pela disciplina, poder através da compulsão. Através do poder político (este e algum religioso ainda enganam) esperamos mudar fundamentalmente; mas tal poder apenas cria mais escuridão, desintegração, mal, fortalecimento do eu. São-nos bem familiares as várias formas de aquisição, quer individualmente quer como grupo. Mas nunca tentamos o caminho do Amor e nem mesmo sabemos o que ele significa. O amor não é possível enquanto existir o pensador, o centro do eu. Compreendendo tudo isto, o que temos de fazer?
Sem dúvida, a única coisa que pode produzir uma mudança fundamental, uma libertação psicológica criadora é a vigilância quotidiana, darmo-nos conta, momento a momento, dos nossos motivos, tanto os conscientes como os inconscientes. Quando compreendemos que disciplinas, crenças, ideias apenas dão força ao eu e são por isso totalmente fúteis – apercebendo-nos disso, dia após dia, vendo a verdade disso, não chegamos nós ao ponto central, onde o pensador se está constantemente a separar do seu pensamento, das suas observações, das suas experiências? Enquanto o pensador estiver separado do seu pensamento, por o estar a tentar dominar, não pode haver qualquer transformação fundamental. Enquanto o eu for observador, acumulador de experiências e se fortalecer pela experiência, não pode existir qualquer mudança radical, qualquer libertação criadora. Essa libertação criadora só vem quando o pensador é o pensamento (deixando de lutar, de ir de um extremo para o outro)- mas o intervalo separador não pode ser anulado por meio do esforço. Quando a mente compreende que qualquer especulação, qualquer verbalização, qualquer forma de pensamento apenas dá força ao eu (mau e mesquinho), quando ela vê que enquanto o pensador existir separado do pensamento tem de haver limitação, o conflito da dualidade – quando a mente compreende isto, então fica vigilante, apercebendo-se sempre de como se está a separar da experiência, a impor-se, à procura de poder. Nessa percepção, se a mente penetrar cada vez mais fundo, mais extensamente sem procurar um fim (procuramos um fim, e, depois admiramo-nos do fim? Admiramos Deus e “invejamo-Lo”, e, depois de ser alguma coisa como Ele(a) já não o apreciamos? ), um alvo, um objetivo (grande (re)descoberta, a dos objetivos e das notas!), surge um ESTADO( o verdadeiro Estado) em que o o pensador e o pensamento são um só. Nesse estado não há esforço, não há vir a ser, não há desejo de mudar (vá lá, não tenhamos medo do Estado!); neste Estado o eu não existe (vá lá: não tenhamos medo de viver, sim, porque o medo de morrer não é de morrer, do desconhecido, mas sim de perder o conhecido, a que se chama viver… Tudo trocado, não é?), porque há uma transformação não criada pela Mente.
--- Só quando a mente está vazia há uma possibilidade de criação; mas não me refiro a este vazio superficial que quase todos temos. Quase todos nós somos superficialmente vazios e isso mostra-se no nosso desejo de distração. Queremos ser distraídos, assim voltamo-nos para os livros, para a rádio, corremos a ouvir conferências e autoridades; a mente está sempre a preencher-se. Não é desse vazio que é falta de reflexão que estou a falar. Pelo contrário, estou a falar do vazio que vem através de uma extraordinária reflexão, quando a mente vê o seu próprio poder de criar ilusões e ultrapassa isso.
O vazio criador não é possível enquanto houver o pensador que está à espera, a vigiar, a observar para acumular experiência, para se fortalecer. Será que a mente se pode esvaziar de todos os símbolos, de todas as palavras, com as suas sensações, de modo a que não haja nenhum experimentador que esteja a acumular? Será possível a mente pôr completamente de lado todos os raciocínios, todas as experiências, imposições, autoridades, de modo a ter um estado de vazio? Não sereis capazes de responder a esta pergunta impossível de responder, porque não sabeis, nunca testastes. Mas, se posso sugerir, escutai-a, deixai que a pergunta vos seja posta, deixai que a semente seja semeada e ela dá fruto se realmente a escutais, se lhe não resistis.
Só o novo é capaz de transformar, e não o velho. Se seguirmos o padrão do velho, qualquer alteração é uma continuidade modificada do velho; não há nada novo nisso, não há nada criador. O criador só pode nascer quando a própria mente é nova; e a mente só pode renovar-se quando é capaz de perceber todas as suas atividades, não apenas no nível superficial, mas também em profundidade.
Quando a mente vê as suas próprias atividades, se apercebe dos seus próprios desejos, exigências, ansiedades, buscas, criação das suas próprias autoridades, medos (e ilusões); quando a mente observa em si mesmo a resistência criada pela disciplina, pelo controlo, e a esperança que projeta crenças e ideiais – quando a mente vê através de tudo isto, quando se dá conta de todo este processo, será que ela pode pôr de lado todas estas coisas e ser nova, criativamente vazia? Só descobrireis se pode, ou não pode, se fizerdes a experiência, sem ter uma opinião sobre ela, sem desejardes experienciar esse estado criador ( Este é outro dos grandes princípos de K., taoista: querer e não querer. Entretanto, não ensinou também Lao Tsé que o mal está no bem e o bem no mal?). Se desejais experienciá-lo, experienciá-lo-eis (e aqui temos a explicação para o desejo com equilíbrio, justiça: desejo em excesso turva a visão, a ação e o recebimento); mas, o que experienciais não é o divino vazio criador (contentarmo-nos com o inferior impede o superior), é apenas uma projeção do vosso desejo. Se desejais experienciar o novo, estais apenas a ceder à ilusão. Mas, se começais a observar, a aperceber-vos das vossas atividades, dia após dia, momento a momento, vendo todo o processo de vós mesmos, como num espelho, então à medida que fordes cada vez mais fundo, chegareis à questão Última deste vazio, no qual, e só aí, pode existir o NOVO.
A VERDADE, DEUS, ou O QUE QUISERDES, não é algo para ser experienciado, porque o experienciador é resultante do tempo, da memória, do passado. (Desilusão? Calma: o que está, mais uma vez, em causa, não é de todo o experienciar, mas, o experienciar divino! E, para experienciarmos Deus(a) nós nos tornamos como Ele e Ela se torna como nós!). E, enquanto houver o experienciador não pode existir a Realidade. (Isto é: quanto mais experienciador, menos experimentado!) Só existe a Realidade quando a mente está completamente livre do analisador, do experienciador e do experienciado.
Então encontramos a resposta, então vemos que a mudança vem (até pode vir) sem ter sido pedida(merecida), que o estado de vazio criador não é algo para ser cultivado(pelo menos com esforço) – ele surge, no escuro (e no claro, digo) sem qualquer convite; só neste ESTADO existe uma possibilidade de renovação, de um ESTADO de SER NOVO, de REVolução.”
K.

Saturday, April 24, 2010

“ O desejo e o prazer (e combatê-los) culminam na dor (o êxtase não). Mas o amor não contém a dor. Mas o amor não contém a dor, o pensamento que dá continuidade ao prazer; este sim contém a dor e fortalece-a. O pensamento está permanentemente em busca de prazer, desse modo convidando o sofrimento. A virtude cultivada pelo pensamento é a natureza do prazer, em que residem o esforço e toda a aquisição. (Temos de compreender com todo o nosso ser que o que K. nos propõe é totalmente novo, revolucionário, incrível: nem mais nem menos do que o fim do sofrimento, da limitação, da morte até, e, o êxtase, o Amor! Eu até te dava o meu lugar para descobrires isto, mas, não é assim.
O que Krish. nos oferece é uma vida não baseada somente no pensamento e no seu prazer, que são ilusão, engano e dor, mas na verdade, na paixão verdadeira, na meditação, no amor, na bondade … que são felicidade, gozo, alegria e êxtase ).
O desabrochar da bondade não se acha no terreno do pensamento mas sim na libertação da dor. O término da dor é amor.
Aquilo que temos estado a fazer é parte da meditação. Tudo o que temos de fazer consiste em obter consciência do pensador, produzindo a integração entre pensamento e pensador, e não tentar resolver a(s) contradição(ões).
O pensador é a entidade… que acumulou experiência na qualidade de conhecimento; ele é o centro limitado pelo tempo resultante da constante influência ambiental, e a partir desse centro ele olha, pensa e experimenta. Enquanto não entendermos a estrutura e anatomia desse centro sempre existirá conflito, mas uma mente em conflito não pode entender a profundidade nem a beleza da meditação.
Na meditação não pode haver pensador, o que significa que o pensamento deve findar; esse pensamento que é impelido a seguir em frente, pelo desejo de adquirir um resultado. A meditação não é uma coisa apartada da vida; quando conduzimos um carro ou nos sentamos no autocarro, quando conversamos sem assunto, ou quando caminhamos recatadamente pelo bosque ou obervamos uma borboleta a ser levada pelo vento e prestamos atenção a tudo isso sem escolha, isso faz parte da meditação”
K.

Friday, April 23, 2010

VAMOS CONSIDERAR a questão da auto-ilusão, as ilusões a que a mente se entrega e cria para si própria e para os outros. Este assunto é muito sério, especialmente numa crise como a que o mundo atravessa. Mas para compreender todo este problema da auto-ilusão temos de o investigar não só a nível verbal, mas intrínseca, fundamental e profundamente.Satisfazemo-nos facilmente com palavras e «contrapalavras», temos uma mentalidade mundana, e sendo assim tudo o que podemos fazer é esperar que alguma coisa aconteça. Constatamos que a explicação da guerra não põe fim à guerra – inúmeros historiadores, teólogos e pessoas religiosas explicam a guerra e como ela surge, mas as guerras continuam, cada vez mais destruidoras.Aqueles de nós que são realmente sérios, TÊM DE PASSAR ALÉM DAS PALAVRAS, TÊM DE PROCURAR ESSA REVOLUÇÃO FUNDAMENTAL DENTRO DE SI MESMOS. É ela a única solução que pode criar uma redenção duradoura, fundamental, da humanidade.Do mesmo modo, quando investigamos esta espécie de auto-ilusão, penso que temos de evitar quaisquer explicações e respostas superficiais; devemos não só escutar o que é dito, mas também examinar o problema tal como o conhecemos na vida diária; isto é, devemos observar-nos a nós mesmos no pensar e no agir, observar como afetamos os outros e como continuamos a agir, a partir de nós mesmos.Qual é a razão, a base, da auto-ilusão? Quantos de nós se apercebem de que estamos a iludir-nos a nós mesmos? Antes de podermos responder à questão «Que é a auto-ilusão e como é que ela nasce?», não teremos de aperceber-nos de quando estamos a auto-iludir-nos? Saberemos que estamos a iludir-nos a nós mesmos? E o que queremos com estas ilusões? Penso que é muito importante sabê-lo, porque quanto mais iludimos a nós mesmos maior é a força da ilusão, porque ela nos dá uma certa vitalidade e energia, uma certa capacidade para impormos aos outros essa ilusão. Assim, gradualmente, estamos não só a impor ilusões a nós mesmos, mas também a outros. É um processo recíproco de auto-ilusão. Será que nos apercebemos deste processo? Julgamos que somos capazes de pensar muito lucidamente, com objectivos definidos e de modo direto. Mas teremos a percepção de que neste processo de pensar há auto-ilusão?Não será o próprio pensamento um processo de busca, de justificação, de segurança, de autoproteção, um desejo de ter boa reputação, de ter posição, prestígio e poder? Neste DESEJO DE SER, política ou religiosa-sociologicamente, não está a causa da autoilusão? No momento em que desejo algo diferente das necessidades puramente materiais, não faço nascer um estado que aceita facilmente as coisas? Vejamos, por exemplo, isto: muitos de nós estão interessados em saber o que acontece depois da morte; quanto mais idosos ficamos, mais interessados ficamos. Queremos saber a verdade a esse respeito. Como iremos encontrá-la? Certamente que não por meio de leituras ou de diferentes explicações.Como a descobriremos? Primeiro, temos de libertar a nossa mente, por completo, de todos os fatores que nos impedem o caminho – toda a esperança, todo o desejo de continuar, todo o desejo de saber o que está do outro lado. Porque a mente está sempre a procurar segurança, tem desejo de continuar, e a esperança de encontrar um meio de se satisfazer, numa existência futura. Essa mente, embora esteja a procurar a veradde da vida depois da morte – a reincarnação ou seja o que quer que for, é incapaz de descobrir essa verdade, não é assim? O importante não é saber se a reincarnação é verdade ou não, mas como a mente procura, através da autoilusão, a justificação de um fato que pode ser ou não verdadeiro. O que é importante é a abordagem que se faz do problema, com que motivação, com que interesse, com que desejo a fazemos.Aquele que procura está sempre a impor esta ilusão a si mesmo, ninguém pode impor-lha, é ele que o faz. Criamos a ilusão e então tornamo-nos seus escravos. O fator fundamental da auto-ilusão é este constante desejo de ser alguma coisa neste mundo e no outro. Sabemos o resultado de desejar ser alguma coisa neste mundo: a mior confusão, onde cada um está a competir com outro, cada um a destruir o outro, em nome da paz; conhecemos todo esse jogo que jogamos uns com os outros, que é uma forma extraordinária de autoilusão. De modo semelhante, desejamos segurança no outro mundo, uma posição.Começamos assim a iludir-nos a nós mesmos no momento em que existe esse impulso para ser, «vir a ser» ou atingir. É muito difícil a mente libertar-se disso. É um dos problemas básicos da nossa vida.Será possível viver neste mundo e ser NADA? Só então será possível libertarmo-nos de toda a ilusão, porque só então a mente não está a procurar um resultado, não está a procurar uma resposta satisfatória, a procurar qqualquer justificação, não está a procurar segurança sob qualquer forma, em qualquer relacionamento. Isso só acontece quando a mente compreende as possibilidades e subtilezas da ilusão e portanto, com compreensão, anbandona toda a forma de justificação, de segurança – o que quer dizer que a mente é então capaz de ser completamente anónima, de ser NADA. Isso é possível?Enquanto nos estivermos iludindo sob qualquer forma, não pode haver Amor. Enqaunto a mente for capaz de criar uma ilusão e de a impor a si mesma separa-se obviamente da compreensão colectiva ou integrada. É esta uma das nossas dificuldades: não sabemos cooperar. Tudo o que sabemos é tentar trabalhar juntos para um fim que projetamos. Só pode haver cooperação quando tu e eu não temos um projeto comum, criado pelo pensamento. O que é importante é compreender que a cooperação só é possível quando tu e eu não desejamos ser alguma coisa. Quando tu e eu desejamos ser alguma coisa, então a crença e tudo o mais tornam-se necessários – uma utopia autoprojetada é necessária. Mas se tu e eu estamos a criar anonimamente, sem qualquer autoilusão, sem quaisquer barreiras de crenças e de conhecimentos, sem um desejo de estar seguro, há então verdadeira cooperação.Será possível cooperarmos, estarmos juntos sem um fim em vista? Será que seremos capazes, tu e eu, de trabalhar juntos sem procurar um resultado? Isso é, sem dúvida, cooperação. Se tu e eu pensarmos, trabalharmos, planearmos um resultado, qualé então o processo envolvido? Os nossos pensamentos, as nossas mentes intelectuais estão evidentemente a encontrar-se, mas, emocionalmente, o nosso ser total pode estar a resistir a isso, o que cria ilusão, confliro entre mim e ti. É um fato evidente e observável na nossa vida diária. Tu e eu estamos de acordo intelectualemnte em fazer uma parte do trabalho, mas inconscientemente, profundamente, tu e eu estamos a lutar um contra o outro. Eu quero um resultado que me dará satisfação; quero dominar; quero o meu nome à frente do teu, embora pensemos que estamos a trablhar juntos. Assim, ambos, que criámos esse plano, estamos de fato em oposição um ao outro, embora exteriormente (e superficialmente) tu e eu concordemos com o plano.Não será importante descobrir se tu e eu somos capazes de cooperar, estar em comunhão, viver juntos num mundo onde tu e eu somos anónimos, somos NADA; descobrir se tu e eu somos capazes de cooperar, não no nível superficial, mas fundamentalmente? É esse um dos nossos maiores problemas, talvez o maior. Eu identifico-me com um objetivo e tu identificas-te com o mesmo objetivo, ambos estamos interessados nele; ambos temos a intenção de o levar a bom termo. Este processo de pensar é muit superficial, porque pela identificação criamos separação – o que é muito claro na nossa vida diária. Tu és hindu e eu sou católico; todos pregamos a fraternidade e estamos dispostos a matar-nos. Porquê? É esse um dos nossos maiores problemas, não é assim? Inconsciente e profundamente tu tens as tuas crenças e eu tenho a minha. Ao falar de fraternidade, não resolvemos todo o problema das crenças, apenas teórica e inteletualmente é que estamos de acordo que isto deve ser assim; interiormente e profundamente, estamos um contra o outro.Até resolvermos estas barreiras que são uma auto-ilusão, que nos dão uma certa vitalidade, não pode haver cooperação entre ti e mim. Através da identificação com um grupo, com uma determinada ideia, nunca poderemos criar cooperação.A crença não produz cooperação; pelo contrário, divide as pessoas. Vemos como um partido político está contra outro, cada um acreditando numa certa maneira de lidar com os problemas económicos, e assim estão todos em guerra uns com os outros. Não estã empenhados em resolver, por exemplo o problema da fome. Estão interessados em teorias que «vão resolver» esse problema. Não estão de fato empenhados no problema em si, mas no método pelo qual o problema será resolvido. Tem portanto de existir discórdia entre eles porque estão interessados na ideia e não no problema. De modo semelhante, as pessoas religiosas estão umas contra as outras, embora verbalmente diigam que têm todas uma vida e um só Deus; sabemos tudo isso. Interiormente as suas crenças, as suas opiniões, as suas experiências estão a destruí-las e a mantê-las separadas.A experiência torna-se um fator separatrivo no nosso relaciuonamento humano; a experiência é um modo de nos iludirmos. Se eu experienciei alguma coisa fico agarrado a ela, não investigo todo o problema do processo de experienciar, mas, porque tive a experiência, isso é o suficiente e apego-me a isso; daí que imponho, através dessa experiência, a autoilusão.A nossa dificuldade é que cada um de nós está tão identificado com uma forma particular ou com um método de produzir felicidade, bem estar económico, que a nossa mente está presa por isso e, somos incapazes de aprofundar o problema; desejamos, portanto, ficar individualmente alheados na nossa maneira de agir, nas crenças e experiências. Até sermos capazes de as dissolver, pela compreensão – não só no nível superficial, mas também no nível mais profundo. É por isso que é importante, para os que são realmente sérios, compreender todo este problema – o desejo de «vir a ser», de alcançar, de ganhar – não só ao nível superficial, mas fundamental e profundamente; de outro modo não pode haver paz no mundo.A Verdade não é para ser conquistada. O Amor não pode chagar àqueles que têm um desejo de se apegar a ele, ou que gostam de se identificar com ele. Tanto o Amor como a Verdade, seguramente vêm quando a mente não procura, quando a mente está completamente serena, não amis criando movimentos e cxrenças dos quais possa depender, ou dos qauis lhe venha uma certa força, o que é uma indicação de autoilusão. Só quando amente compreende este processo do desejo, é que ela pode estar tranquila. Só então a mente não está em movimento para ser ou não ser; só então é possível um estado no qual não há qualquer espécie de ilusão.” Krishnamurti, in: “O Sentido da Liberdade”, da Presença
“ O pensamento deve permanecer imóvel para que o silêncio possa ocorrer. O silêncio é sempre novo mas o pensamento não é, e sendo “velho” provavelmente não poderá penetrar no silêncio que se renova constantemente. Se o pensamento tocar o novo, este tornar-se-á velho.
Olhem e comuniquem neste silêncio. O verdadeiro anonimato é procedente desse silêncio; não existe outra forma de humildade… O organismo físico possui a sua própria inteligência, que é entorpecida pelos hábitos do prazer. Esses hábitos destroem a sensibilidade do organismo, o que por sua vez entorpece a sensibilidade da mente. Uma mente assim pode permanecer alerta numa determinada direção estreita e limitada e, ainda assim, ser insensível. A profundeza de uma mente assim encerrada dentro das ilusões e imagens, é mensurável. A sua própria superficialidade é o seu fulgor. Para meditarmos precisamos de ter o organismo leve e inteligente. A relação entre o organismo e a mente meditativa assenta num ajustamento constante, pela sensibilidade. Porque a meditação necessita de liberdade, e esta é a sua própria disicplina. Somente em liberdade pode haver atenção. Possuir consciência da desatenção é estar atento. A completa atenção é o amor. Só ele pode perceber, e o perceber é fazer.”

Krishnamurti
“ O pensamento deve permanecer imóvel para que o silêncio possa ocorrer. O silêncio é sempre novo mas o pensamento não é, e sendo “velho” provavelmente não poderá penetrar no silêncio que se renova constantemente. Se o pensamento tocar o novo, este tornar-se-á velho.
Olhem e comuniquem neste silêncio. O verdadeiro anonimato é procedente desse silêncio; não existe outra forma de humildade… O organismo físico possui a sua própria inteligência, que é entorpecida pelos hábitos do prazer. Esses hábitos destroem a sensibilidade do organismo, o que por sua vez entorpece a sensibilidade da mente. Uma mente assim pode permanecer alerta numa determinada direção estreita e limitada e, ainda assim, ser insensível. A profundeza de uma mente assim encerrada dentro das ilusões e imagens, é mensurável. A sua própria superficialidade é o seu fulgor. Para meditarmos precisamos de ter o organismo leve e inteligente. A relação entre o organismo e a mente meditativa assenta num ajustamento constante, pela sensibilidade. Porque a meditação necessita de liberdade, e esta é a sua própria disicplina. Somente em liberdade pode haver atenção. Possuir consciência da desatenção é estar atento. A completa atenção é o amor. Só ele pode perceber, e o perceber é fazer.”

Krish.
“Compreendendo este complexo problema de viver, e dando-nos conta do processo do nosso próprio pensamento e percebendo que ele realmente não leva a lado algum – quando percebmos isso, profundamente, então sem dúvida acontece um eatdo de INTELIGÊNCIA, que não é individual nem coletivo. Então o problema do indivíduo com a sociedade, do indivíduo com a comunidade, do indivíduo com a Realidade deixa de existir; porque então existe apenas Inteligência, que não é pessoal nem impessoal. Só esta inteligência, sinto eu, pode resolver os nossos imensos problemas. A inteligência não pode ser um resultado. Ela surge apenas quando compreendemos como um todo este processo de pensar, não só no nível consciente mas também nos níveis mais profundos e escondidos da consciência.
Para compreendermos qualquer destes problemas precisamos de ter uma mente muito silenciosa, muito tranquila, para que possa olhar o problema sem interpor ideias ou teorias, sem qualquer distração. É essa uma das nossa dificuldades – porque o pensamento se tornou uma distração. Quando quero compreender, olhar alguma coisa, não tenho de pensar nela – OLHO-A (cheiro-a, toco-a, saboreio-a, ouço-a) apenas. No momento em que começo a pensar, a ter ideias, opiniões sobre ela, já estou num estado de distração, afastando-me da coisa que quero compreender. Assim, o pensamento, quando temos um problema, é uma distração – sendo o pensamento uma ideia, uma opinião, um juízo, uma comparação – que nos impede de observar e portanto de compreender e de resolver o problema.
Infelizmente, para quase todos nós, o pensamento tornou-se demasiado importante. Diz-se: «como posso eu existir, ser, sem pensar (ou esquecendo o passado!? Como posso ter a mente vazia?» Ter uma mente vazia é o mesmo que dizer, estado de idiotia, ou uma coisa parecida, e a nossa reação instintiva é a de rejeitar isso. Mas, sem dúvida a mente que está muito serena, a mente que não está distraída pelo seu próprio pensamento, que está aberta, pode olhar o problema muito diretamente e de modo muito simples. E é esta capacidade para olharmos os nossos problemas (TODOS OS NOSSOS PROBLEMAS, individuais ou de grupo, muito complexos ou simples) sem distração alguma que é a única solução possível. Para isso é preciso que a mente esteja muitos serena, muito tanquila.
Uma mente assim não é um resultado, não é um produto final de um treino, da «meditação», do controlo. Ela não nasce de qualquer «disciplina», nem de constrangimento ou de sublimação; nasce sem qualquer esforço do eu, do pensamento; nasce quando COMPREENDEMOS TODO O PROCESSO de PENSAR – quando somos capazes de ver um fato sem qualquer distração.
Nesse estado de tranquilidade da mente que está realmente silenciosa, há AMOR. E só este vero Amor pode resolver todos os nossos problemas humanos.
"Enquanto a atividade da mente existir, é evidente que não pode haver amor. Quando há amor não temos problemas. Mas o Amor não é para se adquirir com esforço. A mente pode procurar adquiri-lo, como um novo pensamento, um novo instrumento, um novo modo de pensar; mas a mente não é capaz de se encontrar num estado de amor enquanto o pensamento está a procurar adquirir o amor. Amor é atenção."
Uma das equações a resolver a cada momento, é a do equilíbrio entre dever e prazer.O completo burocrata não só o é, como o é ostensivamente.Talvez o pensamento seja útil nas pesquisas científicas ou actividades técnicas, como diizia K., mas, mesmo assim, cada vez vez duvido mais disso."O pensamento não pode compreender a totalidade dos problemas - pode apenas ver parcialmente, e, uma resposta parcial não só não é solução, como é mais problema.
Quando é que somos capazes de olhar os problemas como um todo? Só com o findar dos condicionamentos da tradição (competir é um erro tradicional enorme, defende K.), do preconceito, de esperanças, e desespero, isto é, o findar de todo o processo de pensar.Pobres "eus" sempre invejando, procurando poder, posição, autoridade(s), continuidade, autopreservação, culpando os outros.OLHAMOS os egos, sem movimento para os destruir ou fortalecer... e, eus, nosso e deles, fenecem. Apesar de continuarmos bem vivos.
É sem esforço, sem condenação, sem vigilância, sem justificação, sem análise de todos os desejos e pensamentos para procurarmos resolver o problema, sem atividade mental para o transformarmos, para produzirmos um resultado... que o problema dos egos se resolve.
Não há em nós superior e inferior; não somos uma entidade que deseja e ambiciona; desejo e ambição não são diferentes de nós; nós somos ambição e desejo. Nós e o objecto do nosso esforço somos o mesmo." - K
"Afinal, fomos nós que gerámos a confusão, a infelicidade... e queremos que esse a quem chamamos Deus venha limpar tudo isso... A mente só pode receber a Realidade quando está totalmente tranquila, não pedindo, não se agarrando, não desejando... seja para si própria ou para outro alguém..."K.
"Meditação é o desabrochar da compreensão; ela não se situa nos limites do tempo, porque o tempo jamais trará entendimento. A compreensão não é um processo gradual de reunir pouco a pouco, através da paciência e do cuidado. A compreensão é agora ou nunca; pode ser um clarão destrutivo; não é uma coisa insípida. Se tememos esse despedaçar, consciente ou inconscientemente, tratamos de o evitar.A compreensão pode alterar todo o curso da nossa vida, o modo de pensarmos e agirmos. Pode ser agradável ou não e pode constituir um perigo para os relacionamentos. Mas, sem a compreensão, o sofrimento do prazer não cessa; a dor só termina por intermédio do auto-conhecimento - o conhecimento de todo o pensamento e sentimento, de todo o movimento do consciente e do oculto.Não nos devemos isolar e ver a partir desse isolamento. Tal separação é destrutiva por conter em si o conflito e a consfusão. Temos de ser um(a) com o visto, o ouvido, o cheirado, o saboreado, o tocado: nós somos o visto, o cheirado, o tocado..."K e j

Thursday, April 22, 2010

Unidos e divididos; divididos e unidos.
Velho e novo; cheio e vazio.
Ir para lá da porta, e, o oculto se revela.
Desejar e não desejar.

Tuesday, April 20, 2010

Agir sem ideia é o caminho do amor

O pensamento está sempre limitado pelo pensador, que está condicionado; o pensador está sempre condiconado e nunca é livre; quando ocorre um pensamento, segue-se imediatamente uma ideia. A ideia como meio para a ação só pode´dar origem a mais confusão. Estando conscientes de tudo isto, será possível agirmos sem ideia? Sim, é o caminho do amor. O amor não é uma ideia; não é uma sensação; não é uma memória; não é um sentimento de adiamento, um dispositivo de autoproteção. Só podemos estar despertos para o caminho do amor quando compreendemos todo o processo da ideia (podemos dizer que a ideia, o pensamento era um com a inteligência, e, juntos não eram egoistas, não erravam; depois o pensamento afastou-se da inteligência, por causa do prazer, da sensação, e, começou o sofrimento...). Agora, será possível abandonar os outros caminhos e conhecer o caminho do amor, que é a única redenção que existe? Nenhum outro caminho, político ou religioso, irá resolver o problema...
Existe ideia quando amamos? Observemos, examinemos, investiguemos profundamente; porque já tentamos todos os outros caminhos, e não deram qualquer resposta para o sofrimento. Os políticos podem prometê-lo; as assim chamadas organizações religiosas podem prometer uma felicidade futura; mas não a temos no presente, e o futuro tem uma importância muito relativa qaundo alguém está faminto. Tentámos todos os outros caminhos; e só podemos conhecer o caminho do amor se conhecermos o caminho da ideia e abandonarmos a ideia, o que é agir, amando!
O amor não é o eu. O eu não pode reconhecer o amor. Vocês dizem «amo», mas então, no próprio ato de o dizerem, no próprio acto de o experimentarem, não há amor. Mas, quando conhecemos o amor, não há eu. Quando há amor não há eu.

A ganância implica desejar, adquirir, expandir(-se); e quando a mente vê que ser gananciosa não compensa, começa a desejar deixar de ser gananciosa, portanto, o motivo continua a ser o mesmo, o de ser ou de adquirir algo... Portanto, a bondade não é o oposto do mal... É óbvio que a bondade não tem motivo, porque o motivo é o movimento egocêntrico da mente. E, só existe bondade quando há atenção (não concentração, que é exclusivista) total. A atenção não tem motivo. Se presto atenção por querer adquirir... isso é distração, não atenção! Existe bondade, amor quando há uma totalidade de atenção na qual não se verifica
nenhum esforço para ser/ter ou para não ser/ter.

Krishnamurti
“ Não se trata do produto ou resultado do desejo, nem pode ser congregado pela vontade.
A consciência no seu todo é um movimento incansável e ruidoso estabelecido dentro das fronteiras da sua própria formação. Dentro destas, o silêncio e a quietude representam o término momentâneo da tagarelice, porém trata-se de uma qualidade de silêncio tocada pelo tempo. O tempo é memória e nele o silêncio pode ser curto ou extenso porque ele pode medi-lo, e dar-lhe espaço e continuidade; e nesse caso torna-se numa outra forma de entretenimento. Todavia isso não é silêncio. Tudo o que for congregado pela ação do pensamento ainda se encontra dentro da área do ruído, mas o pensamento não pode, de modo nenhum, tornar-se tranquilo. Ele pode construir um retrato do silêncio, e dar-lhe forma e adorá-lo, do mesmo modo que faz com tantas outras imagens da sua criação. Mas a forma desse silêncio é a sua própria negação; os seus símbolos representa a verdadeira negação da realidade.
O pensamento deve permanecer imóvel a fim do silêncio poder ocorrer. O silêncio é sempre novo, mas o pensamento não o é, e, sendo velho provavelmente não poderá penetrar no silêncio. O verdadeiro anonimato é procedente deste silêncio; não existe outra forma de humildade. Os vaidosos serão sempre vaidosos ainda que enverguem os trajes da humildade, que os torna ásperos e frágeis.
Neste silêncio, a palvra amor adquire um significado completamente diferente. Este silêncio não está acolá mas onde o observador está ausente.
Somente a inocência pode ter ardência. O indivíduo inocente não sofre, pois não encerra sofrimento nenhum, muito embora possa ter vivenciado um milhar de experiências. Não são as experiências que corrompem a mente mas aquilo que deixa para trás, os resíduos e as cicatrizes e lembranças que se acumulam e amontoam e desse modo dão origem à mágoa. Esse sofrimento é tempo, e onde existir tempo não pode haver inocência.”

Krish.

Monday, April 19, 2010

Eu vejo K. assim: sobre os assuntos importantes, todos possivelmente, que falou e que estão escritos, ele sempre vai à raiz das questões, à pura verdade, às últimas consequências. Convidando-nos, de modo algum com a insistência dos ditadores, pequenos e grandes, à compreensão dessa pura verdade fatual e à sua vivência. Tenho na minha frente um texto de K. sobre o MEDO. Tenho presente a essência da sua doutrina, de origem budista, que se resume em meia dúzia de linhas: o desejo é a base do sofrimento; só há uma coisa a fazermos: deixarmos de desejar, mas, nunca pela compulsão. O fim do desejo e da dor é pela perfeita compreensão desta e das demais verdades, nomeadamente como ele as explana. E, sem a desejar ainda, há uma felicidade, um êxtase, uma inteligência integradas… O apego e a identificação, sem ir para o desprezo, são coisas a evitar, pela compreensão. Consideremos pois um resumo do texto referido. “… O medo só pode existir em relação a alguma coisa, não isoladamente. Como posso ter medo da morte… de alguma coisa que não conheço?... Quando digo que tenho medo da morte, será que tenho realmente medo do desconhecido – a morte – ou de perder aquilo que conheço? O meu medo não é da morte, mas de perder a minha ligação às coisas que me pertencem… Vamos pois investigar como nos libertarmos do medo do conhecido… de perdermos família, reputação, caráter, conta, aquilo que desejamos… Medo nasce da consciência… que é resultado do conhecido (conhecimento e experiências tidos ou não tidos) dos nossos condicionamentos, que são ideias, lembranças, opiniões… um sentimento de continuidade em relação ao conhecido. Temos ainda medo de descobrir o que somos, de ficarmos confusos/perdidos, da dor que pode vir, de não ter mais prazer… Há medo da dor. A dor física é uma reação nervosa, mas a dor psicológica surge quando estou apegado a coisas que me dão satisfação e que tenho medo me possam roubar/tirar… Trabalhamos, acumulamos conhecimentos, crenças e experiências que evitam a perturbação, que nos resguardam da dor física e psicológica… Temos medo que as/nos perturbem. O problema é que a dor é inerente ao próprio processo de acumulação, nomeadamente ao esforço. O medo do desconhecido é portanto o medo de perder o conhecido acumulado. Agora se segurança, em particular a psicológica, mas também a física, não existe, desejá-la e procurá-la é… criar o medo e o sofrimento que acarreta. Por exemplo: sentimo-nos inseguros fisicamente; desejamos a segurança física; assim criamos um governo que necessita de forças armadas, o que significa guerra, a qual agrava a insegurança. ONDE QUER QUE HAJA O DESEJO DE PROTEÇÃO EXISTE MEDO. Procurar segurança é um erro, um engano. (O mesmo para o ganho). Quando vemos o engano da procura de segurança deixamos de acumular (e de nos esforçar). Se dizemos que compreendemos isto, mas não somos capazes de deixar de acumular, isso é porque não compreendemos realmente. A crença pertence à acumulação. Acreditamos no descanso eterno, na reencarnação para diluir o sofrimento. Mas, no próprio processo de acreditar há dúvida, que é dor. Não adianta pois acreditar, a não ser nos fatos, não em coisas duvidosas. Enquanto desejarmos vir a ser alguma coisa, ter resultados tem de haver sofrimento. Temos de deixar de egoisticamente acumular coisas exteriormente, e interiormente crenças, o que não quer dizer inação, a fim de deixarmos de causar guerras e dor. As próprias coisas que fazemos para nos protegermos do sofrimento nos trazem o medo e a dor. O medo também surge quando desejamos viver/vivemos de acordo com um certo padrão/quadro/sistema. Procurar um determinado modo de viver é em si mesmo uma fonte de medo (tenho medo de não conseguir…). Ver a verdade disto é aptidão para o quebrar das molduras; entretanto, quebrar as molduras com o “objectivo” de nos libertarmos do medo seria outro padrão que só causaria mais medo e dor. Que fazermos então? Nada, não é? Temos de ficar com/olhar muito bem os problemas, sem agir. E, sem movimento, silenciosa, tranquila e pacificamente, unicamente olhando para a moldura… descubro que a própria mente é o quadro, o padrão; a mente vive no padrão habitual que criou para si mesma. A própria mente é o medo… Portanto seja o que quer que a mente faça para se ver livre do medo, só gera mais medo. O medo encontra várias fugas. A variedade mais comum é a identificação – identificação com um país, uma sociedade, uma ideia, um filho, a esposa, com uma certa forma de ação ou de inacção. A identificação é um processo de auto-esquecimento. Enquanto estamos (muito) conscientes do eu, sabemos que há dor, luta, medo constante. Mas, se formos capazes de nos identificarmos com alguma coisa maior, que valha a pena – como a beleza, a vida, a verdade, uma crença, o conhecimento – pelo menos temporariamente há uma fuga ao eu, não é? Se falo da pátria, de Deus, se me identifico com a família, um partido, um clube, uma ideologia, então há uma fuga temporária. A identificação, tal como o cultivo da virtude, são portanto formas de fugir do eu. A virtude não pode ser cultivada. Quanto mais tentamos tornar-nos virtuosos, mais força damos ao eu. Esta forma de combater o medo apegando-nos a um seu substituto aumenta sempre a nossa luta. Não será o medo também a não aceitação de O QUE É, não no sentido de esforço em aceitar? Isto é: o que é, é; não é para aceitar nem para rejeitar (nem possivelmente para compreender totalmente, digo eu; o que é, é para se desfrutar, para se viver! Mas, se em vez de assim proceder, se, quando não vemos claramente O QUE É, e ao invés de o viver abundantemente, introduzimos o processo de aceitação ou rejeição, surge o MEDO. Ora, o medo é uma grande obstrução, um bloqueamento, um enorme obstáculo ao nosso movimento… Sabemos que, quando não há obstáculos há uma extraordinária alegria. Quando o corpo está saudável há alegria e bem estar. O mesmo para a mente completamente livre, sem qualquer bloqueio, quando o centro de (re)conhecimento que é o eu não está presente. Há compreensão e liberdade em relação ao eu somente quando sou capaz de o olhar completa e integralmente como um todo (fazendo parte do Todo); e só somos capazes de fazer isto quando compreendemos na totalidade o processo de toda a atividade nascida do desejo que é a própria expressão do pensamento – o pensamento é o desejo. Se formos capazes de compreender isto, então saberemos se há possibilidade de transcendermos as limitações do “eu”.

Friday, April 16, 2010

“ o tempo pode produzir uma mudança, mas toda a mudança necessita, por sua vez, de nova mudança; do mesmo modo que toda a reforma. A meditação que brota do tempo é sempre fator de limitação, e nisso não pode haver liberade nenhuma; mas sem liberdade sempre haverá necessidade de escolha e conflito.
Perceber é fazer. O intervalo existente entre o perceber e o fazer é perda de energia – de que necessitamos para perceber – que em si mesmo é fazer.
Ser mundano é evitar o mundo (não nos prendermos muito ao mundo é a maneira de lhe sermos mais úteis)
Morrer significa amar. A beleza do amor não reside nas recordações do passado nem nas imagens do amanhã. O amor não tem passado nem futuro, aquilo que o tem é a memória.
O pensamento é prazer, coisa que não é amor. O amor e a paixão residem bem para além do alcance da socieade, que sois(somos) vós(nós) – não nos podemos separar. Morram(morramos – psicologicamente. Sobre a morte (págs. 220 a 222 de “O Sentido da Vida”: de um lado a vida, a cas, o emprego, a família…e, no outro a morte, que põe fim a tudo. Mas, o novo, o eterno, a paz, o amor, a beleza, a felicidade… não podem manifestar-se onde há continuidade). (Morrer é continuar noutra forma, é mudar…)
A meditação é aquela luz da mente que clareia o caminho para a ação. Sem essa luz não pode haver amor.
A meditação é um movimento no e do desconhecido. Nós não estamos presentes mas somente o seu movimento. Somos demasiado insignificantes ou grandiosos, muito ou pouco sigificativos para o seu movimento. Ele não possui nada na retaguarda nem na sua frente. È essa energia que o pensamento, enquanto matéria, não pode tocar. O pensamento é perversão, pois é um produto do ontem; preso na labuta dos séculos é, consequentemente, confuso e obscuro. Façam o que quizerem, o conhecido não poderá esticar o “braço” para tocar o conhecido.
Meditar é perceber o que é, e transcendê-lo.
Olhem e escutem em silêncio. O silêncio não é o término do ruído; o clamor incessante da mente e do coração não sofre término no silêncio.”

Fonte:http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o
“Agora despedaçai a flor em pedaços, seja verbalmente ou por via de fato e ela deixará de ser uma flor, somente a lembrança do que era (mas/e, uns restos, imediatamente a serem uma nova coisa…) – o que certamente (É e ) não é a flor.
A meditação é a ausência da consciência, não pode de forma nenhuma provocar este silêncio. O término desse intrincado e subtil mecanismo deve ser espontâneo, sem depender de nenhuma recompensa nem garantia. É o único modo de o cérebro permanecer sensível, vital e sereno.
Faz parte da meditação o cérebro compreender as suas atividades superficiais e ocultas; nisso consiste a base da meditação, sem o que ela se torna uma actividade vazia de significado, conducente à auto-ilusão e à auto-hipnose. O silêncio é essencial para que ocorra a explosão da criação.
A meditação floresce na bondade. Sem ser propriamente virtude – cujo lento cultivo exige tempo – nem ser expressão de respeitabilidade social e sem representar a chancela da autoridade, a beleza da meditação está na beleza do perfume do seu desabrochar. Como poderá haver alegria na meditação se ela provier do desejo e do sofrimento? Como poderá ela florir se a procurarmos através do controle, da repressão ou do sacrifício? Como poderá desabrochar das sombras do medo ou da ambição, do desejo de fama? Como poderá florescer à sombra da esperança ou do desespero? Tudo isso deve ser abandonado de modo espontâneo e natural, sem remorsos.
A meditação não se presta a erguer muros de defesa ou de resistência, para em seguida fenecerem; tampouco é ela talhada segundo um método ou sistema. Qualquer sistema padroniza o pensamento, mas todo o conformismo impede o florescimento da meditação. Para que ela desabroche é preciso haver liberdade e FINDAR DAQUILO QUE É. Sem liberdade não há auto-conhecimento, e sem auto-conhecimento a meditação não pode ocorrer. Por mais vasto que seja o alcance do pensamento na sua busca de conhecimento, ele continuará a ser estreito e medíocre. A meditação não reside no processe aquisitivo e expansivo do saber, mas viceja na liberdade total, e termina no desconhecido. A meditação não tem assento no tempo, o tempo não pode produzir a mutação.”

Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o
Parece incrível existirem pessoas que tiram partido do sofrimento alheio (também deles). E, parece inacreditável, porque isso não é verdade. Tais ganhos são totalmente ilusórios.

O nosso equilíbrio tem de ser entre o agora e o eterno, a satisfação (momentânea, mais comezinha) e a felicidade (superior, eterna).

Se por insegurança nos identificarmos com outros(a)s, podemos estar certos de que os estamos a ajudar à segurança... para nos ajudarem ou explorarem.

"Meditação é destruição - é um perigo para todos quantos desejam levar uma vida superficial, uma vida de imaginação e mito.
A meditação da mente que se encontra completamente silenciosa constitui a bênção que o homem sempre procurou. Nesse silêncio ocorre a verdadeira diferença.
A meditação não tem começo nem fim. Nela não existe realização nem insucesso, nem arrecadação nem renúncia. É um movimento sem finalidade além do espaço e do tempo. Experimentá-la equivale a negá-la, porque aquele que experimenta está ligado è memória e ao reconhecimento. O terreno para a verdadeira meditação está nessa consciência passiva que é libertação total da autoridade e da ambição, da inveja e do medo. A meditação não possui qualquer sentido - qualquer que seja o significado que se lhe dê - sem esta liberdade nem auto-conhecimento.
Enquanto subsistir uma forma de escolha não poderá existir auto-conhecimento.
A escolha implica conflito, conflito que impede a compreensão dO QUE É.
Vaguear em torno de fantasias ou de credos românticos não é meditação. O cérebro deve despir-se de todo o mito, de toda a ilusão e segurança, e enfrentar a realidade da falsidade de tudo isso. Não existe distração; tudo é um movimento de meditação. A flor está tanto na forma, como no perfume, na cor e na beleza;"

Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o

Thursday, April 15, 2010

Uma boa parte da vida consiste em resolvermos problemas. No mínimo um pouco estranho, não é? Algures, uma , duas vezes no passado nos deixamos enganar, deixando nascer problemas que não cessamos/cessaram de se reproduzir. Havendo hoje até quem pense que se não existissem problemas, dores não poderíamos apreciar as coisas boas.
Sobre a não necessidade em absoluto do sofrimento para valorizarmos o gozo, o bem estar recordamos que um bem menor, que não pode ser considerado dor, isso seria cinismo, é mais do que suficiente para a dita valorização.
Por outro lado, boa parte do ensino de Krishnamurti foi no sentido de que, em boa e verdadeira relação, podemos não só resolver os problemas como eventualmente partirmos para uma vida sem problemas. E note-se bem, as propostas de K são novas. Podem muito bem ser a solução definitiva para o “problema” dos problemas. De modo que, e sem excluirmos alguma inovadora/velha discordância com K, mas atendendo até a que, comparativamente com outros, se foi ainda há muito pouco tempo, a urgência, parece-me, continua a ser divulgar as suas descobertas extraordinárias.
Quantos, por exemplo, é que ainda não compreenderam que os símbolos, as letras\palavras, por exemplo, sendo embora uma grande invenção, não podem sobrepor-se à realidade, que a coisa descrita é sempre muito mais do que a descrição, que pode nem haver palavras para descrever a “coisa”, que pode ser melhor não a descrever? Neste sentido louvo os inventores de novas palavras. Neste sentido, não é incompreensível que, p.e., “no contexto da religião e da política, as palavras não são olhadas como algo que se aplica, um pouco inadequadamente, a coisas e a acontecimentos; pelo contrário, as coisas e os acontecimentos são vistos como ilustrações particulares das palavras.”: in prefácio de Aldous Huxley ao livro de Krishnamurti “O Sentido da Liberdade”.
Depois temos o fato da observação/audição muito atenta, sem grandes análises, resolver os problemas: a solução está no problema. Conjuntamente com o de que, vista a solução pela percepção imediata, total, profunda, instantânea… a ação imediata, nada de adiamentos.
Depois ainda o apelo à vivência e à observação do agora, sem condenações nem escolhas: só o todo faz sentido, Deus é o todo. O que não quer dizer conformismo com a dor, com o que está mal. Mas, só assim as coisas melhoram (Krish. Não gostava muito de usar esta palavra). E, realmente, o que é que se tem melhorado com a continuada atitude da crítica, em particular dos outros, e, de que da outra maneira, no outro lado é que seria melhor?
Depois ainda a indicação de que a Causa de todos os males é o “egoísmo” – se realmente fosse só um(a) no universo podia ser egoísta, mas assim, como é que podemos? Não podemos ser egoístas, não é, pois só nos estaremos a fazer mal?
E por fim, por agora, o Amor. Krishnamurti é claro: só o amor incondicinal acaba com todos os problemas: não devemos ferir nem sentirmos ofensa, e, temos de fazer ativamente o bem.
"Desse modo não há divisão entre o ver e o fazer, pois nesse intervalo nasce todo o conflito, tristeza e confusão. Aquilo que não possui tempo é Eterno.
A meditação não é um meio para um fim, mas ambos: meio e fim.
A meditação, que é a destruição da segurança (comum), possui uma enorme beleza - não a beleza das coisas reunidas pelo homem (comum) nem pela natureza (da seleção natural), mas a beleza do silêncio. Esse silêncio é o vazio (não o nada), a partir do qual todas as coisas ocorrem e em que passam a existir. Ele é incognoscível (só às mentes). Nem com a sensação só o inteleto pode abrir caminho para o atingir e todo o método para esse efeito é invenção do espírito de cobiça. Todos os caminhos e meios do "eu" calculista devem ser completamente destruídos; todo o avanço e recuo - cujos procedimentos pertencem ao tempo - deve terminar sem conhecimento do amamnhã.

Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o

Wednesday, April 14, 2010

Quando descobrimos uma nova maneira de tirar/ultrapassar dor, temos tendência a fixar-nos nesse modo, mas, não pode ser assim, não podemos abandonar modos antigos, só temos é de usar mais esse.
" A mente superficial e consciente está ocupada com as suas atividaes diárias, com o ganhar a vida, com o enganar os outros, explorando os outros, fugindo - todas estas são as actividades da nossa existência. Essa mente superficial tem de compreender o significado correto das suas próprias atividades e desse modo encontrar tranquilidade por si mesma. Não pode encontrar essa tranquilidade, essa quietude, através de métodos, por compulsão ou por disciplina (tão pouco por comprimidos, claro). Ela só pode atingir a tranquilidade, a paz, a quietude pela observação dessas ideias, pela atenção a elas, vendo a sua crueldade, o modo como se fala a um empregado, à mulher, à filha, à mãe, etc. Quando a mente superficial e consciente está atenta a todas as suas actividades, através da compreensão ela torna-se espontaneamente aquietada, não drogada pela compulsão ou manipulada pelo desejo; está então em posição de receber a mensagem,os sinais do inconsciente, vindos dos muitos e ocultos n´veis da mente - os instintos raciais, as memórias enterradas, as perseguiuções dissimuladas, as feridas profundas ainda por cicatrizar. Só então, quando tudo j´s se projetou e foi compreendido, quando toda a conciência se livrou dos fardos, das feridas, de qualquer memória, é que a mente está em condições de receber o Eterno"
Fonet: Págs. 205 e 206 de: " O Sentido da Liberdade" de K.
"Concentração não é meditação... Só porque conseguimos concentrar-nos num pensamento escolhido, num determinado objeto, pensamos que finalmente tivemos sucesso na meditação... mas não tivemos. Meditar não é um processo de exclusão, no sentido de afastarmos, construirmos uma barreira contra ideias invasoras... A concentração é egoísta, a meditação não. Meditação é compreensão. Oração não é meditação. Meditação é tranquilidade, súplica não. Compreensão é a base da meditação. Concentração e oração levam à obstinação e à ilusão, nunca à compreensão, que gera liberdade, luz e integração.
Compreensão quer dizer dar o correto significado, o correto valor a todas as coisas; ser ignorante/estúpido é atribuir valores errados. Como vamos estabelecer o valor correto do que se possui, dos relacionamentos, das ideias? Temos de nos conhecer a nós próprios sempre cada vez mais, não é? Temos de nos autoquestionar." K e J
“ Não sei se alguma vez notastes que quando prestais completa atenção, ocorre um estado de silêncio. Nessa atenção não existe fronteira nem centro algum, como aquele que se acha atento e consciente. Essa atenção, esse silêncio, é um estado de meditação.
Meditar é transcender o tempo, tempo esse que é a distância que o pensamento percorre na sua realização. Esse percurso está sempre confinado ao “velho” modo, sendo feito com uma vestimenta nova, com umas novas vistas, porém sendo sempre a mesma estrada que conduz a lado nenhum - exceto à dor e ao sofrimento. Somente quando a mente transcende o tempo é que a verdade deixa de ser uma abstração. Então a bênção (o prazer máximo, eterno, espiritual) deixa de ser uma ideia derivada do prazer (comum) e torna – se uma ideia não verbal (não descritível por palavras somente). O esvaziamento dos conteúdos temporais da mente constitui o silêncio da verdade, e percebê-lo ( entendimento rápido ou percepção total imediata, outro dos grandes princípios|fatos de vida de K) é agir; desse modo não há divisão entre o ver e o fazer.”

Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o
“O sofrimento é uma forma aguda de perturbação de que não gosto. O meu filho morreu, por exemplo. Reuni à sua volta todas as minhas esperanças – ou à volta da minha filha ou do meu marido, de quem quisermos. Projectei nesse filho tudo o que eu queria que ele fosse e fiz dele a minha companhia. De repente ele partiu. Há portanto uma perturbação, não é verdade? A essa perturbação chamo sofrimento.
Se não gostar desse sofrimento (eventualmente há sofrimento, talvez em pequena quantidade, como alguma saudade, que pode ser igual a gozo), então digo «Por que sofro?», «Amava-o tanto!», «Ele era assim», «Eu tinha-o». Tento fugir através de palavras, de rótulos, de crenças (mas deve estar no céu, está melhor agora…), como a maior parte de nós faz. Isso atua como um narcótico. Se eu não agir desse modo, o que acontecerá? Fico simplesmente atento ao sofrimento.
Não o condeno, não o justifico – estou a sofrer. Depois, posso seguir o seu movimento, todo o conteúdo do que ele significa - «sigo» no sentido de tentar compreender algo.
O que quer isto dizer? O(quem) é que sofre? Não por que é que há sofrimento, não qual é a causa do sofrimento, mas sim o que é que está de fato a acontecer. Não sei se está a ver a diferença. Assim estou apenas com atenção ao sofrimento (diria mais concentração, apesar de, normalmente K. privilegiar a atenção, que considera mais vasta e não exclusivista, à concentração), não como estando separado dele, não sendo um observador olhando (estupidamente?) para o sofrimento – este faz parte de mim, é o todo, que eu sou, que sofre. E, então serei capaz de seguir o seu movimento, ver para onde ele se dirige. Claro que se fizer deste modo ele desvenda-se, não é verdade? E verei que tinha dado mais importância ao «eu» do que á pessoa que “amo”. (Isto é: cada sofrimento terá a sua causa, mas, existe também uma Causa absoluta do sofrimento, a saber: o egoísmo =estupidez, pois, Vida = Relação, o contrário de egoísmo; logo, ser egoísta é como que andar a bater sempre com a cabeça nas paredes; como pode isso não dar em sofrimento?)

Págs. 59 e 160 de: “ O Sentido da Liberdade”, de K. da Presença
“E quando a meditação se torna busca de visões e experiências, então conduz à ilusão e à auto-hipnose. Somente por meio do florescimento do pensamento e do seu consequente término, a manifestção pode ter significado. ( também é raro K. falar de justiça. Não será que em K. a justiça se manifesta precisamente neste florescimento do pensamento?)
O pensamento só pode florescer em liberdade e não através dos padrões sempre crescentes do conhecimento. O conhecimento pode conferir novas experiências e uma enorme sensação, porém uma mente que procura experiências de qualquer tipo é imatura. Maturidade é ser\estar livre de toda a experiência, e deixarmos de nos sujeitar à influência do ser/ter e do não-ser/ter. A maturidade da meditação consiste em libertar a mente do conhecimento, porque este molda e controla toda a experiência. A mente que é uma luza para si mesma não necessita passar por nenhuma experiência. Imaturidade é ânsia por experiências mais elevadas e vastas, enquanto a meditação é o errar pelo mundo do conhecimento e estar\ser livre dele para poder mergulhar no desconhecido. Temos de descobrir por nós mesmos e não através de quem quer que seja. Tivemos a autoridade de mestres e salvadores mas, se realmente quiserdes descobrir o que é a meditação tereis de abandonar completamente toda a autoridade.”

Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o

Tuesday, April 13, 2010

Sobre o sofrimento (e o prazer)

Pergunta: qual é o significado da dor e do sofrimento?

Krishnamurti: quando sofremos, quando sentimos dor, o que é que isso significa? A dor física tem um significado (acidente, doença…) mas provavelmente estamos a referir-nos à dor e ao sofrimento psicológicos, o que tem um significado muito diferente a vários níveis. O que significa sofrer? Por que queremos encontrar o significado do sofrimento? (Krish. falou aprofundadamente no significado do prazer? Não sei. Claro que conheço referências suas aqui e ali a esta questão: dum modo geral ele diz que prazer físico = dor física, pelo menos na actual situação, e, acho que está certo. Pois, sendo manifesto que há muitos prazeres físicos e mentais que servem altamente à Vida, que é Divinalmente boa, é também patente que o abuso e a perversão dos prazeres, não só físicos, conduzem ao sofrimento. Além do mais, existem muitos prazeres espirituais,(ainda que não separemos nem prazeres, nem dores, nem nada), chamados de alegrias, felicidade, gozo, êxtase de que muitos pensam não ser para eles, sendo porventura a insistência nos prazeres da carne uma das causas dessa situação, mas talvez não só: muitos espiritualistas, que K. não é de modo algum, não vê, por exemplo o mal no sexo normal que muitos religiosos vêem, têm muita culpa. Entretanto, fui buscar para aqui a questão do prazer, porque, pelo menos aqui, ele não vai dizer que uma das fugas – e as fugas serão sempre más? - à dor pode ser a procura do prazer. Por outro lado, e esta é uma das enormes descobertas de K., descobrir a Verdade é sempre muito mais importante do que a melhor das fugas! Sendo que, se quisermos saber o significado do prazer ou de outra coisa qualquer, teremos de aplicar os princípios que vão aqui e em quase todos os ensinos de K ser explicados).
Não quer dizer que não tenha nenhum significado – vamos descobrir isso. Mas por que queremos saber? Por que queremos descobrir a razão de sofrermos? Quando colocamos a nós mesmos a questão: por que sofro? E ficamos â procura da causa do sofrimento, não será que estamos a fugir do sofrimento? Quando procuro o significado do sofrimento, não estarei a evitar, a escapar, a fugir desse sofrimento? O fato é: estou em sofrimento; mas no momento em que faço entrar a mente para actuar sobre o sofrimento e pergunto porquê? Já diluí a intensidade do sofrimento. Por outras palavras, queremos que o sofrimento se dissolva, seja aliviado, posto longe, seja explicado. Certamente que isso não proporciona uma compreensão do sofrimento (é sabido que uma dor menor pode servir para evitar uma maior). Se eu estiver liberto do desejo de fugir, ,(este é um dos grandes princípios de K. para a compreensão de todo o Real, toda a Verdade)então começo a compreender qual é o conteúdo do sofrimento (e não há muitas pessoas que também fogem, por vezes com fortes motivos até, do prazer?).
O que é o sofrimento? Uma perturbação a vários níveis – no nível físico e em diferentes níveis do subconsciente. (O prazer é uma harmonia, uma energia, uma satisfação, um bem estar, um compreender, um amar, um fazer bem…)…

Pág. 159 de: “O Sentido da Liberdade” de Krishnamurti, da Editorial Presença, Lisboa
Por vezes tenho dificuldades em compreender Krishnamurti. Aliás, nem sei quanto do seu ensino tenho. Mas, naquele a que tenho tido acesso e a que a todo o momento considero extraordinário, ele não parece ser favorável a nenhuma competição. A pergunta que lhe faria pois é: toda a competição será má?


Isto é: quero ganhar; não sei muito bem porquê, mas quero ganhar. Mas, ganhar tem custos, pode ser doloroso. Posso então contentar-me em empatar. Entretanto, lembro-me do terceiro, que deseja a nossa derrota para ele ganhar. Ah, já sei porque quero ganhar: quero ganhar porque todos desejam ganhar. Faz parte da vida querer ganhar; mas, não pode ser só um a ganhar; todos têm de ganhar. E, há milhares de coisas para ganhar: é preciso é ganhar alguma coisa. Se não consigo ganhar uma coisa, vou procurar ganhar outra. E, sempre todos podemos ganhar alguma coisa… Vista deste modo, toda a competição será má?
Crença, a base do conflito

"... Assim a nossa pergunta é: «será possível a mente libertar-se da crença e do conhecimento acumulado?» Não terá a mente por base esse conhecimento e essa crença? Não será a estrutura da mente esse conhecimento e essa crença? A crença e os conhecimentos são os processos do (re)conhecimento, o centro da mente. O processo é limitador, é consciente e é também inconsciente. Poderá a mente libertar-se da sua própria estrutura? A mente poderá deixar de existir, tal como a conhecemos? É esse o problema. Tem na sua base a crença, o desejo, o impulso para estar segura, conhecimentos e acumulação de força. Se com todo este poder e superioridade, uma pessoa não é capaz de pensar por si mesma, não pode haver paz no mundo. Pode-se falar de paz, podem-se organizar partidos, pode-se gritar do alto das casas; mas não pode haver paz; porque na mente está a propria base que cria contradição, que isola e separa. Um homem pacífico, um homem sério, não pode isolar-se e ao mesmo tempo falar de fraternidade e de paz. Isso é apenas um jogo, político ou religiosos, um modo de obter o que se deseja e ambiciona. Uma pessoa que sente realmente interesse pela fraternidade e pela paz, que quer descobrir, tem de encarar este problema do conhecimento acumulado e da crença; tem de estudá-lo a fundo, para descobrir todo o processo do desejo em ação, o desejo de estar seguro, o desejo de estar certo.
Para se encontrar num estado em que o NOVO possa acontecer - seja a Verdade, Deus,(A Paz) ou o que quisermos -, a mente deve deixar, certamente, de adquirir, de acumular; tem de pôr de lado todos os conhecimentos. A mente carregada de conhecimentos não pode, seguramente, compreender o que é Real, o que é Imensuraável".

Pág. 61 de: "O Sentido da Liberdade", de Krishnam., da E. Presença, Lisboa
" A procura de experiências transcendentais, mais amplas e mais profundas, é sempre um modo de escape à realidade de "o que é", do que nós próprios somos - a nossa própria mente condicionada. Por que razão haverá uma mente inteligente e desperta, liberta, de ter uma experiência qualquer? Luz é luz; ela não pede por mais. (E,segundo K. o grande propósito da vida...é VIVer.)
Se vos preparardes deliberadamente para meditar isso deixará de ser meditação. Se fizerdes por se bons, jamais a bondade poderá florescer. Se cultivardes a humildade, ela deixará de o ser. Meditação é a brisa que entra quando deixais a janela aberta; porém, se o fizerdes deliberadamente, e a convidardes a entrar, ela jamais surgirá (embora não tenha de ser sempre assim, mesmo em K., suponho).
Em meditação temos de descobrir se existe um fim para o conhecimento e também se existe libertação do conhecido.
Coisa extraordinária é a meditação. Se existir algum tipo de compulsão ou esforço, a fim de se ajustar o pensamento, tratar-se-á de imitação, o que tornará tudo um fato fastidioso. O silêncio que é desejo, deixa de ser esclarecedor. (o desejo, o desejo!)

Fonte: http://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o

Monday, April 12, 2010

“…O que é que impede os seres humanos de serem realmente bons? Qual é a barreira? Qual é o obstáculo? Por que é que nós, seres humanos, não somos verdadeiramente, lucidamente bons? Aquele que é capaz de observar compreende o que o mundo é, e que ele é o mundo, que o mundo não é diferente dele: é ele que (como ser humano) tem criado esta sociedade, que tem criado as religiões com os seus inumeráveis dogmas, crenças e rituais, com as suas separações, com as suas fações. Os seres humanos têm criado tudo isto.
Será tudo isto que nos impede de sermos verdadeiramente bons? Será porque temos crenças, ou porque somos tão egocêntricos, tão preocupados com os nossos problemas de sexo, medo, ansiedade, isolamento, sempre a querermos obter sucesso pessoal, a querermos identificar-nos com isto ou com aquilo? Se são estas coisas que de facto impedem um ser humano de ser realmente bom, então não as podemos deixar ter qualquer influência na nossa vida. Se percebemos que, para fazer nascer a bondade, todas as pressões, vindas de qualquer direção – incluindo as nossas próprias crenças, os nossos princípios, os nossos ideais – impedem totalmente que essa bondade exista em nós, então naturalmente pomos de lado todas essas pressões, sem qualquer hesitação ou conflito, porque não têm sentido.
O enorme caos e a grande desordem existentes em todo o mundo são um perigo para a vida. Estão a espalhar-se por todo o lado. Assim, todo o sério observador de si mesmo e do mundo precisa de pôr estas questões.
Os políticos, os cientistas, os filósofos, os psicanalistas, os gurus (quer venham da Índia, do Tibete ou de outro país qualquer) não têm resolvido os nossos problemas humanos; têm oferecido todas as espécies de teorias, mas não têm realmente resolvido os problemas que temos. E ninguém a não sermos nós os resolverá. Temos de ser nós mesmos a resolvê-los, porque quem tem criado esses problemas somos nós. Infelizmente, porém, não nos dispomos a olhar para os nossos próprios problemas e a examina-los profundamente, para investigarmos por que é que vivemos as nossas vidas egoisticamente, totalmente centrados em nós próprios.
Perguntamos então se cada um de nós será capaz de viver uma vida de bondade, com a sua beleza e o seu carácter sagrado. Se não formos capazes, então aceitaremos o crescente perigo de caos nas nossas próprias vidas, nas vidas dos nossos filhos, e tudo o mais de degradará.
Estaremos dispostos a investigar a questão do autoconhecimento? Porque cada um de nós é o mundo. Os seres humanos por todo o lado – qualquer que seja a sua cor, a sua religião, as suas crenças, a sua nacionalidade – sofrem psicologicamente, interiormente. Passam por grandes ansiedades e grande isolamento, têm um desespero e uma depressão intensos e um sentimento da ausência de sentido da vida, tal como a vivemos.
Em todo o mundo as pessoas são psicologicamente semelhantes. É uma realidade, é um fato. Assim, psicologicamente somos o mundo e o mundo é nós. E quando nos compreendemos a nós mesmos, estamos a compreender toda a estrutura e toda a natureza humanas. Não se trata de uma mera investigação egoísta, porque quando nos compreendemos a nós mesmos passamos para além de nós, e surge uma dimensão diferente.
O que é que nos fará mudar? Mais choques? Mais catástrofes? Outras formas de governo? Ideias diferentes? Temos tido uma grande variedade de tudo isso e no entanto não temos mudado. Quanto mais sofisticada é a nossa civilização, quanto mais civilizados nos tornamos – civilizados no sentido de mais afastados da natureza – mais desumanizados vamos ficando.

Meditação, da Dinalivro - K.
De: A Arte da Meditação, de J. Krishnamurti

"Silêncio e imensidão andam juntos. A vastidão do silêncio é a imensidão da mente em que nõa existe um centro.
Meditação é trabalho árduo e exige a mais elevada forma de disciplina - e não conformação, imitação ou obediência - a disciplina que sobrevém por meio da atenção constante, não só das coisas relativas a nós externamente como também interiormente. Assim, a meditação não é uma atividade de isolamento mas a ação da vida diária, uma acção que exige COOPERAÇÃO, SENSIBILIDADE e INTELIGÊNCIA. Sem estabelecermos as fundações de uma vida correta, a meditação torna-se uma fuga e, portanto, não tem valor nenhum. Um viver correcto não significa seguir a moral social, mas libertação da inveja, da cobiça e da busca de poder - tudo o que gera inimizade. A libertação disso não sobrevém pela atividade da vontade mas pela atenção para com isso, por meio do autoconhecimento.
Sem conhecermos as atividades do eu, a meditação torna-se excitação sensual e, portanto, possui muito pouco significado".


Fonte: http://www.scribd.com/doc/6684722/Krishnamurti-A-Arte-Da-Meditacao
SOBRE A TRANSFORMAÇÃO

Pergunta: O que entende o senhor por transformação?

Krishnamurti: É óbvio que tem de acontecer uma revolução radical. A crise mundial exige-a. As nossas vidas também exigem essa transformação. Os nossos problemas pedem que haja uma mudança. Tem de haver uma revolução fundamental, radical, porque tudo à nossa volta está em colapso. Ainda que pareça haver ordem, existe de fato destruição e uma lenta queda: a onda da destruição está constantemente a sobrepor-se à onda da vida.
Portanto, tem de acontecer uma revolução – mas não uma revolução baseada numa ideia (nem num homem ou mulher). Uma revolução baseada numa ideia será meramente a continuação da(s) ideia(s), e não uma transformação radical. Uma revolução baseada numa ideia traz derramamento de sangue (vermelho, branco ou de outras cores…), fragmentação, caos. Não se pode criar ordem a partir do caos. Não somos os «escolhidos de Deus», para podermos gerar ordem a partir da confusão. Estamos perante um falso modo de pensar por parte daquelas pessoas que querem gerar mais e mais confusão para que depois possa existir ordem. Porque no momento em que estão no poder, elas assumem que sabem todas as maneiras de se produzir ordem ( Confusão, terra queimada, morte, destruição… Primeiro só desordem, depois só ordem… Um pouco como a separação radical do bem e do mal, não é?). Vendo a globalidade de toda esta catástrofe – a constante repetição de guerras, o infindável conflito entre classes sociais e entre os povos, a enorme desigualdade económica e social, a distância entre os que estão felizes, os que não são incomodados, e aqueles que são apanhados pelo ódio, pelo conflito e pela desgraça – observando tudo isto, tem de acontecer uma revolução, uma transformação completa, não é verdade?
Será essa transformação, essa revolução radical uma coisa definitiva, ou será algo que acontece momento a momento? Sei que gostaríamos que fosse uma coisa final, porque é muito fácil pensarmos em termos de distância temporal. «Um dia seremos transformados»; «um dia seremos felizes»; «um dia encontraremos a Verdade»; entretanto, nada acontece. Certamente que uma tal mente, pensando em termos de futuro, é incapaz de agir no presente (o mesmo para a que está sempre a pensar em termos de passado); assim, essa mente não busca a transformação, está simplesmente a evitar a transformação. O que quer dizer transformação?
A transformação não está no futuro, nunca poderá estar no futuro. Ela só pode estar no agora, em cada momento. Assim, o que queremos dizer com transformação? É decerto muito simples: ver o falso como falso e o verdadeiro como verdadeiro; ver a verdade do falso e ver o falso naquilo que é aceite como verdadeiro. A transformação é ver o falso como falso e o verdadeiro, porque quando vemos muito claramente uma coisa como sendo verdadeira, essa liberdade liberta. (E) quando vemos que algo é falso, essa coisa falsa desaparece. Quando vemos que as cerimónias são meras e vãs repetições, quando vemos a verdade disso e não arranjamos justificações, acontece uma transformação, porque terminou mais uma dependência. Quando vemos que a diferença de classes (qualquer classe, claro) é falsa, que isso gera conflito, infelicidade, divisão entre pessoas – quando vemos a liberdade disso, essa mesma liberdade liberta-nos. A própria percepção dessa verdade é transformação. Estando rodeados de tanta coisa falsa, percepcionarmos a falsidade, momento a momento, é, em si, transformação. A Verdade não é acumulativa. Ela está presente em todos os momentos. Aquilo que é acumulativo, que se junta, é memória, e através da memória nunca podemos encontrar a Verdade, porque a memória pertence ao tempo – tempo sendo passado, presente e futuro. O tempo, que é continuidade, nunca pode encontrar aquilo que é eterno. A eternidade está no momento, no agora.. O agora não é reflexo do passado nem é a continuação do passado atravessando o presente e seguindo em direção ao futuro. (Isto não quer dizer que no eterno não há movimento, mas tão somente que cada momento é sempre novo, perfeito e bom, não é?)

Págs, 268 e 269 de: “O Sentido da Liberdade”, de J. Krishnamurti, da Editorial Presença, Lisboa, 2007

Saturday, April 10, 2010

PARA UMA SOCIEDADE DIFERENTE (melhor)

Por que é que o ser humano não tem sido capaz de mudar (ser bom)? Só muda (melhora) um pouco num ou noutro aspecto, e no entanto deseja que haja uma sociedade boa. Deseja ordem, não apenas em si mesmo, nas suas relações, íntimas ou outras, mas deseja também paz no mundo; deseja que o deixem viver em plenitude, ter alguma espécie de felicidade.
Ao longo da história, se repararmos, tem sido isso o que a humanidade tem procurado, desde os tempos antigos. E, contudo, quanto mais o homem se torna civilizado, mais cria desordem, mais guerras existem. Não tem havido na terra nenhum período em que não tenha havido guerras – os homens matando-se uns aos outros, uma religião (ou pessoa) reprimindo (ou pressionando) outra, instituições e organizações dominando e destruindo outras.
Conscientes desta luta constante, será que não perguntamos se é possível neste mundo, sem fugirmos dele, sem nos refugiarmos numa comunidade ou nos tornarmos eremitas ou monges, mas viver neste mundo de modo equilibrado, feliz, inteligente, sem toda esta batalha dentro e fora de nós? Se fazemos esta pergunta – e espero que a estejamos a fazer agora, porque estamos a refletir juntos – então temos de fazer o possível para que haja uma sociedade boa.
Criar uma sociedade boa foi o sonho dos antigos hindus, dos antigos gregos e epípcios. E uma sociedade boa só pode existir quando os seres humanos forem bondosos, porque sendo bondosos criam bondade nas suas relações, nas suas actividades, na sua maneira de viver.
O bem também significa beleza, também significa o que é sagrado (imensurável, inominável, verdadeiro, autêntico, sem contradição alguma, vivo…); está relacionado com Deus, com os mais elevados princípios. Esta palavra bem precisa de ser claramente compreendida. Quando há bondade em nós, então o que quer que façamos será bom, o nosso relacionamento, as nossas ações, a nossa maneira de pensar. Pode-se captar instantaneamente todo o significado dessa palavra, a sua extraordinária qualidade. Vamos refletir junto sobre tudo isto muito atentamente, porque se o examinarmos com muita profundidade, isso afeta a nossa consciência, afectará a nossa maneira de pensar, a nossa maneira de viver. Assim, demos atenção à compreensão desta palavra.
A palavra não é a realidade: posso descrever uma montanha de modo muito belo, ou escrever um poema sobre ela, mas a palavra, a descrição, o poema não é o real. Geralmente, porém, somos afastados emocionalmente e emocionalmente, da realidade, pela descrição, pela palavra.
A bondade não é o oposto do mal, porque não tem nenhuma relação com ele, tal como não tem com o que é feio, com o que não é belo. A bondade existe por si mesma. Se dissermos que o bem pode vir do mal, do feio, então o bem teria em si o mau, o feio, o brutal; portanto, o bem tem de estar, e está, totalmente separado daquilo que não é bem. ( Por vezes gostava muito de poder dialogar com Krish, mas, se calhar dialogo. Grande amigo: mas, no caso das fezes, não só fisiológicas, como mentais, psicológicas, espirituais, sociológicas, tecnológicas... algo que em dado momento não é bom e cheira mal e está separado do bem – benditos separadores e também os misturadores! - depois de tratadas naturalmente ou pelo homem, passam a sê-lo…)
O bem não pode existir quando há a aceitação de qualquer autoridade psicológica. A autoridade é algo muito complexo. Há a autoridade da lei que o homem tem criado através dos séculos. Há a lei da natureza. Há a lei da nossa experiência a que…"

In: Pág. 25 e 26 de: “MEDITAÇÃO a luz dento de nós”, de J. Krishnamurti, da Dinalivro, Lisboa - 2004
MEDITAÇÃO


“Já alguma vez tereis dado a alguma coisa uma atenção total? Estareis a dar atenção ao que este orador/escritor está a dizer? Ou estareis a ouvir com uma mente comparativa que já adquiriu certos conhecimentos e está a comparar o que está a ser dito com o que já conheceis?... Nesta atenção não há fronteiras e, portanto, não existe direção alguma. Só há atenção e, quando essa atenção existe não há eu e tu, não existe dualidade, não há separação entre observador e observado.
… Somos/fomos educados e condicionados para… irmos em direcção a determinados objectivos. Temos uma ideia, … uma crença de que há uma realidade, uma bem-aventurança, algo para além do PENSAMENTO, e fixamos isso como um ideal, uma meta a atingir, e caminhamos nessa direção.. Quando estamos concentrados e caminhamos ou pensamos numa determinada direção, não temos espaço na mente. E não temos espaço quando a nossa mente está cheia de coisas a que estamos apegados, de medos, de busca de prazeres, de desejo de posição e poder. A mente está então completamente cheia, não tem espaço. Mas ele é necessário, e onde há atenção não há direção, mas sim espaço.
Ora, a meditação implica uma total ausência de movimento, de agitação da mente, o que significa que ela está em completa quietude, não se está a mover em direcção alguma. Não há movimento… do pensamento. Se percebemos profundamente a verdade disto – não (só) a descrição verbal, mas a verdade (que é muitíssimo mais do que o descrito), então existe realmente essa mente tranquila, silenciosa. E é preciso ter uma mente tranquila – mas não com o objetivo de dormir mais tempo, de fazer melhor o trabalho ou de conseguir ganhar mais dinheiro (embora isso possa acontecer).
As vidas da maior parte das pessoas são vazias, interiormente pobres. Embora grande parte delas possa ter acumulado muitos conhecimentos, as suas vidas são sem profundidade, contraditórias, incompletas, infelizes. Tudo isso é pobreza, e muitos gastam as suas vidas a tentarem esforçar-se por adquirir qualidades, cultivando várias formas de de virtude – mas a virtude não se cultiva… O que não quer dizer que a virtude não seja necessária.
Virtude é ordem, e a ordem só pode ser compreendida quando se observa a desordem em nós mesmos. Na realidade levamos vidas desordenadas. Essa desordem é a confusão e a falta de lucidez, a pressão dos vários desejos, a contradição – dizendo uma coisa e fazendo outra – o fato de termos ideais, que criam conflito, divisão, entre o que realmente somos e esses ideais. Tudo isso é desordem. Mas quando tomamos consciência dela e lhe damos toda a nossa atenção nasce a ordem, que é integridade, virtude – uma coisa viva e não algo artificial, praticado deliberadamente e que por isso perde toda a sua beleza.
A meditação na vida diária é a transformação da mente, uma revolução psicológica que nos leva a viver uma vida – não em teoria, não como um ideal, mas plenamente – com amor por todos os seres, e uma energia que transcende toda a mesquinhez, estreiteza e superficialidade. Quando a mente está em silêncio – verdadeiramente tranquila, não obrigada a aquietar-se pela vontade – há nela um movimento, uma atividade totalmente diferente, que não é do tempo.
Abordar esse assunto seria absurdo. Seria uma descrição verbal e, portanto, não seria real. O que é importante é a arte da meditação. Um dos sentidos da palavra arte é o de pôr tudo no seu lugar certo, na nossa vida diária, de tal modo que não há confusão mas lucidez. E quando no dia a dia há ordem, uma conduta reta e uma mente completamente serena, então esta descobre, por si mesmas que o Imensurável existe. Até descobrirmos isto, que é a mais alta forma do sagrado, a vida é monótona, rotineira, sem sentido. É por isso que a meditação correta é absolutamente necessária para que a mente seja jovem, fresca, inocente. Inocente no sentido de não ser capaz de ferir ou de sentir-se ferida. (Efetivamente, não basta não ferirmos: também temos de cessar de nos sentir feridos; senão, o sofrimento nunca termina, não é?).
Tudo isto está implicado na meditação, que não está divorciada do nosso viver quotidiano (momento a momento), e é indispensável para a compreensão desse viver. Dar completa atenção ao que estamos a fazer – ao modo como falamos (olhamos, lidamos)com alguém, ao modo como andamos, como pensamos, (como desejamos)…dar atenção a tudo isso, faz parte da meditação.
A meditação não é uma fuga à realidade. Não é uma coisa misteriosa. Da meditação nasce uma vida que é sagrada. E que leva portanto a tratar todos os seres como sendo sagrados.”

In: Pág. 22 a 24 de: “MEDITAÇÃO a luz dento de nós”, de J. Krishnamurti, da Dinalivro, Lisboa - 2004

Friday, April 09, 2010

MEDITAÇÃO

“Estamos interessados na totalidade da vida, não apenas numa parte dela, dando atenção a tudo o que fazemos, ao que pensamos, ao que sentimos, a como procedemos. Estamos em relação com a totalidade da vida, portanto, não podemos tomar apenas um fragmento dela que é o pensamento, e através dele procurar resolver todos os nossos problemas. O pensamento pode atribuir a si próprio autoridade para juntar todos os outros fragmentos, mas é o pensamento que cria fragmentação.
Estamos condicionados para pensar em termos de progresso, de um aperfeiçoamento gradual. As pessoas acreditam na «evolução psicológica», mas será que o «eu» consegue realizar, psicologicamente, alguma outra coisa que não seja uma projeção do pensamento?
Para descobrir se há algo que não seja projectado pelo pensamento, que não seja uma ilusão, um mito, temos de investigar se o pensamento pode ser controlado, se pode ser reprimido, para que a mente esteja completamente serena.
Controle implica a existência de controlador e controlado, não é assim? Mas quem é o controlador? Não é ele também criado pelo pensamento, não é ele uma parte do pensamento que assume a autoridade como «controlador»? Se vemos a verdade disto, então o «controlador» é o controlado, o experienciador é o experienciado, o pensador é o pensamento. Não são entidades separadas. Se compreendemos isto, então não há qualquer necessidade de controlar. Se não há controlador porque o controlador é o controlado, então o que acontece? Quando há uma divisão entre o controlador e o controlado, há conflito, há um desperdício da energia.
Mas quando vemos que o controlador é o controlado não há dissipação de energia. Há então a acumulação de toda essa energia que é dissipada na repressão, na resistência produzida pela divisão em controlador e controlado. Quando não há divisão, tem-se toda a energia necessária para ultrapassar aquilo que se pensava que precisava de ser controlado.
É preciso compreender claramente que na meditação não há que controlar nem disciplinar o pensamento, porque aquele que disciplina, que controla o pensamento é um fragmento do próprio pensamento. Se vemos a verdade disso, então temos toda a energia que é dissipada através da comparação, do controle, da repressão, (imaginemos, somos capazes?, então a energia ao nosso dispor, para viagens não só interplanetárias como intergaláticas, para curas, para… com o fim de todas as comparações, controles, e repressões, não só das psicológicas!), para podermos ultrapassar a agitação causada pelo pensamento. (Que absurdo, não é, o desperdício de carradas e carradas, infinitas carradas de tanto pensamento e de tanta acção !! E, uma ignorância do tamanho do mundo! –: “Aquietemo-nos, sosseguemos, e, saibamos que Deus é Deus”!!!)
Assim, perguntamos se a mente pode estar em completa quietude, porque aquilo que está sereno tem grande energia, uma energia imensa.
Poderá a mente – que está sempre a tagarelar interiormente, sempre em movimento (e a fugir da verdadeira inteligência!); com o pensamento sempre a olhar para o que já passou, sempre a lembrar e a acumular conhecimentos, em constante alteração – ficar completamente serena (inteligente)? Já teremos tentado alguma vez descobrir se o pensamento pode ficar quieto? Como é que vamos descobrir como dar origem a esta quietação (infinitamente poderosa) do pensamento? Porque pensamento é tempo (e espaço) e tempo (e espaço) é (são) movimento, é (são) medida, o que significa compararar.
… Podemos deixar completamente de comparar… na vida diária (a cada momento)?... Quando essa comparação cessa, como é preciso que cesse, seremos então capazes de ficar inteiramente sós, sem sermos influenciados, e termos completa lucidez? É isso o que acontece quando não nos comparamos com outros – o que não significa que fiquemos a «vegetar»… Portanto, seremos nós capazes, no dia-a-dia, (momento a momento, segundo a segundo…) de viver sem nos COMPARARMOS com alguém (ninguém)? Façamos isso uma (duas, três, quatro…) vezes e descobriremos o que isso traz consigo: libertamo-nos então de um fardo tremendo; e quando nos libertamos de um fardo (completamente) desnecessário, temos uma (incrível) ENERGIA!!!!

In: Pág. 20 a 22 de: “MEDITAÇÃO a luz dento de nós”, de J. Krishnamurti, da Dinalivro, Lisboa - 2004