Hipátia (ou Hipatia)
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Hipátia de Alexandria - Provável gravura de GasparoHipátia (ou Hipácia) de Alexandria (em grego: Υπατία), matemática e filósofa neoplatônica, nascida aproximadamente em 370 e assassinada em 415.
Índice [esconder]
1 Biografia
2 Intolerância e fanatismo
3 A morte trágica de Hipátia
4 Citações sobre Hipátia
5 Obras
6 Referências
7 Ligações externas
Biografia
Hipátia era filha de Theon, um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria.
Criada em um ambiente de idéias e filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido. Diz-se que ela, sob tutela e orientação paternas, submetia-se a uma rigorosa disciplina física, para atingir o ideal helênico de ter a mente sã em um corpo são.
Hipátia estudou na Academia de Alexandria, onde devorava conhecimento: matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia e artes. A oratória e a retórica também não foram descuidadas.
No tocante à religião, buscou e obteve informações sobre todos os principais sistemas religiosos da época tempo, tendo sempre o cuidado de não permitir que essas crenças limitassem ou deturpassem a busca de conhecimento.
Quando adolescente, viajou para Atenas, para completar a educação na Academia Neoplatônica, onde não demorou a se destacar pelos esforços para unificar a matemática de Diofanto com o neoplatonismo de Amónio e Plotino, isto é, aplicando o raciocínio matemático ao conceito neoplatônico do Uno (mônada das mônadas) [1]. Ao retornar, já havia um emprego esperando por ela em Alexandria: seria professora na Academia onde fizera a maior parte dos estudos, ocupando a cadeira que fora de Plotino. Aos 30 anos já era diretora da Academia, sendo muitas as obras que escreveu nesse período.
A maioria dessas obras não chegou até nós, tendo sido destruída junto com a Biblioteca ou quando o templo de Serápis foi saqueado [2] O que sobrou provém, principalmente, de correspondências que ela trocava com outros professores e com os alunos. Um desses alunos foi o notável filósofo Sinésio de Cirene (370 - 413), que lhe escrevia freqüentemente, pedindo-lhe conselhos. Através destas cartas, sabemos que Hipátia inventou alguns instrumentos usados na Física e na Astronomia, tais como o astrolábio, o planisfério e um hidrômetro[carece de fontes?].
Sabemos também que desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto ("Sobre o Cânon Astronômico de Diofanto"), tendo escrito um tratado sobre o assunto, além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. Em parceria com o pai, escreveu um tratado sobre Euclides.
Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemáticos confusos, com algum problema em especial, escreviam-lhe pedindo uma solução. E ela raramente os desapontava. Obcecada pelo processo de demonstração lógica, quando lhe perguntavam porque jamais se casara, respondia que já era casada com a verdade. [3]
A tragédia de Hipátia foi ter vivido numa época de luta aguda entre o Paganismo declinante e o Cristianismo triunfante, que se impunha no mundo greco-romano. Ela era neoplatônica e defensora intransigente da liberdade de pensamento, o que a tornava mal vista por aqueles que pretendiam encarcerar o pensamento nas celas da ortodoxia religiosa.
Hipátia por RafaelO fim trágico se desenhou a partir de 390, quando Cirilo foi nomeado bispo de Alexandria, com a missão de destruir o Paganismo em todas as formas e manifestações. Ele era um cristão intransigente, que lutou toda a vida defendendo a ortodoxia da Igreja e combatendo as heresias, sobretudo o Nestorianismo. Acredita-se que tenha sido o principal responsável pela morte de Hipátia, ainda que não haja nenhuma prova inequívoca disso.
Por ensinar que o Universo era regido por leis matemáticas, Hipátia foi considerada herética, passando a ser vigiada pelos chefes cristãos. Por algum tempo, a admiração do prefeito romano Orestes (que fora aluno) a protegeu. Mas quando, em 412, Cirilo tornou-se Patriarca [4] de Alexandria, a sorte foi selada.
[editar] Intolerância e fanatismo
O reinado de Teodósio (379-392) marca o auge de um processo de transformação do Cristianismo, da condição de religião intolerada para religião intolerante. Em 391, atendendo pedido do então Patriarca de Alexandria, Teófilo, ele autorizou a destruição de todas as instituições não-cristãs existentes no Egito: Sinagogas, Biblioteca de Alexandria, Templo de Serápis e outros monumentos.
Embora a legislação de 393 procurasse coibir distúrbios, surtos de violência popular contra judeus e pagãos tornaram-se frequentes em Alexandria, principalmente após a ascensão de Cirilo ao Patriarcado, cuja oratória raivosa criava o clima propício a esses excessos. Bairros judeus foram atacados e a população massacrada por fanáticos cristãos, enquanto preciosos monumentos do Helenismo eram sumariamente destruídos.
O resultado dessa política foi a migração dos sábios alexandrinos para Babilônia e outras cidades fora dos domínios do Império Romano. Alexandria jamais voltou a ser o que fora: a capital cultural do mundo antigo.
[editar] A morte trágica de Hipátia
Numa tarde de março de 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos. Ela foi golpeada, desnudada e arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja. No interior do templo, foi cruelmente torturada até a morte, tendo o corpo dilacerado por conchas de ostras (ou cacos de cerâmica, segundo outra versão). Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira.
O prefeito Orestes denunciou o crime a Roma e pediu uma investigação, que jamais progrediu por "falta de testemunhas"[carece de fontes?]. Ele acabou sendo afastado do cargo.
No século VII, o bispo João, de Nikiu, nos escritos [5], justificou o massacre de judeus e o assassinato de Hipátia, ocorridos naquele ano, alegando tratar-se de medidas necessárias para a sobrevivência e o fortalecimento da Igreja. É através dos escritos que conhecemos os detalhes da morte daquela que viria a ser chamada de Mártir do Paganismo.
A morte trágica de Hipátia foi determinante para o fim da gloriosa fase da matemática alexandrina, de toda matemática grega e da matemática na Europa Ocidental. Após seu desaparecimento, nada mais seria produzido por um período mil anos e, por cerca de doze séculos, nenhum nome de mulher matemática foi registrado [6].
[editar] Citações sobre Hipátia
Sócrates, o Escolástico (em ' História Eclesiástica')
"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos."
Descrição da morte de Hipátia, pelo historiador Edward Gibbon:
"Num dia fatal, na estação sagrada de Lent, Hipácia foi arrancada da carruagem, teve as roupas rasgadas e foi arrastada nua para a igreja. Lá foi desumanamente massacrada pelas mãos de Pedro, o Leitor, e a horda de fanáticos selvagens. A carne foi esfolada dos ossos com ostras afiadas, e os membros, ainda palpitantes, foram atirados às chamas".
Carl Sagan, em "Cosmos"
"Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e a base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. A última cientista foi uma mulher, considerada pagã. O nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido a Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época."
Hesíquio, o hebreu, aluno de Hipátia:
“Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que quisessem ouvi-la... Os magistrados costumavam consultá-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.
Trecho de uma carta de Senésio de Cirene , aluno de Hipátia:
“Meu coração deseja a presença de vosso divino espírito que mais do que tudo poderia adoçar minha amarga sorte. Oh minha mãe, minha irmã, mestre e benfeitora minha! Minha alma está triste. Mata-me a lembrança de meus filhos perdidos... Quando receber notícias tuas e souber, como espero, que estás mais feliz do que eu, aliviar-se-ão pelo menos a metade de minhas dores”.
[editar] Obras
Comentário a Aritmética de Diofanto.
Sobre as cônicas de Apolônio de Perga.
Corpus Astronômico.
Inventora do densímetro, aparelho que mede a massa específica de um líquido.
Inventora do astrolábio, aparelho usado para localizar astros no céu.
Referências
↑ A teoria das mônadas sustenta que somos todos Um, porque todas as mônadas estão ligadas entre si, evoluindo e trabalhando constantemente para a expansão do Todo (Universo Infinito).
↑ Cleópatra conseguira de Marco Antônio a doação de 200 mil rolos de pergaminhos da biblioteca de Pérgamo, para compensar a perda de 40 mil volumes, no incêndio provocado por César. Parte desse acervo foi posteriormente transferido para o Templo de Serápis. Em 389, o Templo foi destruído pelo bispo Teófilo, seguindo orientação do imperador Teodósio. A maior parte do acervo perdeu-se.
↑ Segundo a enciclopédia bizantina "Suda", ela foi esposa do filósofo Isidoro.
↑ Título de dignidade eclesiástica, somente usado em Constantinopla, Jerusalém e Alexandria.
↑ "Crônicas", 84.87-103
↑ Hipátia
[editar] Ligações externas
O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Hipátia.O Wikimedia Commons possui multimedia sobre HipátiaRevista Nova Acrópole
Hypatia (em inglês).
Hypatia of Alexandria (com link (ligação) para o verbete sobre Hipátia, na enciclopédia bizantina "Suda") (em inglês).
Neoplatonismo
Filósofos neoplatônicos Amônio Sacas | Fílon de Alexandria | Hipátia | Jâmblico | Plotino | Plutarco de Atenas | Porfírio | Proclo | Pseudo-Dionísio
Conceitos básicos Emanações | Hipóstase | Monismo | Nous | Uno
Filósofos influenciados Agostinho de Hipona | Escoto Erígena | Marsílio Ficino | Pico della Mirandola
Portal de história da ciência. Os artigos sobre história da ciência, tecnologia e medicina.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%A1tia"
Categorias: Neoplatonismo | Matemáticas da Grécia Antiga | Astrónomos da Grécia Antiga | Filósofos da Grécia Antiga | Mártires | Inventores | Bibliotecários da Grécia Antiga | Cientistas da Grécia | Pré-socráticos
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%A1tia
Outros dados:
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/hipatia/hipatia.htm
http://www.agnesscott.edu/Iriddle/womem/hypatia.htm
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