Monday, May 31, 2010

Estou aqui no calor,
Mas, convosco, mas, se me for
Para a fresquinha, amor
Ou nem por isso, não me vais prejudicar,
Pois, também vais beneficiar.
Aprender tudo, o todo compreender é o disciplinar
Verdadeiro, e, não é com agitações
Que entendemos, que descobrimos provocações
Ou maravilhas, mas, com quietude, com serenidade, com acalmações,
Se, não for melhor irmos atrás dos ladrões.
Pode ser muito importante conhecer,
Ter novas experiências, mas, o grande viver
É ser feliz com o ter e o não ter, o ser e o não ser,
A dependência e a independência,
A solidão e a vivência,
A paciência e a impaciência.
O pensamento, quase sempre conjunto, pois quase nada é de um só, resultante da observação e da memória, é muito importante para resolver problemas. Mas, muitos casos há, medos e preocupações psicológicas, p.e., em que o pensamento se pode tornar um grande problema. O pensamento tem também uma ação importante nas questões das sensações do prazer e da dor, pois, dá-lhes continuidade através das imagens e das ideias. Entretanto, existe um gozo, o êxtase, do Todo, que não é tão dado a transformar-se em dor, embora sem estar isento disso: ter medo de que o êxtase não se alcance ou não se repita já é dor. E, é um erro tão grande combater o prazer, qualquer legítimo prazer, como endeusá-lo, dele abusando,deixando-se por ele dominar, desconhecendo ou esquecendo que ele pode virar sofrimento.

Sunday, May 30, 2010

Escondermo-nos? Recomeçarmos de novo? Ao mal cedermos?
O mal é o egoísmo.
As coisas mudam, mas a ciência baseia-se no rigor da média passada: a ciência é um grande engano portanto.
Sós, mas unidos a quase tudo/todos.
Para lá da dor e do prazer... O êxtase.
Diafarçam-se, escondem-se para fazer o mal... a quem lhes faz bem.
Tédio? Reação? Não.
Conflito só faz mal, é completamente inútil e desnecessário.
Mas, se nos fazem mal...
Não nos sentimos a morrer, mas, se dizemos: não morremos, logo alguém pensa em matar-nos. Como podemos então morrer?
Não fazermos sofrer; não nos fazermos sofrer; não deixarmos que nos façam sofrer...

Friday, May 28, 2010

A tão propalada crise de que todos os dias falam nos meios de comunicação e em quase todo o lado parece ter as características não de uma crise real, mas antes de uma crise inventada, de palavras, de ideias e teorias. Pois, quando há mesmo uma crise real, de saúde, por exemplo, a nossa reação é diferente. Não ficamos nós, numa destas crises verdadeiras completamente atentos de uma atenção e cuidado profundos de olhos, nervos, ouvidos e coração, uma atenção e um cuidado de todo o nosso ser? Não há, nem é preciso haver, na crise verdadeira, ninguém para nos dizer o que fazermos.Cessa então todo o tempo (ou somos totalmente um com ele), e, o cuidado e a atenção são extremos. E, com esta atenção e cuidado totais, em que o pensamento cessa, uma percepção imediata, espontânea surge, seguida da ação perfeita e correta.Entretanto, no momento em que começamos a pensar na crise, mesmo na verdadeira, todo o erro, medo e sofrimento retornam. Compreender a completa natureza das crises, não medidas de austeridade ou outras idênticas, é a única maneira de elas acabarem.
O tempo é o intervalo entre ações da mente... E, infelizmente, os motivos, os ideais, os objectivos e as fórmulas, quase sempre causa de sofrimento, são geralmente a única coisa situada nesses intervalos.
Hoje, agora ainda não sou... Mas um dia serei? Demasiado, demasiado grande intervalo entre o pensamento e a sua concretização... Causa da contradição, do conflito, da aflição.
O original, o novo, o puro, a atenção, a observação, o silêncio, o não pensar, o saudável, o belo... Não pertencem ao tempo. Sempre original, novo, puro, saudável, sem tempo, presente e belo é que é portanto Bom! - Com K.

Thursday, May 27, 2010

O que há de bom, Bento,
no muito artificial?
Quase nada, tão longe do natural
anda ele,e, tão avarento!
.
Não temos de imitar nem K., mas, estar
sempre a descobrir a(s) Verdade(s) que têm
um poder incrível, que atuam, que resolvem.
Que erro grosseiro e terrível pensar que Krish.
descobriu as verdades todas! Isso era atribuir-lhe
divindade, coisa de que ele sempre fugiu!
.
Sem relação com o tempo;
sem o tempo;
Com todos, com o Todo;
Serão os cães o cheiro do Todo?
Sem dissimulção, sem enganar.
Porque há-de haver símbolos,
se são só em empecilho ao Real,
à Realidade?
Olhamos para o céu, para a luz
e ficamos com a mente cheia de Luz.
Os sabores... os cheiros...
Somos o sabor do Todo?
Com sensibilidade;
sem hipersensibilidade.
O que é:
não trouxemos nada,
não levamos nada...
Vivemos tudo.

Wednesday, May 26, 2010

O pássaro,
a formiga,
a bactéria,
o outro(a),
tu, eu...
Com, não contra
a natureza!

Tuesday, May 25, 2010

Meditação será a brisa, o sol que entram quando, não deliberada ou deliberadamente, convidando-os ou não os convidando, deixamos a janela, a porta abertas...
Vida:

- Criei vida artificialmente, uma bactéria, pela mistura de substãncias químicas, coisa até aqui somente pertença de Deus, do Todo ou do Acaso, como se queira - diz o primeiro;

- Só é vida se se reproduzir - diz o segundo;

- Reproduz-se (reproduziu-a, suponho, diz o terceiro) muitas vezes - diz o primeiro.

- Não tem portanto vida própria - diz a quarta.
Sem invejar, sem cobiçar,
sem poder buscar,
sem conflito, pela observação,
pela compreensão, pela atenção.
.
Sem experiências transcendentais
buscar: porque fechais
a janela? Não deliberadamente,
não intencionalmente, gente.
.
Sem esforço, sem compulsão,
sem ajustamento, que é imitação
enfadonha, fastidiosa. Silenciação
sem desejo, natural, se não é ilusão.
.
Sem repressão, os pensamentos
floresecem e cessam: vêm então momentos
de profunda libertação,
de criatividade, se perfeita ação.

Monday, May 24, 2010

Não me ocorre
nada: observo, ouço:
aqui não há tremoço;
e, lá não morre?


Ponha vida e morte
mais juntas, sem medo:
que importa tarde ou cedo,
azar ou sorte?
Só quando todo o pensamento, toda a imaginação e toda a medida cessam se nanifesta o eterno, o intemporal: quanto menos finito, mais infinito.
Meditar é não pensar.
Imóveis e móveis; silêncio e não silêncio; compreensão, ausência e presença de imagens, de ideias... Vida e morte, vitória e derrota em cada momento, sem e com igrejas, sem e com grupos... com amor e com ódio, com e sem beleza...
As reacções, as opiniões, os julgamentos, as comparações… têm de ser as adequadas(os).

A verdade que é comunicada por outro, até pode ser a verdade para ele(a), mas não o ser para nós – a verdade nunca se repete, não é monótona e enfadonha, mas criativa e viva; temos portanto de a descobrir e compreender a cada momento, o que não é fácil se ela não quiser ser descoberta, compreendida.

Uma das características da Verdade é ser absoluta e relativa: somos todos iguais e todos diferentes; há verdades pessoais e verdades universais.

Para descobrirmos a verdade, a nossa mente tem de estar totalmente livre, fresca, nova, inocente para ver, observar, ouvir e compreender.

Sunday, May 23, 2010

Para lá do tempo;
sem superstição;
com profunda compreensão
de tudo e de todos;
procurando sem esforço,
com humildade,
sem pensamento,
sem esperança,
com o motivo certo,
com sensibilidade,
com paixão.
Sem autoridade,
sem vaidade,
com cooperação,
com igualdade,
sem objectivo.
Vazios para encher,
vazios para criar,
sem nos procurarmos expressar.
Sem medo.
Sem tempo.
Sós ou acompanhados.

Friday, May 21, 2010

Nada no mundo natural é vaidoso, por que haveríamos nós de sê-lo?

Thursday, May 20, 2010

“Estávamos ali sentados naquela praia a olhar os pássaros e o céu e a escutar o som distante dos carros que passavam. Estava uma manhã magnífica. Saímos com a baixa-mar e voltamos com o fluxo da maré; saímos longe para novamente voltarmos – esse eterno movimento para dentro e para fora… Podíamos vislumbrar o horizonte lá longe, onde o céu parece unir-se às águas. Era uma baía enorme de águas azuis e brancas, com casas muito pequenas ao redor e cadeias e mais cadeias de montes por detrás. Observávamos sem reação nenhuma, sem identidade (identificação?) nenhuma, e observávamos de modo infatigável, na verdade não nos encontrávamos despertos mas de consciência ausente, num estado de semi-presença. Não éramos nós que ali nos encontrávamos, mas tão só a observação que decorria. Observávamos os pensamentos que se erguiam e se desvaneciam, um atrás do outro, processo em que o próprio pensamento tomaria consciência de si mesmo. Não existe nenhum observador a observar o pensamento.Ali sentados naquela pria a observar as pessoas que passavam – dois ou três casais e uma mulher solitária – parecia que a natureza e tudo o mais ao redor, desde o profundo mar azul até às elevadas cadeias rochosas estavam em observação. Encontrávamo-nos a observar e não na expectativa da ocorrência de alguma coisa, tão só num ato de observação interminável. Essa observação acarretava aprendizagem – não a acumulação de conhecimentos que se efetua com o aprender que é quase inteiramente mecânico, mas uma observação minuciosa e profunda que possuía ligeireza e ternura. Desse jeito, não resultava observador nenhum. Quando o observador está presente trata-se unicamente de uma ação do passado a observar mas tal não corresponde a um observador e sim a um relembrar, uma coisa sem vida. A observação contudo é uma coisa tremendamente viva que torna cada momento puro ócio. Aqueles caranguejos pequenos e gaivotas e restantes aves que voavam estavam todos a observar, à espera de presas, peixe ou algo que pudessem comer; também esles estavam a observar.Mas, passasse alguém por vós e interrogar-se-ía sobre o que pudéssemos estar a observar. Não estávamos a observar nada, contudo, nesse nada existia (estava) Tudo.” - K
Queres o melhor
para todos: eu também.
Haja então profunda liberdade,
com afeição, sem imposição,
sem opinião, com fatos,com Verdade,
com compreensão,com grande sensibilidade,
sem medo da solidão, nem da multidão,
com meditação:escutando, observando,
cheirando, tocando, olhando, e,
sendo escutado, observado, cheirado,
tocado, olhado...
Com receptiva atenção,sem agressão,
sem um pré-juízo sequer,sempre novos, sempre crianças.
“Mas uma vez lá – dependendo da qualidade da vossa mente – ela (a beatitude, alegria serena) permanece sem tempo nem causa, como algo que não é mensurável pelo tempo.
A meditação não é a perseguição do prazer nem a busca da felicidade. Pelo contrário, a meditação é um estado da mente em que não existe conceito nem fórmula, e, é, portanto, total liberdade. Somente a uma mente assim pode sobrevir a beatitude – de modo imprevisto e sem ser convidada. Uma vez em existência, conquanto possamos viver neste mundo com todo o seu ruído, prazer e brutalidade, essas coisas não tocam a mente. E uma vez existente, o conflito cessa. Mas o fim do conflito não representa necessariamente a liberdade total. A meditação é um movimento da mente nesta liberdade. Nesta explosão de bênção os olhos são tornados inocentes, e então o amor torna-se bênção.
A meditação não é um mero controle do corpo e do pensamento nem um sistema de respiração. O corpo deve achar-se calmo, saudável e sem tensão; a sensibilidade do sentir deve ser aguçada, e a mente deve pôr um término a toda a sua tagarelice, perturbação e tactear. Não é pelo organismo que devemos começar mas antes tendo consideração pela mente, com suas opiniões, preconceitos e auto-interesse.
Quando a mente se acha saudável e cheia de vitalidade e vigor, então a sensibilidade é elevada e torna-se extremamente apurada. Então o corpo, com toda a sua inteligência natural, não é deteriorado nem pelo hábito nem pelo gosto e funciona como deve ser.
Assim, devemos começar pela mente e não pelo corpo, sendo que a mente é o pensamento estreito, limitado e frágil, quebradiço, mas a concentração acontece como uma coisa natural, quando temos consciência dos processos do pensar. Essa consciência não procede do pensador que escolhe e descarta, que mantém e rejeita. Essa consciência sem escolha é tanto o externo como o interno; trata-se de uma mistura de ambos de tal modo que a divisão entre externo e interno desaparece.
O pensamento destrói a sensibilidade do amor. O pensamento pode oferecer prazer, mas, na busca do prazer o amor é empurrado para fora. O prazer de comer, de beber… tem a sua continuidade no pensamento; controlar ou suprimir meramente esse prazer que o pensamento produziu não faz sentido, só cria variadas formas de conflito e compulsão. O pensamento, como matéria (energia?) que é não pode buscar aquilo que está além do tempo, porque o pensamento é lembrança e a experiência associada a essa lembrança é tão morta quanto a folha do Outono que passou. Da consciência de tudo isso vem a atenção, que não pode vir da desatenção. Não podemos mudar a desatenção para atenção; mas a consciência da desatenção transforma-se em atenção. Perceber todo este processo complexo é meditação, o único meio pelo qual vem ordem a esta confusão. Uma ordem tão exata e absoluta como a ordem da matemática; a partir disto há ação – atitude imediata. Ordem não é arranjo, nem planificação, nem proporção; essas vêm muito mais tarde. A ordem vem de uma mente que não se acha abarrotada com as coisas do pensar. Quando o pensamento está silencioso existe um vazio (um princípio), que é ordem.” – K e j

Wednesday, May 19, 2010

“Não sei se alguma vez meditastes; se alguma vez estivestes sós convosco mesmos, distantes de tudo e de toda a gente, de todo o pensamento – se alguma vez estivestes assim completamente sós, e não isolados nem retirados num qualquer sonho ou visão fantasista, unicamente distanciados de modo que em vós nada reste de reconhecível, nem nada que toqueis pelo pensamento nem pelo sentimento. Tão distante que nessa solitude (privacidade) plena o próprio silêncio se torne a única flor, a única luz e aquela qualidade intemporal que não pode ser mensurável pelo pensamento. Somente numa meditação assim toma o amor existência. Não vos incomodeis em expressá-lo; ele expressa-se a si mesmo. Não o utilizeis nem tenteis pô-lo em ação; ele actua, e quando age, essa ação não contém nem remorso, nem pesar, nem contradição, nem tristeza nem sofrimento. Assim, meditai sós; perdei-vos sem tentar lembrar onde estivestes. Se tentardes relembrá-lo, então trata-se de uma coisa morta. E se vos agarrardes à lembrança disso então nunca mais ficareis a sós de novo . Assim, meditai nessa solitude sem fim, na beleza desse amor, nessa inocência do novo – e então surge uma bênção imperecível.O céu estava bem azul, com um azul que sobrevém depois das chuvas, chuvas essas que vieram ao fim de muitos meses de seca. Depois das chuvas os céus ficam lavados de novo, as colinas rejubilam e a terra fica calma. Cada folha contém em si a luz do sol e o sentimento da terra está muito chegado a nós. Por isso meditai nos próprios recessos secretos do vosso coração e mente (sempre com um correspondente físico esterior), onde nunca antes estivestes.Naquela manhã o céu assemelhava-se a um lago ou um enorme rio sem ondulação, tão calmo que nós podíamos perceber os reflexos das estrelas, cedo que era de madrugada. Esta ainda não despontara e por isso percebíamos as estrelas, os reflexos do rochedo e as luzes distantes da cidade na água. À mediada que o sol aparecia no horizonte de um céu sem nuvens, estabelecia um caminho dourado; era extraordinário ver essa luz da Califórnia inundar cada folha, a relva, a terra. À medida que olhávamos sobrevinha-nos uma grande sensação de calma. O próprio cérebro tornava-se muito silencioso, sem reação nenhuma, sem um único movimento; era estranho sentir esse imenso silêncio; “sentir” não é a palavra indicada. A qualidade desse silêncio, dessa quietude, não era sentida pelo cérebro, pois está além do cérebro.O cérebro pode conceber, formular ou fazer uma perspetiva (traçar um plano) para o futuro, mas essa calma está além do seu alcance, além de toda a imaginação e de todo o desejo. Ficamos tão silenciosos que o nosso corpo se tornou parte integrante da terra, e parte de tudo o que estava sereno.A certa altura soprava uma brisa delicada vinda das colinas, fazendo mexer as folhas, mas essa quietude, essa qualidade extraordinária de silêncio não sofria perturbação nenhuma.A casa encontrava-se entre as colinas e o mar, voltada para nascente. À medida que olhávamos assim, tão quietos, nós tornávamo-nos verdadeiramente parte de tudo. Éramos a luz e a beleza do amor. Mas, uma vez mais, dizer que nos tornávamos parte de tudo é errado: a palavra “nós” não é adequada porque nós realmente não estávamos lá, nós não existíamos. Existia somentee essa calma e a beleza, o extraordinário sentido do amor. As palavras nós e eu dissociam as coisas; nesse estranho silêncio e quietude, essa divisão não existe.” - K
Não podemos, através da auto-ilusão, justificar um fato que pode ser verdadeiro ou falso. O mais importante é a abordagem que fazemos dos problemas, “com que motivação, com que interesse, com que desejo o fazemos”.
Desejar ser e ter mais do que o fundamental e o justo, tendo em conta as necessidades de todos, animais incluídos, só cria confusão, conflito , miséria e dor; O mesmo para o desejo de segurança.
“No momento em que desejamos (ou não desejamos) de forma desmedida, desequilibrada, fazemos nascer um estado que aceita facilmente as coisas”, ficamos sujeitos à ilusão.
Como nos libertamos da auto-ilusão? Obviamente, deixando de procurar resultados, justificações, segurança(s)… (quanto mais uma coisa vive de resultados, mais ilusória é, não é verdade?) … sendo nada, completamente anónimos.
Enquanto nos estivermos iludindo sob qualquer forma, como pode haver amor? Não pode, não é? Pois, enquanto as mentes criarem ilusões e as impuserem a si próprias, separam-se do colectivo, do total, e ficam incapacitadas de cooperar. E, para cooperar verdadeiramente não basta ter projetos e identidades comuns somente a nível mental, intelectual. Por que não avançam muitas vezes os projectos? Porque apesar de concordarmos superficialmente com eles, muito louváveis por vezes, como erradicar a fome, por exemplo, cada um quer que seja à sua maneira. Quando, o que é importante é acabar com a fome, de uma maneira ou de outra, isto é, com todas as maneiras. Com menos palavras e ideias, e, muito mais acções concretas.
“Ser-se completamente aberto e vulnerável às colinas, ao mar e ao homem é a própria essência da meditação; não termos nenhuma resistência, nem barreiras interiores em relação ao que quer que seja, mas sermos realmente livres, completamente livres dos menores anseios, compulsões e demandas – com todos os seus conflitos e hipocrisias – isso equivale a percorrer a vida de braços abertos. E naquela tarde, ao caminharmos pela areia molhada, com as gaivotas alia em torno de nós, podíamos sentir um extraordinário sentido de ampla liberdade e a enorme beleza do amor que não estava em nós nem fora de nós, mas em todo o lado. Nem alcançamos o quanto é importante ser-se livre das contínuas formas do prazer e das suas dores, de modo que a mente permaneça só. Unicamente a mente que é continuamente só pode ser aberta.
E de repente nós sentíamos isto, semelhante a uma enorme corrente de vento a varrer a terra e a nós mesmos. Lá estávamos – desnudados de tudo e vazios, e assim também completamente abertos. A beleza disso não residia na palavra nem no sentimento, mas parecia estar em todo o lado e ao redor, em nós, nas águas e nas colinas. A meditação é isso.
Era uma daquelas manhãs esplêndidas como nunca tínhamos visto. Percebia-se o sol a erguer-se por entre os eucaliptos e os pinheiros; aparecia sobre as águas dourado e lustroso, com essa luz que só existe por entre os montes ou no mar. Era uma manhã clara, sem deslocação de ar e cheia daquela estranha luz que podemos perceber não só com os olhos mas também com o coração. Mas quando o percebemos os olhos estão muito mais próximos da terra, uma beleza em que nos perdemos. Nunca deveríeis meditar em público, sabeis; nem com outra pessoa nem em grupo; deveis meditar sempre na solidão, na quietude da noite ou na calma da manhã. Quando meditais em solidão, deve tratar-se de verdadeira solidão. Deveis estar completamente sós, sem perseguir o pensamento nem o moldar de acordo com o vosso próprio desejo. Essa solidão provém quando a mente se vê livre do pensamento. Onde houver influência do desejo ou das coisas que a mente persegue – quer no passado quer no futuro – aí não há solidão. Essa solidão está sempre na imensidão do presente. Mas, então, com a calma discrição com que toda a comunicação chega a um término e me que não existe observador com as suas ânsias e os seus estúpidos apetites e problemas, só nesse solitude (privacidade) calma se torna a meditação algo que não pode ser posto em palavras por se tornar, neste caso, um movimento eterno.
Não sei se já alguma vez meditastes; se alguma vez estivestes sós convosco mesmos, distantes de tudo e de toda a gente, de todo o pensamento e ocupação – se alguma vez estivestes assim completamente sós, e não isolados nem retirados num qualquer sonho ou visão fantasiosa.” - K

Tuesday, May 18, 2010

O TODO; atenção passiva; para lá do pensamento; enchimento e esvaziamento; silêncio, meditação; inocência da criança; não escolha. O TODO; não procurar ser nem não ser; dissolução do eu; querer ser ou não ser é a base da deterioração. União entre pensador e pensamento: divisões ou uniões somente são processos destrutivos.
Passivamente atentos aos problemas, que são sempre problemas de relações, com coisas, pessoas, ideias... não agressivamente ativos, é o único modo de os resolvermos.
Aperecebermo-nos de que podemos estar sempre mais passivos é a continuação da vigilância sem escolha, escolha que é conflito e destruição que nada resolvem.
Vigilância traz experiência que não é para acumular; acumulção impede mobilidade e observação.
É fundamental compreendermo-nos muito bem a nós mesmos e ao nosso modo de funcionamento, e, irmos para lá das portas: então o Desconhecido se revela. C/ K.
"Enquanto houver fronteiras, nacionais, económicas, religiosas, sociais (ou outras) não pode haver paz no mundo.
A pessoa que é nacionalista e fala de fraternidade está a mentir; está em contradição.
É possível viver sem o desejo de poder, de posição, de autoridade? Claro que é possível, quando não nos identificamos com uma coisa «maior»... o partido, o país, a raça,, a religião, Deus... Por estarmos vazios, insensíveis, fracos... Gostamos de nos identificar com algo supostamente maior. Mas, esse não é o caminho nem da liberdade nem do próprio poder." - K e j

Monday, May 17, 2010

“Após aquelas chuvadas as colinas achavam-se esplêndidas (como é bom voltar à natureza, às matas, às fontes!...); ainda estavam queimadas pelo sol de Verão, mas agora todas as coisas verdes brotariam de novo. O céu ainda se achava nublado e no ar pairava um odor a sumagre, salva e eucalipto.Era esplêndido encontrarmo-nos em meio a isso, possuídos por uma estranha calma ao contrário do mar, que ficava lá longe e em baixo, aquelas colinas encontravam-se completamente calmas. À medida que observávamos ao redor, naquela casa, tínhamos deixado para rãs – as novas roupas, os nossos pensamentos e todos os estranhos modos de vida. Aqui viajávamos muito leves, sem nenhum pensamento, sem nenhum fardo e com um sentimento de completo vazio e beleza. Os pequenos arbustos adquiriram em breve uma tonalidade de um verde mais acentuado e no espaço de algumas semanas fariam brotar u aroma mais forte. As codornizes chamavam-se entre si.Sem o saber, a mente encontrava-se em estado de meditação, no qual o amor desabrochava. Afinal, aquilo nos perseguia pela noite dentro; quando acordámos, muito antes do sol se erguer, aquilo ainda lá estava no nosso coração, com a sua incrível alegria destituída de razão (motivo). Ali surgia sem causa anenhuma, completamente intoxicável (intoxicante). Haveria de ficar por todo o dia sem que o pedíssemos ou o convidássemos a permanecer conosco.Durante a noite e o dia tinha chovido intensamente e lá pelas ravinas corria uma torrente de água enalmeada em direção ao mar, torrente que se tornava castanha, cor de chocolate. À medida que caminhávamos pela praia, vagas enormes espraiavam-se com estrondo, traçando curvas magníficas na areia. Caminhávamos contra o vento e subitamente sentíamos que não havia nada entre nós e o céu, e essa abertura era o céu.” K e j
“Esta meditação não pode ser aprendida por ninguém; deveis começar desconhecendo tudo sobre ela, e, mover-vos no campo da inocência. O campo em que a mente meditativa pode ter início é o campo da vida do dia a dia; o conflito, a dor e a alegria fugaz. Ela deve começar a produzir ordem aí, e, a partir daí mover-se infinitamente. Mas se vos empenhardes somente no estabelecimento da ordem então essa mesma ordem produz a sua própria limitação, e a mente será sua prisioneira. Em todo este movimento deveis, de algum modo, começar da “outra ponta” – da outra margem - e não estardes sempre preocupados com esta, ou em “como atravessar o rio”. Deveis dar um mergulho (talvez tapando o nariz) nessa água, mesmo não sabendo nadar. Além disso, a beleza da meditação está em nunca sabermos onde estamos, nem onde vamos, nem qual o fim.
Surgirá uma nova experiência através da meditação? O desejo de experiência – a experiência mais elevada que se situa acima e além do diário e do vulgar é o que mantém esse estado de florescimento vazio (por acontecer). A ânsia de mais experiências, visões, percepções mais elevadas uma ou outra forma de realização, isso leva a que a mente olhe para o exterior, o que não é distinto da sua dependência do meio em que se insere e das pessoas.
Outra parte curiosa de meditação é a de que uma ocorrência não se transforma em experiência; situa-se ali, tal como uma nova estrela nos céus, sem que a memória se aposse dela e a sustente (e a mate) e sem o processo habitual do reconhecimento, em termos de preferência ou aversão. A nossa busca é sempre extrovertida: ao buscarmos uma experiência qualquer a mente é sempre extrovertida. Verdadeira introspeção significa não buscar, absolutamente, mas, sim perceber. A resposta (à busca) é sempre repetitiva porque procede sempre da mesma “base de dados” da memória.” K e j

Sunday, May 16, 2010

Porque gosto/amo Krishnamurti?
Porque ele é verdadeiro e bom.
Porque não se apresenta como uma ou a autoridade.
Porque é de uma profundidade incrível.
Porque fala de tudo o que é verdadeiramente importante.
Por exemplo: a criação de que fala, não é meramente a da capacidade expressiva da mente pequena que faz um quadro, um poema, um invento... Mas, a criação do silêncio, da meditação, do não-eu, da não-ação... Que nem busca expressar-se... Mas, eventualmente, se expressa bem alto e muito bem.
Só esta criatividade é viva, integradora e feliz.
Já chega de imitação destruidora.
Por maior que tenha sido (seja) o mestre(a), imitá-lo(a) é só destruir.
Já chega de autoridades que se deixam imitar.
E, nem pensem que já está tudo inventado: a vida é totalmente nova, bela e entusiasmante a cada momento: compreender isto é a base da profunda criatividade, não de uma pequena diferença aqui ou ali!
A competição/concorrência desenfreada não faz o mínimo de sentido: p.e., as crianças, sem os adultos, jogam futebol sem árbitro, divertem-se todas, e, não fazem da derrota um drama (perdem hoje, ganham amanhã), nem da vitória o paraíso. Não se percebe por que hão-de os adultos ser diferentes.

-
Custa sempre quando nos fazem mal. Mas, temos de perdoar verdadeiramente, se não são a guerra e o sofrimento permanentes; até porque podemos ter sido nós a fazer o mal primeiro.

Quando há amor/afeição há ordem, paz, justiça e felicidade.
“A meditação é uma das coisas mais extraordinárias, mas se não souberdes o que é sereis como um cego num mundo de cores vivas, sombras e luz cambiantes. Não se trata de uma questão intelectual mas do coração penetrar a mente e esta adquirir uma qualidade que não tinha; e então torna-se realmente ilimitada, não somente na capacidade de pensar e agir eficientemente, como também no sentido de passarmos a viver num vastíssimo espaço em que fazemos parte de tudo. A meditação é o movimento do amor. Não se trata do amor de um ou de muitos, mas do amor que se assemelha à água, que cada um pode beber por qualquer jarro, seja de barro ou de ouro: é inesgotável. E acontece uma coisa peculiar que nenhuma droga ou auto-hipnose pode produzir: a mente como que penetra em si mesma, começando na superfície e avançando fundo, até que profundidade, largura e elevação tenham perdido todo o seu sentido e toda a medida tenha cessado. Nesse espaço existe paz total – não o contentamento que sobrevém com a gratificação, mas uma paz que contém ordem, beleza e intensidade. Esta paz pode ser destruída do mesmo modo que podeis destruir uma flor, mas, apesar de tudo, devido à sua vulnerabilidade torna-se indestrutível.” - K
“… Mas nesse caso, esses objetos não adquirem importância absolutamente nenhuma. Percebemo-los mas não se dá nenhum reconhecimento, o que significa que não há nenhum ato de experimentar. Que significado tem tal meditação? Não possui significado nenhum; não tem qualquer utilidade. Mas nessa meditação dá-se um movimento de um enorme êxtase que não deve ser confundido com prazer. Este êxtase confere a qualidade de inocência à visão, ao cérebro e ao coração. Sem uma percepção da vida como uma coisa completamente nova de momento para momento, ela torna-se uma rotina e um aborrecimento, uma coisa sem sentido nenhum. Assim, a meditação é da maior importância. Ela abre a porta para o Indefinível e o Imensurável. “ – K.

Thursday, May 13, 2010

“… Só a mente meio adormecida precisa das intimações dos seus próprios estados. Porém, às mediada que a mente observa e atenta ao movimento do viver – sobrevém um silêncio que não é suscitado (nem subscrito) pelo pensamento. Não se trata de um silêncio que o observador possa experimentar(ou descrever); se o fizer e o reconhecer como tal, não mais se trata de silêncio (vai-se; passa a outra coisa). O silêncio da mente meditativa (como todo o novo e divino) não se situa nos limites do silêncio superficial do reconhecimento, pois este silêncio tem fronteiras; no verdadeiro silêncio, meditativo, o espaço da divisão deixa de existir.
No espaço que o pensamento cria em torno de si mesmo não existe amor. Esse espaço divide o homem do seu semelhante e nele está todo o vir a ser e a luta da vida; a agonia e o medo. A meditação é o fim desse espaço: o findar do eu. Então, os relacionamentos adquirem um sentido completamente diferente porque, nesse espaço, não criado pelo pensamento, o outro não existe, porque nós não existimos (mas, existe o amor, o supremo!). A meditação então não é a perseguição de uma visão, por mais que esta tenha sido santificada pela tradição. Pelo contrário, é um espaço infinito onde o pensamento não pode penetrar (embora não por impedimento). Para nós, o pequeno espaço criado pelo (pequenino) pensamento em torno de si – que forma o pequeno, mesquinho eu – é extremamente importante, porque é tudo o que a mente/nós conhecemos, identificando-se ela mesma com tudo o que está contido nesse espaço. Na meditação, e só quando isto é compreendido, a mente só pode entrar espacialmente quando a sua ação é inação, quando para de pensar. Desconhecemos o que seja o amor porque nesse espaço criado pelo pensamento em torno de si, na forma do eu, o pseudo- amor é o conflito do eu e do não eu (da expansão e da contração). Esse conflito e tortura não são amor (como podiam sê-lo?). O pensamento é, aliás, a única negação do amor, não podendo, por isso mesmo, entrar no espaço onde o(s) eu(s) não estão presentes, não existe(m). Neste espaço reside a bênção que o homem busca e não encontra, por a buscar (mal). Ele busca-a dentro das fronteiras do pensamento, mas o pensamento aniquila a bênção – o êxtase dessa bênção.
A percepção sem a palavra, sem o pensamento, não somente com o cérebro, mas com todos os sentidos, é um dos fenómenos mais estranhos (porque raros?), pois é vivíssima. Ela não é fragmentária, como a do cérebro e a das emoções (portanto não os excluindo, mas sendo também com o tato, a vista, o cheiro, a audição, o sabor, a tenção). Pode ela ser chamada de percepção total, e, faz parte da meditação. Percepção na meditação sem aquele que percebe significa comungar com a elevação e a intensidade do Imenso. Tal percepção é inteiramente diversa da visão de um objecto sem o observador (sem a divisão entre observador e observado ) porque no percebimento da meditação não há objeto (já somos um com o observado), mas êxtase, situado para lá da experiência, indescritível.
A meditação pode, contudo, ocorrer quando os olhos estão abertos e nos encontramos cercados por objetos (e pessoas e seres) de todo o género.” K e j
A idade, o sexo, etc. é pouco importante; a compreensão e a serenidade é que são muito importantes. Sem esta compreensão total e profunda da mesquinhez, da satisfação, do êxtase... é impossível a resolução do conflito, primordial e atual. E, sem o fim dos conflitos, sem a paz profunda também não pode haver a ação sem tensão, a única que faz todos os seres e pessoas felizes.E, a morte do "inimigo" conflituoso nada resolve, antes, até quando o outro, qualquer outro(a) , inimigo incluído, morre, somos nós que morremos também. Mas a morte existe e é renovação, embora descanso a mais faça mal, havendo muitos novos que morrem antes dos velhos. Vida depois da morte? Seguramente: não está isso sempre a acontecer a todo o momento por todo o lado? - J M M

Wednesday, May 12, 2010

“Será possível compreender a razão por que há contradição em nós mesmos? – não apenas superficialmente mas muito mais fundo, psicologicamente? Primeiro que tudo, será que nos apercebemos de que vivemos numa existência contraditória? Queremos paz, mas somos nacionalistas; queremos evitar miséria social, mas cada um de nós é individualista, limitado, fechado sobre si próprio. Vivemos em constante contradição. Porquê? Não será porque somos escravos das sensações? Isto não é para ser rejeitado ou aceite. É precisa uma grande compreensão das implicações ocasionadas pela sensação, as quais são desejos. Desejamos tantas coisas, todas em contradição umas com as outras. Usamos tantas máscaras conflituosas; pomos uma máscara quando nos é útil e evitamo-la quando outra coisa nos é mais vantajosa, mais agradável. É este estado de contradição que cria a mentira. Em oposição a isto, inventamos a «verade». Mas seguramente a Verdade não é oposto da mentira. Aquilo que tem oposto não é verdade. O oposto contém o seu próprio oposto ( isto é o perfeito, a verdade, o integrado, o pacífico… não têm oposto; por exemplo, só o que procura a paz é conflituoso, e, vice-versa), e para compreendermos este problema muito profundamente temos de estar cientes de todas as contradições em que vivemos. Quando digo: «amo-te», com isso vai o ciúme, a inveja, a ansiedade, o medo – o que é uma contradição. É essa contradição que tem de ser compreendida, e só podemos compreender estando conscientes da contradição, conscientes sem qualquer condenação ou justificação – apenas olhando para ela. Ao olhá-la passivamente, vamos compreender todos os processos que dizem respeito à justificação e à condenação.
Não é uma coisa fácil, olhar passivamente para qualquer coisa; mas, na sua compreensão, começamos a ver todo o processo referente ao modo como sentimos e pensamos. Quando estamos cientes de todo o significado da contradição em nós, isso provoca uma mudança extraordinária. Passamos a ser o que somos, e não outra coisa que estamos atentar ser. Não mais vamos atrás de um ideal, à procura de felicidade. Somos o que somos, e a partir daí podemos prosseguir. Então não há nenhuma possibilidade de contradição.” - K
“ A beleza significa sensibilidade – ter um organismo sensível, o que implica regime alimentar correto e modo correto de viver. Então a mente torna-se calma a inconsciente de modo inevitável e natural. Não podeis torná-la tranquila pois sois vós que lançais a discórdia, vós próprios sois perturbados, inquietos, confusos – como podeis pois tranquilizar a mente? Porém quando entendeis o significado do silêncio, quando entendeis a confusão, o sofrimento, e, se este alguma vez poderá terminar, quando entendeis o prazer, dessa compreensão sobrevém uma mente extraordinariamente silenciosa; não tendes de a procurar. Tendes de começar pelo princípio, e o primeiro passo é também o último. Isso é meditação.
A madrugada tardava; as estrelas ainda brilhavam e as árvores ainda se encontravam em retiro; não se ouvia um único chamado dos pássaros nem mesmo dos mochos pequenos, que à noite fazem ruído a passar de árvore em árvore. Estava o ambiente estranhamente sereno à excepção do quebrar das ondas do mar. Havia aquele odor das muitas flores e folhas em decomposição e solo húmido; o ar estava demasiado parado e aquele odor estendia-se por toda a parte. A terra esperava a madrugada e o dia por vir. Havia expectativa, paciência e uma estranha quietude.
A meditação acompanhou esse silêncio que era amor; não o amor por alguma coisa ou por alguém, nem a imagem, o símbolo, a palavra ou os retratos. Era simplesmente amor sem sentimento nem sensação. Tratava-se de algo completo em si mesmo, desnudo, intenso, sem raiz (nem escolha), nem direção. O som daquele pássaro distante era esse amor; ele estava tanto na direção como na distância; estava lá sem tempo nem palavra! Não se tratava de uma emoção que se desvanece e se mostra cruel; o símbolo e a palavra podem ser substituídos, porém não a coisa. Despida como era, achava-se completamente vulnerável e assim também indestrutível. Possuía o vigor inacessível daquela diferença, o incognoscível que se aproxima por entre as árvores e para além do mar.
A meditação era o som daquele pássaro (um com o pássaro) que chamava no vazio (silêncio) e o marejar das ondas rebentando de encontro à praia. O amor só pode existir no mais completo vazio. A madrugada acinzentada lá estava ao longe e no horizonte as silhuetas das árvores tornavam-se mais negras e intensas. Na meditação não há repetição nem a continuidade do hábito (o que é hipnotismo e ilusão); dá-se (a cada momento) a morte de todo o conhecido (passado) e o florescimento do (novo), o desconhecido (o encoberto, o escondido, o potencial). As estrelas desapareciam e agora as nuvens assomavam com o sol que se erguia.
A meditação não é a repetição da palavra nem a experiência de uma visão; tampouco reside no cultivo do silêncio. Tanto as contas do rosário como a palavra podem silenciar a mente tagarela, porém, nesse ato existe um efeito auto-hipnótico. Bem que podemos do mesmo modo tomar uma pílula. A meditação implica não nos envolvermos num padrão de pensamento (ou ação), nem encantamento de prazer. A meditação não tem começo, portanto, não conhece fim. Se disserdes: “ começarei hoje mesmo a controlar os meus pensamentos, a sentar-me em silêncio numa postura de meditação, a respirar de modo rítmico”, então deixar-vos-eis apanhar pelos truques com que nos enganamos. A meditação não é questão de nos deixarmos absorver nem numa ideia qualquer ou imagem grandiosa; isso só silencia a mente durante algum tempo, como uma criança absorvida por um brinquedo, silenciada por um instante. Porém, assim que o brinquedo deixar de ter interesse, recomeçarão a inquietação e o tumulto. A meditação não reside na perseguição de um caminho invisível conducente a uma qualquer bênção imaginária. A mente meditativa é observação – olhar, atender e escutar (e saborear, e tocar, e cheirar…) sem a palavra, sem comentário e sem opinião; ela é atenciosa para com o movimento da vida em toda a extensão da relação, durante o dia todo. E à noite, quando o organismo estiver em descanso, tal mente não terá sonhos, por ter estado desperta durante todo o dia. Somente a mente indolente tem sonhos.” K

Tuesday, May 11, 2010

“… Quando a mente está realmente tranquila, então é possível que aquilo que é imensurável se manifeste. Qualquer outro processo, qualquer outra busca da Realidade é mera autoprojeção, é ineficaz e portanto falsa. Mas este processo é árduo e significa que a mente tem de estar constantemente atenta a tudo o que interiormente está a acontecer. Para chegar a esse ponto, não pode haver julgamento ou justificação desde o princípio até ao fim – não que esse ponto seja um fim. Não há fim, porque há algo que extraordinariamente está em movimento. Isto não é nenhuma promessa. Cada um que experiencie, que vá bem ao fundo dentro de si, até que todos os níveis do centro estejam dissolvidos, e nós podemos fazer isso rapidamente ou, pelo contrário, indolentemente. É extremamente interessante reparar no processo da mente, em como ela depende de palavras, em como as palavras estimulam a memória ou ressuscitam experiências mortas e lhes dão vida. Nesse processo a mente vive, ou no futuro ou no passado. Portanto, as palavras têm um enorme significado, tanto neurologicamente como psicologicamente. E, por favor, não aprendam isto a partir de mim ou de um livro. Não podemos aprender estas coisas a partir de alguém ou descobri-las em algum livro. O que aprendemos ou encontramos num livro não e verdadeiro. Mas nós podemos experienciar, podemos observar-nos em ação e, no ato de pensar, como pensamos, podemos ver como rapidamente damos um nome a um sentimento assim que este surge – e se olharmos todo o processo, a mente libertar-se-á do seu centro. Então, a mente, estando quieta, pode receber aquilo que é eterno.” K
“ Ela já está para lá das colinas e dos vales; então a narrativa torna-se algo pertencente ao passado, e portanto não mais aquilo que está a acontecer.
Podemos descrever algo de modo acurado, como um evento, mas o próprio modo de descrever isso torna-se inadequado quando a coisa já se afastou. A exatidão da memória é um facto, porém a memória é o resultado de algo que já aconteceu. Se a mente acompanha a corrente de um rio não tem tempo para a sua descrição nem tempo para deixar que a lembrança se forme. Quando este género de meditação ocorre têm lugar numerosas coisas que não são projeção do pensamento. Cada sentimento é totalmente novo no sentido de que a memória não o consegue reconhecer; e como não o consegue reconhecer isso não pode ser traduzido em palavras nem em memória. É algo que nunca aconteceu antes. Isso não é uma experiência; experiência implica reconhecimento, associação e acúmulo soba a forma de conhecimento. É evidente que certos poderes são libertados, mas estes tornam-se um enorme perigo se a sua ocorrência tiver lugar na atividade auto-centrada. Quer tais atividades sejam identificadas com conceitos religiosos ou com tendências pessoais.
É absolutamente necessário que estejamos livres do “eu” para que a coisa real ocorra. Porém o pensamento é demasiado astuto e extraordinariamente subtil nas suas atividades e a menos que estejamos tremendamente despertos e destituídos de escolha no meio de todas essas sutilezas e astutas buscas, a meditação torna-se uma questão de poderes além dos meramente físicos. Todo o sentido de importância da ação do eu conduz inevitavelmente à confusão e à tristeza. Eis pelo que, antes de considerarmos a meditação, temos de começar pela compreensão de nós mesmos, da estrutura da natureza do nosso pensamento. De outro modo perder-vos-eis e esbanjareis as vossas energias. Portanto, para ir longe deveis começar perto: o primeiro passo é também o último.
Meditação não é uma coisa diferente do viver do dia a dia; não vos abandoneis num canto do quarto a meditar (muito menos a rezar\orar) por dez minutos, para depois do ato sairdes e vos comportardes como carniceiros – tanto como uma metáfora , quanto uma realidade. A meditação é uma das coisas mais sérias. Podemos fazê-la durante no escritório (nos campos, na fábrica, na escola) ou junto da família, quando dizeis a alguém “amo-te” ou quando vos interessais pelos vossos filhos. Mas depois educais os vossos filhos para se tornarem soldados e para matar, para se tornarem nacionalistas e para adorarem a bandeira (ou qualquer outro símbolo) de modo a entrarem nessas armadilhas do mundo actual.
Se observarem tudo isso, e tomarem consciência da vossa parte em tudo isso, isto faz tudo parte da meditação. E, se meditardes assim, encontrareis nisto uma extraordinária beleza; atuareis corretamente em todas as situações e, se não agirdes corretamente num dado momento, isso não tem importância pois sempre podereis fazê-lo uma outra vez – mas não perdereis tempo com o remorso. A meditação é parte da vida (é a vida mesmo) e não uma coisa diferente dela.
Temos de alterar a estrutura da sociedade, sua injustiça e moral aterradoras, as divisões que criou entre o homem, as guerras, a falta total de afeto e amor que aniquila o mundo. Se a nossa meditação for somente uma questão pessoal, uma coisa que desfrutamos pessoalmente, nesse caso não se trata de meditação. A meditação implica uma mudança completamente radical da mente e do coração, mas isso só é possível quando existe esse extraordinário sentido de silêncio interior; só isso produz a mente (verdadeiramente) religiosa. Essa mente conhece o sagrado.” K e j

Monday, May 10, 2010

“ O tempo é memória mas o êxtase é destituído de tempo. A bênção da meditação não tem duração. A alegria torna-se prazer (coisa bem inferior) quando instituímos a continuidade. A bênção da meditação equivale a um segundo do relógio, porém esse segundo contém todo o movimento da vida, destituído de tempo – é um movimento sem começo nem fim.
Distanciai-vos. Distanciai-vos do mundo do caos e miséria e no entanto vivendo nele, imperturbados. Tal só é possível quando possuímos uma mente meditativa, uma mente que vigilante para com a flor e a nuvem. A mente meditativa não está relacionada nem com o passado nem com o futuro e no entanto é capaz de viver de forma sã com clareza e sensatez neste mundo. Este é um mundo de desordem; a sua ordem é desordem e a sua amoral é imoral. A clareza não está lá fora para ser procurada nem ordenada a fim de ser usada neste mundo; quando isso ocorre transforma-se me trevas. A natureza desta claridade é o seu próprio vazio; porque é vazia, é clara – porque é negativa, é positiva. Distanciai-vos sem saber onde estais. Aí não existe nenhum “vós” nem “eles”.
A morte é somente para aqueles que possuem um local de repouso. A vida é um movimento de relação e apego e a negação deste movimento constitui a morte. Não tenhais abrigo externa nem internamente. Possuís um quarto ou uma casa ou uma família porém não permitais que isso se torne um refúgio, uma forma de evasão de vós próprios.
O porto de abrigo seguro que a vossa mente construiu pelo cultivo da virtude, pela superstição da crença, pela capacidade astuta ou pela atividade, conduzirá de forma inevitável à morte. Se pertencerdes a este mundo e à sociedade a que estais ligados, não podeis escapar à morte. O homem que morre na porta ao lado ou a um milhar de quilómetros de distância é nós próprios; andou anos a preparar-se, com enorme zelo, para morrer, exatamente como vós. Ele chamou-a a si, exatamente como vós, através de uma vida de luta, sofrimento ou alegre show divertido. Porém a morte está sempre lá, à espreita, esperando; contudo, aquele que morre a cada dia está livre da morte.
A maior parte de nós parece não dar suficiente importância à meditação. Para a maioria trata-se de uma coisa passageira, da qual se espera algum género de experiência, qualquer conquista transcendente, uma nova forma de preenchimento onde todas as tentativas falharam. A meditação torna-se um movimento auto-hipnótico no qual aparecem vários símbolos e projeções; mas estes são uma continuidade daquilo que foi, talvez modificados ou aumentados, porém sempre numa área de satisfação (nunca de êxtase).
Tudo isso é bastante imaturo e infantil, desprovido de significado e situa-se não muito distante da ordem (ou desordem) estabelecida através de eventos passados.
Tais fatos tornam-se extraordinariamente significativos para a mente que se interessa pelo seu próprio progresso, melhoria e expectativas determinadas para si própria. Quando a mente abre caminho através de todo esse lixo – o que só pode acontecer por meio do auto-conhecimento – então aquilo que acontece não pode ser narrado. Até mesmo no simples ato de as narrar, as coisas já sofreram modificação. É como descrever uma tempestade.” K
“As palavras “vós” e “eu” distinguem as coisas. Essa divisão não existe nesta quietude e neste estranho silêncio. À medida que olhávamos pela janela parecia que o tempo e o espaço tinham chegado ao fim, e o espaço que divide não tinha qualquer realidade. Aquela folha, o eucalipto, a água resplandecente não eram diferentes de vós.
A meditação é realmente muito simples. Nós complicámo-la movendo uma teia de ideias em torno disso – em termos do seja ou deixe de ser – porém não se trata de nenhuma dessas coisas. Mas porque é bastante simples escapa-nos, devido às nossas mentes se terem tornado demasiado complicadas e de se encontrarem gastas, fundadas como estão no tempo. Essa mente define a atividade do coração, o que faz com que o problema surja. Contudo a meditação sobrevém naturalmente e com extraordinária facilidade quando caminhamos pela areia (almoçamos à beira mar, lemos estas coisas…), ou olhamos por uma janela ou percebemos as colinas maravilhosas queimadas pelo sol do verão passado.
Porque somos seres humanos torturados de lágrimas nos olhos e riso constrangido nos lábios? (Talvez pelo estúpido egoísmo de tantos ainda; pelo amor incondicional de outros…) Se pudésseis percorrer a sós aquelas colinas ou os bosques, as extensas areias brancas, nessa solidão saberíeis o que é a meditação. O êxtase da solidão sobrevém quando deixamos de estar assustados por nos sentirmos sós – não mais percebendo o mundo ou o que quer que seja, por causa do apego. Então, à semelhança do despontar do dia que sucedeu hoje, ele sobrevém silenciosamente traça um trilho dourado no próprio silêncio, silêncio que existia no princípio (se é que houve princípio), que ocorre agora e que sempre existirá” K e J

Friday, May 07, 2010

“Meditação não é concentração – com sua exclusão – nem corte de separação, nem um ato de resistência ou conflito. A mente meditativa pode concentrar-se, mas nesse caso não se trata de um acto de exclusão nem de resistência; porém, uma mente concentrada não é capaz de meditar.
Na compreensão da meditação existe amor, mas esse amor não é produto de sistemas, nem de hábitos, nem de seguir um método. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento. O amor pode talvez chegar a existir quando há completo silêncio, um silêncio no qual o meditador está completamente ausente; mas a mente só pode ficar em silêncio quando compreende o seu próprio movimento como pensamento. Para compreendermos este movimento do pensamento e do sentimento não pode haver condenação na observação. Observar desse modo é disciplina e essa forma de disciplina é fluida e livre, e não a disciplina do ajustamento (ou reformas).
A meditação é um movimento no e do Desconhecido. Vós não estais lá mas tão só o movimento que existe. Nós somos demasiado insignificantes ou demasiado importantes para esse movimento. Ele não tem nada por detrás nem defronte. É essa energia que o pensamento e a matéria não pode tocar. O pensamento é perversão pois é um produto do ontem; está preso na lide dos séculos e portanto é confuso e obscuro. Façamos o que fizermos, o conhecido não pode chegar ao desconhecido. Meditação é o terminar do desconhecido.” K e j

Thursday, May 06, 2010

SOBRE A CRENÇA EM DEUS

Pergunta: Acreditar em Deus tem sido um poderoso incentivo para melhorar a vida. O senhor rejeita Deus, porquê? Por que não tenta restabelecer a fé do homem na ideia (como se a ideia fosse uma grande coisa!) em Deus?
K. – Olhemos para o problema de um modo aberto e inteligente. Eu não rejeito Deus – isso seria demasiado estúpido. Só o homem que não conhece a realidade (quase Deus) utiliza palavras sem significado (Deus?). Aquele que diz que sabe, não sabe; o que experiencia a Realidade a todo o momento não tem (todos?) os meios para comunicar essa realidade.
A crença é a negação da Verdade (o que faltava); a crença impede a Verdade; acreditar em deus é não encontrar Deus. Nem o crente nem o não-crente encontram Deus; porque a Verdade é Desconhecido, e acreditar ou não no desconhecido é uma projeção pessoal e portanto não é Real. Sei que você é crente, e sei também que isso tem pouco significado na sua vida.Há muita gente crente; milhões acreditam em Deus e nisso obtêm consolo. Primeiro que tudo, porque é crente? É crente porque isso lhe dá satisfação, coforto, esperança e, como você afirma, dá significado à vida. De fato, o seu acreditar tem muito pouco significado, porque acredita e explora os outros, acredita e mata, acredita num Deus universal e aceita que os homens se matem uns aos outros. O homem rico também acredita em Deus, ele explora sem piedade, acumula riqueza, e depois constrói um templo ou torna-se filantropo (benemérito!).
Os homens que largaram a bomba atómica em Hiroshima disseram que Deus estava com eles; aqueles que voaram de Inglaterra para destruir a Alemanha afirmavam que Deus era o seu co-piloto. Os ditadores, os primeiros ministros, os generais, os presidentes, todos eles falam de Deus, têm imensa fé em Deus. E estão eles a fazer o que devem fazer, construindo uma vida melhor para os seres humanos? As pessoas que afirmam acreditar em Deus já destruíram metade do mundo, e este planeta está uma completa desgraça. Através da intolerância religiosa criam-se divisões entre os povos, os que acreditam, os que acreditam e os que não acreditam (ou os que acreditam numa maneira e os que acreditam doutra maneira), o que conduz a guerras religiosas. Isso demonstra como as nossas mentes estão extraordinariamente politizadas.
Será que acreditar em Deus é «um poderoso incentivo para uma vida melhor»? Por que queremos nós um incentivo para viver melhor? Claro que esse incentivo dever ser o nosso próprio desejo de viver com higiene e com simplicidade (tudo o que vai para além disto, nomeadamente a acumulação, só pode prejudicar, porque não é justo), não é assim? Se procuramos um incentivo, é porque não estamos interessados em tornar a vida melhor para todos, estamos apenas interessados no nosso incentivo, que é diferente do de outra pessoa – e acabaremos por lutar por causa de um incentivo! Se vivemos em paz uns com os outros, não porque acreditamos mas porque somos seres humanos, então partilhamos todos os meios de produção com o objetivo de produzir coisas para toda a gente (e, vemos Deus!). Devido à falta de inteligência, aceitamos a ideia de uma superinteligência a que chamamos «Deus»; mas esse «Deus» não nos vai proporcionar uma vida melhor. O que conduz a uma vida melhor é a Inteligência; e não pode existir inteligência-Deus, se houver crença, se houver divisões sociais (até e nas igrejas, nos partidos, nos clubes, nos países, nos blocos!...), se os meios de produção (e distribuição) estiverem nas mãos de poucos indivíduos, se existirem nações isoladas e governos soberanos. Tudo isto indica falta de inteligência e é a falta de inteligência que está a impedir uma vida melhor…” K , J e Editorial Presença
“ A morte que a meditação produz é a imortalidade do novo.
É de manhã cedo e o ambiente está muito sereno, e nem um único pássaro ou folha mexe. A meditação que se inicia em profundezas desconhecidas e continua com intensidade e amplitude crescentes entalha o cérebro num silêncio total, escavando as profundezas do pensamento e desenraizando o sentimento, esvaziando o cérebro do conhecido e da sua sombra. É uma operação sem operador, sem cirurgião, que avança qual bisturi que corta um cancro, recortando todo o tecido contaminado, sem o que a contaminação (desequilíbrio na reprodução celular na maior parte dos casos, parece) pode alastrar de novo. Essa meditação avança por uma hora do relógio e constitui meditação sem meditador. O meditador interfere com a sua estupidez e vaidade, ambição e cobiça. O meditador é pensamento alimentado por estes conflitos e ofensas, mas o pensamento tem de cessar completamente na meditação. Isso forma a base para a ocorrência de toda a meditação.
A meditação nesta altura significa liberdade e assemelha-se a penetrar um mundo de beleza e quietude desconhecidos; é um mundo sem imagens nem símbolos, nem palavras, nem ondas da lembrança. O amor é a morte (pela atenção) de cada minuto e cada morte é a renovação do amor; não é apego e não tem raízes. É a chama que floresce e consome as margens e cercas da consciência cuidadosamente construídas, chama essa destituída de causa (e efeito). É uma beleza para lá do pensamento e do sentimento; não está colocada na tela, em palavras nem no mármore. A meditação (isto é meditar!) é alegria e com ela vem a bênção” – K e J

Wednesday, May 05, 2010

“ Nenhuma pílula dourada chegará alguma vez a resolver os problemas humanos; estes só podem ser resolvidos produzindo uma revolução radical na mente e no coração do homem. Isso exige um trabalho árduo e constante, muita observação e atenção; exige que sejamos diligentes nesse sentido, e imensamente sensíveis. A mais elevada forma de sensibilidade é também a suprema inteligência; jamais droga alguma inventada pelo homem – em tempo algum – pode conferir essa inteligência. Sem esta inteligência não pode haver amor, pois o amor é relação. Sem essa capacidade de amar, o homem jamais pode obter um equilíbrio dinâmico. Tal amor não pode ser dado – seja pelo sacerdote, seja pelos deuses, filósofos ou qualquer droga dourada.
Existir (com E muito grande), significa ser um estranho, não pertencer a nenhuma crença, nem dogma, religião ou nação. É essa solitude (estado de privacidade) que vai ao encontro de uma inocência que jamais foi tocada pela malícia do homem. Tal é a inocência com que se pode viver no mundo, por entre todos os seus tumultos, sem no entanto lhe pertencermos. Não se reveste ela de nenhuma forma particular. O florescimento da bondade não está em nenhum caminho, porque não há caminho para a verdade.
Meditação é o descobrimento do novo; o novo está acima e além do passado repetitivo e a meditação constitui o término dessa repetição. A morte que essa meditação ocasiona é a imortalidade do novo. O novo não se encontra na área do pensamento, e a meditação é o silêncio do pensamento. A meditação não é uma aquisição, como não o é a captura de uma visão, nem a excitação da sensação. É como um rio, indomado, transbordante e ligeiro na sua corrente. É a música sem som; não pode ser domesticada nem utilizada. É o silêncio em que o observador tem fim no próprio começo.
Meditação é o estado mental que encara tudo com completa atenção, de modo total e não só em partes. “ – K.
Agencias de rating o escandalo financeiro da década - Visao.pt5 abr. 2010 ... As grandes agências de "rating" são americanas mas a Fitch é controlada pelos franceses da Fimalac. As agências de "rating" já ameaçaram os ...
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“Deste modo a mente aprende coisas incríveis. Mas para isso não pode haver fragmentação mas imensa estabilidade, ligeireza, mobilidade. Para uma mente assim não existe espaço e desse modo o viver possui um sentido completamente diferente.
Uma vez tenhais lançado o fundamento da virtude – o qual representa ordem no relacionamento – pode chegar a ocorrer essa qualidade de amor e morte, que perfaz toda a vida. Então a mente torna-se extraordinariamente silenciosa – naturalmente e não forçada ao silêncio pela supressão, disciplina ou controlo, e esse silêncio é imenso rico. Para lá disso nenhuma descrição ou palavra é importante. Então a mente deixa de inquirir sobre o absoluto por não necessitar de o fazer, porque nesse silêncio existe aquilo que é. E tudo isso constitui a bênção da meditação.
Aquela varanda perfumada, com a madrugada ainda longínqua e as árvores silenciosas, era a essência da beleza. Porém, essa essência não é passível de ser de ser experimentada; todo o experimentar deve cessar porque a experiência só fortalece o conhecido. O conhecido nunca é essa essência.
A meditação não representa um acréscimo de experiência; não só constitui o término da experiência – que é a resposta ao desafio – grande ou pequeno - como é também a abertura da porta a essa essência, como que expondo um forno que destrói completamente sem deixar cinzas nem nada. Nós somos os resíduos, a afirmação de um milhar de ontens passados, uma contínua série de memórias sem fim, feita de escolhas e desespero. O “eu”, grande ou pequeno, é o padrão da nossa existência, com a sua infinita dor. O pensamento consome-se na chama da meditação, e com ele o sentimento pois que, de ambos, nenhum é amor. Sem amor não existe essência; sem isso só existem cinzas – no que se baseia nossa existência. O amor está fora desse vazio.” – K.

Tuesday, May 04, 2010

“A ambição e o amor não podem coexistir. Como pode a beleza estar relacionada com o homem ambicioso? Só há beleza quando a vista não é contaminada pelo pensamento, pois a beleza é a própria essência do vazio do pensamento. A beleza não é uma experiência nem uma sensação de prazer. A beleza, do mesmo modo que o amor, é um abandono total do centro. A beleza, o amor e a morte (e a vida?) são inseparáveis; num estão os outros.
A austeridade não é cruel, agressiva ou brutal; a sua expressão exterior não é discernível; se for, pode fazer parte integrante desse circo que o homem cultiva com tanta diligência. A austeridade é um movimento interior e não uma condição. Uma coisa viva é difícil de estudar, mas uma morta não; uma coisa morta pode ser copiada. Necessitamos de austeridade interior se quisermos abandonar completamente toda a maquinaria do conflito – o eu. Sem total liberdade não pode haver amor; e sem amor não pode existir beleza.
Exclusão não é privacidade; onde existe privacidade não há exclusão. Construirmos um muro de resistência em torno de nós é isolarmo-nos, porém isso não confere a privacidade que se necessita. Porque, com a privacidade começamos a descobrir os movimentos dos nossos próprios pensamentos e sensações. Nessa privacidade as portas da percepção abrem-se completamente.
Existe uma beleza além daquela que os olhos percebem. A beleza que o olho percebe é bastante pobre e superficial; os seus juízos são estreitos e limitados. Aquilo que ele vê é condicionado por memórias (e esperanças), e é comparativo. A beleza que não é mera beleza da vista não se encontra na natureza nem nos livros, nos retratos, no templo, nem na Igreja, mas está fora, além disso tudo. Para a poderdes alcançar tendes de avançar para onde nem o pensamento nem o prazer podem chegar.
O amor jamais equivale ao prazer; no prazer subsistem a dor e o medo, porém, o prazer jamais é beleza. A mente que procura divertimento no amor encontra a excitação do pensamento e as imagens que ele construiu. O amor não pode ser induzido pelo pensamento, mas quando o é, é sensação e desejo. Mas o desejo não é amor. O desejo procura a sensação sensorial ou intelectual, porém não é amor. O pensamento e o amor jamais se podem encontrar; são movimentos diferentes e um destrói o outro.
A crença (toda a crença) é superstição. Aquilo que é, o facto, não necessita de crença nem de conclusão alguma. Contudo isso impede a percepção do que é. O facto importa infinitamente, e não a conclusão daí tirada. As atividades da conclusão são totalmente diferentes da ação do que é. Esta ação traz liberdade; a outra é sujeição ao tempo.
A meditação não é a acção da experiência. Se procurais experiências mais amplas e intensas, segui e obedecei. Toda a experiência chega ao fim, porém a ânsia e a dor permanecem. O fim do sofrimento é o começo da sabedoria.
No nosso próprio conhecimento – das nossas vidas, dos diálogos sem fim das nossas imaginações e caprichos, toda a rede da sua ação – está o fim do sofrimento. O sofrimento impede a clareza. A meditação é essa clareza em que não existe divisão. O oposto é produto da confusão.
O sentimento é coisa do pensamento; não pode existir separado do pensamento. Mas existe mesmo sentimento? O amor não tem sentimento pois este é emotividade, sentimentalismo, devoção, apego, fúria, etc.. O amor não possui qualidade nem atributos. O amor não é sensação nem prazer; nele não existe a labuta do tempo. O amor constitui a sua própria ação e a sua própria eternidade.
Eu poso continuar a descrever a meditação, porém a meditação não é a coisa descrita. Se vos chegardes a ela, pode ser a coisa mais maravilhosa. Cabe a vós aprender ou não sobre ela, olhando para vós, mas nenhum livro nem professor pode ensinar-vos acerca disso. Não dependais de ninguém nem vos associeis a organizações espirituais, pois temos de aprender tudo isso por nós mesmos.” – K e j




jhttp://www.esnips.com/doc/1088413e-9239-4fe1-973d-0d00b4047884/Krishnamurti---A-Arte-da-Medita%C3%A7%C3%A3o
“Outros ribeiros e rios se lhe juntavam, porém tratava-se do rio principal entre os mais pequenos e os muito grandes. Caudaloso, estava em perpétuo movimento de auto-purificação; era uma bênção ver as suas águas douradas ao entardecer, por entre nuvens profusamente coloridas. O pequeno fiozinho de água, lá ao longe, por entre aquelas rochas gigantes que pareciam tão compenetradas em dar-lhe berço, constituía o começo ( não é sem início?) da sua vida, enquanto que o seu término (não é sem fim?) se situava para lá das suas margens, no mar. A meditação era aquele rio, só que não tinha (ou, e também não tinha) nem começo nem fim. Tivera início (ou não tivera início – paradoxo ou não, não interessa: o que interessa é o facto: o rio existe, rico, belo!), e o seu término… seria o seu próprio (re)começo. Não existia causa e o seu movimento era a sua renovação. Era sempre nova e nunca juntava para quando fosse velha (mas não bastará não juntar para não ficar velho), nem jamais se via manchada, por não ter raízes no tempo. É bom meditar sem esforço – sem esforço nenhum, aliás – começando (duvido muito que haja começo) como um fio e indo além do tempo e do espaço onde o pensamento e o sentimento não podem entrar e onde não há experiência.
A meditação não é nunca oração; a oração, a súplica, nasce da auto-piedade. Oramos quando estamos em dificuldades ou quando existe sofrimento, porém quando sentimos felicidade e alegria não há súplica (Há louvor e ações de graças, não é?). Essa auto-piedade tão intensamente embutida no homem, é a raiz da separação. Tudo quanto está separado, ou pensamos ser separado – mesmo pela procura da identificação com algo que não o seja – traz somente mais divisão e dor. Dessa confusão fazemos brotar o nosso clamor para os céus, para o nosso marido (ou esposa, mãe, amigo, filho(a)…) ou para uma divindade da mente, esse choro pode encontrar uma resposta, porém essa resposta é um eco da auto-piedade (mais conflito?), em meio a essa separatividade. O isolamento do pensamento sempre se situa do campo do conhecido; a resposta à oração é a resposta do conhecido. A meditação está longe disso; no seu campo não pode o pensamento penetrar. Não existe separatividade e, como tal, identidade nenhuma. A meditação está na abertura; nela o secretismo não tem lugar. Tudo permanece exposto e claro.
Então surge a beleza e o amor.
A meditação não constitui um meio para um fim; antes é um movimento tanto no tempo como fora dele. Todo o sistema ou método alia o pensamento ao tempo. No entanto, a consciência sem escolha de cada pensamento ou sentimento, bem como a compreensão dos seus motivos e do seu mecanismo – ao permitir-lhe florescer – é o campo da meditação. Quando o pensamento e o sentimento desabrocham e morrem, a meditação torna-se no movimento além do tempo. E nesse movimento existe êxtase. No esvaziamento completo existe amor, e com amor existe destruição e criação.
A ambição é isolamento. A ambição individual ou coletiva sob qualquer forma conduz inevitavelmente ao antagonismo e a ódios auto-encarceradores. Quando a família se torna sobremodo importante, então isso vai de encontro ao vizinho do lado ou ao vizinho de longe, e atenta contra a humanidade. Ambição por coisas mundanas ou pela diferença é a mesma coisa, embora pareça diferente. A natureza da ambição é conflito mas o conflito (não a destruição amorosa?) sobre qualquer forma que se apresente, põe fim à bondade e ao amor.” - K
"Mas poderá a ação alguma vez libertar-se do tempo, de modo que não resulte arrependimento nem antecipação (o movimento de busca para trás ou para a frente) da ação?
Perceber é agir. Não se trata de primeiro perceber e depois agir, mas antes de um perceber que em si mesmo é ação; não existe elemento nenhum de tempo nisso, de modo que a mente é sempre livre.
Esta manhã a qualidade da meditação era inexistente, esvaziamento total do tempo e do espaço. Isso era um facto e não uma ideia nem paradoxo da especulação contraditória (esta é incrível, a do facto, que é tudo, de que percebimento é BOA ação sem tensão, conflito; de que o paradoxo taoista ou zen nada interessa, só faz mal, mesmo e acima de tudo o de que o bem está no mal e o mal no bem). Sentimos essa estranha vacuidade quando a raiz de todos os problemas se desvanece. Essa raiz é o pensamento, o pensamento que divide e sustenta. Na meditação a mente torna-se verdadeiramente vazia do passado, porém pode utilizar esse passado como pensamento (mas haverá um pensamento bom, o pensamento que atua juntamente com todo o nosso ser, da compreensão profunda de o "que é", da atenção total, momento a momento). Isso ocorre o dia todo e durante a noite o sono consiste no esvaziamento do ontem, e portanto a mente raia aquilo que é intemporal.
Trata-se na verdade de um rio maravilhoso de tão largo e profundo, rodeado de cidades nas suas margens, tão descuidado e livre sem jamais se abandonar! Vivia-se toda uma vida nas suas margens, com campos verdes, florestas, casas solitárias, morte e destruição; lá se situavam algumas pontes largas e compridas, graciosas, bem empregues...." - K e j

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Monday, May 03, 2010

http://www.krishnamurti.org.br/?q=node/214#comment-1005
Liberte-se do Passado

" Décima Sexta Parte A Revolução Total - A Mente Religiosa - A Energia - A Paixão Em todas as páginas deste livro, o que sempre nos interessou foi a realização, em nós mesmos e, por conseguinte, em nossas vidas, de uma revolução total fora da estrutura social ora existente. A sociedade, como atualmente está constituída, é uma coisa horripilante, com suas intermináveis guerras de agressão - não importa se agressão defensiva ou ofensiva. Necessitamos de uma coisa totalmente nova, de uma revolução, uma mutação na própria psique. O velho cérebro nenhuma possibilidade tem de resolver o problema humano das relações. O velho cérebro é asiático, europeu, americano ou africano, e, assim, interrogamos a nós mesmos se é possível operar-se uma mutação nas próprias células cerebrais.Investiguemos, também, agora que chegamos a compreender-nos melhor, se é possível a um ente humano que vive sua vida normal de cada dia, neste mundo brutal, violento, cruel - um mundo que se está tornando cada vez mais eficiente e, por conseguinte, cada vez mais cruel - se é possível a esse ente humano promover uma revolução não só em suas relações externas, mas também em toda a esfera do seu pensar, sentir, agir e reagir.Todos os dias vemos ou lemos coisas aterradoras que estão acontecendo no mundo, como resultado da violência existente no homem. Podeis dizer: "Eu nada posso fazer a esse respeito", ou "Como posso influir no mundo?". Eu acho que podeis influir no mundo de uma maneira admirável se em vós mesmos não sois violentos, se viveis realmente, em cada dia, (momento a momento) uma vida pacífica, uma vida sem competição, sem ambição, sem inveja, uma vida não causadora de inimizade (o que não quer dizer sem atenção, com todos os sentidos, inclusivista, que não é concentração, que exclui). Pequenas chamas podem tornar-se em incêndio. Reduzimos o mundo ao seu atual estado de caos com nossa atividade egocêntrica, nossos preconceitos, nosso nacionalismo, e quando dizemos que nada podemos fazer a tal respeito, estamos aceitando como inevitável a desordem em nós mesmos existente. Partimos o mundo em fragmentos e, se nós mesmos estamos partidos, fragmentados, nossa relação com o mundo será também fragmentária. Mas se, quando agimos, agimos totalmente, então a nossa relação com o mundo passa por uma enorme revolução.Afinal de contas, todo movimento que vale o esforço, toda ação de profundo significado, tem de começar em cada um de nós. Eu tenho de mudar primeiro; tenho de ver qual é a natureza e a estrutura de minha relação com o mundo - e no próprio ato de ver está o fazer - por conseguinte, como ente humano que vive neste mundo, devo criar uma coisa diferente, e essa coisa, a meu ver, é a mente religiosa, (de re-ligação).A mente religiosa difere completamente da mente que crê na religião. Não podeis ser religioso e ao mesmo tempo hinduísta, muçulmano, cristão, budista. A mente religiosa nada busca, não pode fazer experiências com a verdade. A verdade não é uma certa coisa ditada por vosso prazer ou vossa dor, ou por vosso condicionamento (cristão, muçulmano), hinduísta - ou qualquer que seja a religião a que pertenceis. A mente religiosa é um estado de espírito em que não há medo e, por conseguinte, não há crença de espécie alguma, porém, tão-só o que é, o que realmente é.Na mente religiosa há aquele estado de silêncio que já examinamos, que não é produzido pelo pensamento, mas é oriundo do percebimento, ou seja da meditação com completa ausência do meditador. Nesse silêncio há um estado de energia isento de conflito. Energia é ação e movimento. Toda ação é movimento e toda ação é energia. Todo desejo é energia. Todo sentimento é energia, todo pensamento é energia. Todo viver é energia. Toda vida é energia. Se se deixa essa energia fluir sem nenhuma contradição, nenhum atrito, nenhum conflito, ela é então ilimitada, infinita. Quando não há atrito, não há limites à energia. O atrito é que dá limites à energia. Assim, percebido isso, por que é que o ente humano sempre introduz o atrito na energia? Por que cria atrito, nesse movimento a que chamamos vida? A energia pura, a energia ilimitada é para ele apenas uma ideia? Não tem realidade?Necessitamos de energia, não só para promovermos a revolução total em nós mesmos, mas também para podermos investigar, olhar, atuar. E, enquanto houver atrito, de qualquer natureza, em qualquer de nossas relações, seja entre marido e mulher, seja entre um homem e outro, entre uma e outra comunidade, ou uma e outra nação, ou uma ideologia e outra - se há qualquer atrito, interior ou exterior, em qualquer forma, por mais subtil que seja - há desperdício de energia.Enquanto houver um intervalo de tempo entre o observador (de todos os sentidos) e a coisa observada, esse intervalo criará atrito e, por conseguinte, desperdício de energia. Essa energia se acumula até o mais alto grau quando o observador é a coisa observada, e nisso não há nenhum intervalo de tempo. Haverá então energia sem motivo, a qual encontrará seu próprio canal de ação, porque, então, o EU não existe.Necessitamos de uma enorme abundância de energia para compreender a confusão em que estamos vivendo, e o sentimento "tenho de compreender" produz a vitalidade necessária para a compreensão. Mas, o descobrir, o investigar, implica o tempo, e, como já vimos, o gradual descondicionamento da mente não é a maneira certa de proceder.O tempo também não é o caminho certo. Quer sejamos velhos, quer jovens, é agora que o integral processo da vida pode ser levado a uma dimensão diferente. A busca do oposto do que somos não é, tampouco, o caminho certo e também não o é a disciplina artificial imposta por um sistema, por um instrutor, um filósofo ou sacerdote; tudo isso é muito infantil. Ao percebermos isso, perguntamos a nós mesmos: "Será possível libertarmo-nos imediatamente desta secular e pesada carga de condicionamento, sem cairmos noutro condicionamento - sermos livres, com a mente completamente nova, sensível, viva, alertada, intensa, capaz?". Eis o nosso problema. Não há outro problema, porque, quando a mente se renova é capaz de enfrentar e resolver qualquer problema, É essa a única pergunta que temos de fazer a nós mesmos.Mas, nós não a fazemos. Preferimos ser ensinados. Um dos aspectos mais curiosos da estrutura de nossa psique é o querermos, todos nós, ser ensinados, porquanto somos o resultado de uma propaganda de dez mil anos. Queremos ver o nosso modo de pensar confirmado e corroborado por outrem, ao passo que fazer uma pergunta é fazê-la a nós mesmos. O que eu digo tem muito pouco valor. Vós o esquecereis no mesmo instante em que fechardes este livro, ou vos lembrareis de algumas frases, as quais ficareis repetindo, ou comparareis o que aqui lestes com o que lestes noutro livro; não quereis olhar de frente a vossa própria vida. E só ela é que importa: a vossa vida, vós mesmos, vossa mediocridade, vossa superficialidade, vossa brutalidade, vossa violência, vossa avidez, vossa ambição, vossa diária agonia e infinito sofrer; é isso que tendes de compreender, e ninguém, nem na terra, nem no céu, pode salvar-vos, senão vós mesmos.Vendo tudo o que se passa em vossa vida diária, em vossas atividades quotidianas, quando escreveis, quando falais, quando saís de carro ou passeais a sós numa floresta, podeis, num só alento, num só olhar, conhecer a vós mesmos, muito simplesmente, tal como sois? Quando vos conhecerdes como sois, compreendereis então toda a estrutura da luta do homem - seus embustes, suas hipocrisias, sua busca. Para tanto, tendes de ser sumamente honestos perante vós mesmos, em todo o vosso ser. Quando agis de acordo com vossos princípios, estais sendo desonestos, porque, quando agis conforme o que julgais ser correto, não sois o que sois. É uma coisa brutal - ter ideais. Se tendes ideais, crenças ou princípios de qualquer espécie, não podeis de modo nenhum olhar-vos diretamente. Portanto, podeis ser completamente negativos, manter-vos inteiramente tranquilos, sem pensar, sem temer, e ao mesmo tempo estar extraordinariamente, apaixonadamente, vivos?Aquele estado em que a mente já não é capaz de lutar constitui a verdadeira mente religiosa, e, nesse estado mental, podeis encontrar-vos com essa coisa denominada verdade ou realidade ou bem-aventurança ou Deus ou beleza ou amor. Essa coisa não pode ser chamada. Por favor, compreendei esse simples fato. Ela não pode ser chamada, não pode ser buscada, porque vossa mente é tão estúpida e limitada, vossas emoções tão vulgares, vossa maneira de vida tão confusa, que aquela imensidade, aquela coisa ilimitada não pode ser chamada a vossa pequena casa, ao insignificante canto em que viveis, tão pisado e cuspido. Não podeis chamá-la. Para a chamardes, deveis conhecê-la, e vós não podeis conhecê-la. No momento em que alguém, não importa quem, diz: "Sei" - não sabe. No momento em que dizeis que achastes, não achastes. Se dizeis que a experimentastes, nunca a experimentastes. Tudo isso são maneiras de explorar um homem - vosso amigo ou inimigo.Perguntamos então, a nós mesmos, se é possível encontrar-nos com essa coisa sem a chamarmos, sem a esperarmos, sem a buscarmos ou explorarmos - se é possível ela "acontecer", tal como a brisa fresca que entra na sala quando deixamos a janela aberta. Não podeis convidar o vento a entrar, mas tendes de deixar aberta a janela - o que não significa ficar num estado de espera; essa é uma outra maneira de nos enganarmos. Não significa que devais "abrir-vos" para receber; essa é uma outra forma de pensamento.Nunca perguntastes a vós mesmo por que aos entes humanos falta essa coisa? Eles geram filhos, satisfazem o sexo, têm ternuras, a capacidade de compartilhar as coisas num estado de companheirismo, de amizade, de camaradagem, mas essa coisa - por que razão não a tem? Nunca vos ocorreu, num momento de folga - ao andardes sozinhos por uma rua imunda, ao viajardes num ónibus, ao passardes umas férias à beira-mar, ao passeardes numa floresta, entre os pássaros, as árvores, os regatos, os animais selvagens - nunca vos ocorreu perguntar por que razão o homem, que vive há milhões e milhões de anos, ainda não possui essa coisa, essa flor maravilhosa e imarcescível; por que razão vós, um ente humano, dotado de tanta capacidade, tanta inteligência, tanta subtileza; vós, que tanto competis, que possuís uma tão maravilhosa tecnologia, que sois capaz de elevar-vos aos espaços e de descer ao fundo do mar, de inventar fantásticos cérebros eletrônicos - por que razão não possuis essa única coisa verdadeiramente importante? Não sei se alguma vez já considerastes seriamente esta questão: Por que está vazio o vosso coração?Que responderíeis se fizésseis a vós mesmo essa pergunta; qual seria vossa resposta imediata, inequívoca, sem sutilezas? Vossa resposta deveria corresponder à intensidade com que fizésseis a pergunta, e ao vosso sentimento de urgência; mas vós não sois intenso, nem sentis aquela urgência, e isso porque não tendes energia, a energia que é paixão - pois nenhuma verdade se pode descobrir sem paixão - paixão impelida por intenso fervor, paixão sem nenhum desejo secreto. A paixão é uma coisa um tanto assustadora, porque, se tendes paixão, não sabeis aonde ela vos levará.Assim, será o medo a razão por que não possuís a energia daquela paixão, para descobrirdes por vós mesmos por que vos falta aquela essência do amor, por que não arde em vosso coração essa chama? Se examinastes com muita atenção vossa mente e vosso coração, sabereis por que não a tendes. Se és apaixonado, no descobrir por que não a possuis, ela se vos mostrará. Só pela negação completa, a mais alta forma da paixão, se torna existente aquela coisa que é o amor. Como a humildade, não podeis cultivar o amor. A humildade vem à existência com a total cessação da presunção - e, então, jamais sabereis o que é ser humilde. O homem que sabe o que significa ter humildade é um homem vaidoso. Do mesmo modo, quando aplicais vossa mente e vosso coração, vossos nervos, vossos olhos, todo o vosso ser, a descobrir o caminho da vida, a ver o que realmente é, e a ultrapassá-lo, a rejeitar total e completamente a vida que hoje vivemos - nessa negação do maléfico, do brutal, torna-se existente a outra coisa. E nunca o sabereis. O homem que sabe que está em silêncio, o homem que sabe que ama, não sabe o que é o amor ou o que é o silêncio."Fonte: http://www.jiddu-krishnamurti.net/pt/krishnamurti-liberte-se-do-passado/jiddu-krishnamurti-liberte-se-do-passado-16
“ A meditação é a ação do silêncio.Meditação é a liberdade do pensamento; um movimento no êxtase da verdade.A meditação é a libertação da energia.A crença é tão desnecessária quanto o são os ideais. Ambos dissipam a energia necessária ao acompanhamento do desdobramento daquilo “que é”. Tanto as crenças como os ideais são fugas ao(s) facto(s), mas pelo escape não pode haver fim do sofrimento. (E, o mal é o ego mau… ao qual não convém resistir em demasia. K. dizia muitas vezes que era preciso algo novo para evitar a destruição mais ou menos total, e, ele foi esse novo. E, a verdade verdadinha é que ele também não cedia completamente ao mal, por mais que o mal nos queira fazer aceitar o contrário). O fim do sofrimento está na compreensão do fato, momento a momento. Não existe sistema nem método que possibilite tal compreensão; somente através da consciência sem escolha de um facto, isso acontece. A meditação que segue um sistema consiste em evitar o fato do que sois. Mas é infinitamente mais importante compreender-vos a vós mesmos – sobre a constante mudança acerca de vós próprios – do que meditar a fim de encontrar Deus ou obter visões, sensações ou outras formas de entretenimento.Na meditação não existe sequência, nem continuidade, porque isso implica tempo, espaço e ação dentro desse campo. A nossa mente está condicionada a aceitar o tempo e o espaço, mas nesse movimento a ação produzirá sempre contradição e, portanto, conflito. Assim é a nossa vida!” – K.