"Conhecermo-nos a nós mesmos é estudarmo-nos a nós mesmos na ação, que é relação. A dificuldade é sermos muito impacientes; queremos chegar muito depressa, queremos atingir um fim, e, assim não temos nem o tempo nem a ocasião para darmos a nós mesmos a oportunidade para nos estudarmos, para nos observarmos. Em vez disso empenhamo-nos em várias atividades - para ganhar a vida, para criar os filhos - ou aceitamos certas responsabilidades em várias organizações; empenhamo-nos tanto de diferentes maneiras que dificilmente temos algum tempo para refletir sobre nós mesmos, para nos observarmos, para nos estudarmos (em todos os sentidos, psicológico, físico e espiritual, digo eu). Deste modo, a responsabilidade da reação (vida) depende, de facto,de nós mesmos, e de mais ninguém. Andar pelo mundo a procurar gurus e os seus sistemas, ler os livros mais recentes sobre este ou aquele assunto, parece-me completamente vazio, completamente fútil, porque podemos andar por toda a Terra, mas temos de voltar a nós mesmos. E, como a generalidade das pessoas está totalmente desatenta em relação a si mesma, é extremamente difícil começar a ver claramente o processo do nosso pensar, sentir e agir.
Quanto mais nos conhecemos a nós mesmos, tanto maior clareza temos. O autoconhecimento é infinito; não chegamos a alcançar qualquer meta, não chegamos a uma conclusão. É um rio sem fim. À medida que o estudamos, e vamos penetrando nele cada vez mais, encontramos a paz. Só quando a mente está tranquila - devido ao autoconhecimento, e não a qualquer disciplina imposta - só então, nessa tranquilidade, nesse silêncio, a Realidade pode surgir. Só então pode haver felicidade profunda, pode haver ação criadora.E parece-me que sem esta compreensão, sem esta experiência, pormo-nos meramente a ler livros, a assistir a conferências, a fazer propaganda, é muito infantil - é apenas uma actividade sem muito sentido. Mas se, pelo contrário, formos capazes de nos compreendermos a nós mesmos, e por isso fazer fazer nascer aquela felicidade criadora, aquele experienciar algo que não pertence à mente, então talvez possa acontecer uma transformação no relacionamento imediato à nossa volta e, portanto, no mundo em que vivemos."
In: pg. 31 de "O Sentido da Liberdade", de J. Krisnamurti, da Editorial Presença
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