Thursday, May 13, 2010

“… Só a mente meio adormecida precisa das intimações dos seus próprios estados. Porém, às mediada que a mente observa e atenta ao movimento do viver – sobrevém um silêncio que não é suscitado (nem subscrito) pelo pensamento. Não se trata de um silêncio que o observador possa experimentar(ou descrever); se o fizer e o reconhecer como tal, não mais se trata de silêncio (vai-se; passa a outra coisa). O silêncio da mente meditativa (como todo o novo e divino) não se situa nos limites do silêncio superficial do reconhecimento, pois este silêncio tem fronteiras; no verdadeiro silêncio, meditativo, o espaço da divisão deixa de existir.
No espaço que o pensamento cria em torno de si mesmo não existe amor. Esse espaço divide o homem do seu semelhante e nele está todo o vir a ser e a luta da vida; a agonia e o medo. A meditação é o fim desse espaço: o findar do eu. Então, os relacionamentos adquirem um sentido completamente diferente porque, nesse espaço, não criado pelo pensamento, o outro não existe, porque nós não existimos (mas, existe o amor, o supremo!). A meditação então não é a perseguição de uma visão, por mais que esta tenha sido santificada pela tradição. Pelo contrário, é um espaço infinito onde o pensamento não pode penetrar (embora não por impedimento). Para nós, o pequeno espaço criado pelo (pequenino) pensamento em torno de si – que forma o pequeno, mesquinho eu – é extremamente importante, porque é tudo o que a mente/nós conhecemos, identificando-se ela mesma com tudo o que está contido nesse espaço. Na meditação, e só quando isto é compreendido, a mente só pode entrar espacialmente quando a sua ação é inação, quando para de pensar. Desconhecemos o que seja o amor porque nesse espaço criado pelo pensamento em torno de si, na forma do eu, o pseudo- amor é o conflito do eu e do não eu (da expansão e da contração). Esse conflito e tortura não são amor (como podiam sê-lo?). O pensamento é, aliás, a única negação do amor, não podendo, por isso mesmo, entrar no espaço onde o(s) eu(s) não estão presentes, não existe(m). Neste espaço reside a bênção que o homem busca e não encontra, por a buscar (mal). Ele busca-a dentro das fronteiras do pensamento, mas o pensamento aniquila a bênção – o êxtase dessa bênção.
A percepção sem a palavra, sem o pensamento, não somente com o cérebro, mas com todos os sentidos, é um dos fenómenos mais estranhos (porque raros?), pois é vivíssima. Ela não é fragmentária, como a do cérebro e a das emoções (portanto não os excluindo, mas sendo também com o tato, a vista, o cheiro, a audição, o sabor, a tenção). Pode ela ser chamada de percepção total, e, faz parte da meditação. Percepção na meditação sem aquele que percebe significa comungar com a elevação e a intensidade do Imenso. Tal percepção é inteiramente diversa da visão de um objecto sem o observador (sem a divisão entre observador e observado ) porque no percebimento da meditação não há objeto (já somos um com o observado), mas êxtase, situado para lá da experiência, indescritível.
A meditação pode, contudo, ocorrer quando os olhos estão abertos e nos encontramos cercados por objetos (e pessoas e seres) de todo o género.” K e j

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