Friday, September 26, 2008

Sabedoria
" A mente racional pode ser um instrumento útil e extraordinário, mas também muito limitativo quando se apodera completamente da vida e o impede de ver que a mente não passa de um aspecto bastante diminuto da consciência que nós somos. A sabedoria não é um produto do pensamento. A sabedoria é o conhecimento profundo que advém do simples gesto de se dar toda a atenção a alguém ou a alguma coisa. A atenção é a inteligência primordial, a própria consciência. Derruba as barreiras criadas pelo pensamento conceptual e, assim, surge o reconhecimento de que nada existe em si e por si mesmo. Reúne aquele que percebe e aquilo(aquela) que é percebido, o sujeito e o objecto do conhecimento, num campo unificado de consciência, curando essa separação.Sempre que nos enredamos em pensamentos compulsivos, estamos a evitar aquilo que é, a realidade tal como ela é. Não queremos estar onde estamos. Aqui, Agora.Os dogmas - religiosos, políticos ou científicos - surgem da crença errada de que o pensamento pode enclausurar a realidade ou a verdade. Os dogmas são prisões conceptuais colectivas. E o mais estranho é que as pessoas adoram as suas celas, porque elas lhe oferecem uma sensação de segurança e uma falsa impressão de que 'sabem'.Não há nada que tenha infligido mais sofrimento à humanidade do que os dogmas (verdades consideradas absolutas e imutáveis). É verdade que, mais tarde ou mais cedo, acabam todos por se desmoronar, porque, nalgum momento, a realidade irá desmascarar a sua falsidade; contudo, os dogmas acabarão por ser substituídos por outros, a não ser que sejam vistos como o erro básico que são.Qual é o erro básico? A identificação com o pensamento racional.O despertar espiritual é o acordar da sonho da racionalidade.O domínio da consciência é muito mais vasto do que aquilo que o pensamento poderá alcançar. Quando deixar de acreditar em todos os seus pensamentos, sairá dessa esfera de racionalidade e perceberá inequivocamente que aquele ser que pensa não corresponde à sua verdadeira identidade.Para a mente nada é suficiente e, por isso, ela encontra-se sempre ávida de mais alguma coisa. Quando nos identificamos com a mente, ficamos entediados ou irrequietos com muita facilidade. O tédio significa que a mente está faminta de mais estímulos, de mais alimento para o pensamento, e que a sua fome não está a ser saciada.Quando se sentir aborrecido(a) poderá satisfazer o apetite da sua mente pegando numa revista, fazendo um telefonema, ligando a televisão, navegando na net, indo às compras, ou - o que não é invulgar, transferindo para o corpo essa impressão mental de carência e de necessidade de MAIS, e satisfazendo-as momentaneamente ingerindo mais comida.Ou, então, poderá continuar entediada(o) e irrequieto, e ver qual é a sensação de se estar assim. Logo que tomar consciência desses sentimentos, passará a haver subitamente algum espaço e serenidade em redor deles, por assim dizer. Apenas um pouco no princípio, mas, à medida que a sensação de espaço interor cresce, o enfadamento começará a perder intensidade e importância. Deste modo, até mesmo o tédio poderá ajudá-lo a saber qual é a sua verdadeira identidade e qual não é. (não é portanto bem: 'penso, logo existo', mas muito mais: 'penso, sinto, vejo, ouço, saboreio, cheiro..., logo existo' ). O tédio é simplesmente um impulso condiconado de energia dentro de si. Não é uma pessoa zangada, nem triste, nem amedrontada. O tédio, a raiva, a tristeza ou o medo não nos pertecem, não são nossos exclusivos. São caraterísticas da mente humana. Vão e vêm...."
In: pgs. 27 a 31 de: A VOZ DA SERENIDADE, de Echart Tolle, da Pergaminho, Lisboa

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