Thursday, May 20, 2010
“Estávamos ali sentados naquela praia a olhar os pássaros e o céu e a escutar o som distante dos carros que passavam. Estava uma manhã magnífica. Saímos com a baixa-mar e voltamos com o fluxo da maré; saímos longe para novamente voltarmos – esse eterno movimento para dentro e para fora… Podíamos vislumbrar o horizonte lá longe, onde o céu parece unir-se às águas. Era uma baía enorme de águas azuis e brancas, com casas muito pequenas ao redor e cadeias e mais cadeias de montes por detrás. Observávamos sem reação nenhuma, sem identidade (identificação?) nenhuma, e observávamos de modo infatigável, na verdade não nos encontrávamos despertos mas de consciência ausente, num estado de semi-presença. Não éramos nós que ali nos encontrávamos, mas tão só a observação que decorria. Observávamos os pensamentos que se erguiam e se desvaneciam, um atrás do outro, processo em que o próprio pensamento tomaria consciência de si mesmo. Não existe nenhum observador a observar o pensamento.Ali sentados naquela pria a observar as pessoas que passavam – dois ou três casais e uma mulher solitária – parecia que a natureza e tudo o mais ao redor, desde o profundo mar azul até às elevadas cadeias rochosas estavam em observação. Encontrávamo-nos a observar e não na expectativa da ocorrência de alguma coisa, tão só num ato de observação interminável. Essa observação acarretava aprendizagem – não a acumulação de conhecimentos que se efetua com o aprender que é quase inteiramente mecânico, mas uma observação minuciosa e profunda que possuía ligeireza e ternura. Desse jeito, não resultava observador nenhum. Quando o observador está presente trata-se unicamente de uma ação do passado a observar mas tal não corresponde a um observador e sim a um relembrar, uma coisa sem vida. A observação contudo é uma coisa tremendamente viva que torna cada momento puro ócio. Aqueles caranguejos pequenos e gaivotas e restantes aves que voavam estavam todos a observar, à espera de presas, peixe ou algo que pudessem comer; também esles estavam a observar.Mas, passasse alguém por vós e interrogar-se-ía sobre o que pudéssemos estar a observar. Não estávamos a observar nada, contudo, nesse nada existia (estava) Tudo.” - K
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