Tuesday, May 04, 2010

“Outros ribeiros e rios se lhe juntavam, porém tratava-se do rio principal entre os mais pequenos e os muito grandes. Caudaloso, estava em perpétuo movimento de auto-purificação; era uma bênção ver as suas águas douradas ao entardecer, por entre nuvens profusamente coloridas. O pequeno fiozinho de água, lá ao longe, por entre aquelas rochas gigantes que pareciam tão compenetradas em dar-lhe berço, constituía o começo ( não é sem início?) da sua vida, enquanto que o seu término (não é sem fim?) se situava para lá das suas margens, no mar. A meditação era aquele rio, só que não tinha (ou, e também não tinha) nem começo nem fim. Tivera início (ou não tivera início – paradoxo ou não, não interessa: o que interessa é o facto: o rio existe, rico, belo!), e o seu término… seria o seu próprio (re)começo. Não existia causa e o seu movimento era a sua renovação. Era sempre nova e nunca juntava para quando fosse velha (mas não bastará não juntar para não ficar velho), nem jamais se via manchada, por não ter raízes no tempo. É bom meditar sem esforço – sem esforço nenhum, aliás – começando (duvido muito que haja começo) como um fio e indo além do tempo e do espaço onde o pensamento e o sentimento não podem entrar e onde não há experiência.
A meditação não é nunca oração; a oração, a súplica, nasce da auto-piedade. Oramos quando estamos em dificuldades ou quando existe sofrimento, porém quando sentimos felicidade e alegria não há súplica (Há louvor e ações de graças, não é?). Essa auto-piedade tão intensamente embutida no homem, é a raiz da separação. Tudo quanto está separado, ou pensamos ser separado – mesmo pela procura da identificação com algo que não o seja – traz somente mais divisão e dor. Dessa confusão fazemos brotar o nosso clamor para os céus, para o nosso marido (ou esposa, mãe, amigo, filho(a)…) ou para uma divindade da mente, esse choro pode encontrar uma resposta, porém essa resposta é um eco da auto-piedade (mais conflito?), em meio a essa separatividade. O isolamento do pensamento sempre se situa do campo do conhecido; a resposta à oração é a resposta do conhecido. A meditação está longe disso; no seu campo não pode o pensamento penetrar. Não existe separatividade e, como tal, identidade nenhuma. A meditação está na abertura; nela o secretismo não tem lugar. Tudo permanece exposto e claro.
Então surge a beleza e o amor.
A meditação não constitui um meio para um fim; antes é um movimento tanto no tempo como fora dele. Todo o sistema ou método alia o pensamento ao tempo. No entanto, a consciência sem escolha de cada pensamento ou sentimento, bem como a compreensão dos seus motivos e do seu mecanismo – ao permitir-lhe florescer – é o campo da meditação. Quando o pensamento e o sentimento desabrocham e morrem, a meditação torna-se no movimento além do tempo. E nesse movimento existe êxtase. No esvaziamento completo existe amor, e com amor existe destruição e criação.
A ambição é isolamento. A ambição individual ou coletiva sob qualquer forma conduz inevitavelmente ao antagonismo e a ódios auto-encarceradores. Quando a família se torna sobremodo importante, então isso vai de encontro ao vizinho do lado ou ao vizinho de longe, e atenta contra a humanidade. Ambição por coisas mundanas ou pela diferença é a mesma coisa, embora pareça diferente. A natureza da ambição é conflito mas o conflito (não a destruição amorosa?) sobre qualquer forma que se apresente, põe fim à bondade e ao amor.” - K

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