“ O tempo é memória mas o êxtase é destituído de tempo. A bênção da meditação não tem duração. A alegria torna-se prazer (coisa bem inferior) quando instituímos a continuidade. A bênção da meditação equivale a um segundo do relógio, porém esse segundo contém todo o movimento da vida, destituído de tempo – é um movimento sem começo nem fim.
Distanciai-vos. Distanciai-vos do mundo do caos e miséria e no entanto vivendo nele, imperturbados. Tal só é possível quando possuímos uma mente meditativa, uma mente que vigilante para com a flor e a nuvem. A mente meditativa não está relacionada nem com o passado nem com o futuro e no entanto é capaz de viver de forma sã com clareza e sensatez neste mundo. Este é um mundo de desordem; a sua ordem é desordem e a sua amoral é imoral. A clareza não está lá fora para ser procurada nem ordenada a fim de ser usada neste mundo; quando isso ocorre transforma-se me trevas. A natureza desta claridade é o seu próprio vazio; porque é vazia, é clara – porque é negativa, é positiva. Distanciai-vos sem saber onde estais. Aí não existe nenhum “vós” nem “eles”.
A morte é somente para aqueles que possuem um local de repouso. A vida é um movimento de relação e apego e a negação deste movimento constitui a morte. Não tenhais abrigo externa nem internamente. Possuís um quarto ou uma casa ou uma família porém não permitais que isso se torne um refúgio, uma forma de evasão de vós próprios.
O porto de abrigo seguro que a vossa mente construiu pelo cultivo da virtude, pela superstição da crença, pela capacidade astuta ou pela atividade, conduzirá de forma inevitável à morte. Se pertencerdes a este mundo e à sociedade a que estais ligados, não podeis escapar à morte. O homem que morre na porta ao lado ou a um milhar de quilómetros de distância é nós próprios; andou anos a preparar-se, com enorme zelo, para morrer, exatamente como vós. Ele chamou-a a si, exatamente como vós, através de uma vida de luta, sofrimento ou alegre show divertido. Porém a morte está sempre lá, à espreita, esperando; contudo, aquele que morre a cada dia está livre da morte.
A maior parte de nós parece não dar suficiente importância à meditação. Para a maioria trata-se de uma coisa passageira, da qual se espera algum género de experiência, qualquer conquista transcendente, uma nova forma de preenchimento onde todas as tentativas falharam. A meditação torna-se um movimento auto-hipnótico no qual aparecem vários símbolos e projeções; mas estes são uma continuidade daquilo que foi, talvez modificados ou aumentados, porém sempre numa área de satisfação (nunca de êxtase).
Tudo isso é bastante imaturo e infantil, desprovido de significado e situa-se não muito distante da ordem (ou desordem) estabelecida através de eventos passados.
Tais fatos tornam-se extraordinariamente significativos para a mente que se interessa pelo seu próprio progresso, melhoria e expectativas determinadas para si própria. Quando a mente abre caminho através de todo esse lixo – o que só pode acontecer por meio do auto-conhecimento – então aquilo que acontece não pode ser narrado. Até mesmo no simples ato de as narrar, as coisas já sofreram modificação. É como descrever uma tempestade.” K
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