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DAFUNDO
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Restrinja vida, Dafundo,
A este momento: quando
Mais restrito, mais profundo;
Livre-se do negro manto.
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Desfrute da aventura
Do(e) Agora e da força
Da multidão: ela cura
E avança; vá lá, torça!
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Vá, perca-se no momento!
A fim de se encontrar
Não precisa do lamento,
Nem sequer de viajar.
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Não queiras acumular
Mais do que convém à Obra
De todo, tudo renovar
Com agora que se desdobra.
JMM
Introdução
Desde a sua primeira publicação em 1997, The Power of
Now (O Poder do Agora, Editora Pergaminho, 2001) já teve um
impacto na consciência colectiva do planeta que ultrapassa
em muito tudo o que eu pudesse ter imaginado. Foi traduzido
para quinze línguas e todos os dias recebo correio de
todas as partes do globo terrestre de leitores que me contam
que as suas vidas foram modificadas quando entraram em
contacto com os ensinamentos expressos no livro.
Apesar de os efeitos da loucura da mente egocêntrica serem
ainda visíveis por toda a parte, algo de novo está de facto a
despontar. Nunca antes tantas pessoas estiveram dispostas a
escapar aos padrões mentais colectivos que desde tempos
imemoriais mantêm a humanidade presa ao sofrimento. Um
novo estado de consciência está a despertar. Já sofremos o
suficiente! Esse novo estado surge no leitor até mesmo nes-
te preciso momento, enquanto segura nas mãos este livro e
lê estas linhas que falam da possibilidade de viver uma vida
livre, em que já não cause sofrimento a si e aos outros.
Muitos dos leitores que me escreveram expressaram o desejo de ver os aspectos práticos dos ensinamentos contidos em O Poder do Agora apresentados num formato de acesso mais imediato, para os usarem na sua prática diária. Esse pedido desencadeou a concepção deste livro.
No entanto, para além dos exercícios e das práticas, este
livro contém ainda algumas passagens mais curtas da obra
original, que podem servir para recordar determinados conceitos
e ideias, podendo por isso tornar-se um livro de instruções
que incorpore esses conceitos no dia-a-dia.
Muitas das referidas passagens são particularmente adequadas
à leitura meditativa. Quando se põe em prática este
tipo de leitura, não se lê com o intuito de recolher novas
informações, mas sim de entrar num estado de consciência
diferente enquanto se está a ler. É por este motivo que se
pode voltar a ler a mesma passagem muitas vezes e de cada
uma delas essa mensagem lhe parecer original e singular. Só
palavras que foram escritas ou ditas num estado de presença
possuem este poder transformador, que é o poder de
despertar a presença no leitor.
Recomenda-se a leitura lenta destas passagens. Com frequência,
o leitor pode querer fazer uma pausa e permitir-se
um instante de reflexão tranquila ou de silêncio. Outras vezes
pode limitar-se a abrir o livro ao acaso e ler algumas
linhas.
O presente livro pode ainda servir de introdução para os
leitores que se sentiram amedrontados ou confusos com
O Poder do Agora.
Eckhart Tolle,
9 de Julho de 2001
Parte Um
Aceder ao Poder do Agora
Quando a sua consdênda
está direccionada para o exterior,
a mente e o mundo despertam.
Quando está direccionada para o interior,
apercebe-se da sua própria Origem
e regressa a casa) ao Não Manifesto
CAPiTULO 1
O Ser e o Iluminado
Há uma Vida Única eterna e sempre presente para além
da miríade de formas de vida que estão sujeitas ao
nascimento e à morte. Muitas pessoas recorrem à palavra
Deus para a descrever. Eu chamo-lhe muitas vezes Ser.
A palavra Ser não explica nada, mas o mesmo acontece com
a palavra Deus. No entanto, Ser tem a vantagem de se apresentar
como um conceito aberto. Não reduz o invisível infinito
a uma entidade visível. É impossível formar uma imagem
mental da palavra. Ninguém pode reclamar a posse exclusiva
do Ser. Ele é a própria presença do leitor e torna-se-lhe
acessível enquanto sensação da sua própria presença. Assim,
existe apenas uma pequena distância entre a palavra
Ser e a experiência de Ser.
O SER NÃO ESTÁ APENAS ALÉM, MAS ESTÁ TAMBÉM NA
PROFUNDIDADE INTERIOR de todas as formas como a
essência invisível mais secreta e indestrutível das mesmas.
Esta realidade significa que ele está acessível ao
leitor neste exacto momento na qualidade do seu pró-
prio ser mais profundo, da sua verdadeira natureza.
Contudo, não procure compreendê-lo com a mente,
leitor. Não tente entendê-lo.
O leitor só pode conhecer o Ser quando a sua mente
está tranquila. Quando o leitor está presente, quando
a sua atenção está intensa e completamente concentrada
no Agora, pode sentir o Ser, embora nunca o
possa entender em termos mentais.
Recuperar a consciência do Ser e permanecer nesse estado
de «sentir-realização» é iluminação.
A palavra iluminação evoca a ideia de alguma espécie de
feito sobre-humano e o ego gosta de manter as coisas a esse
nível, embora esse seja apenas o estado natural de unidade
com o Ser. É um estado de conexão com algo imensurável
e indestrutível, algo que, quase de forma paradoxal, é essencialmente
o leitor e, apesar disso, é muito superior a si.
É encontrar a sua verdadeira natureza para além do nome e
da forma.
A incapacidade de sentir esta conexão dá azo à ilusão do
afastamento, face a si mesmo e ao mundo que o rodeia.
Nesse momento, a pessoa vê-se a si própria, de maneira consciente
ou inconsciente, como um fragmento isolado. Surge
então o medo e os conflitos interiores e exteriores tornam-
-se uma regra.
O maior obstáculo à experimentação da realidade da ligação
do leitor é a sua identificação com a mente, que faz
com que o pensamento se torne compulsivo. Não ser capaz
de parar de pensar é um padecimento terrível, porém não
nos apercebemos deste facto porque quase toda a gente sofre
dessa mesma maleita, sendo que por isso é considerado normal.
Este ruído mental incessante impede o leitor de encontrar esse reino de calma interior que é inseparável do Ser. Gera um eu falso engendrado pela mente que lança uma sombra de medo e sofrimento.
A identificação do leitor com a sua mente cria uma divisória
opaca de conceitos, rótulos, imagens, palavras, juízos
e definições, que bloqueia todo o relacionamento verdadeiro.
Interpõe-se entre o próprio leitor, entre o leitor e o próximo,
entre o leitor e a sua natureza, entre o leitor e Deus.
É esta divisória de pensamento que gera a ilusão de afastamento,
a ilusão de que há o leitor e um «outro» completamente
distinto. Nessa altura, o leitor esquece o facto essencial
de que, sob o nível da aparência física e das formas
separadas, o leitor é uno com tudo o que existe.
A mente é um instrumento maravilhoso se usado adequadamente.
No entanto, quando utilizada de forma errada,
torna-se muito destrutiva. Para ser mais preciso, não se
trata tanto de o leitor usar a mente de maneira errada: em
geral, o leitor nem sequer a utiliza. Ela é que o usa a si. É
esta a doença. O leitor acredita que é a sua mente. É esse o
engano. O instrumento apoderou-se de si.
É quase como se o leitor estivesse possuído sem saber
que o estava e, por esse motivo, tomasse a possessão como
sendo você mesmo.
O INÍCIO DA LIBERDADE é a percepção de que o leitor
não é a entidade que possui - o pensador. Sabê-lo
permite-lhe observar a entidade. Na altura em que o
leitor começar a observar o pensador, desperta um
nível superior de consciência.
Nesse momento, o leitor começa a aperceber-se de que
existe um vasto mundo de inteligência para além do pensamento, que este é apenas um aspecto ínfimo dessa inteligência. Apercebe-se ainda de que todas as coisas realmente importam (a beleza, o amor, a criatividade, a alegria, a paz interior) nascem além da mente.
O leitor começa a despertar.
LIBERTAR-SE DA MENTE
A boa notícia é que é possível ao leitor libertar-se da sua
mente. É esta a única libertação verdadeira. O leitor Pode
dar o primeiro passo neste exacto momento.
COMECE A OUVIR AVOZ DENTRO DA SUA CABEÇA com tanta
frequência quanto possível. Preste especial atenção a
quaisquer padrões de pensamento repetitivos, às velhas
cassetes que têm passado dentro da sua cabeça,
porventura já há anos.
É a isto que me refiro quando digo «observar o pensador
», que é outra forma de dizer: ouvir a voz dentro da
sua cabeça, estar lá como a presença que testemunha.
Quando o leitor escutar essa voz, faça-o com imparcialidade,
ou seja, não emita juízos. Não julgue nem condene
aquilo que ouve, pois fazê-lo implica que a mesma
voz voltou a entrar pela porta dos fundos. Em breve
perceberá: ali está a voz e aqui estou eu a observá-la.
Esta percepção aqui estou, esta sensação da sua própria
presença não é um pensamento. Surge além da mente.
Assim, quando a pessoa escuta um pensamento, está
consciente não só deste, mas também de si própria como testemunha do pensamento. Introduziu-se uma nova dimensão da consciência.
ENQUANTO O LEITOR OUVE O PENSAMENTO, sente uma
Presença consciente (o seu eu mais profundo) por trás do pensamento ou sob o mesmo, por assim dizer. Nesse momento, o pensamento perde o poder que tem sobre si e depressa abranda, porque o leitor já não está a transmitir energia à mente ao identificar-se com ela. Trata-se do início do fim do pensamento involuntário e compulsivo.
Quando um pensamento se aquieta, a pessoa experiência uma
descontinuidade da corrente mental, um hiato de
«ausência de mente».No início, os hiatos serão pequenos, talvez apenas de alguns segundos, mas a pouco e pouco tornar-se-ão mais longos. Quando
estes hiatos ocorrem, a pessoa sente uma certa tranquilidade e
paz interior. É este o início do seu estado natural de união sentida com o Ser, que em geral é obscurecido pela mente.
Com a prática, a sensação de tranquilidade e paz aprofundar-
se-á. De facto, não há fim para a sua profundidade.
O leitor sentirá ainda uma emanação subtil de alegria
que nasce da profundidade do ser: a alegria de Ser.
Neste estado de conexão interior, a pessoa está muito
mais alerta, mais desperta do que no estado de identificação
com a mente. Está totalmente presente. Este estado faz também
aumentar a frequência vibratória do campo de energia
que dá vida ao corpo físico.
Conforme se entra com mais profundidade neste reino
de ausência de mente, como por vezes lhe chamam no Oriente, a pessoa apercebe-se do estado puro de consciência.
Nesse estado, sente-se a própria presença com tal intensidade
e tal alegria que todo o pensamento, todas as emoções, assim
como todo o mundo exterior, se tornam relativamente
insignificantes em comparação. E, no entanto, este não é
um estado egoísta, mas sim de abnegação. Conduz a pessoa
para além daquilo que antes considerava o «seu ser».Essa
presença é, em essência, o leitor e, ao mesmo tempo, é inconcebivelmente
maior que você.
EM VEZ DE «OBSERVAR O PENSADOR», o leitor também
pode criar um hiato na corrente do pensamento, dirigindo
simplesmente o foco da sua atenção para o Presente.
Basta tornar-se intensamente consciente do momento
Presente(não é tanto os acontecimentos a ocorrer, como o Espaço onde ocorrem!).
É algo que dá uma satisfação profunda. Deste modo, o
leitor afasta a consciência da actividade mental e cria um hiato
de ausência de mente no qual está muitíssimo alerta e consciente,
embora sem pensar. É esta a essência da meditação.
NA SUA VIDA DIÁRIA, o leitor pode pôr esta acção em
prática pegando numa qualquer actividade rotineira,
que, em geral, é somente um meio para um fim, e
prestando-lhe o máximo da sua atenção, de modo a
que ela se torne um fim por si própria. Por exemplo,
cada vez que o leitor subir e descer as escadas em casa
ou no seu local de trabalho, preste muita atenção a
cada passo, a cada movimento, até à sua respiração.
Esteja completamente presente.
Ou quando lavar as mãos, preste atenção a todas as
percepções dadas pelos sentidos que estão associadas
à actividade: o som e o sentir da água, o movimento
das suas mãos, o cheiro do sabonete, etc.
Ou quando entrar no seu carro, depois de fechar a
porta, pare por alguns segundos para observar o fluir
da sua respiração. Torne-se consciente de uma sensação
de presença silenciosa, embora também poderosa.
Há um determinado critério, segundo o qual é possível
medir o nível de sucesso que o leitor tem nesta
prática: o nível de paz que sente interiormente.
O único passo mais vital da sua viagem para a iluminação
é este: aprenda a não se identificar com a sua mente.
Cada vez que criar um hiato na corrente do pensamento, a
luz da sua consciência torna-se mais forte.
Um dia, o leitor pode dar por si a sorrir por causa da voz
que está dentro da sua cabeça, tal como faria com as travessuras
de uma criança. Este facto significa que o leitor já não
leva o conteúdo da sua mente tão a sério, na medida em que
a sua noção do eu não depende disso.
ILUMINAÇÃO: ERGUER-SE PARA
ALÉM DO PENSAMENTO
Conforme o leitor vai crescendo, forma uma imagem
mental sobre quem é, com base no condicionamento pessoal
e cultural a que está sujeito. Podemos chamar a este eu
ilusório o ego. Ele consiste em actividade mental e só pode
ser mantido através do pensamento constante. O termo ego
significa coisas diferentes para pessoas diferentes, mas quando eu o utilizo neste livro tem o significado de um falso eu,
criado pela identificação inconsciente com a mente.
Para o ego, o momento presente praticamente não existe.
Só o passado e o futuro são tidos como importantes.
Esta contraposição total da verdade explica o facto de no
modo ego a mente ser tão disfuncional. Preocupa-se sempre
em manter o passado vivo, porque sem ele... quem é
você? Ele projecta-se constantemente no futuro para garantir
a sua sobrevivência contínua e para procurar lá algum
tipo de libertação ou realização. Diz: «Um dia, quando isto,
aquilo ou tal acontecer, vou ficar bem, feliz, em paz.»
Até quando o ego parece estar virado para o presente,
não é o presente que ele vê: o ego interpreta o presente de
forma totalmente errada porque o observa com os olhos
do passado. Ou reduz o presente a um meio para atingir um
fim, um objectivo que se encontra sempre num futuro projectado
na mente. Observe a sua mente e verá que é assim
que funciona.
O momento presente contém a chave da libertação. Porém,
o leitor não pode encontrar o momento presente enquanto
estiver dentro da sua mente.
A iluminação significa erguer-se além do pensamento.
No estado iluminado, o leitor também utiliza a mente pensante
quando é preciso, mas fá-lo de uma maneira muito
mais concentrada e eficaz do que antes. Utiliza-a, geralmente,
para finalidades práticas, mas está livre do diálogo interior
involuntário e a tranquilidade interior existe.
Quando o leitor utiliza a mente, em especial quando uma
solução criativa é necessária, oscila de poucos em poucos
minutos entre o pensamento e a tranquilidade, entre a mente
e a ausência de mente. A ausência de mente é o consciente sem pensamento. Somente desse modo é possível pensar
de forma criativa, porque só dessa forma o pensamento
tem algum poder real. Por si só, quando já não está ligado
ao mundo bem mais vasto do consciente, o pensamento
depressa se torna estéril, alienado e destrutivo.
EMOÇÃO: A REACÇÃO DO CORPO À MENTE
A mente, no sentido em que utilizo a palavra, não é apenas
pensamento. Inclui as emoções, bem como todos os
padrões reactivos inconscientes mentais e emocionais. A emoção surge no lugar em que a mente e o corpo se encontram.
É a reacção do corpo à mente ou, poder-se-ia dizer, um
reflexo da mente no corpo.
Quanto mais o leitor se identificar com o seu pensamento,
com aquilo de que gosta e de que não gosta, com juízos
e interpretações, o que é o mesmo que dizer que quanto
menos presente estiver como observador consciente, mais
forte será a carga de energia emocional, esteja você a par
disso ou não. Se não conseguir sentir as suas emoções, se
estiver afastado delas, acabará por experienciá-las a um nível
puramente físico, como um problema ou sintoma físico.
SE TEM DIFICULDADE EM SENTIR AS SUAS EMOÇÕES, comece
por concentrar a atenção no campo energético
interior do seu corpo. Sinta-o a partir de dentro. Este
posicionamento também vai pôr o leitor em contacto
com as suas emoções.
Se quer, de facto, conhecer a sua mente, o corpo dar-
-lhe-á sempre um reflexo exacto, por isso observe a
emoção, ou antes sinta-a no seu corpo. Se existir um
conflito aparente entre a emoção e o pensamento, este será
a mentira e a emoção a verdade. Não a derradeira verdade sobre quem o leitor é, mas a verdade relativa do
seu estado de espírito na altura.
O leitor pode também não ser capaz de levar a sua
mente inconsciente à consciência, enquanto pensa-
mento, mas ela estará sempre reflectida no corpo enquanto emoção e o leitor pode tornar-se consciente deste facto.
Observar uma emoção desta forma é praticamente o
mesmo que ouvir ou observar um pensamento, o que
descrevi anteriormente. A única diferença é que enquanto
o pensamento está na cabeça da pessoa, a emoção
tem um componente físico forte e, assim, é sentida
fundamentalmente pelo corpo. Depois, pode permitir-
se que a emoção esteja presente sem que seja controlado
por ela. O leitor deixa de ser a emoção e passa
a ser o observador, a presença observadora.
Se praticar este procedimento, tudo o que é inconsciente
dentro de si será trazido para a luz do consciente.
TORNE O FACTO DE PERGUNTAR A SI MESMO «O QUE É
QUE SE PASSA DENTRO DE MIM NESTE MOMENTO?» UM
HÁBITO. A pergunta vai levá-lo na direcção certa. No
entanto, não analise, limite-se a observar. Concentre a
atenção no interior. Sinta a energia da emoção.
Se não estiver presente nenhuma emoção, conduza a sua
atenção até um ponto mais profundo do campo
energético interior do seu corpo. É essa a entrada do Ser.
Cap. 1, de: "A Prática do Poder do Agora", de E. Tolle, da Pergaminho
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