Wednesday, May 12, 2010

“Será possível compreender a razão por que há contradição em nós mesmos? – não apenas superficialmente mas muito mais fundo, psicologicamente? Primeiro que tudo, será que nos apercebemos de que vivemos numa existência contraditória? Queremos paz, mas somos nacionalistas; queremos evitar miséria social, mas cada um de nós é individualista, limitado, fechado sobre si próprio. Vivemos em constante contradição. Porquê? Não será porque somos escravos das sensações? Isto não é para ser rejeitado ou aceite. É precisa uma grande compreensão das implicações ocasionadas pela sensação, as quais são desejos. Desejamos tantas coisas, todas em contradição umas com as outras. Usamos tantas máscaras conflituosas; pomos uma máscara quando nos é útil e evitamo-la quando outra coisa nos é mais vantajosa, mais agradável. É este estado de contradição que cria a mentira. Em oposição a isto, inventamos a «verade». Mas seguramente a Verdade não é oposto da mentira. Aquilo que tem oposto não é verdade. O oposto contém o seu próprio oposto ( isto é o perfeito, a verdade, o integrado, o pacífico… não têm oposto; por exemplo, só o que procura a paz é conflituoso, e, vice-versa), e para compreendermos este problema muito profundamente temos de estar cientes de todas as contradições em que vivemos. Quando digo: «amo-te», com isso vai o ciúme, a inveja, a ansiedade, o medo – o que é uma contradição. É essa contradição que tem de ser compreendida, e só podemos compreender estando conscientes da contradição, conscientes sem qualquer condenação ou justificação – apenas olhando para ela. Ao olhá-la passivamente, vamos compreender todos os processos que dizem respeito à justificação e à condenação.
Não é uma coisa fácil, olhar passivamente para qualquer coisa; mas, na sua compreensão, começamos a ver todo o processo referente ao modo como sentimos e pensamos. Quando estamos cientes de todo o significado da contradição em nós, isso provoca uma mudança extraordinária. Passamos a ser o que somos, e não outra coisa que estamos atentar ser. Não mais vamos atrás de um ideal, à procura de felicidade. Somos o que somos, e a partir daí podemos prosseguir. Então não há nenhuma possibilidade de contradição.” - K

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