“Ser-se completamente aberto e vulnerável às colinas, ao mar e ao homem é a própria essência da meditação; não termos nenhuma resistência, nem barreiras interiores em relação ao que quer que seja, mas sermos realmente livres, completamente livres dos menores anseios, compulsões e demandas – com todos os seus conflitos e hipocrisias – isso equivale a percorrer a vida de braços abertos. E naquela tarde, ao caminharmos pela areia molhada, com as gaivotas alia em torno de nós, podíamos sentir um extraordinário sentido de ampla liberdade e a enorme beleza do amor que não estava em nós nem fora de nós, mas em todo o lado. Nem alcançamos o quanto é importante ser-se livre das contínuas formas do prazer e das suas dores, de modo que a mente permaneça só. Unicamente a mente que é continuamente só pode ser aberta.
E de repente nós sentíamos isto, semelhante a uma enorme corrente de vento a varrer a terra e a nós mesmos. Lá estávamos – desnudados de tudo e vazios, e assim também completamente abertos. A beleza disso não residia na palavra nem no sentimento, mas parecia estar em todo o lado e ao redor, em nós, nas águas e nas colinas. A meditação é isso.
Era uma daquelas manhãs esplêndidas como nunca tínhamos visto. Percebia-se o sol a erguer-se por entre os eucaliptos e os pinheiros; aparecia sobre as águas dourado e lustroso, com essa luz que só existe por entre os montes ou no mar. Era uma manhã clara, sem deslocação de ar e cheia daquela estranha luz que podemos perceber não só com os olhos mas também com o coração. Mas quando o percebemos os olhos estão muito mais próximos da terra, uma beleza em que nos perdemos. Nunca deveríeis meditar em público, sabeis; nem com outra pessoa nem em grupo; deveis meditar sempre na solidão, na quietude da noite ou na calma da manhã. Quando meditais em solidão, deve tratar-se de verdadeira solidão. Deveis estar completamente sós, sem perseguir o pensamento nem o moldar de acordo com o vosso próprio desejo. Essa solidão provém quando a mente se vê livre do pensamento. Onde houver influência do desejo ou das coisas que a mente persegue – quer no passado quer no futuro – aí não há solidão. Essa solidão está sempre na imensidão do presente. Mas, então, com a calma discrição com que toda a comunicação chega a um término e me que não existe observador com as suas ânsias e os seus estúpidos apetites e problemas, só nesse solitude (privacidade) calma se torna a meditação algo que não pode ser posto em palavras por se tornar, neste caso, um movimento eterno.
Não sei se já alguma vez meditastes; se alguma vez estivestes sós convosco mesmos, distantes de tudo e de toda a gente, de todo o pensamento e ocupação – se alguma vez estivestes assim completamente sós, e não isolados nem retirados num qualquer sonho ou visão fantasiosa.” - K
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment