Tuesday, July 08, 2008

PCA (Pensadores Compulsivos Anónimos)
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Um pouco da nossa experiência inicial

Os princípios básicos de PCA,- as Doze Observações-, na forma em que se conhecem hoje, tomaram-se emprestados principalmente dos campos dos grupos anônimos de ajuda mútua e dos textos de Krishnamurti, embora algumas das idéias as quais, eventualmente, levaram ao êxito, resultaram da observação do acompanhamento e das necessidades dos próprios membros.
PCA nasceu em 2005, em São Paulo, Brasil, como conseqüência do encontro entre membros de várias irmandades anônimas, como os neuróticos, narcóticos, dependentes de amor e sexo e jogadores anônimos, que se tornaram os co-fundadores de PCA. A maioria deles já vinha de longos anos de prática dos princípios espirituais de suas respectivas irmandades de origem. Apesar de estarem se abstendo há um considerável período de tempo dos seus padrões de comportamentos dependentes de “fundo de poço”, ambos constatavam que suas vidas careciam de um autêntico estado de unidade interna, bem-estar comum e real sentido.
Todos estes membros se encontravam prisioneiros do tédio, da insatisfação, do vazio existencial, de medos irracionais, os quais não conseguiam resolver por meio da crença num conceito de deus, como sugerido em seus grupos de origem. Em suas trocas de experiências, a identificação foi total e imediata, demonstrando com isso, a total irrelevância da diferença existente entre os seus específicos padrões comportamentais de dependência. Após vários encontros, constataram que, para todos eles, a natureza exata de seus conflitos estava no pensamento condicionado com todo seu processo divisor.
Nos primórdios de PCA, somente os membros mais desesperados conseguiram tragar e digerir a verdade amarga de que suas irmandades de origem, com a limitação de sua mensagem voltada para um padrão comportamental especifico, já não tinham mais o poder de ressonância interna capaz de proporcionar a verdadeira liberdade do potencial humano. Foi o desespero e o descontentamento com a superficialidade da mensagem transmitida pela inconsciência coletiva das mesmas que proporcionou para estes membros o reconhecimento pessoal da natureza exata de seus conflitos em suas vidas de relação. Ao se reconhecerem como pensadores compulsivos e tendo se agarrado aos princípios básicos de PCA com o mesmo fervor dos que estão se afogando e se agarram aos salva-vidas, quase que invariavelmente se tornaram pessoas psicologicamente auto-suficientes não mais necessitando correr atrás de doações psicológicas de fora.
Nossas experiências demonstraram a veracidade com relação ao surgimento de um novo paradigma, bem como a reação da inconsciência coletiva em relação ao mesmo; de que todo novo paradigma passa por três processos básicos: primeiro é ridicularizado, em seguida é fortemente combatido e, por fim, devidamente incorporado.
Muitos veteranos de outras irmandades, menos desesperados e conformados com o conforto proveniente da respeitabilidade adquirida em sua irmandade de origem, mantinham o contato superficial com os princípios básicos de PCA, mas não eram bem sucedidos porque não conseguiam admitir a natureza exata da impotência com relação aos demais conflitos existentes em suas vidas.
Com imensa satisfação descobrimos que, quando um membro de PCA transmite a mensagem da natureza exata dos nossos conflitos para outro membro que realmente esteja vivendo um estado de conflito necessário para a manifestação de uma “mente aberta”, este outro jamais voltava a ser o mesmo. Este, após cada recaída emocional ou comportamental, pensava consigo mesmo: “talvez esses PCA’s tenham realmente razão...” Depois de algumas experiências semelhantes e dos sérios problemas decorrentes das mesmas, ele voltaria a nós, convencido. Havia atingido o fundo do seu poço tanto quanto nós. O próprio pensamento compulsivo condicionado havia se tornado o nosso melhor advogado.
Nossa experiência demonstrou que, para que uma pessoa possa receber de mente aberta a mensagem libertadora de PCA, esta precisa, antes de tudo, chegar ao fundo do poço proveniente da total desilusão com os princípios espirituais que inicialmente, lhe salvaram da bancarrota física e psicológica. Enquanto a pessoa abrigar qualquer espécie de esperança num fator externo para a solução de seus conflitos, não estará pronta para atravessar o portal que separa os adultos dos adolescentes psicológicos. Enquanto não ocorrer este fundo de poço, a pessoa não estará pronta para poder praticar com boa vontade, as observações de PCA, pautados numa observação sem escolha em todas as suas atividades. As observações de PCA requererem a adoção de atitudes e ações que nos chamam para a verdadeira responsabilidade consigo mesmo, não a colocando nas mãos de um conceito de deus, criado pelo próprio fundo psicológico, que em última análise é pensamento condicionado. Para todos nós, foi a idéia de dependência de um deus criado pela nossa própria concepção mental, que por anos e anos nos manteve num estado mediano, irresponsável e imaturo.
Sob a tremenda surra imposta pelo nosso modo condicionado de pensar fomos impelidos ao PCA, e ali descobrimos a mediocridade de nossa situação: não recaímos mais em nossos padrões de comportamento compulsivos, mas, no entanto, levávamos vidas vazias e superficiais. Foi graças à surra proveniente do vazio, do tédio e da insatisfação crônica que nos tornamos tão receptivos e dispostos a escutar, como são os que estão à beira da loucura ou da morte. Foi através do PCA que começamos a enxergar realmente, a observar, escutar e perceber os nossos processos mentais e, em conseqüência dessa escuta atenta e amorosa é que descobrimos uma nova maneira de viver e de desfrutar uma vida onde os nossos pensamentos deixaram de nos governar para serem tão somente, servidores de confiança de uma inteligência criativa e amorosa. Foi através de PCA que realmente começamos a nos libertar do condicionamento psicológico que nos mantinha presos em nosso passado, com a falsa alegação de que “uma vez dependente, sempre um dependente”.
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12ª Observação

Tendo tido um despertar da inteligência criativa graças a estas observações e constatado a mediocridade do nosso antigo modo de vida, procuramos transmitir a nossa mensagem para as pessoas que ainda sofrem.Para que uma pessoa possa receber a transmissão da mensagem de PCA, é preciso que ela esteja num estado de atenção total, estado este, caracterizado pelo que podemos chamar de “mente aberta”. Esse estado de mente aberta, de plena atenção só existe quando a busca de recuperação pessoal de determinado padrão de comportamento compulsivo ou a busca de satisfação, já não é capaz de solucionar nossos conflitos, como o medo, o tédio e o vazio. Essa atenção, esse estado de mente aberta deve estar presente desde o princípio para que possa ser transmitida a mensagem de PCA, caso contrário, nossa experiência tem demonstrado que tal tentativa de transmitir a mensagem só resultará em conflitos e perda de energia desnecessária. Essa atenção não é coisa que se ensine, mas pode-se ajudar a suscitar na pessoa um estado de mente aberta, não deixando que se crie em torno dela aquela sensação de compulsão que produz uma existência que se contradiz. Só então, a atenção dela poderá focalizar-se, a qualquer momento, na mensagem a ser transmitida, e não será a estreita concentração provocada pelo desejo compulsivo de afirmação ou confrontação com aquilo que lhe é conhecido.
Uma pessoa incentivada desse modo estará livre do medo e porque é assim incentivada, ela não dependerá da herança do que lhe é tradicional. Esse assunto de seguir irrefletidamente a tradição destrói a verdadeira independência e limita a inteligência; pois produz uma falsa sensação de segurança, dando uma autoconfiança que não tem base e cria uma obscuridade mental, uma mente fechada, em que nada de novo pode florescer. Mas, uma pessoa incentivada dessa maneira, totalmente diferente da que temos considerado, co-criará uma irmandade nova, pois terá a capacidade nascida dessa inteligência que não é cercada de medo.
Visto que a recuperação é responsabilidade tanto dos veteranos, quanto dos novatos, precisamos aprender a arte de trabalhar juntos, e isto só é possível quando cada um de nós percebe o que é a verdadeira natureza exata dos nossos conflitos. Em PCA é a percepção da verdade que nos une, e não a opinião, a crença, a teoria ou a tradição incentivada pelo medo e busca de segurança. Há uma vasta diferença entre o conceito e o fato. O conceito pode unir-nos temporariamente, mas tornará a haver separação, se nossa cooperação for apenas fruto da convicção mental, do intelecto. Se a verdade é percebida por cada um de nós, pode haver desacordo quanto a detalhes dos padrões de comportamentos dependentes, mas não há pressão para gerar a quebra de unidade. Os detalhes só separam os tolos, os medianos, aqueles que nem recaem para os velhos padrões de comportamento e nem experimentam uma nova maneira de viver à luz da inteligência amorosa e criativa - capaz de proporcionar um estado de unidade interna e bem-estar que seja comum e não algo passageiro. Quando todos enxergam a verdade, quando todos enxergam a natureza exata dos nossos conflitos, os detalhes comportamentais nunca se tornam motivo de quebra de unidade.
A maioria de nós está habituada a cooperar nos moldes da autoridade estabelecida pela tradição. Reunimo-nos para trocar idéias sobre um conceito, ou para desenvolver critérios de sobriedade criados por uma mente perturbada, e isto exige convicção, persuasão, propaganda, e assim por diante. Essa cooperação no sentido da pratica de um conceito ou da busca de um ideal é totalmente diferente da cooperação que advém de se enxergar a verdade e da necessidade de pôr essa verdade em prática. Operar sob o estímulo de alguma autoridade psicológica - seja a autoridade de um ideal ou de um veterano ou membro que represente esse ideal - não equivale a uma real cooperação. Uma autoridade dominante que pensa saber muita coisa, ou que tem uma forte personalidade e que está com sua mente aprisionada por certos conceitos, pode forçar ou sutilmente convencer os outros a cooperar com ela em busca do que chama de critérios de sobriedade; mas isso certamente não representa a cooperação de indivíduos alertas e dinâmicos. Em contrapartida, quando cada um de nós compreende por si mesmo a verdade quanto a natureza exata de qualquer conflito, então nossa compreensão comum dessa verdade leva à ação, e tal ação é a cooperação que produz a verdadeira unidade e a busca pelo bem-estar comum. Aquele que coopera porque vê a verdade como verdade, o falso como falso, e a verdade no falso, também saberá quando NÃO cooperar, quando não transmitir a mensagem de PCA - o que é igualmente importante. A mensagem de PCA, igualmente como os remédios da medicina, se for aplicada de forma indevida pode levar a resultados fatais.
Se cada um de nós compreender a necessidade de uma revolução fundamental em nosso processo de recuperação e perceber a verdade do que estivemos aqui considerando, então compartilharemos juntos sem qualquer forma de persuasão. A persuasão só existe quando alguém assume uma postura de liderança e respeitabilidade da qual não quer ser destituído. Quando está meramente convencido de uma idéia ou aprisionado numa opinião, num conceito, ele fatalmente provoca oposição e a quebra de unidade, e então ou ele ou os outros têm de ser persuadidos, influenciados ou induzidos a pensar de forma diferente. Tal situação nunca ocorrerá quando cada um de nós vê a verdade da natureza exata de uma questão por si mesmo. Mas se não vemos a verdade da natureza exata de nossos conflitos e agimos unicamente baseados na mera convicção verbal ou na racionalização do intelecto, então com certeza haverá contendas, quebra de unidade, desacordo, com toda a distorção e esforço inútil decorrentes.
É essencial que trabalhemos juntos, e é como se estivéssemos edificando uma casa. Se alguns de nós estão construindo e outros destruindo, a casa obviamente nunca será edificada. Assim, precisamos individualmente estar bem certos de que realmente vemos e compreendemos a necessidade de criar o tipo de irmandade que produza uma nova geração capaz de enfrentar as questões da vida como um todo, e não como partes isoladas por um padrão comportamental especifico sem relação com a totalidade do ser.
Para sermos capazes de agir dessa maneira cooperativa, precisamos reunir-nos com freqüência e estar alertas para não submergirmos em detalhes. Aqueles que estiverem seriamente dedicados à recuperação da doença do pensamento compulsivo e de seu processo divisor, têm a responsabilidade não só de pôr em prática tudo o que compreenderem, mas também de ajudar os outros a chegar a essa mesma compreensão. A transmissão da mensagem é a nossa ação mais nobre - se é que se pode chamar-lhe de ação. É uma arte que requer não só o despertar da inteligência, mas infinita paciência, bom-censo, intuição e amor. Estar verdadeiramente em recuperação é compreender nosso relacionamento com todas as coisas - com o dinheiro, com a propriedade, com o sexo, com as pessoas à nossa volta e com a Natureza - no vasto campo da nossa existência.
É preciso manter o simples, pois a beleza reside nas coisas simples. A beleza faz parte dessa compreensão, mas ela não é apenas uma questão de proporção, de forma, de gosto e de comportamento. A beleza é aquele estado em que a mente abandonou o centro do ego na paixão da simplicidade. A simplicidade não tem fim; e só pode haver simplicidade quando há uma austeridade que não é resultado de disciplina forçada, da autonegação, da repressão através de um conjunto de conceitos. Essa austeridade é desapego, o que só o amor pode produzir. Quando não temos amor, criamos um modo de vida em que a beleza da forma é procurada sem a vitalidade e austeridade interiores do simples desapego. Não há desapego se houver um sacrifício de nós mesmos em boas obras, em ideais, em crenças. Essas atividades parecem livres do ego, mas, na realidade, o ego ainda está operando sob o disfarce de diferentes rótulos a quem muitos de nós chamam de virtude. Só a mente inocente pode pesquisar o desconhecido. Mas a calculada inocência que pode usar o palanque da respeitabilidade não é aquela paixão de desapego de que procede a cortesia, a delicadeza, a humildade, a paciência - expressões todas essas do amor que busca pelo estado de unidade e bem-estar comum.
Ao procurar gerar uma recuperação total do ser humano, precisamos obviamente levar em consideração a mente inconsciente tanto quanto a consciente. Recuperar apenas a mente consciente sem compreender a inconsciente acarreta contradição em nossas vidas, com todos os desenganos e misérias decorrentes. A mente inconsciente é muito mais dinâmica do que a consciente. A maioria dos veteranos está apenas interessada em fornecer informações ou conhecimento à mente superficial, incentivando-a para conseguir abster-se de um padrão comportamental especifico de ação e ajustar-se aos moldes da “sociedade”. De modo que a natureza exata dos conflitos humanos – a mente oculta - nunca é tocada. Tudo o que a atual busca de recuperação faz é proporcionar uma camada de conhecimento e dotá-la de certa capacidade para ajustar-se ao ambiente, o mesmo ambiente que tornou a mente doente.
Precisamos despertar a plena capacidade da mente superficial, que vive na atividade cotidiana, e também compreender a mente oculta. Ao compreender a mente oculta, estabelece-se um viver total, em que a autocontradição, com sua alternância de tristeza e felicidade, depressão e euforia, desaparece. É essencial que nos familiarizemos com a mente oculta e com seus processos; mas é igualmente importante não nos ocuparmos dela em excesso ou dar-lhe importância indevida. Só quando compreender o superficial e o oculto poderá a mente ir além de suas limitações e descobrir a intemporal bem-aventurança que surge com o despertar da inteligência amorosa e criativa.

Fonte: http://www.cuidardoser.com.br/pca/2007/08/12-observao.html

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