Wednesday, May 12, 2010

“ A beleza significa sensibilidade – ter um organismo sensível, o que implica regime alimentar correto e modo correto de viver. Então a mente torna-se calma a inconsciente de modo inevitável e natural. Não podeis torná-la tranquila pois sois vós que lançais a discórdia, vós próprios sois perturbados, inquietos, confusos – como podeis pois tranquilizar a mente? Porém quando entendeis o significado do silêncio, quando entendeis a confusão, o sofrimento, e, se este alguma vez poderá terminar, quando entendeis o prazer, dessa compreensão sobrevém uma mente extraordinariamente silenciosa; não tendes de a procurar. Tendes de começar pelo princípio, e o primeiro passo é também o último. Isso é meditação.
A madrugada tardava; as estrelas ainda brilhavam e as árvores ainda se encontravam em retiro; não se ouvia um único chamado dos pássaros nem mesmo dos mochos pequenos, que à noite fazem ruído a passar de árvore em árvore. Estava o ambiente estranhamente sereno à excepção do quebrar das ondas do mar. Havia aquele odor das muitas flores e folhas em decomposição e solo húmido; o ar estava demasiado parado e aquele odor estendia-se por toda a parte. A terra esperava a madrugada e o dia por vir. Havia expectativa, paciência e uma estranha quietude.
A meditação acompanhou esse silêncio que era amor; não o amor por alguma coisa ou por alguém, nem a imagem, o símbolo, a palavra ou os retratos. Era simplesmente amor sem sentimento nem sensação. Tratava-se de algo completo em si mesmo, desnudo, intenso, sem raiz (nem escolha), nem direção. O som daquele pássaro distante era esse amor; ele estava tanto na direção como na distância; estava lá sem tempo nem palavra! Não se tratava de uma emoção que se desvanece e se mostra cruel; o símbolo e a palavra podem ser substituídos, porém não a coisa. Despida como era, achava-se completamente vulnerável e assim também indestrutível. Possuía o vigor inacessível daquela diferença, o incognoscível que se aproxima por entre as árvores e para além do mar.
A meditação era o som daquele pássaro (um com o pássaro) que chamava no vazio (silêncio) e o marejar das ondas rebentando de encontro à praia. O amor só pode existir no mais completo vazio. A madrugada acinzentada lá estava ao longe e no horizonte as silhuetas das árvores tornavam-se mais negras e intensas. Na meditação não há repetição nem a continuidade do hábito (o que é hipnotismo e ilusão); dá-se (a cada momento) a morte de todo o conhecido (passado) e o florescimento do (novo), o desconhecido (o encoberto, o escondido, o potencial). As estrelas desapareciam e agora as nuvens assomavam com o sol que se erguia.
A meditação não é a repetição da palavra nem a experiência de uma visão; tampouco reside no cultivo do silêncio. Tanto as contas do rosário como a palavra podem silenciar a mente tagarela, porém, nesse ato existe um efeito auto-hipnótico. Bem que podemos do mesmo modo tomar uma pílula. A meditação implica não nos envolvermos num padrão de pensamento (ou ação), nem encantamento de prazer. A meditação não tem começo, portanto, não conhece fim. Se disserdes: “ começarei hoje mesmo a controlar os meus pensamentos, a sentar-me em silêncio numa postura de meditação, a respirar de modo rítmico”, então deixar-vos-eis apanhar pelos truques com que nos enganamos. A meditação não é questão de nos deixarmos absorver nem numa ideia qualquer ou imagem grandiosa; isso só silencia a mente durante algum tempo, como uma criança absorvida por um brinquedo, silenciada por um instante. Porém, assim que o brinquedo deixar de ter interesse, recomeçarão a inquietação e o tumulto. A meditação não reside na perseguição de um caminho invisível conducente a uma qualquer bênção imaginária. A mente meditativa é observação – olhar, atender e escutar (e saborear, e tocar, e cheirar…) sem a palavra, sem comentário e sem opinião; ela é atenciosa para com o movimento da vida em toda a extensão da relação, durante o dia todo. E à noite, quando o organismo estiver em descanso, tal mente não terá sonhos, por ter estado desperta durante todo o dia. Somente a mente indolente tem sonhos.” K

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