Friday, November 18, 2005


1 - Eleições autárquicas no Antigo Regime. O caso de Montemor-o-Novo, em 1819:
“ Chegado à vila, o corregedor interino da comarca de Évora, José I. D. de Caravalho, chama António J. de S. Fragoso e Francisco M. de V. V. C. S. Barreto, pessoas «das mais antigas e honradas» e que têm servido os «cargos da governança». Ambos... pertencendo à nobreza local... Com base em informações destes, é feito o arrolamento, o qual se encontra dividido em quatro partes: «relação dos nomes das pessoas que costumam andar na governança para vereadores»; «pessoas nomeadas para procuradores por costumarem andar na governança desta vila»; «pessoas nomeadas capazes de servirem para chanceleres»; e «pessoas capazes de serem tezoureiros dos bens dos conselhos».
Dos arrolamentos dos elegíveis deviam constar as suas «qualidades»: idade, parentescos, estado civil, naturalidade, residência, rendimento e profissão.
Terminado o arrolamento, lançam-se pregões convocando «a nobreza e pessoas da Governança» para a eleição dos seis eleitores – o povo é esquecido neste e em todos os actos eleitorais realizados no final do Antigo regime.
... Concluída a eleição, o corregedor envia as três pautas, conjuntamente com o arrolamento, para apuramento pelo Desembargo do Paço, o qual todos os anos remete á câmara a relação dos oficiais nomeados para esse ano, que de imediato tomavam posse. regra geral, a Mesa do Desembargo do Paço respeitou os nomes indicados pelos eleitores.
... Como podemos facilmente concluir, esta prática eleitoral restringe fortemente o acesso ao governo dos municípios e, por isso mesmo, contribui para a sua aristocratização...
... São estes homens, pertencentes a um grupo social bem determinado (nobreza local, proprietários, negociantes, advogados...) que vão elaborar o arrolamento dos elegíveis. São eles que vão excluir da possibilidade de desempenhar os ofícios camarários quem não pertence ao seu «grupo», quem não comunga dos seus interesses. Está assim aberto o caminho para que a escolha se faça entre parentes e amigos... entre a elite local, detentora de riqueza, prestígio social e monopolizadora do poder político” In: “Elites e Finanças Municipais em Montemor-o-Novo do Antigo regime à Regeneração (1816-1851)”, de Paulo J. da Silva Fernandes.
Comentário: num mundo ideal e perfeito, o paraíso, não há desigualdades nem classes. Ainda hoje isso acontece com grupos mais ou menos restritos, mais ou menos duradouros, mais ou menos formais. Basta todavia existirem duas pessoas para haver interesses diferentes, para uma poder enganar a outra, para haver equívocos, isto, apesar da vantagem que duas pessoas que se entendem têm sobre uma que está sozinha...
Na monarquia, a nobreza, descendente de reis ou nomeada por serviços prestados, tinha a supremacia. Na república são os republicanos que a têm. Talvez seja no entanto verificar, já verifiquei para Montargil e Ponte de Sôr, que não poucos nomes de família que estão hoje na “governança” por meio até de partidos de trabalhadores, estiveram-no no Antigo Regime por parte da nobreza.
E, é fácil de ver, passados estes anos todos, que, lá por o “povo” também eleger, não deixou de se cair no problema de serem sempre os mesmos a mandar. Mas, o problema nem é esse. O problema é quando querem repartir, ficando com a grande e melhor parte, sem terem contribuído para as "existências" ou tendo contribuído muito pouco! Aí está o caldo entornado!

2 – “Pitágoras de Samos - Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colónia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília. Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer com que a educação ética da escola se ampliasse e se tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C.
Segundo o pitagorismo, a essência, o princípio essencial de que são compostas todas as coisas, é o número, ou seja, as relações matemáticas. Os pitagóricos, não distinguindo ainda bem forma, lei e matéria, substância das coisas, consideraram o número como sendo a união de um e outro elemento. Da racional concepção de que tudo é regulado segundo relações numéricas, passa-se à visão fantástica de que o número seja a essência das coisas.
Mas, achada a substância una e imutável das coisas, os pitagóricos se acham em dificuldades para explicar a multiplicidade e o vir-a-ser, precisamente mediante o uno e o imutável. E julgam poder explicar a variedade do mundo mediante o concurso dos opostos, que são - segundo os pitagóricos - o ilimitado e o limitado, ou seja, o par e o ímpar, o imperfeito e o perfeito. O número divide-se em par, que não põe limites à divisão por dois, e, por conseguinte, é ilimitado (quer dizer, imperfeito, segundo a concepção grega, a qual via a perfeição na determinação); e ímpar, que põe limites à divisão por dois e, portanto, é limitado, determinado, perfeito. Os elementos constitutivos de cada coisa - sendo cada coisa número - são o par e o ímpar, o ilimitado e o limitado, o pior e o melhor. Radical oposição esta, que explicaria o vir-a-ser e o múltiplice, que seriam reconduzidos à concordância e à unidade pela fundamental harmonia (matemática), que governa e deve governar o mundo material e moral, astronómico e sonoro.
Como a filosofia da natureza, assim a astronomia pitagórica representa um progresso sobre a jónica. De fato, os pitagóricos afirmaram a esfericidade da Terra e dos demais corpos celestes, bem como a rotação da Terra, explicando assim o dia e a noite; e afirmaram também a revolução dos corpos celestes em torno de um foco central, que não se deve confundir com o Sol. Pelo que diz respeito à moral, enfim, dominam no pitagorismo o conceito de harmonia, logicamente conexo com a filosofia pitagórica, e as práticas ascéticas e abstinenciais, com relação à metempsicose e à reencarnação das almas...” do Site: http://www.mundo/ dos filósofos.com.br/pitagoras.htm


3 – Limites – “... os limites são regras de um jogo a que voluntariamente nos submetemos ou circunstâncias que escapam ao nosso controle e exigem de nós uma adaptação... muitas vezes é mais fácil produzir arte (ou investigação, ciência, obras, alimentos, etc, digo eu) de boa qualidade dentro de um baixo orçamento... não estou recomendando a pobreza... é lógico que necessitamos de materiais para criar... mas a necessidade obriga-nos a improvisar com ... o que temos á mão...” (pg. 81). Podemos auto-limitar-nos para aprofundar um aspecto da vida ou da arte: “... Picasso abriu novos campos para a arte restringindo-se voluntariamente às nuances da cor azul... Se certos valores estão contidos dentro de estreitos limites, outros estarão livres para variar com mais força... Se tivermos todas as cores disponíveis, às vezes estamos demasiadamente livres. Com uma dimensão restrita, a expressão torna-se mais livre noutras dimensões... Num espaço confinado, a expressão pode tornar-se mais rica e mais subtil... num estúdio de gravação, podemos tocar com mais subtileza, extraindo das cordas apenas um sussurro, o que nos permite alcançar uma ampla gama de sons, do mais suave ao mais estridente... Quando queremos enfatizar um ponto, não precisamos subir o tom da voz (embora também o possamos fazer, digo eu); podemos torná-lo mais suave e mais íntimo, mais subtil, mais eficiente. Muitas vezes, os obstáculos impostos por um campo limitado de expressão desencadeiam surpresas essenciais que mais tarde são percebidas como criatividade... Bricolage, que significa criar alguma coisa a partir do material que se tem à mão... Bricolage é o que vemos nas crianças, que incorporam qualquer coisa às suas brincadeiras... Bricolage implica aquilo que os matemáticos chamam de «elegância», ou seja, aquela economia de linguagem que permite que uma única linha de pensamento tenha inúmeras implicações e consequências... nas mãos de Beethoven uma escala nunca é apenas uma escala... Cada nota é pessoal, assume um peso, um equilíbrio, uma teztura e um colorido únicos em relação às demais, como só é possível num organismo vivo; o contexto dentro do contexto, sempre mutável, sensual... Na bricolage, transformamos os materiais comuns que temos nas mãos em matéria viva – o «ouro verde» dos alquimistas. O cerne da transformação é a mente que brinca: a mente que, por não ter nada a ganhar ou a perder, trabalha e brinca com os limites e resistências das ferramentas (materias) que temos nas mãos... Um artista pode fazer alguma coisa mesmo com o instrumento mais barato” (pgs. 83, 84 e 85 de SER CRIATIVO, anteriormente citado)

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