SOBRE A CRENÇA EM DEUS
Pergunta: Acreditar em Deus tem sido um poderoso incentivo para melhorar a vida. O senhor rejeita Deus, porquê? Por que não tenta restabelecer a fé do homem na ideia (como se a ideia fosse uma grande coisa!) em Deus?
K. – Olhemos para o problema de um modo aberto e inteligente. Eu não rejeito Deus – isso seria demasiado estúpido. Só o homem que não conhece a realidade (quase Deus) utiliza palavras sem significado (Deus?). Aquele que diz que sabe, não sabe; o que experiencia a Realidade a todo o momento não tem (todos?) os meios para comunicar essa realidade.
A crença é a negação da Verdade (o que faltava); a crença impede a Verdade; acreditar em deus é não encontrar Deus. Nem o crente nem o não-crente encontram Deus; porque a Verdade é Desconhecido, e acreditar ou não no desconhecido é uma projeção pessoal e portanto não é Real. Sei que você é crente, e sei também que isso tem pouco significado na sua vida.Há muita gente crente; milhões acreditam em Deus e nisso obtêm consolo. Primeiro que tudo, porque é crente? É crente porque isso lhe dá satisfação, coforto, esperança e, como você afirma, dá significado à vida. De fato, o seu acreditar tem muito pouco significado, porque acredita e explora os outros, acredita e mata, acredita num Deus universal e aceita que os homens se matem uns aos outros. O homem rico também acredita em Deus, ele explora sem piedade, acumula riqueza, e depois constrói um templo ou torna-se filantropo (benemérito!).
Os homens que largaram a bomba atómica em Hiroshima disseram que Deus estava com eles; aqueles que voaram de Inglaterra para destruir a Alemanha afirmavam que Deus era o seu co-piloto. Os ditadores, os primeiros ministros, os generais, os presidentes, todos eles falam de Deus, têm imensa fé em Deus. E estão eles a fazer o que devem fazer, construindo uma vida melhor para os seres humanos? As pessoas que afirmam acreditar em Deus já destruíram metade do mundo, e este planeta está uma completa desgraça. Através da intolerância religiosa criam-se divisões entre os povos, os que acreditam, os que acreditam e os que não acreditam (ou os que acreditam numa maneira e os que acreditam doutra maneira), o que conduz a guerras religiosas. Isso demonstra como as nossas mentes estão extraordinariamente politizadas.
Será que acreditar em Deus é «um poderoso incentivo para uma vida melhor»? Por que queremos nós um incentivo para viver melhor? Claro que esse incentivo dever ser o nosso próprio desejo de viver com higiene e com simplicidade (tudo o que vai para além disto, nomeadamente a acumulação, só pode prejudicar, porque não é justo), não é assim? Se procuramos um incentivo, é porque não estamos interessados em tornar a vida melhor para todos, estamos apenas interessados no nosso incentivo, que é diferente do de outra pessoa – e acabaremos por lutar por causa de um incentivo! Se vivemos em paz uns com os outros, não porque acreditamos mas porque somos seres humanos, então partilhamos todos os meios de produção com o objetivo de produzir coisas para toda a gente (e, vemos Deus!). Devido à falta de inteligência, aceitamos a ideia de uma superinteligência a que chamamos «Deus»; mas esse «Deus» não nos vai proporcionar uma vida melhor. O que conduz a uma vida melhor é a Inteligência; e não pode existir inteligência-Deus, se houver crença, se houver divisões sociais (até e nas igrejas, nos partidos, nos clubes, nos países, nos blocos!...), se os meios de produção (e distribuição) estiverem nas mãos de poucos indivíduos, se existirem nações isoladas e governos soberanos. Tudo isto indica falta de inteligência e é a falta de inteligência que está a impedir uma vida melhor…” K , J e Editorial Presença
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