A DESCONHECIDA
.
Agrada-me fixar esta recordação
Enquanto pensas ainda em mim, certamente.
.
Já que me foi impossível falar contigo,
Pois que a multidão nos separou,
Quero aqui agradecer-te
A embriaguez que me proporcionaste,
Querida desconhecida!
.
Sem dúvida, não voltarei a ver-te.
Hoje a felicidade está perto de nós.
Amanhã, onde estará ?
Quem a procura não a encontrará jamais.
Nessa noite ela passou em Irchad.
.
Quando cheguei, cem pessoas
Envolviam já o narrador.
Por que me sentei ao sol
E não fiquei à sombra ?
Por que estavas diante de mim ?
.
Posso repetir o que disse o narrador
Até ao momento em que toquei no teu braço.
Para mim as aventuras de Antar terminaram
Quando o teu primeiro estremecimento
Respondeu à minha tímida carícia.
.
Não sou audacioso com as mulheres.
A abelha é brusca com o jasmim ?
Tinha acabado de roçar no teu braço.
Tu voltaste-te suavemente. Vi o teu rosto.
Teus olhos estavam entre os cílios
Como um regato de fogo sob os ramos.
.
Senti-me encorajado.
.
Percebeste que não era só o meu desejo
Que vibrava contigo ?
O meu coração acarinhava o teu
E a minha alma a tua.
.
Como um cavaleiro que modera o ímpeto
Do seu cavalo fogoso,
Eu reprimia o entusiasmo
Que me lançava para ti.
.
Os teus frémitos faziam ondular as espáduas.
O mistério e o perigo juntavam-se à tua volúpia.
Tu davas-te inteiramente.
.
Murmurei, com amargura,
Que me proporcionaste essa embriaguez
Sem sequer me conhecer
E que qualquer outro poderia tê-la desfrutado.
Fonte: “O Jardim das Carícias”, de Anónimo Árabe (Séc. X), da Farândola – Paris, 1995
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment