Wednesday, November 05, 2008

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LAHIRI MAHASAYA
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"... - Yogananda – disse ele, com uma seriedade inusitada -, você tem, desde pequeno, convivido com discípulos directos de Lahiri Mahasaya. O grande mestre viveu a sua vida sublime parcialmente afastado do convívio do mundo e recusou firmemente que os seus seguidores estabelecessem qualquer organização com base nos seus ensinamentos. Apesar disso, fez uma previsão significativa: «cerca de cinquenta anos após a minha morte, e dado o grande interesse que o ioga despertará no Ocidente, será escrito um relato da minha vida. A mensagem do ioga correrá mundo e será de grande ajuda para estabelecer a fraternidade entre os homens, resultado da percepção directa da existência do Pai Único.» Yoganada, meu filho – continuou Sri Yukteswar – você deve colaborar na divulgação dessa mensagem e escrever a respeito dessa vida sagrada.
Lahiri Mahasaya faleceu em 1895. Cinquenta anos depois, em 1945, este livro foi concluído. Não posso deixar de me surprender com a coincidência, pois foi em 1945 que teve início uma nova era, a idade das revolucionárias energias atómicas. Todas as grandes mente se voltam, agora mais do que nunca, para os problemas urgentes da paz e da fraternidade, para que o uso contínuo da força descoberta pela física nãovenha a varrer os homens da face da Terra.
Embora o destino da raça humana e das suas obras seja desaparecer sem deixar vestígios, pela acção do tempo ou a deflagração da temida bomba, o Sol não mudará o seu curso e as estrelas manterão a sua invariável vigília. A lei cósmica não pode ser interrompida ou alterada e o homem deveria harmonizar-se com ela. Se o cosmos é contra o uso da força, se o próprio Sol não entra em guerra com os planetas e se retira na hora certa para dar às estrelas a oportunidade de brilhar, de que serve, então, empunhar uma arma? Será essa, realmente, a forma de alcançar a paz? Seremos protegidos não pela crueldade, mas pelo poder universal da boa vontade. A humanidade em paz colherá os infindáveis frutos da vitória, de sabor mais doce do que qualquer outro que seja cultivado em solo banhado em sangue
A verdadeira Liga das Nações, natural e anónima, será formada pelos corações humanos. Solidariedade abrangente e acertado insight, imprescindíveis para a cura dos sofrimentos terrenos, não podem resultar da mera consideração intelectual sobre a diferença entre os homens, mas sim do conhecimento da unidade e da semelhança do homem com Deus. Para a realização do mais elevado ideal deste mundo, que é alcançar a paz através da fraternidade humana, possa o ioga, a ciência do contacto pessoal com deus, vir a difundir-se entre todos os homens, em todas as nações.
Embora a civilização da Índia seja a mais antiga de todas, poucos historiadores notaram que a sua sobrevivência como nação não é, de modo algum, um acidente, mas o resultado lógico da devoção dos seus melhores filhos às verdades eternas ao longo de inúmeras gerações. Na sua existência contínua e imutável ao longo das eras – os enfadonhos eruditos serão capazes de dizer quantas? - , a Índia deu-nos uma resposta, mais valiosa do que qualquer outra, ao desafio do tempo.
A história bíblica (205) da súplica de Abraão para que o Senhor poupasse a cidade de Sodoma se ali fosse possível encontrar dez pessoas justas, e a resposta divina, «Não a destruirei por causa desses dez», ganha um novo significado à luz do facto de a Índia não Ter sido votada ao esquecimento como a Babilónia, o Egipto e outras nações poderosas que existiram na mesma época. A resposta de Deus demonstra claramente que uma nação perdura, não pelas suas conquistas materiais, mas pelas obras-primas que o homem realiza.
Que neste século XX (e XXI, e ...) duas vezes tingido de sangue ainda na sua primeira metade, as palavras divinas sejam ouvidas mais uma vez: nação alguma capaz de produzir dez homens notáveis aos olhos do Incorruptível Juiz conhecerá a extinção. Atenta a isso, a Índia tem demonstrado não desconsiderar os incontáveis artifícios do tempo. Século após século, o seu solo tem sido santificado por mestres que alcançaram a realização do Self. Sábios modernos que têm revelado semelhanças com Cristo, como Lahiri Mahasaya e Sri Yuteswar, reguem-se para proclamar que a ciência do ioga é mais importante para a felicidade do homem e a continuidade de uma nação do que qualquer progresso material...."
(205) Génesis 18: 23-32
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Fonte: "Autobiografia de um IOGUE", de Paramahansa Yogananda, da Dinalivro, Lisboa

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