Olhar, reagindo,
é não olhar
verdadeiramente,
é faz de conta,
é egoísmo,
é falsidade,
é injustiça,
é fealdade,
próprio do carente
de amor.
Já verdadeiramente
olhar
é com clareza
e com simplicidade
ver,
é olhar abertamente,
com muita atenção,
com muito amor: não
há amor sem muitíssima
atenção, pela visão,
pelo cheiro,pela audição,
pelo saborear,
pelo tocar...
O nome, a descrição
têm a sua importância,
mas, urge experimentar
olhar sem nome,
sem memória descritiva,
ou, talvez nome perguntar...
Thursday, March 31, 2011
Como é estúpido, bobo, o hábito...
Por impedir a observação sem contradição
e sem aceitação, a vivência fundamental,
real!
E, não pode existir atenção
onde há contradição;
e, onde só existe distração
é tudo tão superficial,
nada profundo,
tudo a meio gás,
tudo meio morto,
meio imundo...
Abordemos pois os factos,
por exemplo, a dívida Portuguesa,
a fome em Àfrica, na Índia...
A guerra no Médio Oriente...
de forma direta,sem rodeios,
sem lirismos, sem mistificação,
e, veremos como muito melhoram.
Por impedir a observação sem contradição
e sem aceitação, a vivência fundamental,
real!
E, não pode existir atenção
onde há contradição;
e, onde só existe distração
é tudo tão superficial,
nada profundo,
tudo a meio gás,
tudo meio morto,
meio imundo...
Abordemos pois os factos,
por exemplo, a dívida Portuguesa,
a fome em Àfrica, na Índia...
A guerra no Médio Oriente...
de forma direta,sem rodeios,
sem lirismos, sem mistificação,
e, veremos como muito melhoram.
Wednesday, March 30, 2011
Encarar o que somos,
compreender o que somos,
sem a contradição,
sem o contraditório, não
em relação
ao que deveríamos ser,
mas ao que somos mesmo.
Examinarmos tudo/todos
os que existem sem julgamento,
sem comparação,
sem aceitação,
sem condenação,
o que não
quer dizer
com resignação...
Observação
de tudo e de todos
sem nenhuma reação,
sem qualquer comentário.
nossa recordação de há pouco não
pode destruir a percepção
de agora! (Isto é a essência
do envelhecimento, da monótona repetição,
da não criatividade,
da mediocridade.
O agora é sempre novo, mas,
a memória e o pensamento são
sempre velhos: estar a ver sempre o novo
com os olhos velhos é já ser
velho até mesmo antes de nascer.
E, o importante não somos nós, mas,
verificar que o que escrevemos\dizemos
tem fundamento, é verdadeiro, faz sentido!!
compreender o que somos,
sem a contradição,
sem o contraditório, não
em relação
ao que deveríamos ser,
mas ao que somos mesmo.
Examinarmos tudo/todos
os que existem sem julgamento,
sem comparação,
sem aceitação,
sem condenação,
o que não
quer dizer
com resignação...
Observação
de tudo e de todos
sem nenhuma reação,
sem qualquer comentário.
nossa recordação de há pouco não
pode destruir a percepção
de agora! (Isto é a essência
do envelhecimento, da monótona repetição,
da não criatividade,
da mediocridade.
O agora é sempre novo, mas,
a memória e o pensamento são
sempre velhos: estar a ver sempre o novo
com os olhos velhos é já ser
velho até mesmo antes de nascer.
E, o importante não somos nós, mas,
verificar que o que escrevemos\dizemos
tem fundamento, é verdadeiro, faz sentido!!
Tuesday, March 29, 2011
A vida não é, não tem de ser
a desintegração do conflito,do querer
e não querer seja o que quer que for,
do ser/ter isto e querer ter\ser
aquilo, o que não quer dizer
estagnação.
Não é possível, após termos
criado em nós a contradição
por meio do ideal, do objectivo,
eliminá-la pelo conflito, pela luta,
pelo esforço, pela reação,
pela violência: não
querermos ser
nada, o que não
quer dizer vegetarmos,
e acabarmos de uma só vez
com todos os ideais, é que é mui bom.
E, o detalhe e o todo.
E, só temos de compreender isto, não
de fazermos mais nada, para cessar
a desintegração e se iniciar
a verdadeira vida, sem contradição,
sem reconhecimento, sem tensão,
sempre nova, sem fronteiras,
eterna, activa quanto basta.
a desintegração do conflito,do querer
e não querer seja o que quer que for,
do ser/ter isto e querer ter\ser
aquilo, o que não quer dizer
estagnação.
Não é possível, após termos
criado em nós a contradição
por meio do ideal, do objectivo,
eliminá-la pelo conflito, pela luta,
pelo esforço, pela reação,
pela violência: não
querermos ser
nada, o que não
quer dizer vegetarmos,
e acabarmos de uma só vez
com todos os ideais, é que é mui bom.
E, o detalhe e o todo.
E, só temos de compreender isto, não
de fazermos mais nada, para cessar
a desintegração e se iniciar
a verdadeira vida, sem contradição,
sem reconhecimento, sem tensão,
sempre nova, sem fronteiras,
eterna, activa quanto basta.
Monday, March 28, 2011
Sem fronteiras, sem condicionamentos,
sem limites; sem compulsão
alguma de adquirir, mas não
para receber; sempre em observação
atenta sem jamais buscar,
pedir ou perguntar;
individualmente:
só do indivíduo que compreende, não
das massas, pode a mente
radicalmente
mudar,
uma novíssima corrente
criando
que gerar
vai uma série de ações original:
meia dúzia de indivíduos
levedam todas as massas...
Verdadeiramente
um só indivíduo
compreendendo todo o processo da mente,
é criatividade, liberdade,
amor, não condicionamento
capaz de libertar todas as massas,
pois, quem liberta é a Verdade, Deus,
o (Des)conhecido.
A verdade em si mesma é tudo,
os resultados nada.
E, que interessa se nascemos em conflito ou não?
O importante é o facto do conflito
poder terminar,
pela compreensão.
sem limites; sem compulsão
alguma de adquirir, mas não
para receber; sempre em observação
atenta sem jamais buscar,
pedir ou perguntar;
individualmente:
só do indivíduo que compreende, não
das massas, pode a mente
radicalmente
mudar,
uma novíssima corrente
criando
que gerar
vai uma série de ações original:
meia dúzia de indivíduos
levedam todas as massas...
Verdadeiramente
um só indivíduo
compreendendo todo o processo da mente,
é criatividade, liberdade,
amor, não condicionamento
capaz de libertar todas as massas,
pois, quem liberta é a Verdade, Deus,
o (Des)conhecido.
A verdade em si mesma é tudo,
os resultados nada.
E, que interessa se nascemos em conflito ou não?
O importante é o facto do conflito
poder terminar,
pela compreensão.
Sunday, March 27, 2011
Trans-formação, não simples mudança;
re-volução, não simples modificação;
e, perfeição, ou já nem sabeis bem o quê,
não um dia ou só já talvez noutra vida,
mas, agora, sempre agora.
E, destruição até, ou em particular,
do que não era necessário certamente que perfeição
não é: perfeição
é liberdade e ordem,
pela total compreensão
do todo e das partes, e: cooperação,
não competição; justiça, não
corrupção; plenitude e grande alegria, não
monotonia, tristeza e miséria; coragem, não
medo; verdadeira inteligência, não
estupidez; maturidade e reflexão,
não infantilismo.
E, isto são pistas maleáveis,
adaptáveis, não
um modelo absoluto, rígido, pois,
tudo\todos somos iguais e diferentes,
sempre a mudar e nunca mudando.
E, o espontâneo é o original;
mas, se me dizeis: isto é original,
então já não o é.
E, o importante, que amamos, é
o que é,
o que existe,
mesmo que fraquinho, não
o que devia existir.
Feliz o homem/mulher que descobre
a verdade a cada momento
por ser muito atento,
mui alerta, ou antes, feliz
o homem mui atento
a quem a verdade se revela
a cada momento...
Quietos, pois, e sem desejo
de receber a verdade, Deus, os milhões
ou seja o que que quer que for;
sem nenhuma compulsão
de adquirir, mas não
para receber:
amor, riqueza e verdade não
são compráveis
nem vendáveis.
re-volução, não simples modificação;
e, perfeição, ou já nem sabeis bem o quê,
não um dia ou só já talvez noutra vida,
mas, agora, sempre agora.
E, destruição até, ou em particular,
do que não era necessário certamente que perfeição
não é: perfeição
é liberdade e ordem,
pela total compreensão
do todo e das partes, e: cooperação,
não competição; justiça, não
corrupção; plenitude e grande alegria, não
monotonia, tristeza e miséria; coragem, não
medo; verdadeira inteligência, não
estupidez; maturidade e reflexão,
não infantilismo.
E, isto são pistas maleáveis,
adaptáveis, não
um modelo absoluto, rígido, pois,
tudo\todos somos iguais e diferentes,
sempre a mudar e nunca mudando.
E, o espontâneo é o original;
mas, se me dizeis: isto é original,
então já não o é.
E, o importante, que amamos, é
o que é,
o que existe,
mesmo que fraquinho, não
o que devia existir.
Feliz o homem/mulher que descobre
a verdade a cada momento
por ser muito atento,
mui alerta, ou antes, feliz
o homem mui atento
a quem a verdade se revela
a cada momento...
Quietos, pois, e sem desejo
de receber a verdade, Deus, os milhões
ou seja o que que quer que for;
sem nenhuma compulsão
de adquirir, mas não
para receber:
amor, riqueza e verdade não
são compráveis
nem vendáveis.
Friday, March 25, 2011
Tuesday, March 22, 2011
Sim, a verdade directa,
sem a parafernália
da verbalização,
é que é vida, São...
Enxergar, viver
portanto objectivamente,
sem intermediários,
sem idealização,
sem criação
de ideias,
de símbolos,
ou, de desejos,
sem vontade de ser algo,
de conquistar, de vir a ser,
criativamente.
Pelo esforço nada de novo
se descobre.
sem a parafernália
da verbalização,
é que é vida, São...
Enxergar, viver
portanto objectivamente,
sem intermediários,
sem idealização,
sem criação
de ideias,
de símbolos,
ou, de desejos,
sem vontade de ser algo,
de conquistar, de vir a ser,
criativamente.
Pelo esforço nada de novo
se descobre.
Monday, March 21, 2011
Sunday, March 20, 2011
Saturday, March 19, 2011
Nem ambição,
nem negação da ambição;
nem mal,
nem negação do mal;
e, compreender o mal,
que é o egoísmo, é virtude,
liberdade, e, ordem,
ordem que o mal
não pode fornecer.
Nem exploração, nem enganos,
nem espertezas, nem jogo sujo.
Nem buscando, nem lutando,
nem tentando
atingir resultados.
Enxergando
os factos, bons e maus,
e ficando
livres deles...
E... A possibilidade do contentamento,
da satisfação.
A verdade é sempre nova,
logo, intemporal. O que era verdade
ontem não o é hoje, e, o que é verdade
hoje não o é amanhã: não há verdade
contínua, rígida, inflexível.
Olhar particularmente para o(a) novo(a)
ou para o velho(a) sempre novo(a)
é das coisas mais importantes..
nem negação da ambição;
nem mal,
nem negação do mal;
e, compreender o mal,
que é o egoísmo, é virtude,
liberdade, e, ordem,
ordem que o mal
não pode fornecer.
Nem exploração, nem enganos,
nem espertezas, nem jogo sujo.
Nem buscando, nem lutando,
nem tentando
atingir resultados.
Enxergando
os factos, bons e maus,
e ficando
livres deles...
E... A possibilidade do contentamento,
da satisfação.
A verdade é sempre nova,
logo, intemporal. O que era verdade
ontem não o é hoje, e, o que é verdade
hoje não o é amanhã: não há verdade
contínua, rígida, inflexível.
Olhar particularmente para o(a) novo(a)
ou para o velho(a) sempre novo(a)
é das coisas mais importantes..
Tuesday, March 15, 2011
Sunday, March 13, 2011
Não é enfrentar o presente,
o que é violência: é viver
o agora, ou, sem tempo viver.
E, a vida é um movimento
do todo, com cada ser
nas suas velocidades
e paragens: movimento
é dinheiro, e, dinheiro
é movimento.
Alguns grandes espelhos são,
e, enormes placas indicativas...
Mas, o percurso, a ação,
o tratamento por nós
próprios são.
Compreender e viver
vital e criativamente:
vida é relação,
complementarização,
e, bem estar,
não extinção.
o que é violência: é viver
o agora, ou, sem tempo viver.
E, a vida é um movimento
do todo, com cada ser
nas suas velocidades
e paragens: movimento
é dinheiro, e, dinheiro
é movimento.
Alguns grandes espelhos são,
e, enormes placas indicativas...
Mas, o percurso, a ação,
o tratamento por nós
próprios são.
Compreender e viver
vital e criativamente:
vida é relação,
complementarização,
e, bem estar,
não extinção.
Saturday, March 12, 2011
A questão nem é propriamente
o dinheiro, é o tempo,
que não é um modo de libertação,
como não o é nem o dinheiro,
nem o sexo, nem o mangostão,
nem a destruição, o que sua exclusão
não quer dizer.
A questão também não
é o tempo,é, sempre, sim, a compreensão,
que, com atenção, deixa também de ser questão.
E, a palavra modo nem é a mais correta, pois,não
há um modo, um modelo, de libertação,
já que, só a liberdade, sempre em mutação,
liberta e cura.
Modelo, portanto, só se for "modelo actualizado
a cada momento", novo a cada momento,
se é que podemos assim falar...
E, não esqueçamos:
a descrição não
é o que é descrito, e,
expressões novas são não
só necessárias,
como extraordinárias!
o dinheiro, é o tempo,
que não é um modo de libertação,
como não o é nem o dinheiro,
nem o sexo, nem o mangostão,
nem a destruição, o que sua exclusão
não quer dizer.
A questão também não
é o tempo,é, sempre, sim, a compreensão,
que, com atenção, deixa também de ser questão.
E, a palavra modo nem é a mais correta, pois,não
há um modo, um modelo, de libertação,
já que, só a liberdade, sempre em mutação,
liberta e cura.
Modelo, portanto, só se for "modelo actualizado
a cada momento", novo a cada momento,
se é que podemos assim falar...
E, não esqueçamos:
a descrição não
é o que é descrito, e,
expressões novas são não
só necessárias,
como extraordinárias!
Thursday, March 10, 2011
Wednesday, March 09, 2011
Mas, o prazer por si só não pode ser o guia, a pedra de toque: veja-se, por exemplo, o gozo que pode existir na violência, em não gostar de alguém, em odiar grupos ou raças, em nutrir sentimentos hostis, e, que pode levar ao aniquilamento total (o vencedor não subsiste sozinho).
Contudo, a alegria, a felicidade podem e devem ser a pedra de toque: considere-se a alegria do estado mental em que a violência desaparece completamente, muito diferente do prazer da violência, vivificante, perene, construtiva, harmoniosa, resolutiva, contagiante, sem medo, ao invés de conflituosa, destruidora, manhosa, rancorosa, invejosa e medrosa...
E, algures, há alguém (podemos ser nós) não ávido, não ganancioso, não violento... que pode ser muito bem o que vai ganhar os milhões...
E ainda, quando Caim pergunta: "Como posso viver num mundo cheio de violência?..." está não só tentando justificar o seu assassinato, como, eventualmente, mostrando o medo de alguém lhe fazer o mesmo, o que pode, claro, não ter acontecido (pode ter sido problema ainda maior).
Enfim, a violência não resolve mesmo nada, antes só complica e agrava.
Se ainda somos violentos, na cólera, nos apetites sexuais, alimentares, de poder..., no ódio, no ciúme... como podemos chegar à não violência, à paz? Certamente não lutando arduamente por isto, o que é ainda violência. Certamente compreendendo, no mais fundo de nós mesmos, que a violência, mesmo e em especial a que dá prazer, não leva a lado nenhum a não ser ao lugar da grande e terrível dor.
E, agora sim por fim e claramente, a poesia e a prosa também são UM(a)!
Contudo, a alegria, a felicidade podem e devem ser a pedra de toque: considere-se a alegria do estado mental em que a violência desaparece completamente, muito diferente do prazer da violência, vivificante, perene, construtiva, harmoniosa, resolutiva, contagiante, sem medo, ao invés de conflituosa, destruidora, manhosa, rancorosa, invejosa e medrosa...
E, algures, há alguém (podemos ser nós) não ávido, não ganancioso, não violento... que pode ser muito bem o que vai ganhar os milhões...
E ainda, quando Caim pergunta: "Como posso viver num mundo cheio de violência?..." está não só tentando justificar o seu assassinato, como, eventualmente, mostrando o medo de alguém lhe fazer o mesmo, o que pode, claro, não ter acontecido (pode ter sido problema ainda maior).
Enfim, a violência não resolve mesmo nada, antes só complica e agrava.
Se ainda somos violentos, na cólera, nos apetites sexuais, alimentares, de poder..., no ódio, no ciúme... como podemos chegar à não violência, à paz? Certamente não lutando arduamente por isto, o que é ainda violência. Certamente compreendendo, no mais fundo de nós mesmos, que a violência, mesmo e em especial a que dá prazer, não leva a lado nenhum a não ser ao lugar da grande e terrível dor.
E, agora sim por fim e claramente, a poesia e a prosa também são UM(a)!
Tuesday, March 08, 2011
O todo, que é o sumo bem,
é sem motivo, mesmo o bom motivo,
e sem direção, pois,inclui
todos os motivos e todas as direções.
Oh, beleza da quietude,
beleza do movimento harmonioso,
beleza do som da trompete
que de igual modo não se repete!
Há beleza quando o eu não está,
quando não há eu até o feio é belo;
sem eus é o amor, a beleza, a compaixão,
a origem, o sagrado, o eterno verdadeiros...
é sem motivo, mesmo o bom motivo,
e sem direção, pois,inclui
todos os motivos e todas as direções.
Oh, beleza da quietude,
beleza do movimento harmonioso,
beleza do som da trompete
que de igual modo não se repete!
Há beleza quando o eu não está,
quando não há eu até o feio é belo;
sem eus é o amor, a beleza, a compaixão,
a origem, o sagrado, o eterno verdadeiros...
O som e o significado dos sons;
as palavras e o seu significado
e o seu som; o todo, o agradável;
nosso pescoço não roda trezentos
e sessenta nem trezentos e setenta
graus mas ouvidos ouvem tudo à volta.
A música, o ritmo, o compasso;
o passado, o futuro, o presente, a união...
O mundo, o universo são o mundo e o universo
dos sentidos, e, do verso!
E o carnaval é uma reação
ao fraco espiritual,
atenuando deste o mal,
seguido da pascoal contrareacção...
Carnaval é do ponto a tolerância,
é negócio, é extravagância,
e criatividade,
e, em Espanha,
redução de velocidade.
Carnaval é ver
sem ser visto,
vergonha não ter,
e, prudente ser.
as palavras e o seu significado
e o seu som; o todo, o agradável;
nosso pescoço não roda trezentos
e sessenta nem trezentos e setenta
graus mas ouvidos ouvem tudo à volta.
A música, o ritmo, o compasso;
o passado, o futuro, o presente, a união...
O mundo, o universo são o mundo e o universo
dos sentidos, e, do verso!
E o carnaval é uma reação
ao fraco espiritual,
atenuando deste o mal,
seguido da pascoal contrareacção...
Carnaval é do ponto a tolerância,
é negócio, é extravagância,
e criatividade,
e, em Espanha,
redução de velocidade.
Carnaval é ver
sem ser visto,
vergonha não ter,
e, prudente ser.
Monday, March 07, 2011
A ordem do pensamento é limitada quando o pensamento é contraditório,
quando não somos unos, quando estamos divididos, em confusão.
O amor só não é prazer quando esse prazer é egoísta, e, ninguém separe o que Deus une: corpo e espírito são um, o verdadeiro prazer é espiritual e carnal ao mesmo tempo.
E, claro, só quem ama totalmente pode ter prazer sem medo da dor, pois, não fazendo mal a nenhum ser, antes fazendo bem, contribuindo para a felicidade, prazer ou bem estar de todos os seres e coisas, todos os seres e coisas, elementos da natureza incluídos, deixam de lhe fazer mal.
Que ninguém separe também as chamadas coisas ou seres inanimados das pessoas e demais seres chamados vivos: uns não são sem os outros: vejam-se os casos de terras, céus, carros, culturas, casas, roupas, músicas, escritos, jardins... muito estimados, com grande incorporação de energia, de trabalho, de amor... de tal modo que muitas pessoas e seres se identificam com eles(as), sendo que fazer bem ou mal a tais coisas é fazer bem ou mal a tais seres e pessoas.
E, sem desperdiçarmos energia comparando, mas, sem ignorarmos melhor e pior, bom e mau, observamos, escutamos, experienciamos, e, tudo melhora(mos).
E, ainda até sem às melhores experiências/fatos passados darmos toda a importância, pois, isso impede a grande compreensão/experimentação de novas experiências.
E, se procurar demais o prazer, que é vida, é desequilíbrio, logo não prazer, que é equilíbrio, não o procurar, na medida certa, também o é.
quando não somos unos, quando estamos divididos, em confusão.
O amor só não é prazer quando esse prazer é egoísta, e, ninguém separe o que Deus une: corpo e espírito são um, o verdadeiro prazer é espiritual e carnal ao mesmo tempo.
E, claro, só quem ama totalmente pode ter prazer sem medo da dor, pois, não fazendo mal a nenhum ser, antes fazendo bem, contribuindo para a felicidade, prazer ou bem estar de todos os seres e coisas, todos os seres e coisas, elementos da natureza incluídos, deixam de lhe fazer mal.
Que ninguém separe também as chamadas coisas ou seres inanimados das pessoas e demais seres chamados vivos: uns não são sem os outros: vejam-se os casos de terras, céus, carros, culturas, casas, roupas, músicas, escritos, jardins... muito estimados, com grande incorporação de energia, de trabalho, de amor... de tal modo que muitas pessoas e seres se identificam com eles(as), sendo que fazer bem ou mal a tais coisas é fazer bem ou mal a tais seres e pessoas.
E, sem desperdiçarmos energia comparando, mas, sem ignorarmos melhor e pior, bom e mau, observamos, escutamos, experienciamos, e, tudo melhora(mos).
E, ainda até sem às melhores experiências/fatos passados darmos toda a importância, pois, isso impede a grande compreensão/experimentação de novas experiências.
E, se procurar demais o prazer, que é vida, é desequilíbrio, logo não prazer, que é equilíbrio, não o procurar, na medida certa, também o é.
Sunday, March 06, 2011
Procurarmos, fora ou dentro,
a solução para nossos problemas,
é nunca os resolvermos, pois, só
quem os cria os pode resolver, e, somos nós
que os criamos, nomeadamente
procurando resolver problemas
que não têm solução,
que não são
para resolver,
que não são
problemas.
Procurar é pois desequilíbrio
e engano, procurar
é não encontrar,
o que não que dizer
que não nos possamos encontrar
com seres com a mesma intensidade,
e capacidade, no mesmo nível que nós,
quando o tempo e os problemas acabam
e se forma o indescritível, o intemporal, o imortal,
o imperecível, o divinal
e o êxtase, que não são desejo nem prazer.
a solução para nossos problemas,
é nunca os resolvermos, pois, só
quem os cria os pode resolver, e, somos nós
que os criamos, nomeadamente
procurando resolver problemas
que não têm solução,
que não são
para resolver,
que não são
problemas.
Procurar é pois desequilíbrio
e engano, procurar
é não encontrar,
o que não que dizer
que não nos possamos encontrar
com seres com a mesma intensidade,
e capacidade, no mesmo nível que nós,
quando o tempo e os problemas acabam
e se forma o indescritível, o intemporal, o imortal,
o imperecível, o divinal
e o êxtase, que não são desejo nem prazer.
Thursday, March 03, 2011
Pensamento é, forçosamente, tempo.
A prudência-moderação e a amizade , a afeição e o amor são o bem, o prazer supremo.
E, ideal e prática são um só também.
O êxtase, o prazer supremo, também implicam a ausência total de desejo não natural: tudo o resto, mesmo o prazer, causando sofrimento.
Os desejos naturais são os inerentes à vida, p.e., comer, sexo, beber, evacuar, dormir, não fazer mal a nenhum ser... e, a sua satisfação moderada não causa dor, antes contribui para o êxtase.
Sem apego por nada, sem desejo por nada, não há problema algum, e, há grande êxtase.
Não termos tempo é não termos problemas: ser eterno é ser sem problemas.
A prudência-moderação e a amizade , a afeição e o amor são o bem, o prazer supremo.
E, ideal e prática são um só também.
O êxtase, o prazer supremo, também implicam a ausência total de desejo não natural: tudo o resto, mesmo o prazer, causando sofrimento.
Os desejos naturais são os inerentes à vida, p.e., comer, sexo, beber, evacuar, dormir, não fazer mal a nenhum ser... e, a sua satisfação moderada não causa dor, antes contribui para o êxtase.
Sem apego por nada, sem desejo por nada, não há problema algum, e, há grande êxtase.
Não termos tempo é não termos problemas: ser eterno é ser sem problemas.
Wednesday, March 02, 2011
www.FilosofiaEsoterica.com
Fraternidade universal, cidadania planetária e busca da sabedoria eterna estão entre asideias centrais que inspiram este website. E-mail para contato: lutbr@terra.com.br .
Visite, também, o nosso blog em língua inglesa: www.esoteric-philosophy.com .
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=751
Além da Dor e do Prazer
Como Trilhar o Caminho da
Felicidade Segundo a Filosofia Estóica
Carlos Cardoso Aveline
A primeira nobre verdade do budismo é correta:
“A vida causa sofrimento”.
Porém, quanta dor é necessária para viver?
Esta questão está sempre em aberto, porque depende da atitude de cada um a todo momento. A arte de viver ensina a transmutar a aflição em sabedoria, e torna possível uma satisfação duradoura em relação a si mesmo, aos outros e à vida.
O cidadão comum perde muita energia fugindo da dor ou buscando anestesia psicológica. Rádio, televisão, e outras formas de “diversão” ajudam, literalmente, a “passar o tempo”, como se o tempo não tivesse valor e pudesse ser jogado fora. Formas inúteis de lazer entorpecem o cidadão e desviam sua mente das questões centrais da vida. Mas o velho dilema entre dor e fuga da dor deve ser olhado com calma.
Quando a dor é exagerada e vista como algo central, podemos querer fugir dela por meio de algum dogma ou algum salvador, ou fechar os olhos através do refúgio na comodidade fácil, o que causa mais sofrimento. Podemos desenvolver uma espiritualidade mecânica e supersticiosa, ou cair no outro extremo, optando por um materialismo igualmente destituído de bom senso.
O falso abismo entre prazer e sofrimento faz com que o caminho da sabedoria seja pouco compreendido e que seja encarado de modo contraditório. De um lado, a espiritualidade é descrita como o melhor modo de alcançar a felicidade, a bem-aventurança e o bem-estar permanente. De outro lado, ela é descrita como o caminho da cruz, do sofrimento e do sacrifício.
Onde está a verdade?
O primeiro efeito prático da caminhada espiritual é que começamos a pensar mais profundamente sobre a vida. O nosso discernimento aumenta, e vemos o resultado desagradável dos prazeres promovidos pela sociedade de consumo. Eis alguns exemplos do que percebemos:
* O alcoolismo gera insensibilidade e violência.
* Comer demasiado, ou inadequadamente, é prejudicial.
* A alimentação carnívora não faz bem à saúde.
* Cigarro causa diversas doenças.
* Uma vida emocional impensada tem diversas e graves contra-indicações.
* Os sentimentos de ódio e inveja ameaçam o bem-estar físico, emocional e mental.
* A prática da mentira, seja ela dita para os outros ou para nós próprios (e mesmo que seja bondosa e “espiritual”), acaba gerando um mundo psicológico confuso, sobre o qual nada se pode construir de duradouro.
A ética e a moderação surgem como porto seguro em nossa vida quando temos a coragem necessárias para observar como funciona a lei da causa e do efeito. Mas o que acontece se, ao contrário, alguém vê as recomendações éticas como mandamentos dogmáticos e as obedece de modo mecânico e supersticioso, como se fosse membro de um rebanho de ovelhas e não tivesse direito a decisões próprias? Neste caso a prática da virtude é construída sobre a areia movediça da obediência cega, e pode quebrar-se. Na verdade, o dogma religioso e o ceticismo materialista são as duas caras da moeda falsa da ignorância espiritual.
Quando o indivíduo pensa que o caminho espiritual é feito apenas de perdas dolorosas e não traz consigo uma libertação interior e uma bênção, a experiência espiritual pode terminar em hipocrisia - ou pode levar ao extremo oposto do materialismo igualmente cego.
Em seu livro intitulado “Bem-Aventurados os Que Sofrem”, Paul Carlton trata o sofrimento como um grande mestre do ser humano:
“É o sofrimento que dá a chave dos mistérios da vida, mostrando a necessidade do abandono das paixões materiais, de maneira que o velho homem desapareça e se estabeleça o reino do homem espiritual. É por ele que se obtém a transmutação do vil metal em ouro puro. É graças a ele que se obtém a renúncia à parte inferior, animal e mortal, e que se estabelece o triunfo da parte superior e espiritual do homem”. [1]
Para Carlton, “é somente com renúncias sucessivas que as asas espirituais se desenvolvem e o homem pode voar na claridade do céu”. Carlton cita Santa Teresa, que via o sofrimento como uma bênção. Ela escreveu:
“Eu choro quando penso no tempo em que vivi sem chorar.”
De um certo ponto de vista, aceitar a dor e até mergulhar nela abre as portas para a felicidade. Grandes místicos de diversas religiões seguiram por esse caminho. O segredo está em que, quando aceitamos a dor, ela desaparece. A maior parte do sofrimento humano é, na verdade, psicológico, e surge da nossa luta infantil contra a realidade. A fantasia da resistência aos fatos acaba criando o desespero. Estamos condenados a ser impiedosamente perseguidos por tudo aquilo de que queremos fugir. A dor psicológica é como aquele cachorro que nos persegue latindo com aparência de furioso, mas que, quando paramos e o encaramos, desvia o olhar, disfarça, e afasta-se abanando discretamente o rabo.
Khalil Gibran escreveu que “a dor é o rompimento do invólucro que encerra nossa compreensão”. Para ele, do mesmo modo “que a semente da fruta deve quebrar-se para que seu coração apareça ante o sol”, nós também devemos conhecer a dor. O sofrimento pode ser uma experiência iniciática. Ele amplia nossa visão da vida e nos empurra para a transcendência, fazendo-nos alcançar um novo nível de consciência e de conhecimento. Neste nível, recuperamos a paz e o equilíbrio sobre bases mais sólidas. Diz Gibran:
“Se o seu coração pudesse viver sempre no deslumbramento do milagre cotidiano, sua dor não lhe pareceria menos maravilhosa que sua alegria, e você aceitaria as estações do seu coração como sempre aceitou as estações que passam sobre seus campos. E você contemplaria serenamente os invernos da sua aflição. Grande parte do seu sofrimento é escolhida por você mesmo: é a poção amarga com a qual o médico que está em você cura o seu eu-doente. Confie, portanto, no médico, e beba seu remédio em silêncio e tranquilidade, pois sua mão, embora pesada e dura, é guiada pela suave mão do Invisível, e a taça que ele lhe oferece, embora queime seus lábios, foi confeccionada com lágrimas sagradas.” [2]
A posição de Gibran é sábia. Porém, um exagero na aceitação do sofrimento pode levar por compensação a um salto para o extremo oposto, onde se busca o prazer fugindo infantilmente de toda dor. Por isso é recomendável manter o equilíbrio e a moderação. O pensador grego Epicuro, que viveu entre os anos 341 e 270 antes da era cristã, propôs um caminho de auto-responsabilidade.
Epicuro construiu sua filosofia em torno da idéia do “prazer verdadeiro”, que surge com a renúncia à preguiça e a outros vícios. Para ele, é no ponto intermediário entre a dor e a indulgência que se abre o caminho sólido da sabedoria, fonte da felicidade interior. Epicuro afirmou, em sua Carta a Menequeu:
“Quando dizemos que o prazer é a meta, não nos referimos aos prazeres dos depravados e dos bêbados, como imaginam aqueles que desconhecem nosso pensamento, e sim à ausência de dor na alma. Não são as bebedeiras e as festas ininterruptas que constituem a fonte de uma vida feliz, mas aquela sóbria reflexão que examina a fundo as causas de toda escolha e rejeita as falsas opiniões, responsáveis pelas perturbações que se apoderam da alma. A prudência é o princípio de tudo isso e o bem supremo.”
Durante a maior parte dos últimos 2000 anos, a mente humana oscilou contraditoriamente entre duas atitudes. De um lado, um ideal grandioso de fraternidade e de contato com a consciência divina. De outro lado, uma prática materialista que nada tinha a ver com a teoria. Céu e terra pareciam desconectados.
Estamos acordando agora, finalmente, desse longo sonho em que a consciência crística ou búdica do ser humano permanecia “crucificada” pela vida material, enquanto a figura de Jesus impotente, torturado, agonizando na cruz, ocupava o lugar de maior destaque dos templos.
Resgatar algumas idéias fundamentais da filosofia clássica ocidental é parte significativa desse renascimento. O desafio e o destino dos novos tempos é unir outra vez céu e terra, ou sonho e realidade. Os sábios da Grécia antiga não viam separação entre deuses e homens, ou ideal e prática. Reexaminando do mesmo modo a relação entre prazer e dor, ou felicidade e sofrimento, obtemos chaves úteis para compreender e acelerar a transformação que está ocorrendo na mente humana, enquanto se prepara a sociedade global e solidária do terceiro milênio.
O prazer e a felicidade, para Epicuro, são simplesmente a ausência de dor no corpo e a falta de perturbação na alma. Nesse ponto, a filosofia grega coincide rigorosamente com a Raja Ioga dos Himalaias. Para os iogues, o nirvana - o êxtase final - é apenas a ausência total de desejo. Todo o resto é ilusório e causa sofrimento.
Epicuro distinguia três tipos de prazer:
1- Os prazeres naturais e necessários - por exemplo, comer quando se tem fome, beber quando se tem sede, dormir quando se tem sono.
2- Os prazeres naturais mas não necessários - comer muito bem, beber bebidas sofisticadas e “saborosas” vestir-se com muita elegância, etc.
3- Os prazeres não naturais e não necessários - ligados à opinião dos outros, ou seja, fama, riqueza material, poder, honras e assim por diante. [3]
Cada um de nós, na sua condição de cidadão livre, deve definir o que são no seu caso concreto os prazeres adequados. A filosofia de Epicuro não é um dogma, mas um guia para a ação autônoma do ser humano. Ela dá elementos para que o indivíduo assuma plena responsabilidade sobre sua própria vida, e alcance mais felicidade interior.
Os prazeres do primeiro grupo são os que devem ser satisfeitos sempre. Sua função e seu limite natural é “eliminar a dor”, e não devem ir além desse ponto. O exagero os faria cair no segundo grupo, e neste caso o apego ao prazer passa a gerar sofrimento desnecessário através da perda de bom senso e da moderação. Deve-se, pois, reduzir as satisfações do segundo grupo.
Já os prazeres do terceiro grupo sempre acabam causando sofrimento através de ansiedade, incerteza, vaidade, ambição pessoal e outros sentimentos que são inseparáveis do medo.
Epicuro propõe uma postura madura diante da dor e do prazer, com base na ideia de evitar tanto o apego automático como a rejeição cega. O mesmo ensinamento é encontrado na filosofia estóica. Lúcio Sêneca propôs no império romano um contentamento incondicional que é item prioritário não só para os epicuristas, mas também para os estudantes de ioga, na Índia milenar. Para Sêneca, o supremo prazer “vem do alto”, porque o sábio “vive contente com seus bens, sem cobiçar coisa alguma fora de si”. O prazer autêntico surge do contato direto com nossa própria alma imortal.
Epicteto, um ex-escravo romano que fundou uma escola de filosofia estóica, manteve a tradição socrática e não colocou nada no papel. Mas um discípulo anotou seus discursos e sua sabedoria está hoje à nossa disposição. É com grande simplicidade que Epicteto explica a proposta da moderação como caminho para a real felicidade.
A seguir, sete idéias centrais do seu “Manual Para Viver”:
UM.
Saiba o que você pode controlar, e o que não pode. A felicidade e a liberdade começam com uma clara compreensão de um princípio; algumas coisas estão dentro do nosso controle, e outras não estão. Podemos controlar nossas opiniões, aspirações, desejos e ações, por exemplo. Tentar controlar outras pessoas ou circunstâncias externas é sempre fonte de preocupação, frustração e infelicidade. Devemos cumprir nosso dever e deixar que a realidade seja como é.
DOIS.
Ninguém pode ferir você. Mesmo que alguém agrida você com palavras e o insulte, é sempre sua opção sentir-se insultado ou não pelo que está acontecendo. Se alguém o irrita, na verdade é apenas a sua própria reação que irrita você. Portanto, quando alguém estiver aparentemente provocando sua raiva, lembre-se de que é a sua própria visão do incidente que o está enraivecendo - e não se deixe levar por reações automáticas.
TRÊS.
O progresso espiritual se faz confrontando a morte e a calamidade. Em vez de desviar o olhar dos acontecimentos dolorosos da vida, olhe para eles de frente e examine-os com frequência. Enfrentando as realidades da morte, das perdas e da decepção, você fica livre das ilusões e falsas esperanças e pode usar melhor sua energia vital.
QUATRO.
Dedique sua vida a um ideal digno. Tenha metas pessoais espiritualmente superiores, independentemente do que as outras pessoas pensarem. Permaneça fiel às suas melhores aspirações, seja o que for que estiver ocorrendo ao seu redor.
CINCO.
Saiba que tudo ocorre para o bem. Conforme você pensa, você é - ou se tornará. Evite interpretar os acontecimentos supersticiosamente, dando-lhes significados que não têm. Não chegue a conclusões apressadas. Parta do ponto de vista de que tudo o que lhe ocorre lhe traz algum bem, alguma lição e alguma experiência. Se decidir que terá sorte, a terá. Pense de modo calmo e vitorioso.
SEIS.
Crie o seu próprio mérito. Nunca dependa da admiração dos outros. Isso o enfraquece extremamente. O mérito pessoal nunca pode aumentar por alguma fonte externa. Seja maior do que críticas ou aplausos, mas leve em conta a opinião dos outros para identificar onde é necessário corrigir erros e como pode melhorar ainda mais.
SETE.
Focalize seu principal dever. Há um tempo para descanso e diversão, mas você nunca deve deixá-los prejudicar o seu verdadeiro propósito na vida. Deve escolher formas de lazer e outras atividades secundárias que sejam compatíveis com a missão central que escolheu para realizar. [4]
O caminho dos estóicos adota a mesma ética da filosofia esotérica de Helena P. Blavatsky.
As atividades cujas metas são apenas pessoais e de curto prazo devem ser diminuídas porque, em geral, são ineficazes e provocam sofrimentos adicionais. A verdadeira felicidade está em cumprir nosso dever assim nas vitórias como nas derrotas, tanto nos momentos agradáveis como nos desagradáveis, preservando em todos os casos a paz interior que habita o silêncio.
Como Gibran escreveu, “nossa alegria é nossa tristeza mascarada. Quanto mais profundamente a tristeza cavar suas garras em nosso ser, tanto mais alegria poderemos conter”. E ele acrescentou:
“Alguns dentre vós dizeis: ‘A alegria é maior que a tristeza’, e outros dizem: ‘Não, a tristeza é maior.’ Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis. Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama. Em verdade, estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria. É somente quando estais vazios que estais em equilíbrio.” [5]
Evitar a euforia e o desânimo, trilhando o caminho da paz interior, é próprio de seres maduros.
A verdadeira sabedoria não se separa da arte de viver com simplicidade. Apontando na mesma direção, o antigo sábio chinês Lao-tzu, o fundador do taoísmo, afirma na obra “Wen-Tzu”:
“O caminho do céu é reverter depois que se atinge um clímax e diminuir ao atingir a plenitude; isso é ilustrado pelo sol e pela lua. Por isso os sábios se diminuem diariamente, esvaziam os seus estados de espírito e não ousam ficar satisfeitos consigo mesmos; eles progridem diariamente fazendo concessões, assim sua virtude não se desvanece. É assim que funciona o caminho do céu.” [6]
NOTAS:
[1] “Bem-Aventurados os Que Sofrem”, Paul Carlton, Organização Simões, RJ, 1953, p. 28.
[2] “O Profeta”, de Gibran Khalil Gibran, Ed. Acigi, RJ, trad. de Mansour Challita, pp. 49-50.
[3] Da seção “Antologia”, incluída na obra “Epicuro – As Luzes da Ética”, de João Quartim de Moraes, ed. Moderna, SP, p. 93.
[4] “The Art of Living”, Epictetus, a new interpretation by Sharon Lebell, Harper SanFrancisco, Harper-Collins, 1995, EUA, 114 pp., ver pp. 3, 27, 28, 29, 25, 12 e 14, respectivamente.
[5] “O Profeta”, obra citada, pp. 27 e 28.
[6] “Wen-tzu – A Compreensão dos Mistérios”, Ensinamentos de Lao-Tzu, Tradução do chinês, Thomas Cleary, Ed. Teosófica, Brasília, 2002, 198 pp., ver p. 60.
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O texto acima é uma versão - atualizada pelo autor - do artigo publicado sob o mesmo título na revista “Planeta” em junho de 2000.
Sobre o tema de como enfrentar o sofrimento, veja também o texto “As Horas Difíceis”, de Carlos Cardoso Aveline, que pode ser localizado pela Lista de Textos Por Autor no website www.filosofiaesoterica.com .
Para um estudo regular da teosofia ou sabedoria divina, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
Fraternidade universal, cidadania planetária e busca da sabedoria eterna estão entre asideias centrais que inspiram este website. E-mail para contato: lutbr@terra.com.br .
Visite, também, o nosso blog em língua inglesa: www.esoteric-philosophy.com .
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=751
Além da Dor e do Prazer
Como Trilhar o Caminho da
Felicidade Segundo a Filosofia Estóica
Carlos Cardoso Aveline
A primeira nobre verdade do budismo é correta:
“A vida causa sofrimento”.
Porém, quanta dor é necessária para viver?
Esta questão está sempre em aberto, porque depende da atitude de cada um a todo momento. A arte de viver ensina a transmutar a aflição em sabedoria, e torna possível uma satisfação duradoura em relação a si mesmo, aos outros e à vida.
O cidadão comum perde muita energia fugindo da dor ou buscando anestesia psicológica. Rádio, televisão, e outras formas de “diversão” ajudam, literalmente, a “passar o tempo”, como se o tempo não tivesse valor e pudesse ser jogado fora. Formas inúteis de lazer entorpecem o cidadão e desviam sua mente das questões centrais da vida. Mas o velho dilema entre dor e fuga da dor deve ser olhado com calma.
Quando a dor é exagerada e vista como algo central, podemos querer fugir dela por meio de algum dogma ou algum salvador, ou fechar os olhos através do refúgio na comodidade fácil, o que causa mais sofrimento. Podemos desenvolver uma espiritualidade mecânica e supersticiosa, ou cair no outro extremo, optando por um materialismo igualmente destituído de bom senso.
O falso abismo entre prazer e sofrimento faz com que o caminho da sabedoria seja pouco compreendido e que seja encarado de modo contraditório. De um lado, a espiritualidade é descrita como o melhor modo de alcançar a felicidade, a bem-aventurança e o bem-estar permanente. De outro lado, ela é descrita como o caminho da cruz, do sofrimento e do sacrifício.
Onde está a verdade?
O primeiro efeito prático da caminhada espiritual é que começamos a pensar mais profundamente sobre a vida. O nosso discernimento aumenta, e vemos o resultado desagradável dos prazeres promovidos pela sociedade de consumo. Eis alguns exemplos do que percebemos:
* O alcoolismo gera insensibilidade e violência.
* Comer demasiado, ou inadequadamente, é prejudicial.
* A alimentação carnívora não faz bem à saúde.
* Cigarro causa diversas doenças.
* Uma vida emocional impensada tem diversas e graves contra-indicações.
* Os sentimentos de ódio e inveja ameaçam o bem-estar físico, emocional e mental.
* A prática da mentira, seja ela dita para os outros ou para nós próprios (e mesmo que seja bondosa e “espiritual”), acaba gerando um mundo psicológico confuso, sobre o qual nada se pode construir de duradouro.
A ética e a moderação surgem como porto seguro em nossa vida quando temos a coragem necessárias para observar como funciona a lei da causa e do efeito. Mas o que acontece se, ao contrário, alguém vê as recomendações éticas como mandamentos dogmáticos e as obedece de modo mecânico e supersticioso, como se fosse membro de um rebanho de ovelhas e não tivesse direito a decisões próprias? Neste caso a prática da virtude é construída sobre a areia movediça da obediência cega, e pode quebrar-se. Na verdade, o dogma religioso e o ceticismo materialista são as duas caras da moeda falsa da ignorância espiritual.
Quando o indivíduo pensa que o caminho espiritual é feito apenas de perdas dolorosas e não traz consigo uma libertação interior e uma bênção, a experiência espiritual pode terminar em hipocrisia - ou pode levar ao extremo oposto do materialismo igualmente cego.
Em seu livro intitulado “Bem-Aventurados os Que Sofrem”, Paul Carlton trata o sofrimento como um grande mestre do ser humano:
“É o sofrimento que dá a chave dos mistérios da vida, mostrando a necessidade do abandono das paixões materiais, de maneira que o velho homem desapareça e se estabeleça o reino do homem espiritual. É por ele que se obtém a transmutação do vil metal em ouro puro. É graças a ele que se obtém a renúncia à parte inferior, animal e mortal, e que se estabelece o triunfo da parte superior e espiritual do homem”. [1]
Para Carlton, “é somente com renúncias sucessivas que as asas espirituais se desenvolvem e o homem pode voar na claridade do céu”. Carlton cita Santa Teresa, que via o sofrimento como uma bênção. Ela escreveu:
“Eu choro quando penso no tempo em que vivi sem chorar.”
De um certo ponto de vista, aceitar a dor e até mergulhar nela abre as portas para a felicidade. Grandes místicos de diversas religiões seguiram por esse caminho. O segredo está em que, quando aceitamos a dor, ela desaparece. A maior parte do sofrimento humano é, na verdade, psicológico, e surge da nossa luta infantil contra a realidade. A fantasia da resistência aos fatos acaba criando o desespero. Estamos condenados a ser impiedosamente perseguidos por tudo aquilo de que queremos fugir. A dor psicológica é como aquele cachorro que nos persegue latindo com aparência de furioso, mas que, quando paramos e o encaramos, desvia o olhar, disfarça, e afasta-se abanando discretamente o rabo.
Khalil Gibran escreveu que “a dor é o rompimento do invólucro que encerra nossa compreensão”. Para ele, do mesmo modo “que a semente da fruta deve quebrar-se para que seu coração apareça ante o sol”, nós também devemos conhecer a dor. O sofrimento pode ser uma experiência iniciática. Ele amplia nossa visão da vida e nos empurra para a transcendência, fazendo-nos alcançar um novo nível de consciência e de conhecimento. Neste nível, recuperamos a paz e o equilíbrio sobre bases mais sólidas. Diz Gibran:
“Se o seu coração pudesse viver sempre no deslumbramento do milagre cotidiano, sua dor não lhe pareceria menos maravilhosa que sua alegria, e você aceitaria as estações do seu coração como sempre aceitou as estações que passam sobre seus campos. E você contemplaria serenamente os invernos da sua aflição. Grande parte do seu sofrimento é escolhida por você mesmo: é a poção amarga com a qual o médico que está em você cura o seu eu-doente. Confie, portanto, no médico, e beba seu remédio em silêncio e tranquilidade, pois sua mão, embora pesada e dura, é guiada pela suave mão do Invisível, e a taça que ele lhe oferece, embora queime seus lábios, foi confeccionada com lágrimas sagradas.” [2]
A posição de Gibran é sábia. Porém, um exagero na aceitação do sofrimento pode levar por compensação a um salto para o extremo oposto, onde se busca o prazer fugindo infantilmente de toda dor. Por isso é recomendável manter o equilíbrio e a moderação. O pensador grego Epicuro, que viveu entre os anos 341 e 270 antes da era cristã, propôs um caminho de auto-responsabilidade.
Epicuro construiu sua filosofia em torno da idéia do “prazer verdadeiro”, que surge com a renúncia à preguiça e a outros vícios. Para ele, é no ponto intermediário entre a dor e a indulgência que se abre o caminho sólido da sabedoria, fonte da felicidade interior. Epicuro afirmou, em sua Carta a Menequeu:
“Quando dizemos que o prazer é a meta, não nos referimos aos prazeres dos depravados e dos bêbados, como imaginam aqueles que desconhecem nosso pensamento, e sim à ausência de dor na alma. Não são as bebedeiras e as festas ininterruptas que constituem a fonte de uma vida feliz, mas aquela sóbria reflexão que examina a fundo as causas de toda escolha e rejeita as falsas opiniões, responsáveis pelas perturbações que se apoderam da alma. A prudência é o princípio de tudo isso e o bem supremo.”
Durante a maior parte dos últimos 2000 anos, a mente humana oscilou contraditoriamente entre duas atitudes. De um lado, um ideal grandioso de fraternidade e de contato com a consciência divina. De outro lado, uma prática materialista que nada tinha a ver com a teoria. Céu e terra pareciam desconectados.
Estamos acordando agora, finalmente, desse longo sonho em que a consciência crística ou búdica do ser humano permanecia “crucificada” pela vida material, enquanto a figura de Jesus impotente, torturado, agonizando na cruz, ocupava o lugar de maior destaque dos templos.
Resgatar algumas idéias fundamentais da filosofia clássica ocidental é parte significativa desse renascimento. O desafio e o destino dos novos tempos é unir outra vez céu e terra, ou sonho e realidade. Os sábios da Grécia antiga não viam separação entre deuses e homens, ou ideal e prática. Reexaminando do mesmo modo a relação entre prazer e dor, ou felicidade e sofrimento, obtemos chaves úteis para compreender e acelerar a transformação que está ocorrendo na mente humana, enquanto se prepara a sociedade global e solidária do terceiro milênio.
O prazer e a felicidade, para Epicuro, são simplesmente a ausência de dor no corpo e a falta de perturbação na alma. Nesse ponto, a filosofia grega coincide rigorosamente com a Raja Ioga dos Himalaias. Para os iogues, o nirvana - o êxtase final - é apenas a ausência total de desejo. Todo o resto é ilusório e causa sofrimento.
Epicuro distinguia três tipos de prazer:
1- Os prazeres naturais e necessários - por exemplo, comer quando se tem fome, beber quando se tem sede, dormir quando se tem sono.
2- Os prazeres naturais mas não necessários - comer muito bem, beber bebidas sofisticadas e “saborosas” vestir-se com muita elegância, etc.
3- Os prazeres não naturais e não necessários - ligados à opinião dos outros, ou seja, fama, riqueza material, poder, honras e assim por diante. [3]
Cada um de nós, na sua condição de cidadão livre, deve definir o que são no seu caso concreto os prazeres adequados. A filosofia de Epicuro não é um dogma, mas um guia para a ação autônoma do ser humano. Ela dá elementos para que o indivíduo assuma plena responsabilidade sobre sua própria vida, e alcance mais felicidade interior.
Os prazeres do primeiro grupo são os que devem ser satisfeitos sempre. Sua função e seu limite natural é “eliminar a dor”, e não devem ir além desse ponto. O exagero os faria cair no segundo grupo, e neste caso o apego ao prazer passa a gerar sofrimento desnecessário através da perda de bom senso e da moderação. Deve-se, pois, reduzir as satisfações do segundo grupo.
Já os prazeres do terceiro grupo sempre acabam causando sofrimento através de ansiedade, incerteza, vaidade, ambição pessoal e outros sentimentos que são inseparáveis do medo.
Epicuro propõe uma postura madura diante da dor e do prazer, com base na ideia de evitar tanto o apego automático como a rejeição cega. O mesmo ensinamento é encontrado na filosofia estóica. Lúcio Sêneca propôs no império romano um contentamento incondicional que é item prioritário não só para os epicuristas, mas também para os estudantes de ioga, na Índia milenar. Para Sêneca, o supremo prazer “vem do alto”, porque o sábio “vive contente com seus bens, sem cobiçar coisa alguma fora de si”. O prazer autêntico surge do contato direto com nossa própria alma imortal.
Epicteto, um ex-escravo romano que fundou uma escola de filosofia estóica, manteve a tradição socrática e não colocou nada no papel. Mas um discípulo anotou seus discursos e sua sabedoria está hoje à nossa disposição. É com grande simplicidade que Epicteto explica a proposta da moderação como caminho para a real felicidade.
A seguir, sete idéias centrais do seu “Manual Para Viver”:
UM.
Saiba o que você pode controlar, e o que não pode. A felicidade e a liberdade começam com uma clara compreensão de um princípio; algumas coisas estão dentro do nosso controle, e outras não estão. Podemos controlar nossas opiniões, aspirações, desejos e ações, por exemplo. Tentar controlar outras pessoas ou circunstâncias externas é sempre fonte de preocupação, frustração e infelicidade. Devemos cumprir nosso dever e deixar que a realidade seja como é.
DOIS.
Ninguém pode ferir você. Mesmo que alguém agrida você com palavras e o insulte, é sempre sua opção sentir-se insultado ou não pelo que está acontecendo. Se alguém o irrita, na verdade é apenas a sua própria reação que irrita você. Portanto, quando alguém estiver aparentemente provocando sua raiva, lembre-se de que é a sua própria visão do incidente que o está enraivecendo - e não se deixe levar por reações automáticas.
TRÊS.
O progresso espiritual se faz confrontando a morte e a calamidade. Em vez de desviar o olhar dos acontecimentos dolorosos da vida, olhe para eles de frente e examine-os com frequência. Enfrentando as realidades da morte, das perdas e da decepção, você fica livre das ilusões e falsas esperanças e pode usar melhor sua energia vital.
QUATRO.
Dedique sua vida a um ideal digno. Tenha metas pessoais espiritualmente superiores, independentemente do que as outras pessoas pensarem. Permaneça fiel às suas melhores aspirações, seja o que for que estiver ocorrendo ao seu redor.
CINCO.
Saiba que tudo ocorre para o bem. Conforme você pensa, você é - ou se tornará. Evite interpretar os acontecimentos supersticiosamente, dando-lhes significados que não têm. Não chegue a conclusões apressadas. Parta do ponto de vista de que tudo o que lhe ocorre lhe traz algum bem, alguma lição e alguma experiência. Se decidir que terá sorte, a terá. Pense de modo calmo e vitorioso.
SEIS.
Crie o seu próprio mérito. Nunca dependa da admiração dos outros. Isso o enfraquece extremamente. O mérito pessoal nunca pode aumentar por alguma fonte externa. Seja maior do que críticas ou aplausos, mas leve em conta a opinião dos outros para identificar onde é necessário corrigir erros e como pode melhorar ainda mais.
SETE.
Focalize seu principal dever. Há um tempo para descanso e diversão, mas você nunca deve deixá-los prejudicar o seu verdadeiro propósito na vida. Deve escolher formas de lazer e outras atividades secundárias que sejam compatíveis com a missão central que escolheu para realizar. [4]
O caminho dos estóicos adota a mesma ética da filosofia esotérica de Helena P. Blavatsky.
As atividades cujas metas são apenas pessoais e de curto prazo devem ser diminuídas porque, em geral, são ineficazes e provocam sofrimentos adicionais. A verdadeira felicidade está em cumprir nosso dever assim nas vitórias como nas derrotas, tanto nos momentos agradáveis como nos desagradáveis, preservando em todos os casos a paz interior que habita o silêncio.
Como Gibran escreveu, “nossa alegria é nossa tristeza mascarada. Quanto mais profundamente a tristeza cavar suas garras em nosso ser, tanto mais alegria poderemos conter”. E ele acrescentou:
“Alguns dentre vós dizeis: ‘A alegria é maior que a tristeza’, e outros dizem: ‘Não, a tristeza é maior.’ Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis. Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama. Em verdade, estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria. É somente quando estais vazios que estais em equilíbrio.” [5]
Evitar a euforia e o desânimo, trilhando o caminho da paz interior, é próprio de seres maduros.
A verdadeira sabedoria não se separa da arte de viver com simplicidade. Apontando na mesma direção, o antigo sábio chinês Lao-tzu, o fundador do taoísmo, afirma na obra “Wen-Tzu”:
“O caminho do céu é reverter depois que se atinge um clímax e diminuir ao atingir a plenitude; isso é ilustrado pelo sol e pela lua. Por isso os sábios se diminuem diariamente, esvaziam os seus estados de espírito e não ousam ficar satisfeitos consigo mesmos; eles progridem diariamente fazendo concessões, assim sua virtude não se desvanece. É assim que funciona o caminho do céu.” [6]
NOTAS:
[1] “Bem-Aventurados os Que Sofrem”, Paul Carlton, Organização Simões, RJ, 1953, p. 28.
[2] “O Profeta”, de Gibran Khalil Gibran, Ed. Acigi, RJ, trad. de Mansour Challita, pp. 49-50.
[3] Da seção “Antologia”, incluída na obra “Epicuro – As Luzes da Ética”, de João Quartim de Moraes, ed. Moderna, SP, p. 93.
[4] “The Art of Living”, Epictetus, a new interpretation by Sharon Lebell, Harper SanFrancisco, Harper-Collins, 1995, EUA, 114 pp., ver pp. 3, 27, 28, 29, 25, 12 e 14, respectivamente.
[5] “O Profeta”, obra citada, pp. 27 e 28.
[6] “Wen-tzu – A Compreensão dos Mistérios”, Ensinamentos de Lao-Tzu, Tradução do chinês, Thomas Cleary, Ed. Teosófica, Brasília, 2002, 198 pp., ver p. 60.
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O texto acima é uma versão - atualizada pelo autor - do artigo publicado sob o mesmo título na revista “Planeta” em junho de 2000.
Sobre o tema de como enfrentar o sofrimento, veja também o texto “As Horas Difíceis”, de Carlos Cardoso Aveline, que pode ser localizado pela Lista de Textos Por Autor no website www.filosofiaesoterica.com .
Para um estudo regular da teosofia ou sabedoria divina, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
Tuesday, March 01, 2011
O PRAZER e a DOR em ARISTÓTELES:
Ramiro Marques
Aristóteles define prazer como "um certo movimento da alma e um regresso
total e sensível ao estado natural" (1). A dor é o seu contrário. O que produz a
disposição para o prazer é agradável e o que a destrói é doloroso. É agradável e,
portanto, dá prazer, o que tende para o estado natural e os hábitos também são
igualmente agradáveis porque o que é habitual assemelha-se ao que é natural. É,
também, agradável o que não resulta da coacção.
Por outro lado, é doloroso o que obriga ao esforço não querido ou não habitual e,
de uma maneira geral, tudo o que traz preocupações ou envolve a necessidade e a
coacção.
É essa a razão pela qual o descanso, os jogos e o sono são agradáveis, pois
ninguém descansa, joga ou dorme por obrigação.
Claro está que o agradável é, também, tudo aquilo de que temos em nós o
desejo, pois o desejo é apetite do agradável. Os desejos podem dividir-se em racionais e
irracionais. Os desejos irracionais são "os que não procedem de uma acto prévio da
compreensão; e são desse tipo todos os que se dizem ser naturais, como os que
procedem do corpo; por exemplo, o desejo de alimento, a sede, a fome, o desejo relativo
a cada espécie de alimento, os desejos ligados ao gosto e aos prazeres sexuais e, em
geral, os desejos relativos ao tacto, ao olfacto, ao ouvido e à vista" (2). Ao invés, os
desejos racionais são apenas os que procedem da persuasão.
Entre as coisas mais agradáveis, Aristóteles coloca a honra, a boa reputação e,
acima de tudo, os amigos. Os gregos usavam a palavra hedone, para dizer prazer e
hedesthai, para tirar prazer. Aristóteles opta por uma posição intermédia acerca do bem,
não o identificando com o prazer, mas também não negando que o prazer pode ser uma
espécie de bem. E o que é o bem, para Aristóteles? "Entendemos por bem o que é digno
de ser escolhido em si e por si, e aquilo em função do qual escolhemos outra coisa;
também aquilo a que todos aspiram, tanto os que são dotados de percepção e razão,
como os que puderem alcançar a razão; tudo o que a razão pode conceder a um
indivíduo, e tudo o que a razão concede a cada indivíduo em relação a cada coisa, isso é
bom para cada um; e tudo o que, pela sua presença, outorga bem-estar e autosuficiência; e a própria auto-suficiência; e o que produz ou conserva esses bens; e aquilo
que de tais bens resultam; e o que impede os seus contrários e os destrói" (3).
O prazer é, também, um bem. Se o não fosse, como é que todos os seres vivos, e
não apenas os seres humanos, o desejam? As coisas agradáveis e belas são
necessariamente boas, pois as agradáveis produzem prazer, e as belas são agradáveis.
Por que razão o prazer e a dor são tão importantes na ética aristotélica? É que
amar e odiar as coisas certas constitui o aspecto mais importante da virtude do carácter:
"o prazer e a dor prolongam-se por toda nossa vida, e são de grande importância para a
virtude e a vida feliz, uma vez que as pessoas decidem fazer o que lhes é agradável e
evitam o que lhes é penoso" (4).
Aristóteles discorda dos estóicos, mas também não concorda com os epicuristas,
porque os primeiros identificam o prazer com o que é vil e os segundos confundem
incondicionalmente o prazer com o bem. Ora, a verdade é que não podemos nem
exagerar a bondade nem a maldade do prazer. Se é certo que a dor deve ser evitada e
aquilo que dá prazer deve ser procurado, importa, num caso e noutro, combinar as
nossas escolhas com a inteligência, a compreensão e a sabedoria. Por outro lado,
embora o prazer seja um elemento da vida feliz, a felicidade não se confunde com o
1prazer. Além disso, quando os prazeres provêm de fontes vis, não podem ser procurados
pela pessoa virtuosa. É o caso da riqueza, que é um bem desejável, mas que o deixa de
ser se resulta de uma traição. Decorre de tudo isto que "o prazer não é o bem, que nem
todo o prazer merece ser escolhido, que alguns prazeres são intrinsecamente dignos de
escolha, diferindo em espécie ou nas sua fontes dos que o não são" (5).
Aristóteles identifica diferentes espécies de prazer. Quanto mais prazer temos
com uma actividade, mais aumenta a nossa vontade de continuar a actividade. Cada
prazer aumenta a actividade que lhe está associado. E pode, inclusivamente, torná-la
mais longa, exacta e melhor. É o caso do músico que tira prazer a fazer música e que,
quanto mais prazer tem na actividade, melhor músico se torna. O mesmo poderíamos
dizer do romancista, do poeta, do filósofo ou do matemático.
Ao contrário, a dor tende a reduzir ou a extinguir a actividade. É o caso do
estudante que não tira prazer com o estudo e que acaba por deixar de estudar como
forma de evitar a dor que essa actividade lhe traz.
Uma vez que as actividades diferem na decência e na maldade, há algumas que
são dignas de escolha e outras que se devem evitar; o mesmo é verdade para os
prazeres, já que o prazer é uma actividade. O prazer adequado a uma actividade
excelente é um prazer digno e o prazer próprio de uma actividade vil é vicioso. Da
mesma forma, os apetites de coisas boas são dignos de escolha e os apetites de coisas
vis são indignos de escolha. No essencial, podemos afirmar que há prazeres do
pensamento e prazeres dos sentidos e que há prazeres dignos e prazeres vis. Os prazeres
do pensamento são sempre dignos e os prazeres dos sentidos são dignos apenas quando
andam associados com a virtude do carácter.
Na verdade, há coisas que dão prazer a certas pessoas, enquanto provocam dores
noutras. Algumas pessoas consideram-nas agradáveis e estimáveis, enquanto outras
pessoas as consideram lastimáveis. Se assim é, como é possível determinar as coisas
verdadeiramente agradáveis e boas? Para Aristóteles, o que é realmente agradável e
bom é o que é assim para as pessoas virtuosas. E se o que a pessoa virtuosa considera
lamentável e indigno aparece como agradável para alguém, isso só acontece porque as
pessoas sofrem muitas formas de corrupção que as impedem de deliberar bem.
Que tipo de coisa é o prazer? Será uma actividade ou um processo? Se for
considerada uma actividade, é o prazer uma actividade completa ou incompleta?
Aristóteles procede à discussão destes assuntos, ao longo da primeira parte do
livro X da Ética a Nicómaco. Refuta a ideia de que o prazer é um processo porque o
prazer, ao contrário do processo, é uma coisa sempre completa. O processo, por
definição, necessita de tempo, enquanto o prazer é instantâneo, ou se tem logo ou não se
tem. Quanto mais completa for a actividade mais prazer ela dá. O prazer é uma
actividade, não é um movimento, nem um processo. Mas o prazer não é o bem em si
mesmo. Só é o bem quando é consequente com uma actividade boa. O prazer é muito
importante na educação ética porque ele pode enganar-nos acerca do bem e destruir a
nossa concepção do bem. Mesmo quando possuímos uma concepção correcta do bem, o
apetite pelos prazeres pode conduzir-nos à incontinência e é, por isso, que a educação
ética requer a competência para deliberar e decidir sobre os prazeres e as dores
correctas.
Aristóteles dedica todo o capítulo VII do livro II da Magna Moralia à análise da
questão do prazer. A insistência com que este assunto é abordado nas éticas aristotélicas
deve-se ao facto de, no tempo do filósofo, imperarem duas grandes correntes filosóficas
opostas sobre a relação entre o prazer e a felicidade: a escola dos epicuristas e a escola
dos estóicos. Para os primeiros, o prazer identifica-se com a felicidade, para os
segundos, o prazer pode ser um obstáculo à felicidade. Aristóteles afasta-se destas duas
2perspectivas extremistas e opta por considerar o prazer como essencial à felicidade, mas
destaca que há prazeres que valem a pena e outros que, por serem excessivos, devem ser
controlados ou evitados pelo uso da razão e da boa deliberação.
Assim sendo, Aristóteles não identifica a felicidade com o prazer, mas sim com
a virtude e com a vida conseguida e realizada, mas não deixa de acentuar que uma vida
realizada não dispensa a fruição moderada dos prazeres da alma e dos prazeres do
corpo, desde que no respeito pela justa medida, nas alturas apropriadas e das formas
correctas.
Na Magna Moralia, o filósofo terá oportunidade de defender a tese da existência
de prazeres de múltiplas espécies: prazeres da alma (os prazeres superiores, os quais
nunca pecam por excesso), os prazeres exteriores (riqueza e beleza) e os prazeres do
corpo (prazeres da mesa e do sexo, por exemplo).
Desde que usufruídos com moderação, os prazeres são necessários à virtude e,
embora não sejam o supremo bem, são necessários para que o homem possa alcançar o
bem supremo: a felicidade (6).
Na Magna Moralia, o filósofo defende a tese de que a virtude implica prazer.
Isto é, a virtude não é uma consequência do prazer, mas o contrário: "é claro que a
virtude é acompanhada de prazer ou de dor. Ora, se alguém se ressente da dor ao
realizar boas acções, quer dizer que não é um homem de bem. Por consequência, a
virtude não saberia acompanhar-se de dor, ela acompanha-se de prazer. Por isso, longe
de ser um entrave, o prazer é um estímulo para a acção. E, de maneira geral, não se pode
conceber a virtude sem o prazer que ela faz nascer" (7).
Notas
1) Aristótesles (1998). Retórica. (Tradução e notas de Manuel Júnior, Paulo Alberto e
Abel Pena). Lisboa: INCM, 1370 a, p. 83
2) idem, 1370 b, p. 84
3) Aristóteles (1998). Retórica. (Tradução e notas de Manuel Júnior, Paulo Alberto e
Abel Pena). Lisboa: INCM, 1362 a, p. 64
4) Aristóteles (1985). Nichomachean Etichs. (Introdução, tradução e notas de Terence
Irwin). Indianapolis: Hackett, 1172 a 25, p. 266
5) idem, 1174 a 10, p. 273
6) Aristóteles (1995). Les Grands Livres D`Éthique (Magna Moralia). Évreux:
Arléa, 1206 a
7) idem, 1206 a, 20, p. 178
http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/O%20PRAZER%20E%20A%20DOR%20EM%20ARIST%C3%93TELES.pdf
Ramiro Marques
Aristóteles define prazer como "um certo movimento da alma e um regresso
total e sensível ao estado natural" (1). A dor é o seu contrário. O que produz a
disposição para o prazer é agradável e o que a destrói é doloroso. É agradável e,
portanto, dá prazer, o que tende para o estado natural e os hábitos também são
igualmente agradáveis porque o que é habitual assemelha-se ao que é natural. É,
também, agradável o que não resulta da coacção.
Por outro lado, é doloroso o que obriga ao esforço não querido ou não habitual e,
de uma maneira geral, tudo o que traz preocupações ou envolve a necessidade e a
coacção.
É essa a razão pela qual o descanso, os jogos e o sono são agradáveis, pois
ninguém descansa, joga ou dorme por obrigação.
Claro está que o agradável é, também, tudo aquilo de que temos em nós o
desejo, pois o desejo é apetite do agradável. Os desejos podem dividir-se em racionais e
irracionais. Os desejos irracionais são "os que não procedem de uma acto prévio da
compreensão; e são desse tipo todos os que se dizem ser naturais, como os que
procedem do corpo; por exemplo, o desejo de alimento, a sede, a fome, o desejo relativo
a cada espécie de alimento, os desejos ligados ao gosto e aos prazeres sexuais e, em
geral, os desejos relativos ao tacto, ao olfacto, ao ouvido e à vista" (2). Ao invés, os
desejos racionais são apenas os que procedem da persuasão.
Entre as coisas mais agradáveis, Aristóteles coloca a honra, a boa reputação e,
acima de tudo, os amigos. Os gregos usavam a palavra hedone, para dizer prazer e
hedesthai, para tirar prazer. Aristóteles opta por uma posição intermédia acerca do bem,
não o identificando com o prazer, mas também não negando que o prazer pode ser uma
espécie de bem. E o que é o bem, para Aristóteles? "Entendemos por bem o que é digno
de ser escolhido em si e por si, e aquilo em função do qual escolhemos outra coisa;
também aquilo a que todos aspiram, tanto os que são dotados de percepção e razão,
como os que puderem alcançar a razão; tudo o que a razão pode conceder a um
indivíduo, e tudo o que a razão concede a cada indivíduo em relação a cada coisa, isso é
bom para cada um; e tudo o que, pela sua presença, outorga bem-estar e autosuficiência; e a própria auto-suficiência; e o que produz ou conserva esses bens; e aquilo
que de tais bens resultam; e o que impede os seus contrários e os destrói" (3).
O prazer é, também, um bem. Se o não fosse, como é que todos os seres vivos, e
não apenas os seres humanos, o desejam? As coisas agradáveis e belas são
necessariamente boas, pois as agradáveis produzem prazer, e as belas são agradáveis.
Por que razão o prazer e a dor são tão importantes na ética aristotélica? É que
amar e odiar as coisas certas constitui o aspecto mais importante da virtude do carácter:
"o prazer e a dor prolongam-se por toda nossa vida, e são de grande importância para a
virtude e a vida feliz, uma vez que as pessoas decidem fazer o que lhes é agradável e
evitam o que lhes é penoso" (4).
Aristóteles discorda dos estóicos, mas também não concorda com os epicuristas,
porque os primeiros identificam o prazer com o que é vil e os segundos confundem
incondicionalmente o prazer com o bem. Ora, a verdade é que não podemos nem
exagerar a bondade nem a maldade do prazer. Se é certo que a dor deve ser evitada e
aquilo que dá prazer deve ser procurado, importa, num caso e noutro, combinar as
nossas escolhas com a inteligência, a compreensão e a sabedoria. Por outro lado,
embora o prazer seja um elemento da vida feliz, a felicidade não se confunde com o
1prazer. Além disso, quando os prazeres provêm de fontes vis, não podem ser procurados
pela pessoa virtuosa. É o caso da riqueza, que é um bem desejável, mas que o deixa de
ser se resulta de uma traição. Decorre de tudo isto que "o prazer não é o bem, que nem
todo o prazer merece ser escolhido, que alguns prazeres são intrinsecamente dignos de
escolha, diferindo em espécie ou nas sua fontes dos que o não são" (5).
Aristóteles identifica diferentes espécies de prazer. Quanto mais prazer temos
com uma actividade, mais aumenta a nossa vontade de continuar a actividade. Cada
prazer aumenta a actividade que lhe está associado. E pode, inclusivamente, torná-la
mais longa, exacta e melhor. É o caso do músico que tira prazer a fazer música e que,
quanto mais prazer tem na actividade, melhor músico se torna. O mesmo poderíamos
dizer do romancista, do poeta, do filósofo ou do matemático.
Ao contrário, a dor tende a reduzir ou a extinguir a actividade. É o caso do
estudante que não tira prazer com o estudo e que acaba por deixar de estudar como
forma de evitar a dor que essa actividade lhe traz.
Uma vez que as actividades diferem na decência e na maldade, há algumas que
são dignas de escolha e outras que se devem evitar; o mesmo é verdade para os
prazeres, já que o prazer é uma actividade. O prazer adequado a uma actividade
excelente é um prazer digno e o prazer próprio de uma actividade vil é vicioso. Da
mesma forma, os apetites de coisas boas são dignos de escolha e os apetites de coisas
vis são indignos de escolha. No essencial, podemos afirmar que há prazeres do
pensamento e prazeres dos sentidos e que há prazeres dignos e prazeres vis. Os prazeres
do pensamento são sempre dignos e os prazeres dos sentidos são dignos apenas quando
andam associados com a virtude do carácter.
Na verdade, há coisas que dão prazer a certas pessoas, enquanto provocam dores
noutras. Algumas pessoas consideram-nas agradáveis e estimáveis, enquanto outras
pessoas as consideram lastimáveis. Se assim é, como é possível determinar as coisas
verdadeiramente agradáveis e boas? Para Aristóteles, o que é realmente agradável e
bom é o que é assim para as pessoas virtuosas. E se o que a pessoa virtuosa considera
lamentável e indigno aparece como agradável para alguém, isso só acontece porque as
pessoas sofrem muitas formas de corrupção que as impedem de deliberar bem.
Que tipo de coisa é o prazer? Será uma actividade ou um processo? Se for
considerada uma actividade, é o prazer uma actividade completa ou incompleta?
Aristóteles procede à discussão destes assuntos, ao longo da primeira parte do
livro X da Ética a Nicómaco. Refuta a ideia de que o prazer é um processo porque o
prazer, ao contrário do processo, é uma coisa sempre completa. O processo, por
definição, necessita de tempo, enquanto o prazer é instantâneo, ou se tem logo ou não se
tem. Quanto mais completa for a actividade mais prazer ela dá. O prazer é uma
actividade, não é um movimento, nem um processo. Mas o prazer não é o bem em si
mesmo. Só é o bem quando é consequente com uma actividade boa. O prazer é muito
importante na educação ética porque ele pode enganar-nos acerca do bem e destruir a
nossa concepção do bem. Mesmo quando possuímos uma concepção correcta do bem, o
apetite pelos prazeres pode conduzir-nos à incontinência e é, por isso, que a educação
ética requer a competência para deliberar e decidir sobre os prazeres e as dores
correctas.
Aristóteles dedica todo o capítulo VII do livro II da Magna Moralia à análise da
questão do prazer. A insistência com que este assunto é abordado nas éticas aristotélicas
deve-se ao facto de, no tempo do filósofo, imperarem duas grandes correntes filosóficas
opostas sobre a relação entre o prazer e a felicidade: a escola dos epicuristas e a escola
dos estóicos. Para os primeiros, o prazer identifica-se com a felicidade, para os
segundos, o prazer pode ser um obstáculo à felicidade. Aristóteles afasta-se destas duas
2perspectivas extremistas e opta por considerar o prazer como essencial à felicidade, mas
destaca que há prazeres que valem a pena e outros que, por serem excessivos, devem ser
controlados ou evitados pelo uso da razão e da boa deliberação.
Assim sendo, Aristóteles não identifica a felicidade com o prazer, mas sim com
a virtude e com a vida conseguida e realizada, mas não deixa de acentuar que uma vida
realizada não dispensa a fruição moderada dos prazeres da alma e dos prazeres do
corpo, desde que no respeito pela justa medida, nas alturas apropriadas e das formas
correctas.
Na Magna Moralia, o filósofo terá oportunidade de defender a tese da existência
de prazeres de múltiplas espécies: prazeres da alma (os prazeres superiores, os quais
nunca pecam por excesso), os prazeres exteriores (riqueza e beleza) e os prazeres do
corpo (prazeres da mesa e do sexo, por exemplo).
Desde que usufruídos com moderação, os prazeres são necessários à virtude e,
embora não sejam o supremo bem, são necessários para que o homem possa alcançar o
bem supremo: a felicidade (6).
Na Magna Moralia, o filósofo defende a tese de que a virtude implica prazer.
Isto é, a virtude não é uma consequência do prazer, mas o contrário: "é claro que a
virtude é acompanhada de prazer ou de dor. Ora, se alguém se ressente da dor ao
realizar boas acções, quer dizer que não é um homem de bem. Por consequência, a
virtude não saberia acompanhar-se de dor, ela acompanha-se de prazer. Por isso, longe
de ser um entrave, o prazer é um estímulo para a acção. E, de maneira geral, não se pode
conceber a virtude sem o prazer que ela faz nascer" (7).
Notas
1) Aristótesles (1998). Retórica. (Tradução e notas de Manuel Júnior, Paulo Alberto e
Abel Pena). Lisboa: INCM, 1370 a, p. 83
2) idem, 1370 b, p. 84
3) Aristóteles (1998). Retórica. (Tradução e notas de Manuel Júnior, Paulo Alberto e
Abel Pena). Lisboa: INCM, 1362 a, p. 64
4) Aristóteles (1985). Nichomachean Etichs. (Introdução, tradução e notas de Terence
Irwin). Indianapolis: Hackett, 1172 a 25, p. 266
5) idem, 1174 a 10, p. 273
6) Aristóteles (1995). Les Grands Livres D`Éthique (Magna Moralia). Évreux:
Arléa, 1206 a
7) idem, 1206 a, 20, p. 178
http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/O%20PRAZER%20E%20A%20DOR%20EM%20ARIST%C3%93TELES.pdf
"Para chegar à ataraxia, o homem deve perder o medo da morte. Como corpo e alma são entidades materiais, não existem sensações boas ou más depois da morte; assim, o temor da morte não se justifica. Epicuro aceitava a existência dos deuses, mas acreditava que eles estavam muito afastados do mundo humano para preocupar-se com este. Logo, o homem não tem porque temer os deuses, embora possa imitar sua existência serena e beatífica. De seus estudos científicos, Epicuro derivou uma filosofia essencialmente moral. À semelhança de outras correntes filosóficas da época, como o estoicismo e o ceticismo, suas concepções vieram ao encontro das necessidades espirituais de seus contemporâneos, preocupados com a desintegração da polis (cidade) grega. O prazer sensorial converteu-se na única via de acesso à ataraxia. Esse prazer, porém, não consiste numa busca ativa da sensualidade e do gozo corporal desenfreado, como interpretaram erroneamente outras escolas filosóficas e também o cristianismo, mas baseia-se no afastamento das dores físicas e das perturbações da alma. O maior prazer, segundo Epicuro, é comer quando se tem fome e beber quando se tem sede. O “tetrafármaco”, receita do mestre para a vida tranqüila, tem o seguinte teor: “O bem é fácil de conseguir, o mal é fácil de suportar, a morte não deve ser temida, os deuses não são temíveis.”
http://discordianismo.wordpress.com/2009/12/04/epicurismo-principios/
http://discordianismo.wordpress.com/2009/12/04/epicurismo-principios/
Quando não estamos apegados a grupos, a crenças, a nacionalidades, a famílias, a nós próprios, então somos verdadeiramente livres, e, a relação com o outro(a) brota da compaixão, da liberdade, do amor por todos os seres.
Observamos a totalidade sem direção, depois a análise torna-se importante ou não.
A verdade está onde nós estamos, e, sem condicionamentos é em silêncio e quietude, que são inteligência.
Observamos a totalidade sem direção, depois a análise torna-se importante ou não.
A verdade está onde nós estamos, e, sem condicionamentos é em silêncio e quietude, que são inteligência.
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