JAMAIS
Jamais, jamais
Te faças miserável
A fim de te salvares
Ou curares,
Amável.
Alguém crucificou
E adorou, adora,
A dor como único
Meio de salvação.
Mas que estreito!
Nem o crucificado
Foi encontrado
Tão rígido
Assim!
Thursday, April 30, 2009
Em primeira mão
Visão em segunda mão
Não: se até já fomos
Pioneiros nas descobertas:
Desde as Abertas
Até ao fim de Portugal;
Desde a Erra
Até ao fim da Terra!...
Hoje vi um homem sentado
Em cima de grandes pregos
Com sofrimento domado,
Sem ser gozado,
Esperando umas moedas.
Devia estar feliz também
Por dor ter dominado,
conquistado, suponho.
Visão em segunda mão
Não: se até já fomos
Pioneiros nas descobertas:
Desde as Abertas
Até ao fim de Portugal;
Desde a Erra
Até ao fim da Terra!...
Hoje vi um homem sentado
Em cima de grandes pregos
Com sofrimento domado,
Sem ser gozado,
Esperando umas moedas.
Devia estar feliz também
Por dor ter dominado,
conquistado, suponho.
SÃO ou NIM
Fé num salvador
Não, que dor
Pode fazer,
Sem querer.
Ou sim?
Mecânico também não,
João, nem automático.
Ou sim?
Liberdade há-de
Triunfar, sobre o reumático.
Ou não?
Novo, original,
Criativo, descoberto
Ou redescoberto,
Com ou sem palavras,
Alberto.
E velho,
Telho.
Refreando desejos?
Fazendo e cumprindo
Promessas? Auto-oprimindo?
Contra tudo e todos?
Cuidado, Olindo!
Ou não?
Mentes deformadas,
Mal formadas,
Desequilibradas...
Ansiedade,
Culpabilidade,
Medo,
Com tempo, gradualmente...
Com intento,
Renúncia,
Prática,
Competição...
Oh São,
Tudo bem?
Com grandeza,
Com beleza,
Sem estreiteza...
Com estreiteza,
Com toda a sensibilidade,
Insensíveis,
Com idade,
Sem idade;
Com gume não embotado,
Ou mal afiado,
Com amor, sem dor,
Ou com dor,
Até à nossa flor interior
E exterior...
Não a de outrem,
Ou a de outrem.
Criativamente,
E(ou) mecanicamente;
Ou não?
Repentinamente,
E/ou gradualmente...
Fé num salvador
Não, que dor
Pode fazer,
Sem querer.
Ou sim?
Mecânico também não,
João, nem automático.
Ou sim?
Liberdade há-de
Triunfar, sobre o reumático.
Ou não?
Novo, original,
Criativo, descoberto
Ou redescoberto,
Com ou sem palavras,
Alberto.
E velho,
Telho.
Refreando desejos?
Fazendo e cumprindo
Promessas? Auto-oprimindo?
Contra tudo e todos?
Cuidado, Olindo!
Ou não?
Mentes deformadas,
Mal formadas,
Desequilibradas...
Ansiedade,
Culpabilidade,
Medo,
Com tempo, gradualmente...
Com intento,
Renúncia,
Prática,
Competição...
Oh São,
Tudo bem?
Com grandeza,
Com beleza,
Sem estreiteza...
Com estreiteza,
Com toda a sensibilidade,
Insensíveis,
Com idade,
Sem idade;
Com gume não embotado,
Ou mal afiado,
Com amor, sem dor,
Ou com dor,
Até à nossa flor interior
E exterior...
Não a de outrem,
Ou a de outrem.
Criativamente,
E(ou) mecanicamente;
Ou não?
Repentinamente,
E/ou gradualmente...
Wednesday, April 29, 2009
A Revolução Total
- A Mente Religiosa - A Energia - A Paixão
Em todas as páginas deste livro, o que sempre nos interessou foi a realização, em nós mesmos e, por conseguinte, em nossas vidas, de uma revolução total fora da estrutura social ora existente. A sociedade, como atualmente está constituída, é uma coisa horripilante, com suas intermináveis guerras de agressão - não importa se agressão defensiva ou ofensiva. Necessitamos de uma coisa totalmente nova, de uma revolução, uma mutação na própria psique. O velho cérebro nenhuma possibilidade tem de resolver o problema humano das relações. O velho cérebro é asiático, europeu, americano ou africano, e, assim, interrogamos a nós mesmos se é possível operar-se uma mutação nas próprias células cerebrais.
Investiguemos, também, agora que chegamos a compreender-nos melhor, se é possível a um ente humano que vive sua vida normal de cada dia, neste mundo brutal, violento, cruel - um mundo que se está tornando cada vez mais eficiente e, por conseguinte, cada vez mais cruel - se é possível a esse ente humano promover uma revolução não só em suas relações externas, mas também em toda a esfera do seu pensar, sentir, agir e reagir.
Todos os dias vemos ou lemos coisas aterradoras que estão acontecendo no mundo, como resultado da violência no homem existente. Podeis dizer: "Eu nada posso fazer a esse respeito", ou "Como posso influir no mundo?". Eu acho que podeis influir no mundo de uma maneira admirável se em vós mesmo não sois violentos, se viveis realmente, em cada dia, uma vida pacífica, uma vida sem competição (eu diria com o mínimo de competição e ambição possível), sem ambição, sem inveja, uma vida não causadora de inimizade. Pequenas chamas podem tornar-se em incêndio. Reduzimos o mundo ao seu atual estado de caos com nossa atividade egocêntrica, nossos preconceitos, nosso nacionalismo, e quando dizemos que nada podemos fazer a tal respeito, estamos aceitando como inevitável a desordem em nós mesmos existente. Partimos o mundo em fragmentos e, se nós mesmos estamos partidos, fragmentados, nossa relação com o mundo será também fragmentária. Mas se, quando agimos, agimos totalmente, então a nossa relação com o mundo passa por uma enorme revolução.
Afinal de contas, todo movimento que vale o esforço, toda ação de profunda significação, tem de começar em cada um de nós. Eu tenho de mudar primeiro; tenho de ver qual é a natureza e a estrutura de minha relação com o mundo - e no próprio ato de ver está o fazer - por conseguinte, como ente humano que vive neste mundo, devo criar uma coisa diferente, e essa coisa, a meu ver, é a mente religiosa.
A mente religiosa difere completamente da mente que crê na religião. Não podeis ser religioso e ao mesmo tempo ser hinduísta, muçulmano, cristão, budista. A mente religiosa nada busca, não pode fazer experiências com a verdade. A verdade não é uma certa coisa ditada por vosso prazer ou vossa dor, ou por vosso condicionamento hinduísta - ou qualquer que seja a religião a que pertenceis. A mente religiosa é um estado de espírito em que não há medo e, por conseguinte, não há crença de espécie alguma, porém, tão-só o que é, o que realmente é.
Na mente religiosa há aquele estado de silêncio que já examinamos, que não é produzido pelo pensamento, mas é oriundo do percebimento, ou seja da meditação com completa ausência do meditador. Nesse silêncio há um estado de energia isento de conflito. Energia é ação e movimento. Toda ação é movimento e toda ação é energia. Todo desejo é energia. Todo sentimento é energia, todo pensamento é energia. Todo viver é energia. Toda vida é energia. Se se deixa essa energia fluir sem nenhuma contradição, nenhum atrito, nenhum conflito, ela é então ilimitada, infinita. Quando não há atrito, não há limites à energia. O atrito é que dá limites à energia. Assim, percebido isso, por que é que o ente humano sempre introduz o atrito na energia? Por que cria atrito, nesse movimento a que chamamos vida? A energia pura, a energia ilimitada é para ele apenas uma idéia? Não tem realidade?
Necessitamos de energia, não só para promovermos a revolução total em nós mesmos, mas também para podermos investigar, olhar, atuar. E, enquanto houver atrito, de qualquer natureza, em qualquer de nossas relações, seja entre marido e mulher, seja entre um homem e outro, entre uma e outra comunidade, ou uma e outra nação, ou uma ideologia e outra - se há qualquer atrito, interior ou exterior, em qualquer forma, por mais sutil que seja - há desperdício de energia.
Enquanto houver um intervalo de tempo entre o observador e a coisa observada, esse intervalo criará atrito e, por conseguinte, desperdício de energia. Essa energia se acumula até o mais alto grau quando o observador é a coisa observada, e nisso não há nenhum intervalo de tempo. Haverá então energia sem motivo, a qual encontrará seu próprio canal de ação, porque, então, o EU não existe.
Necessitamos de uma enorme abundância de energia para compreender a confusão em que estamos vivendo, e o sentimento "tenho de compreender" produz a vitalidade necessária para a compreensão. Mas, o descobrir, o investigar, implica o tempo, e, como já vimos, o gradual descondicionamento da mente não é a maneira certa de proceder.
O tempo também não é o caminho certo. Quer sejamos velhos, quer jovens, é agora que o integral processo da vida pode ser levado a uma dimensão diferente. A busca do oposto do que somos não é, tampouco, o caminho certo e também não o é a disciplina artificial imposta por um sistema, por um instrutor, um filósofo ou sacerdote; tudo isso é muito infantil. Ao percebermos isso, perguntamos a nós mesmos: "Será possível libertarmo-nos imediatamente desta secular e pesada carga de condicionamento, sem cairmos noutro condicionamento - sermos livres, com a mente completamente nova, sensível, viva, alertada, intensa, capaz?". Eis o nosso problema. Não há outro problema, porque, quando a mente se renova é capaz de enfrentar e resolver qualquer problema, É essa a única pergunta que temos de fazer a nós mesmos.
Mas, nós não a fazemos. Preferimos ser ensinados. Um dos aspectos mais curiosos da estrutura de nossa psique é o querermos, todos nós, ser ensinados, porquanto somos o resultado de uma propaganda de dez mil anos. Queremos ver o nosso modo de pensar confirmado e corroborado por outrem, ao passo que fazer uma pergunta é fazê-la a nós mesmos. O que eu digo tem muito pouco valor. Vós o esquecereis no mesmo instante em que fechardes este livro, ou vos lembrareis de algumas frases, as quais ficareis repetindo, ou comparareis o que aqui lestes com o que lestes noutro livro; não quereis olhar de frente a vossa própria vida. E só ela é que importa: a vossa vida, vós mesmo, vossa mediocridade, vossa superficialidade, vossa brutalidade, vossa violência, vossa avidez, vossa ambição, vossa diária agonia e infinito sofrer; é isso que tendes de compreender, e ninguém, nem na terra, nem no céu, pode salvar-vos, senão vós mesmo.
Vendo tudo o que se passa em vossa vida diária, em vossas atividades cotidianas, quando escreveis, quando falais, quando sais de carro ou passeais a sós numa floresta, podeis, num só alento, num só olhar, conhecer a vós mesmo, muito simplesmente, tal como sois? Quando vos conhecerdes como sois, compreendereis então toda a estrutura da luta do homem - seus embustes, suas hipocrisias, sua busca. Para tanto, tendes de ser sumamente honesto perante vós mesmo, em todo o vosso ser. Quando agis de acordo com vossos princípios, estais sendo desonesto, porque, quando agis conforme o que julgais ser correto, não sois o que sois. É uma coisa brutal - ter ideais. Se tendes ideais, crenças ou princípios de qualquer espécie, não podeis de modo nenhum olhar-vos diretamente. Portanto, podeis ser completamente negativo, manter-vos inteiramente tranqüilo, sem pensar, sem temer, e ao mesmo tempo estar extraordinariamente, apaixonadamente, vivo?
Aquele estado em que a mente já não é capaz de lutar constitui a verdadeira mente religiosa, e, nesse estado mental, podeis encontrar-vos com essa coisa denominada verdade ou realidade ou bem-aventurança ou Deus ou beleza ou amor. Essa coisa não pode ser chamada. Por favor, compreendei esse simples fato. Ela não pode ser chamada, não pode ser buscada, porque vossa mente é tão estúpida e limitada, vossas emoções tão vulgares, vossa maneira de vida tão confusa, que aquela imensidade, aquela coisa ilimitada não pode ser chamada a vossa pequena casa, ao insignificante canto em que viveis, tão pisado e cuspido. Não podeis chamá-la. Para a chamardes, deveis conhecê-la, e vós não podeis conhecê-la. No momento em que alguém, não importa quem, diz: "Sei" - não sabe. No momento em que dizeis que achastes, não achastes. Se dizeis que a experimentastes, nunca a experimentastes. Tudo isso são maneiras de explorar um homem - vosso amigo ou inimigo.
Perguntamos então, a nós mesmos, se é possível encontrar-nos com essa coisa sem a chamarmos, sem a esperarmos, sem a buscarmos ou explorarmos - se é possível ela "acontecer", tal como a brisa fresca que entra na sala quando deixamos a janela aberta. Não podeis convidar o vento a entrar, mas tendes de deixar aberta a janela - o que não significa ficar num estado de espera; essa é uma outra maneira de nos enganarmos. Não significa que devais "abrir-vos" para receber; essa é uma outra forma de pensamento.
Nunca perguntastes a vós mesmo por que aos entes humanos falta essa coisa? Eles geram filhos, satisfazem o sexo, têm ternuras, a capacidade de compartilhar as coisas num estado de companheirismo, de amizade, de camaradagem, mas essa coisa - por que razão não a tem? Nunca vos ocorreu, num momento de folga - ao andardes sozinho por uma rua imunda, ao viajardes num ônibus, ao passardes umas férias à beira-mar, ao passeardes numa floresta, entre os pássaros, as árvores, os regatos, os animais selvagens - nunca vos ocorreu perguntar por que razão o homem, que vive há milhões e milhões de anos, ainda não possui essa coisa, essa flor maravilhosa e imarcescível; por que razão vós, um ente humano, dotado de tanta capacidade, tanta inteligência, tanta sutileza; vós, que tanto competis, que possuis uma tão maravilhosa tecnologia, que sois capaz de elevar-vos aos espaços e de descer ao fundo do mar, de inventar fantásticos cérebros eletrônicos - por que razão não possuis essa única coisa verdadeiramente importante? Não sei se alguma vez já considerastes seriamente esta questão: Por que está vazio o vosso coração?
Que responderíeis se fizésseis a vós mesmo essa pergunta; qual seria vossa resposta imediata, inequívoca, sem sutilezas? Vossa resposta deveria corresponder à intensidade com que fizésseis a pergunta, e ao vosso sentimento de urgência; mas vós não sois intenso, nem sentis aquela urgência, e isso porque não tendes energia, a energia que é paixão - pois nenhuma verdade se pode descobrir sem paixão - paixão impelida por intenso fervor, paixão sem nenhum desejo secreto. A paixão é uma coisa um tanto assustadora, porque, se tendes paixão, não sabeis aonde ela vos levará.
Assim, será o medo a razão por que não possuis a energia daquela paixão, para descobrirdes por vós mesmo por que vos falta aquela essência do amor, por que não arde em vosso coração essa chama? Se examinastes com muita atenção vossa mente e vosso coração, sabereis por que não a tendes. Se sois apaixonado, no descobrir por que não a possuis, ela se vos mostrará. Só pela negação completa, a mais alta forma da paixão, torna-se existente aquela coisa que é õ amor. Como a humildade, não podeis cultivar o amor. A humildade vem à existência com a total cessação da presunção - e, então, jamais sabereis o que é ser humilde. O homem que sabe o que significa ter humildade é um homem vaidoso. Do mesmo modo, quando aplicais vossa mente e vosso coração, vossos nervos, vossos olhos, todo o vosso ser, a descobrir o caminho da vida, a ver o que realmente é, e a ultrapassá-lo, a rejeitar total e completamente a vida que hoje vivemos - nessa negação do maléfico, do brutal, torna-se existente a outra coisa. E nunca o sabereis. O homem que sabe que está em silêncio, o homem que sabe que ama, não sabe o que é o amor ou o que é o silêncio.
- A Mente Religiosa - A Energia - A Paixão
Em todas as páginas deste livro, o que sempre nos interessou foi a realização, em nós mesmos e, por conseguinte, em nossas vidas, de uma revolução total fora da estrutura social ora existente. A sociedade, como atualmente está constituída, é uma coisa horripilante, com suas intermináveis guerras de agressão - não importa se agressão defensiva ou ofensiva. Necessitamos de uma coisa totalmente nova, de uma revolução, uma mutação na própria psique. O velho cérebro nenhuma possibilidade tem de resolver o problema humano das relações. O velho cérebro é asiático, europeu, americano ou africano, e, assim, interrogamos a nós mesmos se é possível operar-se uma mutação nas próprias células cerebrais.
Investiguemos, também, agora que chegamos a compreender-nos melhor, se é possível a um ente humano que vive sua vida normal de cada dia, neste mundo brutal, violento, cruel - um mundo que se está tornando cada vez mais eficiente e, por conseguinte, cada vez mais cruel - se é possível a esse ente humano promover uma revolução não só em suas relações externas, mas também em toda a esfera do seu pensar, sentir, agir e reagir.
Todos os dias vemos ou lemos coisas aterradoras que estão acontecendo no mundo, como resultado da violência no homem existente. Podeis dizer: "Eu nada posso fazer a esse respeito", ou "Como posso influir no mundo?". Eu acho que podeis influir no mundo de uma maneira admirável se em vós mesmo não sois violentos, se viveis realmente, em cada dia, uma vida pacífica, uma vida sem competição (eu diria com o mínimo de competição e ambição possível), sem ambição, sem inveja, uma vida não causadora de inimizade. Pequenas chamas podem tornar-se em incêndio. Reduzimos o mundo ao seu atual estado de caos com nossa atividade egocêntrica, nossos preconceitos, nosso nacionalismo, e quando dizemos que nada podemos fazer a tal respeito, estamos aceitando como inevitável a desordem em nós mesmos existente. Partimos o mundo em fragmentos e, se nós mesmos estamos partidos, fragmentados, nossa relação com o mundo será também fragmentária. Mas se, quando agimos, agimos totalmente, então a nossa relação com o mundo passa por uma enorme revolução.
Afinal de contas, todo movimento que vale o esforço, toda ação de profunda significação, tem de começar em cada um de nós. Eu tenho de mudar primeiro; tenho de ver qual é a natureza e a estrutura de minha relação com o mundo - e no próprio ato de ver está o fazer - por conseguinte, como ente humano que vive neste mundo, devo criar uma coisa diferente, e essa coisa, a meu ver, é a mente religiosa.
A mente religiosa difere completamente da mente que crê na religião. Não podeis ser religioso e ao mesmo tempo ser hinduísta, muçulmano, cristão, budista. A mente religiosa nada busca, não pode fazer experiências com a verdade. A verdade não é uma certa coisa ditada por vosso prazer ou vossa dor, ou por vosso condicionamento hinduísta - ou qualquer que seja a religião a que pertenceis. A mente religiosa é um estado de espírito em que não há medo e, por conseguinte, não há crença de espécie alguma, porém, tão-só o que é, o que realmente é.
Na mente religiosa há aquele estado de silêncio que já examinamos, que não é produzido pelo pensamento, mas é oriundo do percebimento, ou seja da meditação com completa ausência do meditador. Nesse silêncio há um estado de energia isento de conflito. Energia é ação e movimento. Toda ação é movimento e toda ação é energia. Todo desejo é energia. Todo sentimento é energia, todo pensamento é energia. Todo viver é energia. Toda vida é energia. Se se deixa essa energia fluir sem nenhuma contradição, nenhum atrito, nenhum conflito, ela é então ilimitada, infinita. Quando não há atrito, não há limites à energia. O atrito é que dá limites à energia. Assim, percebido isso, por que é que o ente humano sempre introduz o atrito na energia? Por que cria atrito, nesse movimento a que chamamos vida? A energia pura, a energia ilimitada é para ele apenas uma idéia? Não tem realidade?
Necessitamos de energia, não só para promovermos a revolução total em nós mesmos, mas também para podermos investigar, olhar, atuar. E, enquanto houver atrito, de qualquer natureza, em qualquer de nossas relações, seja entre marido e mulher, seja entre um homem e outro, entre uma e outra comunidade, ou uma e outra nação, ou uma ideologia e outra - se há qualquer atrito, interior ou exterior, em qualquer forma, por mais sutil que seja - há desperdício de energia.
Enquanto houver um intervalo de tempo entre o observador e a coisa observada, esse intervalo criará atrito e, por conseguinte, desperdício de energia. Essa energia se acumula até o mais alto grau quando o observador é a coisa observada, e nisso não há nenhum intervalo de tempo. Haverá então energia sem motivo, a qual encontrará seu próprio canal de ação, porque, então, o EU não existe.
Necessitamos de uma enorme abundância de energia para compreender a confusão em que estamos vivendo, e o sentimento "tenho de compreender" produz a vitalidade necessária para a compreensão. Mas, o descobrir, o investigar, implica o tempo, e, como já vimos, o gradual descondicionamento da mente não é a maneira certa de proceder.
O tempo também não é o caminho certo. Quer sejamos velhos, quer jovens, é agora que o integral processo da vida pode ser levado a uma dimensão diferente. A busca do oposto do que somos não é, tampouco, o caminho certo e também não o é a disciplina artificial imposta por um sistema, por um instrutor, um filósofo ou sacerdote; tudo isso é muito infantil. Ao percebermos isso, perguntamos a nós mesmos: "Será possível libertarmo-nos imediatamente desta secular e pesada carga de condicionamento, sem cairmos noutro condicionamento - sermos livres, com a mente completamente nova, sensível, viva, alertada, intensa, capaz?". Eis o nosso problema. Não há outro problema, porque, quando a mente se renova é capaz de enfrentar e resolver qualquer problema, É essa a única pergunta que temos de fazer a nós mesmos.
Mas, nós não a fazemos. Preferimos ser ensinados. Um dos aspectos mais curiosos da estrutura de nossa psique é o querermos, todos nós, ser ensinados, porquanto somos o resultado de uma propaganda de dez mil anos. Queremos ver o nosso modo de pensar confirmado e corroborado por outrem, ao passo que fazer uma pergunta é fazê-la a nós mesmos. O que eu digo tem muito pouco valor. Vós o esquecereis no mesmo instante em que fechardes este livro, ou vos lembrareis de algumas frases, as quais ficareis repetindo, ou comparareis o que aqui lestes com o que lestes noutro livro; não quereis olhar de frente a vossa própria vida. E só ela é que importa: a vossa vida, vós mesmo, vossa mediocridade, vossa superficialidade, vossa brutalidade, vossa violência, vossa avidez, vossa ambição, vossa diária agonia e infinito sofrer; é isso que tendes de compreender, e ninguém, nem na terra, nem no céu, pode salvar-vos, senão vós mesmo.
Vendo tudo o que se passa em vossa vida diária, em vossas atividades cotidianas, quando escreveis, quando falais, quando sais de carro ou passeais a sós numa floresta, podeis, num só alento, num só olhar, conhecer a vós mesmo, muito simplesmente, tal como sois? Quando vos conhecerdes como sois, compreendereis então toda a estrutura da luta do homem - seus embustes, suas hipocrisias, sua busca. Para tanto, tendes de ser sumamente honesto perante vós mesmo, em todo o vosso ser. Quando agis de acordo com vossos princípios, estais sendo desonesto, porque, quando agis conforme o que julgais ser correto, não sois o que sois. É uma coisa brutal - ter ideais. Se tendes ideais, crenças ou princípios de qualquer espécie, não podeis de modo nenhum olhar-vos diretamente. Portanto, podeis ser completamente negativo, manter-vos inteiramente tranqüilo, sem pensar, sem temer, e ao mesmo tempo estar extraordinariamente, apaixonadamente, vivo?
Aquele estado em que a mente já não é capaz de lutar constitui a verdadeira mente religiosa, e, nesse estado mental, podeis encontrar-vos com essa coisa denominada verdade ou realidade ou bem-aventurança ou Deus ou beleza ou amor. Essa coisa não pode ser chamada. Por favor, compreendei esse simples fato. Ela não pode ser chamada, não pode ser buscada, porque vossa mente é tão estúpida e limitada, vossas emoções tão vulgares, vossa maneira de vida tão confusa, que aquela imensidade, aquela coisa ilimitada não pode ser chamada a vossa pequena casa, ao insignificante canto em que viveis, tão pisado e cuspido. Não podeis chamá-la. Para a chamardes, deveis conhecê-la, e vós não podeis conhecê-la. No momento em que alguém, não importa quem, diz: "Sei" - não sabe. No momento em que dizeis que achastes, não achastes. Se dizeis que a experimentastes, nunca a experimentastes. Tudo isso são maneiras de explorar um homem - vosso amigo ou inimigo.
Perguntamos então, a nós mesmos, se é possível encontrar-nos com essa coisa sem a chamarmos, sem a esperarmos, sem a buscarmos ou explorarmos - se é possível ela "acontecer", tal como a brisa fresca que entra na sala quando deixamos a janela aberta. Não podeis convidar o vento a entrar, mas tendes de deixar aberta a janela - o que não significa ficar num estado de espera; essa é uma outra maneira de nos enganarmos. Não significa que devais "abrir-vos" para receber; essa é uma outra forma de pensamento.
Nunca perguntastes a vós mesmo por que aos entes humanos falta essa coisa? Eles geram filhos, satisfazem o sexo, têm ternuras, a capacidade de compartilhar as coisas num estado de companheirismo, de amizade, de camaradagem, mas essa coisa - por que razão não a tem? Nunca vos ocorreu, num momento de folga - ao andardes sozinho por uma rua imunda, ao viajardes num ônibus, ao passardes umas férias à beira-mar, ao passeardes numa floresta, entre os pássaros, as árvores, os regatos, os animais selvagens - nunca vos ocorreu perguntar por que razão o homem, que vive há milhões e milhões de anos, ainda não possui essa coisa, essa flor maravilhosa e imarcescível; por que razão vós, um ente humano, dotado de tanta capacidade, tanta inteligência, tanta sutileza; vós, que tanto competis, que possuis uma tão maravilhosa tecnologia, que sois capaz de elevar-vos aos espaços e de descer ao fundo do mar, de inventar fantásticos cérebros eletrônicos - por que razão não possuis essa única coisa verdadeiramente importante? Não sei se alguma vez já considerastes seriamente esta questão: Por que está vazio o vosso coração?
Que responderíeis se fizésseis a vós mesmo essa pergunta; qual seria vossa resposta imediata, inequívoca, sem sutilezas? Vossa resposta deveria corresponder à intensidade com que fizésseis a pergunta, e ao vosso sentimento de urgência; mas vós não sois intenso, nem sentis aquela urgência, e isso porque não tendes energia, a energia que é paixão - pois nenhuma verdade se pode descobrir sem paixão - paixão impelida por intenso fervor, paixão sem nenhum desejo secreto. A paixão é uma coisa um tanto assustadora, porque, se tendes paixão, não sabeis aonde ela vos levará.
Assim, será o medo a razão por que não possuis a energia daquela paixão, para descobrirdes por vós mesmo por que vos falta aquela essência do amor, por que não arde em vosso coração essa chama? Se examinastes com muita atenção vossa mente e vosso coração, sabereis por que não a tendes. Se sois apaixonado, no descobrir por que não a possuis, ela se vos mostrará. Só pela negação completa, a mais alta forma da paixão, torna-se existente aquela coisa que é õ amor. Como a humildade, não podeis cultivar o amor. A humildade vem à existência com a total cessação da presunção - e, então, jamais sabereis o que é ser humilde. O homem que sabe o que significa ter humildade é um homem vaidoso. Do mesmo modo, quando aplicais vossa mente e vosso coração, vossos nervos, vossos olhos, todo o vosso ser, a descobrir o caminho da vida, a ver o que realmente é, e a ultrapassá-lo, a rejeitar total e completamente a vida que hoje vivemos - nessa negação do maléfico, do brutal, torna-se existente a outra coisa. E nunca o sabereis. O homem que sabe que está em silêncio, o homem que sabe que ama, não sabe o que é o amor ou o que é o silêncio.
Décima Quinta Parte
A Experiência - A Satisfação - A Dualidade - A Meditação
Todos nós desejamos experiências de alguma natureza: a experiência mística, a religiosa, a sexual, a experiência de possuir muito dinheiro, poder, posição, domínio. Tornando-nos mais velhos, podemos ter acabado com as exigências de nossos apetites físicos, porém exigimos experiências mais amplas, profundas, significativas e tentamos, por vários meios, obtê-las: expandindo a nossa consciência, por exemplo, o que com efeito é uma arte, ou tomando drogas de toda espécie. Este é um velho expediente, existente desde tempos imemoriais - mastigar um pedaço de folha ou experimentar o mais novo produto químico, a fim de provocar uma alteração temporária na estrutura das células cerebrais, uma sensibilidade maior e uma percepção mais intensa que proporcione um simulacro da realidade. Essa exigência de sucessivas experiências denota a pobreza interior do homem. Pensamos que por meio delas podemos fugir de nós mesmos, mas essas experiências são condicionadas pelo que somos. Se a mente é mesquinha, ciumenta, ansiosa, a pessoa poderá tomar a mais moderna droga, porém só verá sua própria e insignificante criação, as projeções sem importância de seu próprio fundo condicionado.
A maioria exige experiências completamente satisfatórias e duradouras, que não possam ser destruídas pelo pensamento. Assim, atrás dessa exigência, está o desejo de satisfação, e esse desejo de satisfação dita a experiência; por conseguinte, temos de compreender não só essa matéria de satisfação, mas também a coisa que se experimenta. Ter uma grande satisfação é experimentar um grande prazer; quanto mais duradoura, profunda e ampla a experiência, tanto mais agradável e, portanto, o prazer dita a forma de experiência que queremos; o prazer é justamente a medida com a qual avaliamos a experiência. Tudo o que é mensurável encontra-se nos limites do pensamento e tem a propriedade de criar a ilusão. Podeis ter experiências maravilhosas e vos sentirdes completamente frustrado. Tereis inevitavelmente visões em conformidade com vosso condicionamento; vereis o Cristo ou o Buda ou outro qualquer em quem credes, e quanto mais crente fordes, tanto mais intensas serão as vossas visões, as projeções de vossas exigências e ânsias.
Assim, se na busca de uma coisa fundamental, tal como a verdade, o prazer é a vossa medida, já projetastes o que a experiência será e, por conseguinte, ela já não é válida.
Que entendemos por experiência? Há nela alguma coisa nova ou original? A experiência é um feixe de memórias reagindo a um desafio, e só pode reagir de acordo com o passado, e quanto mais hábil fordes no interpretar a experiência, tanto mais reage esse passado. Assim, deveis questionar não só â experiência de outrem, mas também a vossa própria. Se não reconheceis uma experiência, não há experiência nenhuma. Toda experiência já foi experimentada, senão não a reconheceríeis. Reconheceis que uma experiência é boa, má, bela, sagrada etc., conforme o vosso condicionamento e, por conseguinte, o reconhecimento de uma experiência tem de ser inevitavelmente velho.
Quando exigimos uma experiência da realidade - como todos nós a exigimos, não? - para experimentá-la, devemos conhecê-la e, tão logo a reconhecemos, já a projetamos e, portanto, ela não é real, porquanto está ainda no âmbito do pensamento e do tempo. Se o pensamento pode pensar sobre a realidade, isso não pode ser a realidade. Não se pode reconhecer uma experiência nova. É impossível. Só re-conhecemos aquilo que já conhecemos (Claro!!)e, por conseguinte, quando dizemos que tivemos uma nova experiência, ela não é absolutamente nova. A busca de mais experiência pela expansão da consciência, como se tem feito por meio de várias drogas psicodélicas, está ainda no campo da consciência e, por conseguinte, é muito limitada.
Descobrimos, pois, uma verdade fundamental, ou seja que a mente que está a buscar e a ansiar por experiências mais amplas e profundas é uma mente muito superficial e embotada, porquanto está sempre (Só?) vivendo com suas memórias.
Agora, se não tivéssemos experiência alguma, que nos aconteceria? Dependemos de experiências, de desafios, para nos mantermos despertos. Se não houvesse conflito em nosso interior, se não houvesse mudanças, perturbações, estaríamos todos dormindo a sono solto. Assim, os desafios são necessários à maioria das pessoas; pensamos que, sem eles, a mente se tornará estúpida e pesada e, por conseguinte, dependemos de um desafio, de uma experiência, para termos mais animação, mais intensidade, para termos uma mente mais penetrante. Mas, com efeito, essa dependência dos desafios e das experiências, para nos conservarmos despertos, só torna a nossa mente mais embotada ainda (!!!!????.........); não nos mantém realmente despertos. Assim, pergunto a mim mesmo: "É possível nos mantermos totalmente despertos - não superficialmente, em alguns pontos de meu ser, porém totalmente despertos, sem nenhum desafio ou experiência?" Isso exige uma grande sensibilidade, tanto física como psicológica; significa que devo estar livre de todas as exigências, porque, no momento em que exijo uma experiência, a terei. E, para ficar livre da exigência de satisfação, torna-se necessária uma investigação de mim mesmo e uma compreensão total da natureza da exigência.
Toda exigência nasce da dualidade: "Sou infeliz, e tenho de ser feliz". Nessa própria exigência - tenho de ser feliz - está a infelicidade. Quando uma pessoa se esforça para ser boa, nesse próprio ser bom está o seu oposto - ser mau. Tudo o que se afirma contém o seu próprio oposto; e o esforço que se faz para dominá-lo torna mais forte aquilo contra que se luta. Quando exigis uma experiência da verdade ou da realidade, essa própria exigência nasceu de vosso descontentamento com o que é; por conseguinte, a exigência cria o oposto. No oposto está o que foi. Temos, pois, de ficar livres dessa incessante exigência, porquanto, do contrário, nunca se acabará a galeria da dualidade. Isso significa conhecer a si próprio de maneira tão completa que a mente não mais se ponha a buscar.
A mente, então, não exige experiência; não pode pedir ou conhecer um desafio; não diz "Estou dormindo", "Estou acordada". Ela é, toda ela, o que é. Só a mente frustrada, limitada, superficial, condicionada, está sempre a buscar o mais. Será possível, então, viver neste mundo sem o mais - sem essa perene comparação? É, decerto, mas temos de descobri-lo por nós mesmos.
A investigação completa dessa questão é meditação. Esta palavra tem sido empregada, tanto no Oriente como no Ocidente, de uma maneira muito lamentável. Há diferentes escolas de meditação, diferentes métodos e sistemas. Certos sistemas ensinam: "Observa os movimentos do dedo grande de teu pé, observa-o, observa-o, observa-o"; outros advogam o ficar sentado numa certa postura, respirando regularmente ou praticando o percebimento. Tudo isso é completamente mecânico. Outro método dá-vos uma certa palavra, e vos diz que, se ficardes repetindo essa palavra, ela vos proporcionará uma certa experiência fundamental, extraordinária. Isso é puro absurdo. É uma forma de auto-hipnose. Se ficardes repetindo indefinidamente Amém ou Hun ou Coca-Cola, é óbvio que tereis uma certa experiência, porque, pela repetição, a mente se aquieta. Esse é um fenômeno bem conhecido, praticado há milhares de anos na índia; chama-se Mantra Ioga. Pela repetição pode-se induzir a mente a tornar-se branda e macia, entretanto ela continua pequenina, vulgar, mesquinha. O mesmo efeito se obteria com apanhar no jardim um pedaço de pau, colocá-lo sobre a lareira, e oferecer-lhe todos os dias uma flor. Daí a um mês o estaríeis adorando, e se deixásseis de depositar uma flor diante dele, isso seria um pecado.
Meditação não é seguir um sistema; não é repetição e imitação constantes. Meditação não é concentração. Um dos truques de certos instrutores de meditação é insistirem em que os seus discípulos aprendam a concentração, ou seja fixar a mente num pensamento e expulsar todos os outros pensamentos. Essa é uma das coisas mais estúpidas e mais maléficas, e qualquer colegial é capaz de fazê-la, se obrigado a tal. Significa que ficais empenhado numa contínua batalha entre a obrigação de vos concentrardes, a um lado, e a vossa mente, a outro lado, que se põe a fugir para outras e variadas coisas - quando, ao contrário, devemos estar atentos a cada movimento da mente, aonde quer que ela vá. Quando vossa mente foge, isso significa que estais interessado em alguma outra coisa.
A meditação exige uma mente sobremodo vigilante; a meditação é a compreensão da totalidade da vida, na qual não existe mais nenhuma espécie de fragmentação. Meditação não é controle do pensamento, porque, quando o pensamento é controlado, gera conflito na mente; mas, quando se compreende a estrutura e origem do pensamento, assunto que já examinamos, o pensamento então não mais interfere. Essa compreensão da estrutura do pensar é sua própria disciplina, que é meditação.
Meditação é estar cônscio de cada pensamento e de cada sentimento, nunca dizer que ele é certo ou errado, porém simplesmente observar e acompanhar seu movimento. Nessa vigilância, compreendeis o movimento total do pensamento e do sentimento. E dessa vigilância vem o silêncio. O silêncio criado pelo pensamento é estagnação, coisa morta, porém o silêncio que vem quando o pensamento compreendeu a sua própria origem, sua própria natureza, compreendeu que nenhum pensamento é livre, porém sempre velho - esse silêncio é meditação, na qual o meditador está de todo ausente, porque a mente se esvaziou do passado.
Se lestes este livro durante uma hora, isso é meditação. Se apenas recolhestes umas poucas palavras e juntastes algumas idéias, para sobre elas refletirdes mais tarde, isso então já não é meditação. Meditação é um estado em que a mente olha todas as coisas com toda a atenção e não apenas com algumas partes dela. Ninguém pode ensinar-vos a prestar atenção. Se algum sistema vos ensina a estar atento, estais então atento ao sistema, e isso não é atenção. A meditação é uma das maiores artes da vida - talvez a maior de todas - mas não se pode de modo nenhum aprendê-la de alguém - e essa é que é a sua beleza. Ela não tem técnica e, por conseguinte, nenhuma autoridade. Quando estais aprendendo a conhecer-vos realmente, quando vos observais, observais vossa maneira de andar, de comer, o que dizeis, vossas tagarelices, vosso ódio, vosso ciúme, se estais cônscio de tudo isso, em vós mesmo, sem nenhuma escolha, isso faz parte da meditação.
Assim, a meditação pode verificar-se quando estais sentado num ônibus ou passeando numa floresta toda de luz e de sombra, ou ouvindo o canto dos pássaros, ou olhando o rosto de vossa mulher ou de vosso filho.
Na compreensão dada pela meditação há amor, e o amor não é produto de sistemas, de hábitos, da observância de um método. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento. O amor pode, talvez, nascer quando há silêncio completo, um silêncio no qual esteja de todo ausente o meditador; e a mente só é capaz de silêncio quando compreende seu próprio movimento como pensamento e sentimento. Para se compreender esse movimento de pensamento e de sentimento, não pode haver condenação enquanto se observa. Observar dessa maneira é disciplina, e essa qualidade de disciplina é fluida, livre, e assim não é a disciplina do ajustamento.
A Experiência - A Satisfação - A Dualidade - A Meditação
Todos nós desejamos experiências de alguma natureza: a experiência mística, a religiosa, a sexual, a experiência de possuir muito dinheiro, poder, posição, domínio. Tornando-nos mais velhos, podemos ter acabado com as exigências de nossos apetites físicos, porém exigimos experiências mais amplas, profundas, significativas e tentamos, por vários meios, obtê-las: expandindo a nossa consciência, por exemplo, o que com efeito é uma arte, ou tomando drogas de toda espécie. Este é um velho expediente, existente desde tempos imemoriais - mastigar um pedaço de folha ou experimentar o mais novo produto químico, a fim de provocar uma alteração temporária na estrutura das células cerebrais, uma sensibilidade maior e uma percepção mais intensa que proporcione um simulacro da realidade. Essa exigência de sucessivas experiências denota a pobreza interior do homem. Pensamos que por meio delas podemos fugir de nós mesmos, mas essas experiências são condicionadas pelo que somos. Se a mente é mesquinha, ciumenta, ansiosa, a pessoa poderá tomar a mais moderna droga, porém só verá sua própria e insignificante criação, as projeções sem importância de seu próprio fundo condicionado.
A maioria exige experiências completamente satisfatórias e duradouras, que não possam ser destruídas pelo pensamento. Assim, atrás dessa exigência, está o desejo de satisfação, e esse desejo de satisfação dita a experiência; por conseguinte, temos de compreender não só essa matéria de satisfação, mas também a coisa que se experimenta. Ter uma grande satisfação é experimentar um grande prazer; quanto mais duradoura, profunda e ampla a experiência, tanto mais agradável e, portanto, o prazer dita a forma de experiência que queremos; o prazer é justamente a medida com a qual avaliamos a experiência. Tudo o que é mensurável encontra-se nos limites do pensamento e tem a propriedade de criar a ilusão. Podeis ter experiências maravilhosas e vos sentirdes completamente frustrado. Tereis inevitavelmente visões em conformidade com vosso condicionamento; vereis o Cristo ou o Buda ou outro qualquer em quem credes, e quanto mais crente fordes, tanto mais intensas serão as vossas visões, as projeções de vossas exigências e ânsias.
Assim, se na busca de uma coisa fundamental, tal como a verdade, o prazer é a vossa medida, já projetastes o que a experiência será e, por conseguinte, ela já não é válida.
Que entendemos por experiência? Há nela alguma coisa nova ou original? A experiência é um feixe de memórias reagindo a um desafio, e só pode reagir de acordo com o passado, e quanto mais hábil fordes no interpretar a experiência, tanto mais reage esse passado. Assim, deveis questionar não só â experiência de outrem, mas também a vossa própria. Se não reconheceis uma experiência, não há experiência nenhuma. Toda experiência já foi experimentada, senão não a reconheceríeis. Reconheceis que uma experiência é boa, má, bela, sagrada etc., conforme o vosso condicionamento e, por conseguinte, o reconhecimento de uma experiência tem de ser inevitavelmente velho.
Quando exigimos uma experiência da realidade - como todos nós a exigimos, não? - para experimentá-la, devemos conhecê-la e, tão logo a reconhecemos, já a projetamos e, portanto, ela não é real, porquanto está ainda no âmbito do pensamento e do tempo. Se o pensamento pode pensar sobre a realidade, isso não pode ser a realidade. Não se pode reconhecer uma experiência nova. É impossível. Só re-conhecemos aquilo que já conhecemos (Claro!!)e, por conseguinte, quando dizemos que tivemos uma nova experiência, ela não é absolutamente nova. A busca de mais experiência pela expansão da consciência, como se tem feito por meio de várias drogas psicodélicas, está ainda no campo da consciência e, por conseguinte, é muito limitada.
Descobrimos, pois, uma verdade fundamental, ou seja que a mente que está a buscar e a ansiar por experiências mais amplas e profundas é uma mente muito superficial e embotada, porquanto está sempre (Só?) vivendo com suas memórias.
Agora, se não tivéssemos experiência alguma, que nos aconteceria? Dependemos de experiências, de desafios, para nos mantermos despertos. Se não houvesse conflito em nosso interior, se não houvesse mudanças, perturbações, estaríamos todos dormindo a sono solto. Assim, os desafios são necessários à maioria das pessoas; pensamos que, sem eles, a mente se tornará estúpida e pesada e, por conseguinte, dependemos de um desafio, de uma experiência, para termos mais animação, mais intensidade, para termos uma mente mais penetrante. Mas, com efeito, essa dependência dos desafios e das experiências, para nos conservarmos despertos, só torna a nossa mente mais embotada ainda (!!!!????.........); não nos mantém realmente despertos. Assim, pergunto a mim mesmo: "É possível nos mantermos totalmente despertos - não superficialmente, em alguns pontos de meu ser, porém totalmente despertos, sem nenhum desafio ou experiência?" Isso exige uma grande sensibilidade, tanto física como psicológica; significa que devo estar livre de todas as exigências, porque, no momento em que exijo uma experiência, a terei. E, para ficar livre da exigência de satisfação, torna-se necessária uma investigação de mim mesmo e uma compreensão total da natureza da exigência.
Toda exigência nasce da dualidade: "Sou infeliz, e tenho de ser feliz". Nessa própria exigência - tenho de ser feliz - está a infelicidade. Quando uma pessoa se esforça para ser boa, nesse próprio ser bom está o seu oposto - ser mau. Tudo o que se afirma contém o seu próprio oposto; e o esforço que se faz para dominá-lo torna mais forte aquilo contra que se luta. Quando exigis uma experiência da verdade ou da realidade, essa própria exigência nasceu de vosso descontentamento com o que é; por conseguinte, a exigência cria o oposto. No oposto está o que foi. Temos, pois, de ficar livres dessa incessante exigência, porquanto, do contrário, nunca se acabará a galeria da dualidade. Isso significa conhecer a si próprio de maneira tão completa que a mente não mais se ponha a buscar.
A mente, então, não exige experiência; não pode pedir ou conhecer um desafio; não diz "Estou dormindo", "Estou acordada". Ela é, toda ela, o que é. Só a mente frustrada, limitada, superficial, condicionada, está sempre a buscar o mais. Será possível, então, viver neste mundo sem o mais - sem essa perene comparação? É, decerto, mas temos de descobri-lo por nós mesmos.
A investigação completa dessa questão é meditação. Esta palavra tem sido empregada, tanto no Oriente como no Ocidente, de uma maneira muito lamentável. Há diferentes escolas de meditação, diferentes métodos e sistemas. Certos sistemas ensinam: "Observa os movimentos do dedo grande de teu pé, observa-o, observa-o, observa-o"; outros advogam o ficar sentado numa certa postura, respirando regularmente ou praticando o percebimento. Tudo isso é completamente mecânico. Outro método dá-vos uma certa palavra, e vos diz que, se ficardes repetindo essa palavra, ela vos proporcionará uma certa experiência fundamental, extraordinária. Isso é puro absurdo. É uma forma de auto-hipnose. Se ficardes repetindo indefinidamente Amém ou Hun ou Coca-Cola, é óbvio que tereis uma certa experiência, porque, pela repetição, a mente se aquieta. Esse é um fenômeno bem conhecido, praticado há milhares de anos na índia; chama-se Mantra Ioga. Pela repetição pode-se induzir a mente a tornar-se branda e macia, entretanto ela continua pequenina, vulgar, mesquinha. O mesmo efeito se obteria com apanhar no jardim um pedaço de pau, colocá-lo sobre a lareira, e oferecer-lhe todos os dias uma flor. Daí a um mês o estaríeis adorando, e se deixásseis de depositar uma flor diante dele, isso seria um pecado.
Meditação não é seguir um sistema; não é repetição e imitação constantes. Meditação não é concentração. Um dos truques de certos instrutores de meditação é insistirem em que os seus discípulos aprendam a concentração, ou seja fixar a mente num pensamento e expulsar todos os outros pensamentos. Essa é uma das coisas mais estúpidas e mais maléficas, e qualquer colegial é capaz de fazê-la, se obrigado a tal. Significa que ficais empenhado numa contínua batalha entre a obrigação de vos concentrardes, a um lado, e a vossa mente, a outro lado, que se põe a fugir para outras e variadas coisas - quando, ao contrário, devemos estar atentos a cada movimento da mente, aonde quer que ela vá. Quando vossa mente foge, isso significa que estais interessado em alguma outra coisa.
A meditação exige uma mente sobremodo vigilante; a meditação é a compreensão da totalidade da vida, na qual não existe mais nenhuma espécie de fragmentação. Meditação não é controle do pensamento, porque, quando o pensamento é controlado, gera conflito na mente; mas, quando se compreende a estrutura e origem do pensamento, assunto que já examinamos, o pensamento então não mais interfere. Essa compreensão da estrutura do pensar é sua própria disciplina, que é meditação.
Meditação é estar cônscio de cada pensamento e de cada sentimento, nunca dizer que ele é certo ou errado, porém simplesmente observar e acompanhar seu movimento. Nessa vigilância, compreendeis o movimento total do pensamento e do sentimento. E dessa vigilância vem o silêncio. O silêncio criado pelo pensamento é estagnação, coisa morta, porém o silêncio que vem quando o pensamento compreendeu a sua própria origem, sua própria natureza, compreendeu que nenhum pensamento é livre, porém sempre velho - esse silêncio é meditação, na qual o meditador está de todo ausente, porque a mente se esvaziou do passado.
Se lestes este livro durante uma hora, isso é meditação. Se apenas recolhestes umas poucas palavras e juntastes algumas idéias, para sobre elas refletirdes mais tarde, isso então já não é meditação. Meditação é um estado em que a mente olha todas as coisas com toda a atenção e não apenas com algumas partes dela. Ninguém pode ensinar-vos a prestar atenção. Se algum sistema vos ensina a estar atento, estais então atento ao sistema, e isso não é atenção. A meditação é uma das maiores artes da vida - talvez a maior de todas - mas não se pode de modo nenhum aprendê-la de alguém - e essa é que é a sua beleza. Ela não tem técnica e, por conseguinte, nenhuma autoridade. Quando estais aprendendo a conhecer-vos realmente, quando vos observais, observais vossa maneira de andar, de comer, o que dizeis, vossas tagarelices, vosso ódio, vosso ciúme, se estais cônscio de tudo isso, em vós mesmo, sem nenhuma escolha, isso faz parte da meditação.
Assim, a meditação pode verificar-se quando estais sentado num ônibus ou passeando numa floresta toda de luz e de sombra, ou ouvindo o canto dos pássaros, ou olhando o rosto de vossa mulher ou de vosso filho.
Na compreensão dada pela meditação há amor, e o amor não é produto de sistemas, de hábitos, da observância de um método. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento. O amor pode, talvez, nascer quando há silêncio completo, um silêncio no qual esteja de todo ausente o meditador; e a mente só é capaz de silêncio quando compreende seu próprio movimento como pensamento e sentimento. Para se compreender esse movimento de pensamento e de sentimento, não pode haver condenação enquanto se observa. Observar dessa maneira é disciplina, e essa qualidade de disciplina é fluida, livre, e assim não é a disciplina do ajustamento.
Tuesday, April 28, 2009
Sessão de Perguntas e Respostas com Paramahamsa Prajnanananda
25 de Outubro de 2002
Discípulo
Qual é a correlação entre os órgãos dos sentidos e os chacras?
SPG: Nós temos sete chacras principais em nossos corpos, embora existam mais. Entre os sete chacras, os cinco chacras na espinha predominam as nossas atividades diárias. Estes cinco chacras na espinha também representam os cinco elementos e os dez órgãos dos sentidos. Entre os dez órgãos dos sentidos, existem cinco órgãos da percepção e cinco órgãos da ação. Cada chacra representa um elemento, um órgão da percepção e um órgão da ação. Por exemplo, o centro do fundo, o muladhara chacra, é o elemento terra e controla ou ativa dois órgãos. O órgão da percepção é o nariz, e o órgão da ação é o ânus. A terra é fonte de todos os aromas. No Bhagavad Gita é dito:
punyo gandhah prthivyam ca
A terra tem um aroma muito especial
— especialmente quando existe chuva durante um verão quente. Você pode sentir um maravilhoso aroma vindo do solo quando ele fica encharcado de água. Qualquer aroma que obtemos das flores ou frutos é da terra. O que acontece como resultado do uso excessivo de químicos (ou mesmo extrumes orgâncios), é que nós deterioramos a qualidade natural do solo. Ainda que tenhamos grandes rosas, elas não terão um bom aroma. Esta é a qualidade na semente que novamente vem da terra. O órgão do olfa©to e o órgão de excreção estão ambos associados com o muladhara chacra, o centro da base.Eu falei um pouco mais sobre o Segundo centro ontem: se você não puder controlar a sua língua, você não poderá controlar as suas paixões. O segundo chacra, o svadhishthana chacra, é o lugar do elemento água. Este chacra ativa dois órgãos dos sentidos: o órgão da ação é o genital, e o órgão da percepção é a língua. Se não tem saliva vinda de sua língua, você não pode testar(aPRECIAR) o seu alimento. A saliva se associa com o alimento, estimula o paladar dos brotos na língua. Assim, quando a saliva não está presente, você não pode testar o alimento. Porém, quando a saliva está associada com o alimento, estimula o paladar dos brotos, e então você pode testá-lo. A língua e o genital são ambos do elemento água, o qual é regulado pelo svadhisthana chacra.
O manipura chacra, o centro do umbigo, é o elemento fogo. O elemento fogo regula dois órgãos: um são os pés para caminhar, e o outro é os olhos para enxergar. Agora você pode pensar, por que ele regula os pés para caminhar? É porque o fogo é a fonte de toda energia. É através da combustão que nós obtemos a energia para trabalhar. Assim os pés e os olhos são regulados pelo manipura chacra.O elemento ar está no coração, e ele regula dois órgãos. Um são as mãos para dar e tomar e o outro é a pele. Com o ar você pode sentir a sensação do toque. Se você mover a sua mão, você pode sentir a sensação do toque por causa do ar.
No pescoço, o vishuddha chacra, o espaço ou elemento éter, akasha dhatu, é o lugar do som. O elemento éter regula o órgão da fala. Nós ouvimos com os nossos ouvidos e falamos com a nossa boca ou língua. Estes dois, os ouvidos para escutar e a boca para falar, são ambos regulados através do vishuddha chacra, o centro do pescoço.
O ajña chacra está além dos elementos. Ele não tem efeito elemental, mas é o lugar da mente. Se você puder ir além do ajña chacra, a função da mente pára. Esta é a correlação entre os cinco chacras, os cinco elementos, os cinco órgãos da ação e os cinco órgãos da percepção.
Como alguém pode se tornar um verdadeiro discípulo?
SPG: Como alguém pode ser um verdadeiro discípulo? Primeiro entendamos a palavra discípulo. A palavra discípulo origina-se da palavra disciplina. Em sânscrito, Shishya significa discípulo e origina-se da palavra raiz que significa disciplinado.
Primeiro perguntamos, “Por que eu quero ser um discípulo? Tenho eu uma meta?" Por que eu vim aqui? Se eu vim aqui com um propósito, uma meta, para encontrar aquela meta eu deveria então disciplinar a minha vida.
Para ser um verdadeiro discípulo, você deveria trazer disciplina em sua vida. E esta disciplina deveria vir do entendimento e não pela força ou coerção. Não do: ‘eu não posso fazer isto’ OU MESMO: “tenho de fazer aquilo”; e sim do amor e do entendimento é que você (nós) deveremos trazer disciplina à nossa vida (sem a qual nada de bom e de grande alcançamos).
1. Disciplina do Corpo
Que tipo de disciplina eu necessito? Primeiro é a disciplina do corpo. O que é a disciplina do corpo? Suponha que você seja um estudante que necessite de estudar. Se você puder disciplinar o seu corpo, você pode realmente se concentrar melhor. Agora você está sentado ere©to e tem mantido o seu corpo disciplinado por certo tempo. Você manteve as suas pernas e mãos numa certa posição e os seus olhos num lugar adequado, assim, o seu corpo está agora disciplinado. Na Índia quando os estudantes se sentam próximos aos professores, eles seguem a autodisciplina, a disciplina física. O que é esta disciplina? Eles não se sentam no mesmo lugar do Guru. Esta é uma coisa que eles fazem. Elas também não se sentam com uma perna para baixo e outra para cima. Eles sempre mantêm o Guru numa posição superior e os discípulos numa posição inferior. Por exemplo, a água cai de um nível superior para um nível inferior. Se formos humildes internamente e em nosso comportamento, podemos aprender(qualquer coisa mesmo). Uma pessoa com ego não pode aprender. A primeira etapa então, é disciplinar o corpo.
2. Disciplina dos Sentidos
A segunda etapa é disciplinar os sentidos. Nós discutimos os dez órgãos dos sentidos. Se não podemos disciplinar os dez órgãos dos sentidos, nós não podemos ser discípulos. Suponha que uma pessoa é um estudante, que requer estudo e trabalho de casa, mas ao invés de fazer o dever de casa, ele queira assistir TV... Então, enquanto está estudando, ele tenta beber uma xícara de café ou Coca Cola ao mesmo tempo — estudo e um gole. Você não obtém concentração porque a sua mente está aqui e ali. Com uma mente não treinada e metade sem coração, você não pode atingir a sua meta. Você deveria disciplinar os sentidos.
O que eu deveria fazer para disciplinar os sentidos?
SPG: Primeiro você deveria entender o que os sentidos são e quais são as suas funções. Por que Deus deu os órgãos dos sentidos a você? Deus deu a você ouvido, nariz, olhos, boca e pele. Eles não são para a sua distração e inquietude, ao contrário, eles são para você usar para crescer espiritual ( e fisicamente) e treinar a si mesmo. Se for assim, você deve perguntar como posso usar os meus órgãos dos sentidos de modo disciplinado? Um exemplo simples é que os olhos vêem e durante o dia nós mantemos os nossos olhos abertos. Onde os nossos olhos estão durante o dia? O que quer que você vê, o que você sente? Se você vê algo que você não gosta, imediatamente você se irrita. Eu fico irritado porque não gosto disto, e como resultado, na minha vida eu começo a desenvolver alguns gostos e desgostos. Eu quero ver as coisas que eu gosto e não quero ver as coisas que não gosto. Estes gostos e desgostos tentam os órgãos dos sentidos. Por exemplo, existe alimento à mesa que eu nunca tive antes, e quando você toma algum e coloca em sua língua você percebe que ele tem um paladar horrível. Quando vim para a Europa pela primeira vez em 1994, eu estava sentado tendo a refeição com cerca de quarenta estudantes e alguém perguntou que alimento eu gostava mais. Havia uma grande tigela de um vegetal amargo, karela, repousando ali, e eu os disse que este vegetal era muito bom, muito saudável. Então eu disse que cada um deveria pegar um pouco e no final eu pegaria alguns. Eles pensaram se eu estava dizendo que ele era saudável e que cada um deveria pegar alguns, que talvez eu quisesse mais e que ele seria deleitável e bom para o paladar. Eles pegaram uma boa quantidade dele. Após a oração eu estava olhando para ver o que cada um estava fazendo. Eu disse que esta preparação deveria ser primeiro a comida e que é boa para comer no início; eles então começaram a comer e começaram a comer. Eu estava observando as suas faces, e eles estavam com faces bem estranhas porque na vida ocidental eles não comem alimentos muito amargos como estes. Eles sempre estão comendo alimentos que são doces, ácidos, salgados ou temperados. Mas agora, os estudantes de Kriya desenvolveram uma apreciação por um alimento amargo.
Gostos e desgostos criam tentação ou repulsão na nossa vida diária. Assim, os olhos querem ver alguma coisa específica que pode não ser boa. Os ouvidos querem ouvir algumas palavras ou tópicos(?) específicos, que podem não ser bons. Lembre-se, enquanto não estivermos livres dos gostos e desgostos, nós não estaremos livres. Qual é a prova de uma pessoa livre? É uma pessoa que está livre dos gostos e desgostos. O Bhagavad Gita nos diz que para ser livre, a pessoa deve ser livre dos gostos e desgostos. Não é algo novo o que estou lhes dizendo; é conhecimento emprestado das escrituras. É a sabedoria dos santos e sábios. Eu estou simplesmente coletando daqui e dali e falando a vocês.
Assim, para disciplinar os sentidos, eu utilizarei os meus sentidos para a minha meta, a prioridade suprema de minha vida. Qual é a minha prioridade suprema? (Ser feliz, não??) Você deveria pensar sobre ela e analisá-la. Os seus sentidos deveriam ser usados para este propósito ou disciplinados (e fortalecidos) se eles estiverem desgovernados.
Existe uma estória de como disciplinar os sentidos. Era uma vez um rei que tinha uma cabra. Ele anunciou que qualquer um que pudesse pegar a cabra, alimentá-la bem, e trazê-la de volta ao palácio bem alimentada no alvorecer receberia uma grande recompensa. As pessoas concordaram com isto na expectativa de receber uma grande recompensa no alvorecer. Elas deram à cabra uma boa alimentação e trouxeram-na de volta. O rei tinha uma porção de folhas verdes e frescas. Quando elas vieram diante do rei, ele perguntou, “a cabra está bem alimentada?” “Sim.” Assim, ele mostrou as folhas e imediatamente a cabra correu para elas. O rei disse, “Não, a cabra não está bem alimentada. Vá.” Este tipo de brincadeira continuou por bom período de tempo. Havia um homem inteligente que queria ensinar ao rei uma lição e porque de certo modo ele estava explorando o serviço destas pessoas. As pessoas estavam trabalhando com a expectativa de uma grande recompensa, uma honra real. Assim, ele pegou a cabra, e ao invés de dar à cabra algum alimento, ele lhe mostrava algum capim(erva) verde de boa aparência. Quando a cabra começava a comer, o homem pegava num chicote e começava a bater na cabra, e a cabra fugia. Após alguns instantes a cabra retornava novamente, pois os animais retornam por instinto, e após algum tempo eles esquecem. O homem batia na cabra novamente e novamente a cabra fugia. Isto continuou por horas. Finalmente, após alguns poucos dias, a cabra se afastou. Neste alvorecer o homem trouxe a cabra para o palácio. O rei perguntou “A cabra está bem alimentada?” O homem disse, “Seguramente. O senhor pode testá-la.” Quando o rei trouxe as folhas verdes, a cabra fugiu. O rei ficou surpreso quando ele viu a cabra fugir e disse, “O que aconteceu?” O significado da estória(história) é este. Os sentidos e a mente, (a mente é também um outro super sentido) estão sempre atentando. E se você der aos sentidos (tudo) que gostam, você não poderá controlá-los.
Eu me lembro de uma estória sobre Swami Rama Titha. Ele foi um grande monge da Índia, mas em sua vida pré-monástica, ele fora um professor de matemática em Lahore, que está no Paquistão. Um dia a caminho de casa vindo da faculdade, ele encontrou um homem que vendia limões. Eles estavam maduros e pareciam bons. Assim ele foi ao homem e perguntou quanto custavam. Quando o homem disse, ele pensou, ‘Não, vou-me embora’. Novamente ele retornou pensando que poderia ser sábio pegar alguns. A mente estava dizendo para ele pegar alguns, mas então ele pensava, ‘Não, talvez seja uma tentação.’ Duas ou três vezes ele foi e veio. Algumas pessoas disseram a ele (disseram-lhe), “Olha, se você quer pegar alguns, pegue. Se você não quer, então vá embora. Por que você está dividido?” Isto acontece na vida. Lembre-se, este é um estado de confusão. A maioria das pessoas na sociedade, no mundo, está confusa (não é um exagero?). Poucas pessoas têm mentes claras, caso contrário, o resto está confuso.
Assim, ele adquiriu uma grande quantidade de limões, voltou para casa e disse à Senhora Língua, “Coma!” Ele pegou os limões e começou a espremê-los em sua língua. Vocês sabem que os limões são bastante amargos (não é azedos?). Ele estava dizendo a (à) Senhora Língua e a(à) Senhora Mente, “Vocês criaram tanta confusão em mim, tantos gostos e desgostos — Coma!”. A sua esposa se aproximou e disse, “O que você está fazendo?” Ele disse, “eu estou ensinando(dando) uma lição a minha língua.” Isto é como disciplinar os sentidos.
Um dia Gurudev estava sentado com alguns monges e uma jovem senhora se aproximou e perguntou algo. Gurudev era bem jovem naquele tempo. Ele era ainda brahmachari. Quando ela veio para dentro, todos olharam para ela, exce(p)to Gurudev. Esta senhora queria perguntar algo. Assim, ela olhava para Gurudev e dizia, “você pode, por favor, me dizer sobre isto?” Então, o monge que estava ensinando a classe disse, “Diga-me, Oh, Mãe. Porque a senhora perguntou a ele? Eu estou ensinando. Eu sou o swami professor e existem outros aqui. Por que a senhora perguntou a ele?” Ela disse, “Quando eu entrei, eu vi todos olharem para mim, exceto ele. Eu imagino que todos estejam inquietos, excepto ele. Assim eu fui a ele.” Este foi um incidente na vida de Gurudev.
Existe uma estória mitológica sobre o agitar do oceano quando Lakshmi, a Deusa da Prosperidade, surgiu. Todos perguntaram a ela(lhe perguntaram), “Quem a Senhora escolherá? Quem a senhora quer desposar?” Ela disse, “Eu desposarei aquele que nunca olhar para mim.” Quando todos estavam lá, todos olharam para ela, exceto Vishnu. Assim, ela aceitou Vishnu porque ele não olhava para as mulheres e era auto-controlado. (Talvez haja aqui mais alguma coisa do género de: casarei com a minha alma gémea, que há muito me conhece como tal, nem precisando de me olhar para o saber… Pois, também há no mundo um tempo para tudo, para falar e para estar calado, para não olhar e para olhar…)
O sucesso (e a felicidade) só vem, a prosperidade só vem, para a pessoa que seja autocontrolada e que tenha disciplina sobre os sentidos. Seja um bom discípulo: discipline os seus sentidos, discipline a sua alimentação, discipline o seu olhar, discipline o que você ouve, discipline as suas mãos, discipline a sua mente. Todos os órgãos dos sentidos deveriam ser disciplinados. Lembre-se: não pense que a sua mente cooperará contigo. A mente sempre (?) é incooperativa. Somente em caso de pessoas altamente evoluídas a mente é cooperativa. Elas são capazes de dizer: eu vou dormir nesta hora; não me levantarei antes dela; eu me levantarei nesta hora, não depois; eu farei isto. Elas são bastante determinadas (talvez em demasia!). As pessoas autocontroladas têm controle sobre as suas mentes. As pessoas comuns, ao contrário, são brinquedos nas mãos da mente. Assim, se você quiser ser bom discípulo, discipline o seu corpo, discipline os seus sentidos, e discipline a sua mente. Sempre mantenha a sua meta diante de você e nunca esqueça a sua meta. (Claro que não podemos ser felizes a qualquer custo! Ou podemos?) O que acontece se você esquecer? É um grande erro. Observe qual era o propósito quando você veio para o seu Guru, professor, ou ashram, e pergunte a si mesmo o que você está fazendo agora — nós esquecemos. Quando o alimento é servido (ou está disponível), você se lembra de sua meta ou você é tentado (a abusar) com o alimento? Enquanto você estiver trabalhando no jardim, está você cônscio da meta ou se esqueceu (como podemos ser felizes sozinhos, estando acompanhados?)? Se esquecermos a meta, então não somos discípulos. Logo, sempre mantenha a meta adiante. Nas escrituras existem descrições das qualidades do discípulo. Existem descrições elaboradas sobre o que o discípulo deveria fazer e quais qualidades cultivar. Algumas delas são discutidas no Torah, na Bíblia e nas escritures Hindus; você pode ter uma lista das qualidades que cada estudante deveria tentar cultivar.
Se você mantiver a sua atenção, a mente se dissolve?
SPG: Você entende o que é a mente? Na vida você tem duas coisas: uma é o corpo grosseiro, que é físico assim como um obje©to — você tem uma mesa, uma cadeira, um carro; o corpo é (quase) exa(c)tamente como isto. O carro não pode se mover se o motorista não estiver nele. Com o corpo existe a alma, e a alma é a fonte de toda energia. O corpo é material e a alma é a fonte de sua energia e esta energia está constantemente vibrando. O corpo tem as suas limitações, mas a alma tem poder ilimitado. O corpo nasce e morre, mas a alma é imortal. (Segundo o que temos visto anteriormente o AGORA é fundamental ao bem estar e até à longevidade. Se estivéssemos sempre no agora possivelmente não morríamos, mesmo fisicamente. Mas como não estamos,morremos, embora podendo renascer, e sendo a alma a base da reencarnação). E, entre o corpo e a alma existe a mente.
A mente é como o corpo ou é como a alma? Quando me sento o corpo está lá. Não está inquieto a não ser que eu o mova. Porém, ainda que o seu corpo esteja imóvel, (provavelmente) a sua mente está girando. A mente tem as suas próprias funções ou é ela movida por algo? Para entender isto, se você sair tarde da noite você pode ver uma maravilhosa lua. Você verá uma bela lua e um belo luar. Mas é realmente a luz da lua? Tem a Lua luz? A resposta é não. Ela reflete a luz, é devido a esta reflexão que a lua é bela. Assim, semelhantemente, a mente em si é inerte. A mente não tem nenhuma atividade própria. Como a mente funciona? A mente está funcionando devido ao poder da alma. Como a Lua está dando luz? Deve-se ao poder do Sol. Semelhantemente, como a mente está trabalhando? A mente é inquieta(ou irrequieta) devido ao poder da Alma. A mente tem a sua própria função, sua própria atividade. A mente é inerte; ela se agita, mas não com o seu próprio poder. Se a mão tivesse o seu próprio poder ela nunca se cansaria. A mão obtém o poder (do coração, mente, corpo e Alma!) e se move, mas então ela se torna cansada porque não é a sua própria natureza (só a Alma, Deus, Energia…Ser , Estar não cansa!!). Assim a mente também se cansa, assim como o corpo (e descansa).
Quando você se concentra, quem está se concentrando? Quem está se concentrando em Quem? (Claro que atenção pode ser mais importante do que concentração, quando convém vigiar, por exemplo. Mas, concentração, além do sono, é óptimo meio para o descanso da mente!) A mente está se concentrando na mente. Você deve perguntar como? É exatamente como quando eu digo “que estou olhando para mim mesmo”. Semelhantemente a mente está olhando a mente. Quem está se concentrando? A mente está se concentrando. Quem está dizendo que a mente é inquieta? A mente. Com a mente, nós dissolvemos a mente, e com a mente, nós operamos a mente. Por exemplo, suponha que exista um espinho em seu dedo que está desconfortável e você quer tirar. Com um espinho maior você pode remover o espinho menor. O espinho maior é mais expressivo porque você o manuseia. Você espeta o seu dedo e vagarosamente tira o espinho fora. Uma vez o espinho fora, não existe mais a necessidade de outro. Logo, você joga fora ambos. Com a mente você elimina a mente; com o espinho, você remove o espinho. Com a mente, se elimina a mente. Com a mente se observa a mente.
Assim quem está se concentrando? A mente está se concentrando. Quantas mentes você tem? Embora a mente seja essencialmente uma, a mente encena um duplo papel. A mente encena um papel duplo durante a meditação. Podemos chamá-la de mente superior e mente inferior. A mente superior está observando as tendências da mente inferior, dizendo, “Não, não, fique aqui.” É uma artimanha da mente. Ainda durante a concentração existe a função da mente, a encenação da mente. Você está se concentrando, cada vez mais se concentrando — ainda é uma encenação da mente. Uma vez que a concentração se torna meditação, aí não haverá mais a mente. Meditação significa mente alguma. Mesmo durante a concentração profunda ainda existe a encenação da mente, mas é a mente superior que está dominando (cuidado com domínio em excesso!!) e dizendo, “Não fique!” Uma vez que você estiver no estado de meditação, não existirá mais a mente (maneira de falar – estará, sim, descansando).
Assim meditação não é mente. A mente não existe. É por isso que a mente não pode alcançar este estado. No Kena Upanishad existe uma descrição que diz: Meditação é aquele estado onde a mente não pode alcançar. Isto significa que quando você vai cada vez mais fundo, mais e mais, realmente lá, a mente não mais existe (estará a descansar!!!!!!). Tente permanecer cada vez mais consciente, observando a sua própria respiração, atento aos seus próprios pensamentos, atento as suas próprias emoções. Mantenha o equilíbrio, vá cada vez mais fundo. Veja como a mente está vagarosamente se dissolvendo(dormindo). Por exemplo, o corpo grosseiro é considerado como gelo, o corpo astral é considerado como água, e a mente é como vapor. Vá àquele estado onde você está além do vapor, você está além de tudo. Você está muito mais acima. Nada existe, só o brilhante sol, sol quente. Sol quente significa que o gelo não pode permanecer, a água não pode permanecer bem como o vapor — tudo se dissolve, tudo se evapora, desaparece.
A mente superior e a alma são a mesma coisa?
SPG: Não. A mente superior(ou mente simplesmente) auxilia-o ir um pouco mais acima. Por exemplo, suponha que você queira enviar um satélite ao espaço. Se você quer enviar um satélite ao espaço, você necessita de eu, veículo lançador de satélites, que colocará o satélite em órbita. Uma vez em sua órbita, não há necessita mais do veículo lançador de satélites. Para levar o satélite do chão ao espaço, você necessita de algo que lhe(o) auxilie. Uma vez lá, lá está. O que acontece é que a mente inferior sempre permanece embaixo, no dinheiro, na sexualidade, nos alimentos, no ego (como se houvesse mal na matéria, meu Deus!!!) — sempre embaixo, se você analisar a vida comum será isto que você encontrará. A mente superior é exatamente como o veículo lançador de satélite que pega a sua mente inferior, que previamente estava atraída pela força da gravidade para baixo e para cima, e estando uma vez lá, não mais permanece a necessidade do veículo lançador de satélites — a sua consciência se dissolveu. Assim, não é mente. Alma e mente não são os mesmos. Ela ajuda a pessoa a inverter (corrigir toda) a jornada.
Em um dos Dez Mandamentos é dito que, “Tu não deverias adorar os ídolos.” O que isto significa?
SPG: Cada um adora ídolos. O que isto quer dizer? Todos todo dia adoram os ídolos, quer seja Cristão, Maometano, Hindu. Adorar os ídolos significa adorar o corpo. (adorar o espírito-alma desprezando o corpo também está errado, gente!!) O corpo é o ídolo pois o corpo é a forma. Nós somos atraídos ao corpo-forma. Em pé, diante do espelho, quantas vezes você olha para ver como você está? Quantas vezes você fica lá e sorri para se parecer um pouco melhor? Quantas vezes você penteia o seu cabelo? Por quê? É uma questão completamente psicológica. Quando você está usando o seu quarto de dormir, você caminha e se observa no espelho ou não? Por que você se observa no espelho? É por isso que vocês são adoradores de ídolos. O corpo é o ídolo e vocês o adoram todo dia. Você não deveria esquecer-se de cuidar do corpo. Mas lembre-se, você não é (só) corpo. Nós estamos tão apegados ao nosso corpo que a menor coisa que acontece ao nosso corpo nos lembra, ‘eu tenho que fazer isto’. Nós somos apegados aos nossos corpos, ao nosso cabelo, dormir, olhos e sobrancelhas — apegados a tudo. Nós somos adoradores de ídolos.
Não adore ídolos. Isto significa que não seja apegado ao corpo (seja apegado e não apegado ao corpo-alma !!). O apego(desapego) ao corpo nos trás a ruína, pois a forma mais grosseira de energia é o corpo. A forma mais sutil de energia é a Alma. Na ciência, a teoria atô(ó)mica afirma que um átomo que é dividido pode criar muita energia. Simplesmente um átomo pode criar tanta energia, mas encontramos que quando ele está na forma de uma substancia sólida, ele é inerte. A energia se torna grosseira no corpo, mas é vibrante na mente e no espírito interior. A fonte de toda a energia é a Alma. Assim, se você não quiser permanecer no estado grosseiro, vá à fonte da vida. Não adore os ídolos. Não seja apegado(desapegado) ao corpo.
O que é Verdade na vida espiritual?
SPG: O que é verdade? Existe uma definição de verdade no Vedanta: A verdade é o que existe em três períodos do tempo. A Verdade existe no passado, presente e futuro. Aquilo que não pode existir todo o tempo é falso, por exemplo, o seu corpo. Eu existi ontem, mas não é o mesmo corpo, o corpo mudou. O corpo que existia há cinco anos atrás, não é o mesmo corpo. O corpo está mudando, logo, o corpo não é Verdade [não há mais no corpo do que na alma – mesmo a alma muda e não há energia(alma) sem matéria(corpo), nem vice-versa]…………. Na Bíblia é dito que você deveria conhecer a Verdade e a Verdade o tornará livre. A Verdade na vida individual é a Alma. A Verdade na vida universal é Deus. Na realidade, Deus e alma são essencialmente uma. Logo, a Verdade já está dentro de você, isto é a alma, o imutável. O corpo é mutável, a mente é mutável, as emoções são mutáveis, os pensamentos são mutáveis, mas a alma é imutável, eterna.
Obrigado.Ouvir um bocado não é uma grande coisa, mas ser um bocado despertos, estar na Verdade, isto nós necessitamos. É por isso que Gurudev nos diz que um grama de prática é melhor do que toneladas de teorias. Suponha que escutemos as teorias por quarenta e cinco minutos, porém durante estes quarenta e cinco minutos, quando tempo você está cônscio ou você está se deleitando com esta palestra? Deleitar-se com esta palestra é como simplesmente gostar de qualquer sentido, porém com bons e inspirados pensamentos. Porém, isto não lhe dará o gosto da Realidade, até e a não ser que você esteja lá. Todo o tempo deveríamos permanecer lá. Em cada respiração, em cada pensamento, em cada actividade, deveríamos permanecer lá e trabalhar. Fique lá, mova a sua mão. Permaneça lá, faça tudo, mas permaneça lá(cá). Estamos nós verdadeiramente firmes lá ou estamos nos desviando, destronados; se formos destronados, então não haverá Paz. Se você estiver sentado no trono com a coroa sobre a cabeça, então você está em Paz. Se você for destronado, então haverá problemas. Permaneça no topo.
Décima Quarta Parte
Os Fardos do Passado - A Mente Tranqüila - A Comunicação - A Realização - Disciplina - O Silêncio - A Verdade e a Realidade
Na vida que em geral levamos há muito pouca solidão. Mesmo quando estamos sós, nossa vida está tão repleta de influências, de conhecimentos, de memórias e experiências, de ansiedade, aflição e conflito, que nossa mente se torna cada vez mais embotada e insensível, funcionando numa monótona rotina. Estamos sós, alguma vez? Ou estamos transportando conosco todas as cargas de ontem?
Conta-se uma história interessante de dois monges que, caminhando de uma aldeia para outra, encontraram uma jovem sentada à margem de um rio, a chorar. Um dos monges dirigiu-se a ela, dizendo: "Irmã, por que choras?" E ela respondeu: "Estás vendo aquela casa do outro lado do rio? Eu vim para este lado hoje de manhã cedo e não tive dificuldade em vadear o rio; mas, agora ele engrossou e não posso voltar; não há nenhum barco". "Oh!" diz o monge, "isto não é problema" - e levantou nos braços a jovem e atravessou o rio, deixando-a na outra margem. E os dois monges prosseguem juntos a jornada. Passadas algumas horas, diz o outro monge: "Irmão, nós fizemos o voto de nunca tocar numa mulher. O que fizeste é um horrível pecado. Não sentiste prazer, uma sensação extraordinária, ao tocar uma mulher?" - E o outro monge responde: "Eu a deixei para trás há duas horas. Tu ainda a estás carregando, não é verdade?"
É isso o que fazemos. Carregamos nossos fardos a todas as horas; nunca morremos para eles, nunca os deixamos para trás. É só quando dispensamos a um problema toda a nossa atenção e o resolvemos imediatamente, sem o transportarmos para o dia seguinte, o minuto seguinte - é só então que há solidão. Então, ainda que estejamos numa casa cheia de gente, ou viajando num ônibus, temos solidão. E essa solidão denota uma mente nova, uma mente inocente.
Ter silêncio e espaço interiores é muito importante, porque implica liberdade para existir, mover-se, atuar, voar. Afinal de contas, a bondade só pode florescer onde há espaço, assim como a virtude só pode medrar quando há liberdade. Podemos ter liberdade política, mas, interiormente, não somos livres e, por conseguinte, não há espaço. Nenhuma virtude, nenhuma qualidade valiosa, pode funcionar ou medrar sem esse vasto espaço interior. E o espaço e o silêncio são necessários, pois apenas a mente que está só, livre de influências, de disciplinas, do controle de uma infinita variedade de experiências, é capaz de encontrar-se com algo totalmente novo.
Cada um de nós pode verificar diretamente que só há possibilidade de clareza quando a mente se encontra em silêncio. No Oriente, a finalidade da meditação é produzir um estado mental capaz de controlar o pensamento, o que é a mesma coisa que recitar constantemente uma oração para quietar a mente, esperando-se que, nesse estado, se compreenderão os problemas do indivíduo. Mas, a menos que sejam lançadas as bases, ou seja que se esteja livre do medo, livre do sofrimento, da ansiedade e de todas as armadilhas que armamos para nós mesmos, não vejo possibilidade de a mente ficar realmente quieta. Esta é uma das coisas mais difíceis de transmitir. A comunicação entre nós requer, não só que compreendais as palavras que estou empregando, mas também que ambas as partes, vós e eu, estejam tensas ao mesmo tempo, nem um momento mais cedo ou mais tarde, e sejam capazes de encontrar-se no mesmo nível. Essa comunicação não é possível quando estais interpretando o que estais lendo de acordo com vossos próprios conhecimentos, vosso prazer ou vossas opiniões, ou quando estais fazendo um tremendo esforço para compreender.
Um dos piores tropeços na vida - parece-me - é essa luta constante para alcançar, conseguir, adquirir. Desde a infância somos educados para adquirir e realizar; as próprias células cerebrais criam e exigem esse padrão de realização, a fim de terem segurança física, mas a segurança psicológica não se encontra no campo da realização. Exigimos segurança em todas as nossas relações, atitudes e atividades, mas, como já vimos, não existe realmente essa coisa chamada segurança. Se descobris, por vós mesmo, que não há nenhuma forma de segurança em qualquer espécie de relação - se percebeis que, psicologicamente, nada existe de permanente, esse percebimento vos proporciona uma maneira totalmente diferente de considerar a vida. É essencial, naturalmente, a segurança exterior - teto, roupa, comida - mas essa segurança exterior é destruída (não pode ser) pela exigência de segurança psicológica.
O espaço e o silêncio são necessários para ultrapassarmos as limitações da consciência, mas, como pode ficar quieta uma mente que está perenemente ativa em seu próprio interesse? Podemos discipliná-la, controlá-la, moldá-la, mas essa tortura não torna a mente quieta; só a torna embotada. Evidentemente, o mero cultivo do ideal de ter uma mente quieta é sem valor, porque, quanto mais a forçamos, mais estreita e estagnada ela se torna. Qualquer forma de controle, tal como a repressão, só produz mais conflito. Assim, o controle e a disciplina exterior não constituem o caminho certo, e tampouco tem algum valor uma vida não disciplinada.
A vida de quase todos nós é exteriormente disciplinada pelas exigências da sociedade, pela família, por nosso próprio sofrimento, nossa própria experiência, pelo ajustamento a certos padrões ideológicos ou factuais, e essa forma de disciplina é a coisa mais maléfica que existe. A disciplina deve ser sem controle, sem repressão, sem nenhuma forma de medo. Como pode nascer essa disciplina? Não é - primeiro disciplina, depois liberdade; a liberdade está bem no começo, e não no fim. Compreender essa liberdade, que significa estar livre do ajustamento que a disciplina impõe, é disciplina. O próprio ato de aprender é disciplina (aliás- em sânscrito – ver texto seguinte -a própria raiz da palavra disciplina significa aprender), o próprio aprendizado(aprendizagem) transforma-se em clareza. A compreensão de toda a natureza e estrutura do controle, da repressão e da complacência (comprazer, ser agradável, dar prazer), requer atenção. Não é necessário impor disciplina para estudar, pois já o ato de estudar cria sua própria disciplina, sem repressão de espécie alguma.
Para rejeitarmos a autoridade (referimo-nos à autoridade psicológica e não à autoridade da lei), rejeitarmos a autoridade de todas as organizações religiosas, de todas as tradições e da experiência, temos de ver por que, normalmente, obedecemos; temos, com efeito, de estudar isso. Esse estado exige que nos achemos livres da condenação, da justificação, da opinião, da aceitação. Ora, não podemos aceitar a autoridade, e estudá-la; isso é impossível. Para se estudar toda a estrutura psicológica da autoridade, cumpre exista liberdade dentro de nós mesmos. E quando a estamos estudando, estamos rejeitando toda a sua estrutura, e quando rejeitamos, essa própria rejeição é a luz da mente livre da autoridade. A negação de tudo o que tem sido considerado valioso - como a disciplina externa, a liderança, o idealismo - é estudá-lo; então, esse próprio ato de estudar não só é disciplina, mas a negação dela, e a própria negação é um ato positivo. Assim, estamos negando todas as coisas consideradas importantes para promover a quietação da mente.
Como vemos, não é o controle que leva à quietação. Tampouco está quieta a mente ao ter um objeto que de tal maneira a absorve que ela se perde nesse objeto. Isso é como dar a uma criança um brinquedo interessante; a criança se torna quieta, mas, tire-se-lhe o brinquedo e ela volta a fazer travessuras. Todos nós temos os nossos brinquedos que nos absorvem, e, por isso, pensamos que estamos muito quietos; mas, se um homem se dedica a uma certa forma de atividade, científica, literária ou qualquer outra, o brinquedo apenas o absorve e ele não está, em absoluto, totalmente quieto.
O único silêncio que conhecemos é o silêncio que vem quando cessa o barulho, o silêncio que vem quando o pensamento cessa; mas isso não é silêncio. O silêncio é coisa toda diferente, como a beleza, como o amor. Esse silêncio não é o produto de uma mente quieta, não é o produto de células cerebrais que, tendo compreendido toda a estrutura, dizem: "Pelo amor de Deus, fica quieto!"; são, então, as próprias células cerebrais que produzem o silêncio, e isso não é silêncio. Tampouco é o silêncio produto da atenção em que o observador é o objeto observado; não há então atrito, mas isso não é silêncio.
Estais esperando que eu vos descreva o que é esse silêncio, a fim de poderdes compará-lo, interpretá-lo, levá-lo e enterrá-lo. Ele é indescritível. O que pode ser descrito é o conhecido, e o estado livre do conhecido só pode tornar-se existente quando há um morrer todos os dias para o conhecido, para os insultos, as lisonjas, para todas as imagens que tendes formado, para todas as vossas experiências: morrer todos os dias, para que as células cerebrais se tornem novas, juvenis, inocentes. Mas, essa inocência, esse frescor, essa "qualidade" de ternura e delicadeza não produz o amor; não é a "qualidade" da beleza ou do silêncio.
Aquele silêncio, que não é o silêncio do fim do barulho, é só um modesto começo. É como passar por um túnel estreito para se chegar a um oceano imenso, vasto, extenso (poderoso) - a um estado imensurável, atemporal (Deus, a alma, a Alma, a Energia, o Ser...). Mas isso não se pode compreender só verbalmente, a menos que se tenha compreendido toda a estrutura da consciência e o significado do prazer, do sofrimento e do desespero, e as próprias células cerebrais se tenham tornado quietas. Então, talvez alcanceis aquele mistério que ninguém pode revelar-vos e nada pode destruir. Uma mente viva é uma mente quieta, uma mente viva é uma mente que não tem centro algum e, por conseguinte, não tem espaço nem tempo. Essa mente é ilimitada, e esta é a única verdade, a única realidade.
Os Fardos do Passado - A Mente Tranqüila - A Comunicação - A Realização - Disciplina - O Silêncio - A Verdade e a Realidade
Na vida que em geral levamos há muito pouca solidão. Mesmo quando estamos sós, nossa vida está tão repleta de influências, de conhecimentos, de memórias e experiências, de ansiedade, aflição e conflito, que nossa mente se torna cada vez mais embotada e insensível, funcionando numa monótona rotina. Estamos sós, alguma vez? Ou estamos transportando conosco todas as cargas de ontem?
Conta-se uma história interessante de dois monges que, caminhando de uma aldeia para outra, encontraram uma jovem sentada à margem de um rio, a chorar. Um dos monges dirigiu-se a ela, dizendo: "Irmã, por que choras?" E ela respondeu: "Estás vendo aquela casa do outro lado do rio? Eu vim para este lado hoje de manhã cedo e não tive dificuldade em vadear o rio; mas, agora ele engrossou e não posso voltar; não há nenhum barco". "Oh!" diz o monge, "isto não é problema" - e levantou nos braços a jovem e atravessou o rio, deixando-a na outra margem. E os dois monges prosseguem juntos a jornada. Passadas algumas horas, diz o outro monge: "Irmão, nós fizemos o voto de nunca tocar numa mulher. O que fizeste é um horrível pecado. Não sentiste prazer, uma sensação extraordinária, ao tocar uma mulher?" - E o outro monge responde: "Eu a deixei para trás há duas horas. Tu ainda a estás carregando, não é verdade?"
É isso o que fazemos. Carregamos nossos fardos a todas as horas; nunca morremos para eles, nunca os deixamos para trás. É só quando dispensamos a um problema toda a nossa atenção e o resolvemos imediatamente, sem o transportarmos para o dia seguinte, o minuto seguinte - é só então que há solidão. Então, ainda que estejamos numa casa cheia de gente, ou viajando num ônibus, temos solidão. E essa solidão denota uma mente nova, uma mente inocente.
Ter silêncio e espaço interiores é muito importante, porque implica liberdade para existir, mover-se, atuar, voar. Afinal de contas, a bondade só pode florescer onde há espaço, assim como a virtude só pode medrar quando há liberdade. Podemos ter liberdade política, mas, interiormente, não somos livres e, por conseguinte, não há espaço. Nenhuma virtude, nenhuma qualidade valiosa, pode funcionar ou medrar sem esse vasto espaço interior. E o espaço e o silêncio são necessários, pois apenas a mente que está só, livre de influências, de disciplinas, do controle de uma infinita variedade de experiências, é capaz de encontrar-se com algo totalmente novo.
Cada um de nós pode verificar diretamente que só há possibilidade de clareza quando a mente se encontra em silêncio. No Oriente, a finalidade da meditação é produzir um estado mental capaz de controlar o pensamento, o que é a mesma coisa que recitar constantemente uma oração para quietar a mente, esperando-se que, nesse estado, se compreenderão os problemas do indivíduo. Mas, a menos que sejam lançadas as bases, ou seja que se esteja livre do medo, livre do sofrimento, da ansiedade e de todas as armadilhas que armamos para nós mesmos, não vejo possibilidade de a mente ficar realmente quieta. Esta é uma das coisas mais difíceis de transmitir. A comunicação entre nós requer, não só que compreendais as palavras que estou empregando, mas também que ambas as partes, vós e eu, estejam tensas ao mesmo tempo, nem um momento mais cedo ou mais tarde, e sejam capazes de encontrar-se no mesmo nível. Essa comunicação não é possível quando estais interpretando o que estais lendo de acordo com vossos próprios conhecimentos, vosso prazer ou vossas opiniões, ou quando estais fazendo um tremendo esforço para compreender.
Um dos piores tropeços na vida - parece-me - é essa luta constante para alcançar, conseguir, adquirir. Desde a infância somos educados para adquirir e realizar; as próprias células cerebrais criam e exigem esse padrão de realização, a fim de terem segurança física, mas a segurança psicológica não se encontra no campo da realização. Exigimos segurança em todas as nossas relações, atitudes e atividades, mas, como já vimos, não existe realmente essa coisa chamada segurança. Se descobris, por vós mesmo, que não há nenhuma forma de segurança em qualquer espécie de relação - se percebeis que, psicologicamente, nada existe de permanente, esse percebimento vos proporciona uma maneira totalmente diferente de considerar a vida. É essencial, naturalmente, a segurança exterior - teto, roupa, comida - mas essa segurança exterior é destruída (não pode ser) pela exigência de segurança psicológica.
O espaço e o silêncio são necessários para ultrapassarmos as limitações da consciência, mas, como pode ficar quieta uma mente que está perenemente ativa em seu próprio interesse? Podemos discipliná-la, controlá-la, moldá-la, mas essa tortura não torna a mente quieta; só a torna embotada. Evidentemente, o mero cultivo do ideal de ter uma mente quieta é sem valor, porque, quanto mais a forçamos, mais estreita e estagnada ela se torna. Qualquer forma de controle, tal como a repressão, só produz mais conflito. Assim, o controle e a disciplina exterior não constituem o caminho certo, e tampouco tem algum valor uma vida não disciplinada.
A vida de quase todos nós é exteriormente disciplinada pelas exigências da sociedade, pela família, por nosso próprio sofrimento, nossa própria experiência, pelo ajustamento a certos padrões ideológicos ou factuais, e essa forma de disciplina é a coisa mais maléfica que existe. A disciplina deve ser sem controle, sem repressão, sem nenhuma forma de medo. Como pode nascer essa disciplina? Não é - primeiro disciplina, depois liberdade; a liberdade está bem no começo, e não no fim. Compreender essa liberdade, que significa estar livre do ajustamento que a disciplina impõe, é disciplina. O próprio ato de aprender é disciplina (aliás- em sânscrito – ver texto seguinte -a própria raiz da palavra disciplina significa aprender), o próprio aprendizado(aprendizagem) transforma-se em clareza. A compreensão de toda a natureza e estrutura do controle, da repressão e da complacência (comprazer, ser agradável, dar prazer), requer atenção. Não é necessário impor disciplina para estudar, pois já o ato de estudar cria sua própria disciplina, sem repressão de espécie alguma.
Para rejeitarmos a autoridade (referimo-nos à autoridade psicológica e não à autoridade da lei), rejeitarmos a autoridade de todas as organizações religiosas, de todas as tradições e da experiência, temos de ver por que, normalmente, obedecemos; temos, com efeito, de estudar isso. Esse estado exige que nos achemos livres da condenação, da justificação, da opinião, da aceitação. Ora, não podemos aceitar a autoridade, e estudá-la; isso é impossível. Para se estudar toda a estrutura psicológica da autoridade, cumpre exista liberdade dentro de nós mesmos. E quando a estamos estudando, estamos rejeitando toda a sua estrutura, e quando rejeitamos, essa própria rejeição é a luz da mente livre da autoridade. A negação de tudo o que tem sido considerado valioso - como a disciplina externa, a liderança, o idealismo - é estudá-lo; então, esse próprio ato de estudar não só é disciplina, mas a negação dela, e a própria negação é um ato positivo. Assim, estamos negando todas as coisas consideradas importantes para promover a quietação da mente.
Como vemos, não é o controle que leva à quietação. Tampouco está quieta a mente ao ter um objeto que de tal maneira a absorve que ela se perde nesse objeto. Isso é como dar a uma criança um brinquedo interessante; a criança se torna quieta, mas, tire-se-lhe o brinquedo e ela volta a fazer travessuras. Todos nós temos os nossos brinquedos que nos absorvem, e, por isso, pensamos que estamos muito quietos; mas, se um homem se dedica a uma certa forma de atividade, científica, literária ou qualquer outra, o brinquedo apenas o absorve e ele não está, em absoluto, totalmente quieto.
O único silêncio que conhecemos é o silêncio que vem quando cessa o barulho, o silêncio que vem quando o pensamento cessa; mas isso não é silêncio. O silêncio é coisa toda diferente, como a beleza, como o amor. Esse silêncio não é o produto de uma mente quieta, não é o produto de células cerebrais que, tendo compreendido toda a estrutura, dizem: "Pelo amor de Deus, fica quieto!"; são, então, as próprias células cerebrais que produzem o silêncio, e isso não é silêncio. Tampouco é o silêncio produto da atenção em que o observador é o objeto observado; não há então atrito, mas isso não é silêncio.
Estais esperando que eu vos descreva o que é esse silêncio, a fim de poderdes compará-lo, interpretá-lo, levá-lo e enterrá-lo. Ele é indescritível. O que pode ser descrito é o conhecido, e o estado livre do conhecido só pode tornar-se existente quando há um morrer todos os dias para o conhecido, para os insultos, as lisonjas, para todas as imagens que tendes formado, para todas as vossas experiências: morrer todos os dias, para que as células cerebrais se tornem novas, juvenis, inocentes. Mas, essa inocência, esse frescor, essa "qualidade" de ternura e delicadeza não produz o amor; não é a "qualidade" da beleza ou do silêncio.
Aquele silêncio, que não é o silêncio do fim do barulho, é só um modesto começo. É como passar por um túnel estreito para se chegar a um oceano imenso, vasto, extenso (poderoso) - a um estado imensurável, atemporal (Deus, a alma, a Alma, a Energia, o Ser...). Mas isso não se pode compreender só verbalmente, a menos que se tenha compreendido toda a estrutura da consciência e o significado do prazer, do sofrimento e do desespero, e as próprias células cerebrais se tenham tornado quietas. Então, talvez alcanceis aquele mistério que ninguém pode revelar-vos e nada pode destruir. Uma mente viva é uma mente quieta, uma mente viva é uma mente que não tem centro algum e, por conseguinte, não tem espaço nem tempo. Essa mente é ilimitada, e esta é a única verdade, a única realidade.
Décima Terceira Parte
Que é Pensar? - As Idéias e a Ação - O Desafio Matéria - O Começo do Pensamento
Passemos agora a examinar a questão do pensar - o que é pensar - a significação desse pensamento que deve ser exercido com cuidado, lógica e equilíbrio (em nossas atividades diárias), e a significação do pensamento que nenhuma importância tem. A menos que conheçamos essas duas qualidades (de pensamento) não teremos possibilidade de compreender uma coisa muito mais profunda, que o pensamento não pode atingir. Tratemos, pois, de compreender toda a complexa estrutura que constitui o pensar, a memória - como o pensamento nasce, como o pensamento condiciona as nossas ações; e, compreendendo tudo isso, encontraremos talvez uma coisa que o pensamento jamais descobriu, uma coisa cuja porta o pensamento é incapaz de abrir.
Por que se tornou o pensamento tão importante em nossa vida? - o pensamento, que é ideias, reação às memórias acumuladas nas células cerebrais? Talvez muitos de vós nem mesmo fizeram a si próprios uma pergunta dessas, ou, se a fizeram, devem ter dito: "Isso é de mínima importância, o importante é a emoção". Mas, não vejo como separar as duas coisas. Se o pensamento não dá continuidade ao sentimento(acção), o sentimento morre muito depressa. Assim, por que é que o pensamento assumiu, em nossa vida diária, nesta vida tormentosa, tediosa, assustada - tão desmedida importância? Perguntai a vós mesmos, como estou perguntando a mim mesmo: Porque somos escravos do pensamento - desse pensamento sagaz e engenhoso, capaz de organização, de iniciativas; que tantas coisas inventa, que tantas guerras engendrou e tanto medo criou, tanta ansiedade; que está perenemente a criar imagens e a "correr atrás da própria cauda"; do pensamento que fruiu o prazer de ontem e a esse prazer deu continuidade no presente e também no futuro; desse pensamento que está sempre ativo, a tagarelar, a mover-se, a construir, a subtrair, a adicionar, a supor?".
As idéias se tornaram para nós muito mais importantes do que a ação - ideias tão habilmente expostas em livros pelos intelectuais, em todas as esferas de atividade. Quanto mais sagazes e subtis essas idéias, tanto mais as veneramos e aos livros que as contêm. Nós somos esses livros, somos essas idéias, tão fortemente condicionados estamos por elas. Estamos perpetuamente a discutir idéias e ideais e, dialeticamente, a apresentar opiniões. Toda religião tem seu dogma, sua fórmula, seu próprio andaime para alcançar os deuses, e, como estamos investigando as origens do pensamento, estamos contestando a validade de todo esse edifício de ideias. Separamos as idéias da ação porque as idéias são sempre do passado, e a ação é sempre o presente - isto é, o viver é sempre o presente. Temos medo do viver e, por conseguinte, o passado, as idéias, se nos tornaram tão importantes.
É realmente muito interessante observar as operações de nosso próprio pensar, observar, simplesmente, como pensamos, a fonte de onde brota essa reação que chamamos pensar. Essa fonte é, obviamente, a memória. Existe de fato um começo do pensamento? Se existe, podemos achá-lo? - isto é, o começo da memória, porque, se não tivéssemos memória, não teríamos pensamento. (assim como somos um com o observado, somo-lo com o pensamento)
Já vimos como o pensamento sustenta e dá continuidade a um prazer que ontem fruímos, e como o pensamento também sustenta o contrário do prazer, o medo e a dor; de modo que o experimentador, que é o pensador, é o prazer e a dor, e também a entidade que lhes dá nutrimento. O pensador separa o prazer da dor. Não percebe que na própria exigência de prazer está atraindo a dor e o medo. O pensamento, nas relações humanas, está sempre a exigir prazer, exigência que ele disfarça com palavras tais como lealdade, auxílio, dádiva, amparo, serviço. Pergunto-me: Por que queremos servir aos outros? O posto de gasolina oferece bons serviços. Que significam estas palavras: auxílio, dádiva, serviço? Que finalidade tem isso? Uma flor, cheia de beleza, de luz, de encantamento, essa flor diz: "Eu estou dando, ajudando, servindo"? Ela é, e porque não está procurando fazer coisa alguma, ela abarca toda a Terra.
O pensamento é tão sutil, tão hábil, que deforma todas as coisas para sua própria conveniência. O pensamento, com sua exigência de prazer, traz sua própria servidão. O pensamento é o criador da dualidade, em todas as nossas relações: há, em nós, violência, a qual nos proporciona prazer, mas há também o desejo de paz, o desejo de ser bondoso, delicado. Isso é o que se passa a todas as horas, em nossa vida. O pensamento não só cria em nós essa dualidade, essa contradição, mas também acumula nossas inumeráveis memórias de prazer e de dor e dessas memórias renasce. Assim, o pensamento é o passado; o pensamento, como já disse, é sempre velho.
Como todo desafio – que é sempre novo - é enfrentado em termos do passado - a nossa maneira de enfrentá-lo será sempre totalmente inadequada, (se o for só em termos do pensamento que só funciona em termos do passado...a Intuição tem de entrar também...) e daí decorre a contradição, o conflito, a aflição e o sofrimento a que estamos sujeitos. Nosso insignificante cérebro está em conflito, não importa o que faça. Não importa se aspira, se imita, se se sujeita, se reprime, se sublima, se toma drogas para expandir-se - o que quer que faça - ele se acha num estado de conflito e produzirá sempre conflito.
Os que pensam muito são autênticos materialistas, porque o pensamento é matéria. O pensamento é matéria, tanto quanto o soalho, a parede, o telefone, são matéria. A energia que funciona num padrão se torna matéria. Há energia e há matéria. É só isso o que a vida é. Podeis pensar que o pensamento não é matéria; mas é. O pensamento, como ideologia, é matéria. Onde há energia, esta se converte em matéria. Matéria e energia estão relacionadas entre si. Uma não pode existir sem a outra. E quanto mais harmonia há entre ambas, tanto mais equilíbrio existe e tanto mais ativas estão as células cerebrais. O pensamento estabeleceu o padrão de prazer, de dor, (de coragem) e de medo e dentro dele vem funcionando há milhares de anos, e não pode quebrá-lo, porque foi ele quem o criou.
Um fato novo não pode ser percebido pelo pensamento. Posteriormente, pode ser compreendido pelo pensamento, verbalmente, porém, a compreensão de um novo fato não é uma realidade para o pensamento. O pensamento jamais resolverá um problema psicológico. Por mais engenhoso, por mais subtil e erudito que seja, e qualquer que seja a estrutura que o pensamento cria, por meio da ciência, de um cérebro electrónico, da compulsão ou da necessidade, o pensamento nunca é novo e, por conseguinte, jamais poderá resolver uma questão sumamente importante. O velho cérebro não pode resolver o enorme problema do viver.
O pensamento é tortuoso, porque pode inventar tudo e ver coisas que não existem. É capaz dos mais extraordinários truques e, portanto, não merece confiança. Mas, se puderdes compreender toda a sua estrutura, porque pensais, as palavras que empregais, o vosso comportamento na vida diária, vossa maneira de falar com as pessoas e de tratá-las, vossa maneira de andar, de comer - se perceberdes todas essas coisas, então a vossa mente não vos enganará, então não haverá nada para enganar-nos. A mente não é então uma entidade que exige, que julga; torna-se sumamente quieta, flexível, sensível, só, e nesse estado não há engano de espécie alguma.
Já notastes que, ao vos achardes num estado de completa atenção, o observador, o pensador, o centro, o "eu" deixa de existir? Nesse estado de atenção, o pensamento começa a definhar.
Se uma pessoa deseja ver uma coisa muito claramente, deve ter a sua mente muito quieta, sem seus preconceitos, suas tagarelices, seus diálogos, suas imagens, seus quadros - tudo isso tem de ser posto à margem, para olhar. É só no silêncio que se pode observar o começo do pensamento, e não quando estamos a buscar, a fazer perguntas e esperar respostas. Portanto, só quando há completa quietude em nosso ser, e fazemos a pergunta: "Qual a origem do pensamento?", começamos a ver, em virtude desse silêncio, como se forma o pensamento.
Se há o percebimento de como se inicia o pensamento, já não há necessidade de controlá-lo. Despendemos uma grande soma de tempo e desperdiçamos uma grande quantidade de energia, através de toda a vida, e não apenas na escola, controlando os nossos pensamentos - "Este é um pensamento bom, devo pensá-lo muitas vezes", "Este é um pensamento mau, devo reprimi-lo." Trava-se uma perene batalha entre um pensamento e outro, entre um desejo e outro (um prazer dominando todos os outros prazeres), mas se há o percebimento da origem do pensamento, nele já não existe nenhuma contradição.
Agora, quando ouvis uma asserção, tal como: "O pensamento é sempre velho" ou "O tempo é sofrimento", o pensamento começa a traduzi-la, a interpretá-la. Porém a tradução e a interpretação baseiam-se no conhecimento, na experiência de ontem, de modo que, invariavelmente, a traduzireis de acordo com o vosso condicionamento. Mas, se olhais essas asserções e não as interpretais de modo nenhum, dispensando-lhes, tão-só, vossa atenção completa (não concentração), descobris que não há observador nem coisa observada, que não há pensador nem pensamento. Não digais "Qual o que começou primeiro?". Essa é uma pergunta hábil, mas não conduz a parte alguma. Podeis observar em vós mesmos que, quando não há pensamento - e isso não significa um estado de amnésia, de vacuidade - quando não há pensamento derivado da memória, da experiência ou do conhecimento, pois tudo isso é do passado, não há pensador nenhum. Isso não é matéria filosófica ou mística. Estamos tratando de fatos reais e, se me acompanhastes até aqui, passareis a responder a cada desafio, não com o velho cérebro, porém de maneira totalmente nova.
Que é Pensar? - As Idéias e a Ação - O Desafio Matéria - O Começo do Pensamento
Passemos agora a examinar a questão do pensar - o que é pensar - a significação desse pensamento que deve ser exercido com cuidado, lógica e equilíbrio (em nossas atividades diárias), e a significação do pensamento que nenhuma importância tem. A menos que conheçamos essas duas qualidades (de pensamento) não teremos possibilidade de compreender uma coisa muito mais profunda, que o pensamento não pode atingir. Tratemos, pois, de compreender toda a complexa estrutura que constitui o pensar, a memória - como o pensamento nasce, como o pensamento condiciona as nossas ações; e, compreendendo tudo isso, encontraremos talvez uma coisa que o pensamento jamais descobriu, uma coisa cuja porta o pensamento é incapaz de abrir.
Por que se tornou o pensamento tão importante em nossa vida? - o pensamento, que é ideias, reação às memórias acumuladas nas células cerebrais? Talvez muitos de vós nem mesmo fizeram a si próprios uma pergunta dessas, ou, se a fizeram, devem ter dito: "Isso é de mínima importância, o importante é a emoção". Mas, não vejo como separar as duas coisas. Se o pensamento não dá continuidade ao sentimento(acção), o sentimento morre muito depressa. Assim, por que é que o pensamento assumiu, em nossa vida diária, nesta vida tormentosa, tediosa, assustada - tão desmedida importância? Perguntai a vós mesmos, como estou perguntando a mim mesmo: Porque somos escravos do pensamento - desse pensamento sagaz e engenhoso, capaz de organização, de iniciativas; que tantas coisas inventa, que tantas guerras engendrou e tanto medo criou, tanta ansiedade; que está perenemente a criar imagens e a "correr atrás da própria cauda"; do pensamento que fruiu o prazer de ontem e a esse prazer deu continuidade no presente e também no futuro; desse pensamento que está sempre ativo, a tagarelar, a mover-se, a construir, a subtrair, a adicionar, a supor?".
As idéias se tornaram para nós muito mais importantes do que a ação - ideias tão habilmente expostas em livros pelos intelectuais, em todas as esferas de atividade. Quanto mais sagazes e subtis essas idéias, tanto mais as veneramos e aos livros que as contêm. Nós somos esses livros, somos essas idéias, tão fortemente condicionados estamos por elas. Estamos perpetuamente a discutir idéias e ideais e, dialeticamente, a apresentar opiniões. Toda religião tem seu dogma, sua fórmula, seu próprio andaime para alcançar os deuses, e, como estamos investigando as origens do pensamento, estamos contestando a validade de todo esse edifício de ideias. Separamos as idéias da ação porque as idéias são sempre do passado, e a ação é sempre o presente - isto é, o viver é sempre o presente. Temos medo do viver e, por conseguinte, o passado, as idéias, se nos tornaram tão importantes.
É realmente muito interessante observar as operações de nosso próprio pensar, observar, simplesmente, como pensamos, a fonte de onde brota essa reação que chamamos pensar. Essa fonte é, obviamente, a memória. Existe de fato um começo do pensamento? Se existe, podemos achá-lo? - isto é, o começo da memória, porque, se não tivéssemos memória, não teríamos pensamento. (assim como somos um com o observado, somo-lo com o pensamento)
Já vimos como o pensamento sustenta e dá continuidade a um prazer que ontem fruímos, e como o pensamento também sustenta o contrário do prazer, o medo e a dor; de modo que o experimentador, que é o pensador, é o prazer e a dor, e também a entidade que lhes dá nutrimento. O pensador separa o prazer da dor. Não percebe que na própria exigência de prazer está atraindo a dor e o medo. O pensamento, nas relações humanas, está sempre a exigir prazer, exigência que ele disfarça com palavras tais como lealdade, auxílio, dádiva, amparo, serviço. Pergunto-me: Por que queremos servir aos outros? O posto de gasolina oferece bons serviços. Que significam estas palavras: auxílio, dádiva, serviço? Que finalidade tem isso? Uma flor, cheia de beleza, de luz, de encantamento, essa flor diz: "Eu estou dando, ajudando, servindo"? Ela é, e porque não está procurando fazer coisa alguma, ela abarca toda a Terra.
O pensamento é tão sutil, tão hábil, que deforma todas as coisas para sua própria conveniência. O pensamento, com sua exigência de prazer, traz sua própria servidão. O pensamento é o criador da dualidade, em todas as nossas relações: há, em nós, violência, a qual nos proporciona prazer, mas há também o desejo de paz, o desejo de ser bondoso, delicado. Isso é o que se passa a todas as horas, em nossa vida. O pensamento não só cria em nós essa dualidade, essa contradição, mas também acumula nossas inumeráveis memórias de prazer e de dor e dessas memórias renasce. Assim, o pensamento é o passado; o pensamento, como já disse, é sempre velho.
Como todo desafio – que é sempre novo - é enfrentado em termos do passado - a nossa maneira de enfrentá-lo será sempre totalmente inadequada, (se o for só em termos do pensamento que só funciona em termos do passado...a Intuição tem de entrar também...) e daí decorre a contradição, o conflito, a aflição e o sofrimento a que estamos sujeitos. Nosso insignificante cérebro está em conflito, não importa o que faça. Não importa se aspira, se imita, se se sujeita, se reprime, se sublima, se toma drogas para expandir-se - o que quer que faça - ele se acha num estado de conflito e produzirá sempre conflito.
Os que pensam muito são autênticos materialistas, porque o pensamento é matéria. O pensamento é matéria, tanto quanto o soalho, a parede, o telefone, são matéria. A energia que funciona num padrão se torna matéria. Há energia e há matéria. É só isso o que a vida é. Podeis pensar que o pensamento não é matéria; mas é. O pensamento, como ideologia, é matéria. Onde há energia, esta se converte em matéria. Matéria e energia estão relacionadas entre si. Uma não pode existir sem a outra. E quanto mais harmonia há entre ambas, tanto mais equilíbrio existe e tanto mais ativas estão as células cerebrais. O pensamento estabeleceu o padrão de prazer, de dor, (de coragem) e de medo e dentro dele vem funcionando há milhares de anos, e não pode quebrá-lo, porque foi ele quem o criou.
Um fato novo não pode ser percebido pelo pensamento. Posteriormente, pode ser compreendido pelo pensamento, verbalmente, porém, a compreensão de um novo fato não é uma realidade para o pensamento. O pensamento jamais resolverá um problema psicológico. Por mais engenhoso, por mais subtil e erudito que seja, e qualquer que seja a estrutura que o pensamento cria, por meio da ciência, de um cérebro electrónico, da compulsão ou da necessidade, o pensamento nunca é novo e, por conseguinte, jamais poderá resolver uma questão sumamente importante. O velho cérebro não pode resolver o enorme problema do viver.
O pensamento é tortuoso, porque pode inventar tudo e ver coisas que não existem. É capaz dos mais extraordinários truques e, portanto, não merece confiança. Mas, se puderdes compreender toda a sua estrutura, porque pensais, as palavras que empregais, o vosso comportamento na vida diária, vossa maneira de falar com as pessoas e de tratá-las, vossa maneira de andar, de comer - se perceberdes todas essas coisas, então a vossa mente não vos enganará, então não haverá nada para enganar-nos. A mente não é então uma entidade que exige, que julga; torna-se sumamente quieta, flexível, sensível, só, e nesse estado não há engano de espécie alguma.
Já notastes que, ao vos achardes num estado de completa atenção, o observador, o pensador, o centro, o "eu" deixa de existir? Nesse estado de atenção, o pensamento começa a definhar.
Se uma pessoa deseja ver uma coisa muito claramente, deve ter a sua mente muito quieta, sem seus preconceitos, suas tagarelices, seus diálogos, suas imagens, seus quadros - tudo isso tem de ser posto à margem, para olhar. É só no silêncio que se pode observar o começo do pensamento, e não quando estamos a buscar, a fazer perguntas e esperar respostas. Portanto, só quando há completa quietude em nosso ser, e fazemos a pergunta: "Qual a origem do pensamento?", começamos a ver, em virtude desse silêncio, como se forma o pensamento.
Se há o percebimento de como se inicia o pensamento, já não há necessidade de controlá-lo. Despendemos uma grande soma de tempo e desperdiçamos uma grande quantidade de energia, através de toda a vida, e não apenas na escola, controlando os nossos pensamentos - "Este é um pensamento bom, devo pensá-lo muitas vezes", "Este é um pensamento mau, devo reprimi-lo." Trava-se uma perene batalha entre um pensamento e outro, entre um desejo e outro (um prazer dominando todos os outros prazeres), mas se há o percebimento da origem do pensamento, nele já não existe nenhuma contradição.
Agora, quando ouvis uma asserção, tal como: "O pensamento é sempre velho" ou "O tempo é sofrimento", o pensamento começa a traduzi-la, a interpretá-la. Porém a tradução e a interpretação baseiam-se no conhecimento, na experiência de ontem, de modo que, invariavelmente, a traduzireis de acordo com o vosso condicionamento. Mas, se olhais essas asserções e não as interpretais de modo nenhum, dispensando-lhes, tão-só, vossa atenção completa (não concentração), descobris que não há observador nem coisa observada, que não há pensador nem pensamento. Não digais "Qual o que começou primeiro?". Essa é uma pergunta hábil, mas não conduz a parte alguma. Podeis observar em vós mesmos que, quando não há pensamento - e isso não significa um estado de amnésia, de vacuidade - quando não há pensamento derivado da memória, da experiência ou do conhecimento, pois tudo isso é do passado, não há pensador nenhum. Isso não é matéria filosófica ou mística. Estamos tratando de fatos reais e, se me acompanhastes até aqui, passareis a responder a cada desafio, não com o velho cérebro, porém de maneira totalmente nova.
Monday, April 27, 2009
Décima Segunda Parte
O Observador e a Coisa Observada
Tende a bondade de continuar a acompanhar-me um pouco mais. Esta matéria poderá ser um tanto complexa e subtil, mas, por favor, continuai comigo a investigá-la.
Pois bem; quando formo uma imagem a respeito de vós ou de qualquer coisa, tenho a possibilidade de observar essa imagem e, assim, há a imagem e o observador da imagem. Vejo uma pessoa, suponhamos, de camisa vermelha, e minha reação imediata é de gostar ou não gostar dessa camisa. O gostar ou não gostar é resultado de minha cultura, de minha educação, minhas relações, minhas inclinações, minhas características adquiridas ou herdadas. É desse centro que eu observo e faço meu julgamento, e, assim, o observador está separado da coisa que observa.
Porém, o observador está percebendo mais do que uma só imagem; ele cria milhares de imagens. Ora, o observador difere dessas imagens? Não é ele apenas outra imagem? Está sempre a acrescentar ou a subtrair alguma coisa do que ele próprio é; ele é uma coisa viva, a todas as horas, ocupada em pesar, comparar, julgar, modificar, mudar, em virtude de pressões do exterior e do interior; vive no campo da consciência, que são seus próprios conhecimentos, as influências e avaliações inumeráveis. Ao mesmo tempo que olhais o observador, que sois vós mesmos, vedes que ele é constituído de memórias, experiências, acidentes, influências, tradições e infinitas variedades de sofrimento (e prazer), sendo tudo isso o passado. Assim, o observador é tanto o passado como o presente, e o amanhã o aguarda e faz também parte dele. Ele está meio vivo, meio morto, e com essa morte e vida é que observa. Nesse estado mental, situado no campo do tempo, vós (o observador) olhais o medo, o ciúme, a guerra, a família (a entidade feia e fechada chamada a família), e procurais resolver o problema da coisa observada, a qual é o desafio, o novo; estais sempre a traduzir o novo nos termos do velho e, por conseguinte, vos vedes num conflito perpétuo.
Uma imagem-, na qualidade de observador, observa dúzias de outras imagens, ao redor e dentro de si mesmo, e o observador diz: "Gosto dessa imagem, vou conservá-la", ou "Não gosto dessa imagem e, portanto, vou livrar-me dela" - mas o próprio observador foi formado pelas várias imagens, nascidas da reação a várias outras imagens. Assim sendo, alcançamos um ponto em que podemos dizer: O observador é também imagem, porém separa-se a si próprio para observar. Esse observador, que se tornou existente por causa de várias outras imagens, julga-se permanente e entre si próprio e as demais imagens criou uma separação, um intervalo de tempo. Isso gera conflito entre ele e as imagens que ele crê serem a causa de suas tribulações. Diz, então: "Preciso livrar-me desse conflito", mas o próprio desejo de livrar-se do conflito cria outra imagem.
O percebimento de tudo isso, que é a verdadeira meditação, revela haver uma imagem central, formada por todas as outras imagens, e essa imagem central - o observador - é o censor, o experimentador, o avaliador, o juiz que deseja conquistar ou subjugar as outras imagens ou destruí-las de todo. As outras imagens resultam dos juízos, opiniões e conclusões do observador, e o observador é o resultado de todas as outras imagens - portanto, o observador é a coisa observada.
Assim, o percebimento revela os diferentes estados da mente; revela as várias imagens e a contradição entre elas existente; revela o conflito daí resultante e o desespero por não se poder fazer coisa alguma em relação ao conflito, e as diferentes tentativas de fugir dele. Tudo isso foi revelado pela vigilância cautelosa, hesitante, e percebe-se, então, que o observador é a coisa observada. Não é uma entidade superior que se torna consciente dessas coisas, não é um "eu" superior (a entidade superior, o eu superior são meras invenções, outras tantas imagens); o próprio percebimento revelou que o observador é a coisa observada.
Se fazeis a vós mesmos uma pergunta, quem é a entidade que vai receber a resposta? E quem é a entidade que vai investigar? Se essa entidade faz parte da consciência, se faz parte do pensamento, nesse caso ela é incapaz de descobrir a resposta. O que pode descobrir é apenas um estado de percebimento. Mas, se nesse estado de percebimento continua a existir uma entidade que diz: "Preciso estar cônscia, preciso praticar o percebimento" - essa entidade, por sua vez, é mais uma imagem.
Esse percebimento de que o observador é a coisa observada não é um processo de identificação com a coisa observada. Identificarmo-nos com uma dada coisa é relativamente fácil. A maioria de nós se identifica com alguma coisa: com a família, o marido, a esposa, a nação; e essa identificação leva a grandes aflições e grandes guerras. Estamos considerando uma coisa inteiramente diferente, que não devemos compreender verbalmente, porém no âmago, na raiz mesma de nosso ser. Na China antiga, um artista, antes de começar a pintar qualquer coisa, uma árvore, por exemplo - ficava sentado diante dela durante dias, meses, anos (não importa quanto tempo) até ele próprio ser a árvore. Ele não se identificava com a árvore, mas era a árvore. Isso significa que não havia espaço entre ele e a árvore, não havia espaço entre o observador e a coisa observada, não havia um experimentador a experimentar a beleza, o movimento, o matiz, a intensidade de uma folha, a "qualidade" da cor. Ele era totalmente a árvore, e só nesse estado podia pintá-la.
Qualquer movimento por parte do observador, se ele não percebeu que o observador é a coisa observada, só cria outra série de imagens e, mais uma vez, nelas se vê enredado. Mas, que sucede, quando o observador percebe que o observador é a coisa observada? Andai devagar, bem devagar, pois estamos examinando uma coisa muito complexa. Que sucede? O observador não age, absolutamente. O observador sempre disse: "Tenho de fazer algo em relação a essas imagens; devo recalcá-las ou dar-lhes uma forma diferente"; está sempre ativo em relação à coisa observada, agindo e reagindo, apaixonada ou indiferentemente, e essa ação de gostar e não gostar, por parte do observador, é chamada ação positiva - "Gosto desta coisa, portanto, devo conservá-la; não gosto daquela, portanto, tenho de livrar-me dela". Mas, quando o observador percebe que a coisa (animal, pessoa, Ser – real ou imaginário…) em relação à qual está agindo é ele próprio, não há então conflito entre ele e a imagem. Ele ê ela. Não está separado dela. Quando separado, ele fazia ou tentava fazer alguma coisa em relação a ela; mas, ao perceber que ele próprio é aquilo, não há mais gostar nem não gostar, e o conflito cessa.
Pois, que pode ele fazer? Se uma coisa é vós, que podeis fazer? Não podeis revoltar-vos contra ela, ou fugir dela, ou, mesmo, aceitá-la. Ela existe. Assim, toda ação resultante da reação, de gostar e não gostar, cessa.Descobrireis, então, que há um percebimento que se torna extremamente vivo. Não está sujeito a nenhum fator central ou a alguma imagem, e dessa intensidade de percebimento provém uma diferente qualidade de atenção e a mente, por conseguinte (pois a mente é esse percebimento), se torna sobremodo sensível e altamente inteligente.
O Observador e a Coisa Observada
Tende a bondade de continuar a acompanhar-me um pouco mais. Esta matéria poderá ser um tanto complexa e subtil, mas, por favor, continuai comigo a investigá-la.
Pois bem; quando formo uma imagem a respeito de vós ou de qualquer coisa, tenho a possibilidade de observar essa imagem e, assim, há a imagem e o observador da imagem. Vejo uma pessoa, suponhamos, de camisa vermelha, e minha reação imediata é de gostar ou não gostar dessa camisa. O gostar ou não gostar é resultado de minha cultura, de minha educação, minhas relações, minhas inclinações, minhas características adquiridas ou herdadas. É desse centro que eu observo e faço meu julgamento, e, assim, o observador está separado da coisa que observa.
Porém, o observador está percebendo mais do que uma só imagem; ele cria milhares de imagens. Ora, o observador difere dessas imagens? Não é ele apenas outra imagem? Está sempre a acrescentar ou a subtrair alguma coisa do que ele próprio é; ele é uma coisa viva, a todas as horas, ocupada em pesar, comparar, julgar, modificar, mudar, em virtude de pressões do exterior e do interior; vive no campo da consciência, que são seus próprios conhecimentos, as influências e avaliações inumeráveis. Ao mesmo tempo que olhais o observador, que sois vós mesmos, vedes que ele é constituído de memórias, experiências, acidentes, influências, tradições e infinitas variedades de sofrimento (e prazer), sendo tudo isso o passado. Assim, o observador é tanto o passado como o presente, e o amanhã o aguarda e faz também parte dele. Ele está meio vivo, meio morto, e com essa morte e vida é que observa. Nesse estado mental, situado no campo do tempo, vós (o observador) olhais o medo, o ciúme, a guerra, a família (a entidade feia e fechada chamada a família), e procurais resolver o problema da coisa observada, a qual é o desafio, o novo; estais sempre a traduzir o novo nos termos do velho e, por conseguinte, vos vedes num conflito perpétuo.
Uma imagem-, na qualidade de observador, observa dúzias de outras imagens, ao redor e dentro de si mesmo, e o observador diz: "Gosto dessa imagem, vou conservá-la", ou "Não gosto dessa imagem e, portanto, vou livrar-me dela" - mas o próprio observador foi formado pelas várias imagens, nascidas da reação a várias outras imagens. Assim sendo, alcançamos um ponto em que podemos dizer: O observador é também imagem, porém separa-se a si próprio para observar. Esse observador, que se tornou existente por causa de várias outras imagens, julga-se permanente e entre si próprio e as demais imagens criou uma separação, um intervalo de tempo. Isso gera conflito entre ele e as imagens que ele crê serem a causa de suas tribulações. Diz, então: "Preciso livrar-me desse conflito", mas o próprio desejo de livrar-se do conflito cria outra imagem.
O percebimento de tudo isso, que é a verdadeira meditação, revela haver uma imagem central, formada por todas as outras imagens, e essa imagem central - o observador - é o censor, o experimentador, o avaliador, o juiz que deseja conquistar ou subjugar as outras imagens ou destruí-las de todo. As outras imagens resultam dos juízos, opiniões e conclusões do observador, e o observador é o resultado de todas as outras imagens - portanto, o observador é a coisa observada.
Assim, o percebimento revela os diferentes estados da mente; revela as várias imagens e a contradição entre elas existente; revela o conflito daí resultante e o desespero por não se poder fazer coisa alguma em relação ao conflito, e as diferentes tentativas de fugir dele. Tudo isso foi revelado pela vigilância cautelosa, hesitante, e percebe-se, então, que o observador é a coisa observada. Não é uma entidade superior que se torna consciente dessas coisas, não é um "eu" superior (a entidade superior, o eu superior são meras invenções, outras tantas imagens); o próprio percebimento revelou que o observador é a coisa observada.
Se fazeis a vós mesmos uma pergunta, quem é a entidade que vai receber a resposta? E quem é a entidade que vai investigar? Se essa entidade faz parte da consciência, se faz parte do pensamento, nesse caso ela é incapaz de descobrir a resposta. O que pode descobrir é apenas um estado de percebimento. Mas, se nesse estado de percebimento continua a existir uma entidade que diz: "Preciso estar cônscia, preciso praticar o percebimento" - essa entidade, por sua vez, é mais uma imagem.
Esse percebimento de que o observador é a coisa observada não é um processo de identificação com a coisa observada. Identificarmo-nos com uma dada coisa é relativamente fácil. A maioria de nós se identifica com alguma coisa: com a família, o marido, a esposa, a nação; e essa identificação leva a grandes aflições e grandes guerras. Estamos considerando uma coisa inteiramente diferente, que não devemos compreender verbalmente, porém no âmago, na raiz mesma de nosso ser. Na China antiga, um artista, antes de começar a pintar qualquer coisa, uma árvore, por exemplo - ficava sentado diante dela durante dias, meses, anos (não importa quanto tempo) até ele próprio ser a árvore. Ele não se identificava com a árvore, mas era a árvore. Isso significa que não havia espaço entre ele e a árvore, não havia espaço entre o observador e a coisa observada, não havia um experimentador a experimentar a beleza, o movimento, o matiz, a intensidade de uma folha, a "qualidade" da cor. Ele era totalmente a árvore, e só nesse estado podia pintá-la.
Qualquer movimento por parte do observador, se ele não percebeu que o observador é a coisa observada, só cria outra série de imagens e, mais uma vez, nelas se vê enredado. Mas, que sucede, quando o observador percebe que o observador é a coisa observada? Andai devagar, bem devagar, pois estamos examinando uma coisa muito complexa. Que sucede? O observador não age, absolutamente. O observador sempre disse: "Tenho de fazer algo em relação a essas imagens; devo recalcá-las ou dar-lhes uma forma diferente"; está sempre ativo em relação à coisa observada, agindo e reagindo, apaixonada ou indiferentemente, e essa ação de gostar e não gostar, por parte do observador, é chamada ação positiva - "Gosto desta coisa, portanto, devo conservá-la; não gosto daquela, portanto, tenho de livrar-me dela". Mas, quando o observador percebe que a coisa (animal, pessoa, Ser – real ou imaginário…) em relação à qual está agindo é ele próprio, não há então conflito entre ele e a imagem. Ele ê ela. Não está separado dela. Quando separado, ele fazia ou tentava fazer alguma coisa em relação a ela; mas, ao perceber que ele próprio é aquilo, não há mais gostar nem não gostar, e o conflito cessa.
Pois, que pode ele fazer? Se uma coisa é vós, que podeis fazer? Não podeis revoltar-vos contra ela, ou fugir dela, ou, mesmo, aceitá-la. Ela existe. Assim, toda ação resultante da reação, de gostar e não gostar, cessa.Descobrireis, então, que há um percebimento que se torna extremamente vivo. Não está sujeito a nenhum fator central ou a alguma imagem, e dessa intensidade de percebimento provém uma diferente qualidade de atenção e a mente, por conseguinte (pois a mente é esse percebimento), se torna sobremodo sensível e altamente inteligente.
Décima Primeira Parte
Observar e Escutar
- A Arte - A Beleza - A Austeridade - As Imagens - Os Problemas - O Espaço
Acabamos de investigar a natureza do amor e alcançamos, creio, um ponto que requer maior penetração, maior percebimento. Descobrimos que, para a maioria, amor significa conforto, segurança, uma garantia de satisfação emocional, contínua, para o resto da vida. Chega então uma pessoa como eu e diz: "Será isso realmente amor?", e vos contesta, e vos pede que olheis para dentro de vós mesmos. Procurais não olhar, porque isso é muito perturbador; seria preferível discutir sobre a alma ou a situação política ou económica. Mas, quando vos vedes encostado a um canto e obrigado a olhar, percebeis que isso que sempre pensastes ser amor não é, de forma nenhuma, amor; é uma satisfação mútua, mútua exploração.Quando digo: "O amor não tem amanhã nem ontem", ou "não existindo centro(ou ego, ou eu) algum, então há amor", isso tem realidade para mim, mas não para vós. Podeis citá-lo e convertê-lo numa fórmula, mas sem qualquer validade. Tendes de ver o fato por vós mesmos, e, para tanto, necessita-se de liberdade para olhar, precisa-se estar livre de toda condenação, de todo juízo, de toda aquiescência ou discordância.Ora, olhar é uma das coisas mais difíceis da vida - ou escutar - olhar e escutar são a mesma coisa. Se vossos olhos estão obcecados por vossas inquietações, não podeis ver a beleza do pôr-do-sol. A maioria de nós perdeu o contacto com a natureza. A civilização tende muito à formação de grandes cidades; estamo-nos tornando cada vez mais gente urbana, vivendo em apartamentos apertados, e tendo muito pouco espaço mesmo para olhar o céu da tarde e da manhã e, por conseguinte, estamos perdendo o contato com a beleza. Não sei se já notastes quão poucos dentre nós olham o nascer ou o pôr-do-sol, ou o luar ou os reflexos da luz na água.Tendo perdido o contacto com a natureza, tendemos naturalmente a desenvolver as aptidões intelectuais. Lemos um grande número de livros, freqüentamos muitos museus e concertos, vemos televisão e temos outros mais entretenimentos. Citamos interminavelmente as idéias de outrem, muito pensamos e falamos sobre arte. Por que razão dependemos tanto da arte? Constitui ela uma forma de fuga, de estímulo? Se estais diretamente em contacto com a natureza; se observais o movimento de uma ave a voar, se vedes a beleza de cada movimento das nuvens, observais as sombras nos montes ou a beleza manifestada no rosto de outra pessoa, achais que tereis vontade de ir a um museu para ver quadros? Talvez, porque não sabeis olhar todas as coisas que vos circundam; talvez seja por essa razão que recorreis a uma certa droga, para estimular--vos a ver melhor.Conta-se uma história acerca de um instrutor religioso que todas as manhãs falava aos seus discípulos. Uma certa manhã, subiu ao palanque e, justamente quando ia começar a falar, um passarinho pousou no peitoril de uma janela e começou a cantar, a cantar, com toda a alma. Depois calou-se e foi-se, a voar. Disse então o instrutor: "Está terminado o sermão desta manhã".Parece-me que uma das nossas maiores dificuldades é vermos, por nós mesmos, com toda a clareza, não só as coisas exteriores, mas também a vida interior. Quando dizemos que vemos uma árvore ou uma flor ou uma pessoa, vemo-la realmente? Ou vemos meramente a imagem que a palavra criou? Isto é, quando olhais uma árvore ou uma nuvem, numa tarde luminosa, vós a vedes realmente, não só com vossos olhos e intelectualmente, porém totalmente, completamente?Já experimentastes alguma vez olhar uma coisa objetiva, uma árvore, por exemplo, sem nenhuma das associações, nenhum dos conhecimentos que a respeito dela adquiristes, sem nenhum preconceito, nenhum juízo, nenhuma palavra a constituir uma cortina entre vós e a árvore, e impedindo-vos de a ver tal qual é realmente? Experimentai, para verdes o que realmente acontece, quando observais a árvore com todo o vosso ser, com a totalidade de vossa energia. Nessa intensidade, vereis que não há observador nenhum; só há atenção. Só quando há desatenção existe "observador e coisa observada". Quando estais olhando com atenção completa, não há espaço para nenhum conceito, fórmula, lembrança. Importa compreender isso, porque vamos examinar um assunto que requer mui cuidadosa investigação.Só a mente que olha as árvores ou as estrelas com total abandono de si própria, só essa mente sabe o que é a beleza, e quando estamos realmente vendo, achamo-nos num estado de amor. Em geral, conhecemos a beleza pela comparação ou através das criações do homem, o que significa que atribuímos beleza a um certo objecto. Vejo aquilo que considero um belo edifício e aprecio essa beleza por causa de meu conhecimento de arquitectura e pela comparação com outros edifícios que vi. Mas, agora pergunto a mim mesmo: "Existe beleza sem objeto?". Quando há um observador, ou seja o censor, o experimentador, o pensador, não há beleza, porque a beleza é então algo exterior, algo que o observador olha e julga; mas, quando não há observador - e isso requer muita meditação, investigação - há então a beleza sem objecto.A beleza reside no total abandono do observador e da coisa observada, e só pode haver auto-abandono quando há austeridade total, não a austeridade do sacerdote, com sua rudeza, suas sanções, regras e obediência; não a austeridade no vestir, nas ideias, no alimentar-se, no comportamento - porém a austeridade que consiste em ser totalmente simples, que é a humildade completa. Não há então realização, não há escada para galgar, só há o primeiro degrau, e o primeiro degrau é o degrau eterno.Suponhamos, por exemplo, que estejais passeando a sós ou com alguém, e vos calastes. Estais rodeado pela natureza e não se ouve o latido de um cão, o barulho de um carro que passa, nem mesmo o ruflar das asas de um pássaro. Estais em completo silêncio, e silenciosa também está a natureza circundante. Nesse estado de silêncio existente tanto no observador como na coisa observada - quando o observador não está a traduzir em pensamento o que está vendo - nesse silêncio há uma diferente qualidade de beleza. Não existe nem a natureza nem o observador. O que existe é um estado em que a mente está total e completamente só; só - não isolada - só em sua quietude, e essa quietude é beleza. Quando amais, existe algum observador? Só há observador quando o amor é desejo e prazer. Quando o desejo e o prazer não estão relacionados com o amor, então o amor é intenso. Como a beleza, ele é uma coisa totalmente nova em cada dia. Como já disse, ele não tem nem ontem nem amanhã.É só quando vemos sem nenhum preconceito, nenhuma imagem, que somos capazes de estar em direto contato com alguma coisa na vida. Todas as nossas relações baseiam-se, com efeito, em imagens formadas pelo pensamento. Se tenho uma imagem a respeito de vós, e vós tendes uma imagem a respeito de mim, naturalmente não nos vemos um ao outro como realmente somos. O que vemos são as imagens que formamos um do outro, as quais nos impedem o contato, e é por essa razão que nosso relacionamento não funciona bem.Quando digo que vos conheço, quero dizer que vos conheci ontem. Não vos conheço realmente, agora. O que conheço é só a imagem que tenho de vós. Essa imagem é constituída pelo que dissestes em meu louvor ou para me insultardes, pelo que me fizestes; é constituída de todas as lembranças que tenho de vós; e vossa imagem relativa a mim é constituída da mesma maneira, e são essas imagens que estão em relação e nos impedem de comungar realmente um com o outro.Duas pessoas que viveram em comum por muito tempo têm imagens uma da outra, que as impedem de estar em relação. Se compreendemos as relações, podemos cooperar, mas não há possibilidade de cooperação através de imagens, de símbolos, de conceitos, ideologias. Só quando compreendemos a verdadeira e mútua relação entre nós, há possibilidade de amor, mas o amor é negado quando temos imagens. Por conseguinte, importa compreenderdes, não intelectualmente porém realmente, em vossa vida diária, como formastes imagens a respeito de vossa esposa, de vosso marido, de vosso vizinho, de vosso filho, de vossa pátria, vossos políticos, vossos deuses; nada mais tendes senão imagens.Essas imagens criam o espaço (e tempo) entre vós e aquilo que observais, e nesse espaço há conflito. Vamos, pois, agora descobrir juntos se é possível nos livrarmos do espaço que criamos, não só fora de nós, mas também dentro de nós mesmos, o espaço que separa as pessoas em todas as suas relações.Ora, a própria atenção que dais a um problema (questão) constitui a energia que resolve o problema. Quando dispensais toda a atenção - quer dizer, tudo o que tendes - não existe observador nenhum. Há só o estado de atenção, que é energia total, e essa energia total é a forma mais elevada de inteligência. Naturalmente, esse estado da mente deve ser todo de silêncio; e esse silêncio, essa quietude, surge quando há atenção total, e não quietude disciplinada. Esse completo silêncio em que não há observador nem coisa observada é a mais alta forma de uma mente religiosa. Mas o que sucede, nesse estado, não pode ser expresso em palavras, porque o que sei por meio de palavras não é o fa©to. Para descobrirdes por vós mesmo, tendes de passar por esse estado.Cada problema está relacionado com todos os outros problemas e, assim sendo, se puderdes resolver um só problema completamente - não importa qual seja - vereis que sereis capaz de enfrentar e resolver facilmente todos os demais. Naturalmente, estamos falando de problemas psicológicos. Já vimos que um problema só pode existir no tempo, isto é, quando enfrentamos uma dada situação incompletamente. Assim, não só temos de estar cônscios da natureza e estrutura dos problemas e vê-los totalmente, mas também devemos enfrentá-los tão logo surgem e resolvê-los imediatamente, para que não possam enraizar-se na mente. Se deixamos um problema durar um mês, um dia, ou mesmo alguns minutos, ele deforma a mente ( e de seguida uma qualquer parte do corpo!). Assim, será possível enfrentarmos imediatamente um problema, sem nenhuma deformação, e nos livrarmos dele imediata e completamente, sem que fique, na mente, nenhuma memória, nenhuma arranhadura? Essas memórias são as imagens que levamos conosco e são essas imagens que enfrentam essa coisa portentosa que é a vida e, por conseguinte, há contradição e, daí, conflito. A vida é muito real; não é uma abstração; e, quando a enfrentamos(vivemos) com imagens, nascem problemas.Será possível enfrentar cada caso que surge, sem esse intervalo de espaço-tempo, sem esse vão entre a própria pessoa e aquilo de que ela tem medo? Só é possível, quando o observador não tem continuidade, o observador, que é o formador da imagem, o observador que é uma coleção de memórias e idéias, um feixe de abstracções.Quando olhais as estrelas, existis vós, que estais a olhar as estrelas; o céu está todo inundado do brilho das estrelas, o ar é fresco, e lá estais vós, o observador, o experimentador, o pensador, vós, com vosso coração dolorido, vós, o centro, a criar espaço. Jamais compreendereis nada acerca do espaço existente entre vós e as estrelas, entre vós e vossa esposa ou marido ou amigo, porque nunca os olhastes sem a imagem, e essa é a razão por que não sabeis o que é a beleza ou o que é o amor. Falais sobre eles, escreveis a seu respeito, mas jamais os conhecestes, a não ser, talvez, em raros intervalos de total abandono de vós mesmo. Enquanto existir um centro a criar espaço em torno de si, não haverá amor nem beleza. Não havendo nenhum centro e nenhuma circunferência, então há amor. E quando amais, vós sois beleza.Ao olhardes um rosto à vossa frente, estais olhando de um centro, e esse centro cria o espaço entre as pessoas, e é por isso que nossas vidas são tão vazias e insensíveis. Não podeis cultivar o amor ou a beleza e tampouco podeis inventar a verdade; mas, se estiverdes sempre cônscios do que estais fazendo, podereis cultivar o percebimento (ou a percepção) e, graças a esse percebimento, começareis a ver a natureza do prazer, do desejo e do sofrimento, e a total solidão e tédio em que vive o homem; começareis então a descobrir aquela coisa chamada "espaço".Havendo espaço entre vós e o obje©to que estais observando (podemos ir sem ir: em espírito, pelo telemóvel, pela net…e, podemos mesmo ir, a quase toda a parte…) sabereis que não há amor e, sem o amor, por mais que vos esforceis para reformar o mundo ou criar uma nova ordem social, ou por mais que discurseis a respeito de melhorias, só criareis agonia. Portanto, tudo depende de vós. Não há líder, não há instrutor, não há ninguém que possa ensinar-vos o que deveis fazer. Estais só neste mundo insano e brutal (talvez não seja tanto assim, amigo Jidu…).
Observar e Escutar
- A Arte - A Beleza - A Austeridade - As Imagens - Os Problemas - O Espaço
Acabamos de investigar a natureza do amor e alcançamos, creio, um ponto que requer maior penetração, maior percebimento. Descobrimos que, para a maioria, amor significa conforto, segurança, uma garantia de satisfação emocional, contínua, para o resto da vida. Chega então uma pessoa como eu e diz: "Será isso realmente amor?", e vos contesta, e vos pede que olheis para dentro de vós mesmos. Procurais não olhar, porque isso é muito perturbador; seria preferível discutir sobre a alma ou a situação política ou económica. Mas, quando vos vedes encostado a um canto e obrigado a olhar, percebeis que isso que sempre pensastes ser amor não é, de forma nenhuma, amor; é uma satisfação mútua, mútua exploração.Quando digo: "O amor não tem amanhã nem ontem", ou "não existindo centro(ou ego, ou eu) algum, então há amor", isso tem realidade para mim, mas não para vós. Podeis citá-lo e convertê-lo numa fórmula, mas sem qualquer validade. Tendes de ver o fato por vós mesmos, e, para tanto, necessita-se de liberdade para olhar, precisa-se estar livre de toda condenação, de todo juízo, de toda aquiescência ou discordância.Ora, olhar é uma das coisas mais difíceis da vida - ou escutar - olhar e escutar são a mesma coisa. Se vossos olhos estão obcecados por vossas inquietações, não podeis ver a beleza do pôr-do-sol. A maioria de nós perdeu o contacto com a natureza. A civilização tende muito à formação de grandes cidades; estamo-nos tornando cada vez mais gente urbana, vivendo em apartamentos apertados, e tendo muito pouco espaço mesmo para olhar o céu da tarde e da manhã e, por conseguinte, estamos perdendo o contato com a beleza. Não sei se já notastes quão poucos dentre nós olham o nascer ou o pôr-do-sol, ou o luar ou os reflexos da luz na água.Tendo perdido o contacto com a natureza, tendemos naturalmente a desenvolver as aptidões intelectuais. Lemos um grande número de livros, freqüentamos muitos museus e concertos, vemos televisão e temos outros mais entretenimentos. Citamos interminavelmente as idéias de outrem, muito pensamos e falamos sobre arte. Por que razão dependemos tanto da arte? Constitui ela uma forma de fuga, de estímulo? Se estais diretamente em contacto com a natureza; se observais o movimento de uma ave a voar, se vedes a beleza de cada movimento das nuvens, observais as sombras nos montes ou a beleza manifestada no rosto de outra pessoa, achais que tereis vontade de ir a um museu para ver quadros? Talvez, porque não sabeis olhar todas as coisas que vos circundam; talvez seja por essa razão que recorreis a uma certa droga, para estimular--vos a ver melhor.Conta-se uma história acerca de um instrutor religioso que todas as manhãs falava aos seus discípulos. Uma certa manhã, subiu ao palanque e, justamente quando ia começar a falar, um passarinho pousou no peitoril de uma janela e começou a cantar, a cantar, com toda a alma. Depois calou-se e foi-se, a voar. Disse então o instrutor: "Está terminado o sermão desta manhã".Parece-me que uma das nossas maiores dificuldades é vermos, por nós mesmos, com toda a clareza, não só as coisas exteriores, mas também a vida interior. Quando dizemos que vemos uma árvore ou uma flor ou uma pessoa, vemo-la realmente? Ou vemos meramente a imagem que a palavra criou? Isto é, quando olhais uma árvore ou uma nuvem, numa tarde luminosa, vós a vedes realmente, não só com vossos olhos e intelectualmente, porém totalmente, completamente?Já experimentastes alguma vez olhar uma coisa objetiva, uma árvore, por exemplo, sem nenhuma das associações, nenhum dos conhecimentos que a respeito dela adquiristes, sem nenhum preconceito, nenhum juízo, nenhuma palavra a constituir uma cortina entre vós e a árvore, e impedindo-vos de a ver tal qual é realmente? Experimentai, para verdes o que realmente acontece, quando observais a árvore com todo o vosso ser, com a totalidade de vossa energia. Nessa intensidade, vereis que não há observador nenhum; só há atenção. Só quando há desatenção existe "observador e coisa observada". Quando estais olhando com atenção completa, não há espaço para nenhum conceito, fórmula, lembrança. Importa compreender isso, porque vamos examinar um assunto que requer mui cuidadosa investigação.Só a mente que olha as árvores ou as estrelas com total abandono de si própria, só essa mente sabe o que é a beleza, e quando estamos realmente vendo, achamo-nos num estado de amor. Em geral, conhecemos a beleza pela comparação ou através das criações do homem, o que significa que atribuímos beleza a um certo objecto. Vejo aquilo que considero um belo edifício e aprecio essa beleza por causa de meu conhecimento de arquitectura e pela comparação com outros edifícios que vi. Mas, agora pergunto a mim mesmo: "Existe beleza sem objeto?". Quando há um observador, ou seja o censor, o experimentador, o pensador, não há beleza, porque a beleza é então algo exterior, algo que o observador olha e julga; mas, quando não há observador - e isso requer muita meditação, investigação - há então a beleza sem objecto.A beleza reside no total abandono do observador e da coisa observada, e só pode haver auto-abandono quando há austeridade total, não a austeridade do sacerdote, com sua rudeza, suas sanções, regras e obediência; não a austeridade no vestir, nas ideias, no alimentar-se, no comportamento - porém a austeridade que consiste em ser totalmente simples, que é a humildade completa. Não há então realização, não há escada para galgar, só há o primeiro degrau, e o primeiro degrau é o degrau eterno.Suponhamos, por exemplo, que estejais passeando a sós ou com alguém, e vos calastes. Estais rodeado pela natureza e não se ouve o latido de um cão, o barulho de um carro que passa, nem mesmo o ruflar das asas de um pássaro. Estais em completo silêncio, e silenciosa também está a natureza circundante. Nesse estado de silêncio existente tanto no observador como na coisa observada - quando o observador não está a traduzir em pensamento o que está vendo - nesse silêncio há uma diferente qualidade de beleza. Não existe nem a natureza nem o observador. O que existe é um estado em que a mente está total e completamente só; só - não isolada - só em sua quietude, e essa quietude é beleza. Quando amais, existe algum observador? Só há observador quando o amor é desejo e prazer. Quando o desejo e o prazer não estão relacionados com o amor, então o amor é intenso. Como a beleza, ele é uma coisa totalmente nova em cada dia. Como já disse, ele não tem nem ontem nem amanhã.É só quando vemos sem nenhum preconceito, nenhuma imagem, que somos capazes de estar em direto contato com alguma coisa na vida. Todas as nossas relações baseiam-se, com efeito, em imagens formadas pelo pensamento. Se tenho uma imagem a respeito de vós, e vós tendes uma imagem a respeito de mim, naturalmente não nos vemos um ao outro como realmente somos. O que vemos são as imagens que formamos um do outro, as quais nos impedem o contato, e é por essa razão que nosso relacionamento não funciona bem.Quando digo que vos conheço, quero dizer que vos conheci ontem. Não vos conheço realmente, agora. O que conheço é só a imagem que tenho de vós. Essa imagem é constituída pelo que dissestes em meu louvor ou para me insultardes, pelo que me fizestes; é constituída de todas as lembranças que tenho de vós; e vossa imagem relativa a mim é constituída da mesma maneira, e são essas imagens que estão em relação e nos impedem de comungar realmente um com o outro.Duas pessoas que viveram em comum por muito tempo têm imagens uma da outra, que as impedem de estar em relação. Se compreendemos as relações, podemos cooperar, mas não há possibilidade de cooperação através de imagens, de símbolos, de conceitos, ideologias. Só quando compreendemos a verdadeira e mútua relação entre nós, há possibilidade de amor, mas o amor é negado quando temos imagens. Por conseguinte, importa compreenderdes, não intelectualmente porém realmente, em vossa vida diária, como formastes imagens a respeito de vossa esposa, de vosso marido, de vosso vizinho, de vosso filho, de vossa pátria, vossos políticos, vossos deuses; nada mais tendes senão imagens.Essas imagens criam o espaço (e tempo) entre vós e aquilo que observais, e nesse espaço há conflito. Vamos, pois, agora descobrir juntos se é possível nos livrarmos do espaço que criamos, não só fora de nós, mas também dentro de nós mesmos, o espaço que separa as pessoas em todas as suas relações.Ora, a própria atenção que dais a um problema (questão) constitui a energia que resolve o problema. Quando dispensais toda a atenção - quer dizer, tudo o que tendes - não existe observador nenhum. Há só o estado de atenção, que é energia total, e essa energia total é a forma mais elevada de inteligência. Naturalmente, esse estado da mente deve ser todo de silêncio; e esse silêncio, essa quietude, surge quando há atenção total, e não quietude disciplinada. Esse completo silêncio em que não há observador nem coisa observada é a mais alta forma de uma mente religiosa. Mas o que sucede, nesse estado, não pode ser expresso em palavras, porque o que sei por meio de palavras não é o fa©to. Para descobrirdes por vós mesmo, tendes de passar por esse estado.Cada problema está relacionado com todos os outros problemas e, assim sendo, se puderdes resolver um só problema completamente - não importa qual seja - vereis que sereis capaz de enfrentar e resolver facilmente todos os demais. Naturalmente, estamos falando de problemas psicológicos. Já vimos que um problema só pode existir no tempo, isto é, quando enfrentamos uma dada situação incompletamente. Assim, não só temos de estar cônscios da natureza e estrutura dos problemas e vê-los totalmente, mas também devemos enfrentá-los tão logo surgem e resolvê-los imediatamente, para que não possam enraizar-se na mente. Se deixamos um problema durar um mês, um dia, ou mesmo alguns minutos, ele deforma a mente ( e de seguida uma qualquer parte do corpo!). Assim, será possível enfrentarmos imediatamente um problema, sem nenhuma deformação, e nos livrarmos dele imediata e completamente, sem que fique, na mente, nenhuma memória, nenhuma arranhadura? Essas memórias são as imagens que levamos conosco e são essas imagens que enfrentam essa coisa portentosa que é a vida e, por conseguinte, há contradição e, daí, conflito. A vida é muito real; não é uma abstração; e, quando a enfrentamos(vivemos) com imagens, nascem problemas.Será possível enfrentar cada caso que surge, sem esse intervalo de espaço-tempo, sem esse vão entre a própria pessoa e aquilo de que ela tem medo? Só é possível, quando o observador não tem continuidade, o observador, que é o formador da imagem, o observador que é uma coleção de memórias e idéias, um feixe de abstracções.Quando olhais as estrelas, existis vós, que estais a olhar as estrelas; o céu está todo inundado do brilho das estrelas, o ar é fresco, e lá estais vós, o observador, o experimentador, o pensador, vós, com vosso coração dolorido, vós, o centro, a criar espaço. Jamais compreendereis nada acerca do espaço existente entre vós e as estrelas, entre vós e vossa esposa ou marido ou amigo, porque nunca os olhastes sem a imagem, e essa é a razão por que não sabeis o que é a beleza ou o que é o amor. Falais sobre eles, escreveis a seu respeito, mas jamais os conhecestes, a não ser, talvez, em raros intervalos de total abandono de vós mesmo. Enquanto existir um centro a criar espaço em torno de si, não haverá amor nem beleza. Não havendo nenhum centro e nenhuma circunferência, então há amor. E quando amais, vós sois beleza.Ao olhardes um rosto à vossa frente, estais olhando de um centro, e esse centro cria o espaço entre as pessoas, e é por isso que nossas vidas são tão vazias e insensíveis. Não podeis cultivar o amor ou a beleza e tampouco podeis inventar a verdade; mas, se estiverdes sempre cônscios do que estais fazendo, podereis cultivar o percebimento (ou a percepção) e, graças a esse percebimento, começareis a ver a natureza do prazer, do desejo e do sofrimento, e a total solidão e tédio em que vive o homem; começareis então a descobrir aquela coisa chamada "espaço".Havendo espaço entre vós e o obje©to que estais observando (podemos ir sem ir: em espírito, pelo telemóvel, pela net…e, podemos mesmo ir, a quase toda a parte…) sabereis que não há amor e, sem o amor, por mais que vos esforceis para reformar o mundo ou criar uma nova ordem social, ou por mais que discurseis a respeito de melhorias, só criareis agonia. Portanto, tudo depende de vós. Não há líder, não há instrutor, não há ninguém que possa ensinar-vos o que deveis fazer. Estais só neste mundo insano e brutal (talvez não seja tanto assim, amigo Jidu…).
Décima Parte
O Amor
A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança atrai a insegurança. Já encontrastes alguma vez segurança em alguma de vossas relações? Já? A maioria de nós quer a segurança no amar e no ser amado, mas existirá amor quando cada um está a buscar a própria segurança, seu caminho próprio? Nós não somos amados porque não sabemos amar.Que é o amor? Esta palavra está tão carregada e corrompida, que quase não tenho vontade de empregá-la. Todo o mundo fala de amor - toda revista e jornal e todo missionário discorre interminavelmente sobre o amor. Amo a minha pátria, amo o meu rei, amo um certo livro, amo aquela montanha, amo o prazer, amo minha esposa, amo a Deus. O amor é uma idéia? Se é, pode então ser cultivado, nutrido, conservado com carinho, moldado, torcido de todas as maneiras possíveis. Quando dizeis que amais a Deus, que significa isso? Significa que amais uma projeção de vossa própria imaginação, uma projeção de vós mesmo, revestida de certas formas de respeitabilidade, conforme o que pensais ser nobre e sagrado; o dizer "Amo a Deus" é puro contra-senso. Quando adorais a Deus, estais adorando a vós mesmo; e isso não é amor.Incapazes, que somos, de compreender essa coisa humana chamada amor, fugimos para abstrações. O amor pode ser a solução final de todas as dificuldades, problemas e aflições humanas. Assim, como iremos descobrir o que é o amor? Pela simples definição? A Igreja o tem definido de uma maneira, a sociedade de outra, e há também desvios e perversões de toda espécie. A adoração de uma certa pessoa, o amor carnal, a troca de emoções, o companheirismo - será isso o que se entende por amor? Essa foi sempre a norma, o padrão, que se tornou tão pessoal, sensual, limitado, que as religiões declararam que o amor é muito mais do que isso. Naquilo que denominam "amor humano", vêem elas que existe prazer, competição, ciúme, desejo de possuir, de conservar, de controlar, de influir no pensar de outrem e, sabendo da complexidade dessas coisas, dizem as religiões que deve haver outra espécie de amor - divino, belo, imaculado, incorruptível.Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher.Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor} O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor a outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familiar ou não familiar? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção? O amor é prazer e desejo? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos ideias a respeito do amor, ideias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos.Assim, para examinarmos a questão do amor - o que é o amor - devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer coisa em o que deveria ser e o que é, é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressá-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar, rejeitarei tudo o que a Igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda a humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos? Vejo-me confuso, dilacerado pelos meus próprios desejos e, assim, digo entre mim: "Primeiro, dissipa a tua confusão. Talvez tenhas possibilidade de descobrir o que é o amor através do que ele não é".O governo ordena: "Vai e mata, por amor à pátria!" Isso é amor? A religião preceitua: 'Abandona o sexo, pelo amor de Deus". Isso é amor? O amor é desejo? Não digais que não. Para a maioria de nós é; desejo acompanhado de prazer, prazer derivado dos sentidos, pelo apego e o preenchimento sexual. Não sou contrário ao sexo, mas vede o que ele implica. O que o sexo vos dá momentaneamente é o total abandono de vós mesmo, mas, depois, voltais à vossa agitação; por conseguinte, desejais a constante repetição desse estado livre de preocupação, de problema, do "eu". Dizeis que amais vossa esposa. Nesse amor está implicado o prazer sexual, o prazer de terdes uma pessoa em casa para cuidar dos filhos e cozinhar. Dependeis dela; ela vos deu o seu corpo, suas emoções, seus incentivos, um certo sentimento de segurança e bem--estar. Um dia, ela vos abandona; aborrece-se ou foge com outro homem, e eis destruído todo o vosso equilíbrio emocional; essa perturbação, de que não gostais, chama-se ciúme. Nele existe sofrimento, ansiedade, ódio e violência. Por conseguinte, o que realmente estais dizendo é: "Enquanto me pertences, eu te amo; mas, tão logo deixes de pertencer-me, começo a odiar-te. Enquanto posso contar contigo para satisfação de minhas necessidades sociais e outras, amo-te, mas, tão logo deixes de atender a minhas necessidades, não gosto mais de ti". Há, pois, antagonismo entre ambos, há separação, e quando vos sentis separados um do outro, não há amor. Mas, se puderdes viver com vossa esposa sem que o pensamento crie todos esses estados contraditórios, essas intermináveis contendas dentro de vós mesmo, talvez então - talvez - sabereis o que é o amor. Sereis então completamente livres, e ela também; ao passo que, se dela dependeis para os vossos prazeres, sois seu escravo. Portanto, quando uma pessoa ama, deve haver liberdade - a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria.No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender - em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer e o desejo.O amor não é produto do pensamento, que é o passado.O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor.O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.Não sabeis o que significa amar realmente alguém - amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem comparar - não sabeis o que isso significa? Quando há amor, há comparação? Quando amais alguém de todo o coração, com toda a vossa mente, todo o vosso corpo, todo o vosso ser, existe comparação? Quando vos abandonais completamente a esse amor, não existe "o outro".O amor tem responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras? Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigados a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo. Quando há amor, não há dever nem responsabilidade.A maioria dos pais, infelizmente, pensa que são responsáveis por seus filhos, e seu senso de responsabilidade toma a forma de preceituar-lhes o que devem fazer e o que não devem fazer, o que devem ser e o que não devem ser. Querem que os filhos conquistem uma posição segura na sociedade. Aquilo a que chamam responsabilidade faz parte daquela respeitabilidade que eles cultivam; e a mim me parece que, onde há respeitabilidade, não existe ordem; só lhes interessa o tornar-se um perfeito burguês. Preparando os filhos para se adaptarem à sociedade, estão perpetuando a guerra, o conflito e a brutalidade (a guerra, o conflito, a brtalidade...). Pode-se chamar a isso zelo e amor?Zelar, com efeito, é cuidar como se cuida de uma árvore ou de uma planta, regando-a, estudando as suas necessidades, escolhendo o solo mais adequado, tratá-la com carinho e ternura; mas, quando preparais os vossos filhos para se adaptarem à sociedade, os estais preparando para serem mortos. Se amásseis vossos filhos, não haveria guerras.Quando perdeis alguém que amais, verteis lágrimas; essas lágrimas são por vós mesmo ou pelo morto? Estais pranteando a vós mesmo ou ao outro? Já chorastes por outrem? Já chorastes o vosso filho, morto no campo de batalha? Chorastes, decerto, mas essas lágrimas foram produto da autocompaixão ou chorastes porque um ente humano foi morto? Se chorais por autocompaixão, vossas lágrimas nada significam, porque estais interessados em vós mesmo. Se chorais porque vos foi arrebatada uma pessoa em quem "depositastes" muita afeição, não se trata de uma afeição real. Se chorais a morte de vosso irmão, chorai por ele! É muito fácil chorardes por vós mesmos porque ele partiu. Aparentemente, chorais porque vosso coração foi atingido, mas não foi atingido por causa dele; foi atingido pela autocompaixão, e a autocompaixão vos endurece, vos fecha, vos torna embotado e estúpido.Quando chorais por vós mesmos, será isso amor? - chorar porque ficastes sozinho, porque perdestes o vosso poder; queixar-vos de vossa triste sina, de vosso ambiente - sempre vós a verter lágrimas. Se compreenderdes esse fato, e isso significa pôr-vos em contacto com ele tão diretamente como quando tocais uma árvore ou uma coluna ou uma mão, vereis então que o sofrimento é produto do "eu", o sofrimento é criado pelo pensamento, o sofrimento é produto do tempo. Há três anos eu tinha meu irmão; hoje ele é(está) morto e estou sozinho, desolado, não tenho mais a quem recorrer para ter conforto ou companhia, e isso me traz lágrimas aos olhos.Podeis ver tudo isso acontecer dentro de vós mesmos, se o observardes. Podeis vê-lo de maneira plena, completa, num relance, sem precisardes do tempo analítico. Podeis ver num momento toda a estrutura e natureza dessa coisa desvaliosa e insignificante, chamada "eu" - minhas lágrimas, minha família, minha nação, minha crença, minha religião - toda essa fealdade está em vós. Quando a virdes com vosso coração, e não com vossa mente, quando a virdes do fundo de vosso coração, tereis então a chave que acabará com o sofrimento.O sofrimento e o amor não podem coexistir, mas no mundo cristão idealizaram o sofrimento, crucificaram-no para o adorar, dando a entender que ninguém pode escapar ao sofrimento a não ser por aquela única porta; tal é a estrutura de uma sociedade religiosa, exploradora.Assim, ao perguntardes o que é o amor, podeis ter muito medo de ver a resposta. Ela pode significar uma completa reviravolta; poderá dissolver a família; podeis descobrir que não amais vossa esposa ou marido ou filhos (vós os amais?); podeis ter de demolir a casa que construístes; podeis nunca mais voltar ao templo.Mas, se desejais continuar a descobrir, vereis que o medo não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não é amor, a posse e o domínio não são amor, responsabilidade e dever não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de não ser amado não é amor, que o amor não é o oposto do ódio, como também a humildade não é o oposto da vaidade. Dessarte, se fordes capaz de eliminar tudo isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos dias depositada numa folha, então, talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou sequiosamente.Se não tendes(temos) amor - não em pequenas gotas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre. Intelectualmente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar? Poderá uma autoridade, um método, um sistema ensinar-vos a amar? Se alguém vo-lo ensina, isso não é amor. Podeis dizer: "Eu me exercitarei para o amor. Sentar-me-ei todos os dias para refletir sobre ele. Exercitar-me-ei para ser bondoso, delicado e me forçarei a ser atencioso com os outros"? - Achais que podeis disciplinar-vos para amar, que podeis exercer a vontade para amar? Quando exerceis a vontade e a disciplina para amar, o amor vos foge pela janela. Pela prática de um certo método ou sistema de amar, podeis tornar-vos muito hábil, ou mais bondoso, ou entrar num estado de não-violência, mas nada disso tem algo em comum com o amor.Neste mundo tão dividido e árido não há amor, porque o prazer e o desejo têm a máxima importância, e, todavia, sem amor, vossa vida diária é sem significação. Também, não podeis ter o amor se não tendes a beleza. A beleza não é uma certa coisa que vedes - não é uma bela árvore, um belo quadro, um belo edifício ou uma bela mulher; só há beleza quando o vosso coração e a vossa mente sabem o que é o amor. Sem o amor e aquele percebimento da beleza, não há virtude, e sabeis muito bem que tudo o que fizerdes - melhorar a sociedade, alimentar os pobres - só criará mais malefício, porque, quando não há amor, só há fealdade e pobreza em vosso coração e vossa mente. Mas, quando há amor e beleza, tudo o que se faz é correcto, tudo o que se faz é ordem. Se sabeis amar, podeis fazer o que desejardes, porque o amor resolverá todos os outros problemas.Alcançamos, assim, este ponto: Poderá a mente encontrar o amor sem precisar de disciplina, de pensamento, de coerção, de nenhum livro, instrutor ou guia - encontrá-lo assim como se encontra um belo pôr-de-sol?Uma coisa me parece absolutamente necessária: a paixão sem motivo, a paixão não resultante de compromisso ou ajustamento, a paixão que não é lascívia. O homem que não sabe o que é paixão, jamais conhecerá o amor, porque o amor só pode existir quando a pessoa se desprende totalmente de si própria.A mente que busca não é uma mente apaixonada, e não buscar o amor é a única maneira de encontrá-lo; encontrá-lo inesperadamente e não como resultado de qualquer esforço ou experiência. Esse amor, como vereis, não é do tempo; ele é tanto pessoal como impessoal, tanto um só como multidão. Como uma flor perfumosa(perfumada), podeis aspirar-lhe o perfume, ou passar por ele sem o notardes. Aquela flor é para todos e para aquele que se curva para aspirá-la profundamente e olhá-la com deleite. Quer estejamos muito perto, no jardim, quer muito longe, isso é indiferente à flor, porque ela está cheia de seu perfume e pronta a reparti-lo com todos.O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de toda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito.Podeis perguntar: "Se encontro esse amor, que será de minha mulher, de minha família? Eles precisam de segurança". Fazendo essa pergunta, mostrais que nunca estivestes fora do campo do pensamento, fora do campo da consciência. Quando tiverdes alguma vez estado fora desse campo(do pensamento), nunca fareis uma tal pergunta, porque sabereis o que é o amor em que não há pensamento e, por conseguinte, não há o tempo. Podeis ler tudo isto hipnotizado e encantado, mas ultrapassar realmente o pensamento e o tempo - o que significa transcender o sofrimento - é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada "amor".Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa - e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há, então, o amor.
O Amor
A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança atrai a insegurança. Já encontrastes alguma vez segurança em alguma de vossas relações? Já? A maioria de nós quer a segurança no amar e no ser amado, mas existirá amor quando cada um está a buscar a própria segurança, seu caminho próprio? Nós não somos amados porque não sabemos amar.Que é o amor? Esta palavra está tão carregada e corrompida, que quase não tenho vontade de empregá-la. Todo o mundo fala de amor - toda revista e jornal e todo missionário discorre interminavelmente sobre o amor. Amo a minha pátria, amo o meu rei, amo um certo livro, amo aquela montanha, amo o prazer, amo minha esposa, amo a Deus. O amor é uma idéia? Se é, pode então ser cultivado, nutrido, conservado com carinho, moldado, torcido de todas as maneiras possíveis. Quando dizeis que amais a Deus, que significa isso? Significa que amais uma projeção de vossa própria imaginação, uma projeção de vós mesmo, revestida de certas formas de respeitabilidade, conforme o que pensais ser nobre e sagrado; o dizer "Amo a Deus" é puro contra-senso. Quando adorais a Deus, estais adorando a vós mesmo; e isso não é amor.Incapazes, que somos, de compreender essa coisa humana chamada amor, fugimos para abstrações. O amor pode ser a solução final de todas as dificuldades, problemas e aflições humanas. Assim, como iremos descobrir o que é o amor? Pela simples definição? A Igreja o tem definido de uma maneira, a sociedade de outra, e há também desvios e perversões de toda espécie. A adoração de uma certa pessoa, o amor carnal, a troca de emoções, o companheirismo - será isso o que se entende por amor? Essa foi sempre a norma, o padrão, que se tornou tão pessoal, sensual, limitado, que as religiões declararam que o amor é muito mais do que isso. Naquilo que denominam "amor humano", vêem elas que existe prazer, competição, ciúme, desejo de possuir, de conservar, de controlar, de influir no pensar de outrem e, sabendo da complexidade dessas coisas, dizem as religiões que deve haver outra espécie de amor - divino, belo, imaculado, incorruptível.Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher.Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor} O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor a outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familiar ou não familiar? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção? O amor é prazer e desejo? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos ideias a respeito do amor, ideias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos.Assim, para examinarmos a questão do amor - o que é o amor - devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer coisa em o que deveria ser e o que é, é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressá-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar, rejeitarei tudo o que a Igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda a humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos? Vejo-me confuso, dilacerado pelos meus próprios desejos e, assim, digo entre mim: "Primeiro, dissipa a tua confusão. Talvez tenhas possibilidade de descobrir o que é o amor através do que ele não é".O governo ordena: "Vai e mata, por amor à pátria!" Isso é amor? A religião preceitua: 'Abandona o sexo, pelo amor de Deus". Isso é amor? O amor é desejo? Não digais que não. Para a maioria de nós é; desejo acompanhado de prazer, prazer derivado dos sentidos, pelo apego e o preenchimento sexual. Não sou contrário ao sexo, mas vede o que ele implica. O que o sexo vos dá momentaneamente é o total abandono de vós mesmo, mas, depois, voltais à vossa agitação; por conseguinte, desejais a constante repetição desse estado livre de preocupação, de problema, do "eu". Dizeis que amais vossa esposa. Nesse amor está implicado o prazer sexual, o prazer de terdes uma pessoa em casa para cuidar dos filhos e cozinhar. Dependeis dela; ela vos deu o seu corpo, suas emoções, seus incentivos, um certo sentimento de segurança e bem--estar. Um dia, ela vos abandona; aborrece-se ou foge com outro homem, e eis destruído todo o vosso equilíbrio emocional; essa perturbação, de que não gostais, chama-se ciúme. Nele existe sofrimento, ansiedade, ódio e violência. Por conseguinte, o que realmente estais dizendo é: "Enquanto me pertences, eu te amo; mas, tão logo deixes de pertencer-me, começo a odiar-te. Enquanto posso contar contigo para satisfação de minhas necessidades sociais e outras, amo-te, mas, tão logo deixes de atender a minhas necessidades, não gosto mais de ti". Há, pois, antagonismo entre ambos, há separação, e quando vos sentis separados um do outro, não há amor. Mas, se puderdes viver com vossa esposa sem que o pensamento crie todos esses estados contraditórios, essas intermináveis contendas dentro de vós mesmo, talvez então - talvez - sabereis o que é o amor. Sereis então completamente livres, e ela também; ao passo que, se dela dependeis para os vossos prazeres, sois seu escravo. Portanto, quando uma pessoa ama, deve haver liberdade - a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria.No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender - em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer e o desejo.O amor não é produto do pensamento, que é o passado.O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor.O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.Não sabeis o que significa amar realmente alguém - amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem comparar - não sabeis o que isso significa? Quando há amor, há comparação? Quando amais alguém de todo o coração, com toda a vossa mente, todo o vosso corpo, todo o vosso ser, existe comparação? Quando vos abandonais completamente a esse amor, não existe "o outro".O amor tem responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras? Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigados a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo. Quando há amor, não há dever nem responsabilidade.A maioria dos pais, infelizmente, pensa que são responsáveis por seus filhos, e seu senso de responsabilidade toma a forma de preceituar-lhes o que devem fazer e o que não devem fazer, o que devem ser e o que não devem ser. Querem que os filhos conquistem uma posição segura na sociedade. Aquilo a que chamam responsabilidade faz parte daquela respeitabilidade que eles cultivam; e a mim me parece que, onde há respeitabilidade, não existe ordem; só lhes interessa o tornar-se um perfeito burguês. Preparando os filhos para se adaptarem à sociedade, estão perpetuando a guerra, o conflito e a brutalidade (a guerra, o conflito, a brtalidade...). Pode-se chamar a isso zelo e amor?Zelar, com efeito, é cuidar como se cuida de uma árvore ou de uma planta, regando-a, estudando as suas necessidades, escolhendo o solo mais adequado, tratá-la com carinho e ternura; mas, quando preparais os vossos filhos para se adaptarem à sociedade, os estais preparando para serem mortos. Se amásseis vossos filhos, não haveria guerras.Quando perdeis alguém que amais, verteis lágrimas; essas lágrimas são por vós mesmo ou pelo morto? Estais pranteando a vós mesmo ou ao outro? Já chorastes por outrem? Já chorastes o vosso filho, morto no campo de batalha? Chorastes, decerto, mas essas lágrimas foram produto da autocompaixão ou chorastes porque um ente humano foi morto? Se chorais por autocompaixão, vossas lágrimas nada significam, porque estais interessados em vós mesmo. Se chorais porque vos foi arrebatada uma pessoa em quem "depositastes" muita afeição, não se trata de uma afeição real. Se chorais a morte de vosso irmão, chorai por ele! É muito fácil chorardes por vós mesmos porque ele partiu. Aparentemente, chorais porque vosso coração foi atingido, mas não foi atingido por causa dele; foi atingido pela autocompaixão, e a autocompaixão vos endurece, vos fecha, vos torna embotado e estúpido.Quando chorais por vós mesmos, será isso amor? - chorar porque ficastes sozinho, porque perdestes o vosso poder; queixar-vos de vossa triste sina, de vosso ambiente - sempre vós a verter lágrimas. Se compreenderdes esse fato, e isso significa pôr-vos em contacto com ele tão diretamente como quando tocais uma árvore ou uma coluna ou uma mão, vereis então que o sofrimento é produto do "eu", o sofrimento é criado pelo pensamento, o sofrimento é produto do tempo. Há três anos eu tinha meu irmão; hoje ele é(está) morto e estou sozinho, desolado, não tenho mais a quem recorrer para ter conforto ou companhia, e isso me traz lágrimas aos olhos.Podeis ver tudo isso acontecer dentro de vós mesmos, se o observardes. Podeis vê-lo de maneira plena, completa, num relance, sem precisardes do tempo analítico. Podeis ver num momento toda a estrutura e natureza dessa coisa desvaliosa e insignificante, chamada "eu" - minhas lágrimas, minha família, minha nação, minha crença, minha religião - toda essa fealdade está em vós. Quando a virdes com vosso coração, e não com vossa mente, quando a virdes do fundo de vosso coração, tereis então a chave que acabará com o sofrimento.O sofrimento e o amor não podem coexistir, mas no mundo cristão idealizaram o sofrimento, crucificaram-no para o adorar, dando a entender que ninguém pode escapar ao sofrimento a não ser por aquela única porta; tal é a estrutura de uma sociedade religiosa, exploradora.Assim, ao perguntardes o que é o amor, podeis ter muito medo de ver a resposta. Ela pode significar uma completa reviravolta; poderá dissolver a família; podeis descobrir que não amais vossa esposa ou marido ou filhos (vós os amais?); podeis ter de demolir a casa que construístes; podeis nunca mais voltar ao templo.Mas, se desejais continuar a descobrir, vereis que o medo não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não é amor, a posse e o domínio não são amor, responsabilidade e dever não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de não ser amado não é amor, que o amor não é o oposto do ódio, como também a humildade não é o oposto da vaidade. Dessarte, se fordes capaz de eliminar tudo isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos dias depositada numa folha, então, talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou sequiosamente.Se não tendes(temos) amor - não em pequenas gotas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre. Intelectualmente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar? Poderá uma autoridade, um método, um sistema ensinar-vos a amar? Se alguém vo-lo ensina, isso não é amor. Podeis dizer: "Eu me exercitarei para o amor. Sentar-me-ei todos os dias para refletir sobre ele. Exercitar-me-ei para ser bondoso, delicado e me forçarei a ser atencioso com os outros"? - Achais que podeis disciplinar-vos para amar, que podeis exercer a vontade para amar? Quando exerceis a vontade e a disciplina para amar, o amor vos foge pela janela. Pela prática de um certo método ou sistema de amar, podeis tornar-vos muito hábil, ou mais bondoso, ou entrar num estado de não-violência, mas nada disso tem algo em comum com o amor.Neste mundo tão dividido e árido não há amor, porque o prazer e o desejo têm a máxima importância, e, todavia, sem amor, vossa vida diária é sem significação. Também, não podeis ter o amor se não tendes a beleza. A beleza não é uma certa coisa que vedes - não é uma bela árvore, um belo quadro, um belo edifício ou uma bela mulher; só há beleza quando o vosso coração e a vossa mente sabem o que é o amor. Sem o amor e aquele percebimento da beleza, não há virtude, e sabeis muito bem que tudo o que fizerdes - melhorar a sociedade, alimentar os pobres - só criará mais malefício, porque, quando não há amor, só há fealdade e pobreza em vosso coração e vossa mente. Mas, quando há amor e beleza, tudo o que se faz é correcto, tudo o que se faz é ordem. Se sabeis amar, podeis fazer o que desejardes, porque o amor resolverá todos os outros problemas.Alcançamos, assim, este ponto: Poderá a mente encontrar o amor sem precisar de disciplina, de pensamento, de coerção, de nenhum livro, instrutor ou guia - encontrá-lo assim como se encontra um belo pôr-de-sol?Uma coisa me parece absolutamente necessária: a paixão sem motivo, a paixão não resultante de compromisso ou ajustamento, a paixão que não é lascívia. O homem que não sabe o que é paixão, jamais conhecerá o amor, porque o amor só pode existir quando a pessoa se desprende totalmente de si própria.A mente que busca não é uma mente apaixonada, e não buscar o amor é a única maneira de encontrá-lo; encontrá-lo inesperadamente e não como resultado de qualquer esforço ou experiência. Esse amor, como vereis, não é do tempo; ele é tanto pessoal como impessoal, tanto um só como multidão. Como uma flor perfumosa(perfumada), podeis aspirar-lhe o perfume, ou passar por ele sem o notardes. Aquela flor é para todos e para aquele que se curva para aspirá-la profundamente e olhá-la com deleite. Quer estejamos muito perto, no jardim, quer muito longe, isso é indiferente à flor, porque ela está cheia de seu perfume e pronta a reparti-lo com todos.O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de toda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito.Podeis perguntar: "Se encontro esse amor, que será de minha mulher, de minha família? Eles precisam de segurança". Fazendo essa pergunta, mostrais que nunca estivestes fora do campo do pensamento, fora do campo da consciência. Quando tiverdes alguma vez estado fora desse campo(do pensamento), nunca fareis uma tal pergunta, porque sabereis o que é o amor em que não há pensamento e, por conseguinte, não há o tempo. Podeis ler tudo isto hipnotizado e encantado, mas ultrapassar realmente o pensamento e o tempo - o que significa transcender o sofrimento - é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada "amor".Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa - e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há, então, o amor.
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