Monday, December 05, 2005


1. Livros, blogs, filmes, quadros, músicas, danças e bailados, etc. - Vale mais escrever\ler/ver/pintar\ouvir/dançar um bom livro, um bom blog, um bom filme, um bom quadro, uma boa dança... várias vezes, do que muitos com pouco valor. E, o que é bom para uma criança\jovem não o é para um adulto, porque o tempo, a evolução, o crescimento e o envelhecimento são uma realidade incontornável.

2. Improvisação – “Num certo sentido, toda arte ( e vida, digo eu ) é improvisação. Algumas improvisações são apresentadas no momento em que nascem, inteiras e de repente; outras são “improvisações estudadas”, revisadas e reestruturadas durante certo tempo antes que o público possa desfrutá-las. Mesmo quando escreve música o compositor está improvisando (ainda que mentalmente). Só depois ele vai refinar o produto de sua improvisação, aplicando a ele técnica e teoria... Quando chegou a Viena, Beethoven se tornou conhecido como um surpreendente improvisador ao piano, e só mais tarde como compositor ( o que quer dizer, pergunto eu, que muitas das músicas que fez não ficaram escritas? )... Mozart talvez tenha sido o maior improvisador com pena e papel... No sec. XIX, o surgimento da sala formal de concertos pôs fim à improvisação... O novo e o velho perderam contato e continuidade... Entramos num período em que os frequentadores de concertos passaram a acreditar que os bons compositores estavam mortos... A improvisação voltou à cena neste século, principalmente ma área jazzística... As artes plásticas criaram uma tradição de “automatismo”; pintores como Wssily Kandinsky... encararam suas telas sem nenhum tema preconcebido, apenas permitindo que as cores e formas fluíssem de um impulso intuitivo e espontâneo do inconsciente... Existe em todas essas formas de expressão uma unidade de experiência que é a essência do mistério criativo. O âmago da improvisação é a livre expressão da consciência quando desenha, escreve, pinta ( ou esculpe, libertando a forma que já está na forma, como dizia M. Ângelo, digo eu...) ou toca o material bruto que emerge do inconsciente. E essa liberdade acarreta certo grau de risco... Quando me perguntam como improvisar, muito pouco do que posso dizer é sobre música (o autor é músico). A verdadeira história (da improvisação, digo eu) fala da expressão espontânea, e é muito mais uma história espiritual e psicológica do que sobre a técnica de uma ou de outra forma de arte. Os detalhes de qualquer forma de arte – como tocar um violino, escrever um texto de prosa (ou poesia, digo eu), fazer um filme ou ensinar (ou fazer política, digo eu) são naturalmente específicos... Embora certos princípios se apliquem a um campo em particular, existem outros aplicáveis a todos os campos da actividade criativa. Toda a acção pode ser praticada como arte, como ofício ou como obrigação... Como é que alguém aprende a improvisar? A única resposta possível é outra pergunta: o que nos impede? A criação espontânea nasce de nosso ser mais profundo e é imaculadamente e originalmente nós. O que temos que expressar já existe em nós, é nós, de forma que trabalhar a criatividade não é uma questão de fazer surgir o material, mas de desbloquear os obstáculos que impedem seu fluxo natural. Portanto, não se pode falar do processo criativo sem mencionar aquilo que lhe cria obstáculos... esperamos que este livro possa servir como uma bomba de sucção capaz de eliminar os bloqueios à criatividade...” In: SER CRIATIVO, págs. 19, 20, 21 e 22.
3. CRIAÇÃO - “A Era Industrial trouxe consigo uma valorização excessiva da especialização e do profissionalismo em todos os campos de atividade. Os músicos, em sua grande maioria, viram-se restringidos a executar nota por nota as partituras escritas por um grupo de compositores que de alguma forma tinham acesso ao divino e misterioso processo de criação. A composição e a execução foram se separando gradualmente, em prejuízo de ambas. Formas clássicas e populares também foram se afastando cada vez mais, novamente em prejuízo de ambas. O novo e o velho perderam contato e continuidade.” In: SER CRIATIVO, de S. Nachmanovitch
Comentário: Claro que não foi a industrialização, boa em muitos aspectos, que teve culpa destas divisões, mas sim a forma e o espírito com que estas, também boas se forem bem feitas, isto é, nunca perdendo de vista a unidade, foram feitas. E, o espírito errado com que foram feitas terá sido o da pressa e do ganho fácil e injusto.
4. PREJUÍZO – Mesmo quando alguém nos prejudica, se queremos que o mal não regresse noutras formas, o melhor é mesmo não resistirmos nem cedermos. Por mais que sejamos tentados a fazê-lo. E, assim, esta atitude equilibrada livra-nos de posições erradas e prejudiciais. É que, se quem não se sente não é filho de boa gente, quem se sente demais também o não é!!
5. NOME – Por vezes parece-me que mais não somos do que o nosso nome e as letras que o constituem. Mas, o que não pode ser uma letra, e, muito mais, uma família unida ou separada de letras!!
6. ABSORÇÃO – Não convém absorver uma coisa, pessoa ou ser só por ser surpresa ou novidade. Como é óbvio, só devemos absorver e digerir o que é bom, e, na quantidade certa. Seja em que campo for!
7. INCONSCIENTE\CONSCIENTE – Só para melhor (n)os conhecermos estudamos consciente e inconsciente separadamente, se é que os estudamos assim; porque, a sua manifestação tem de ser sempre conjunta...
8. ELEITORES e ELEGÍVEIS – “ Se no Antigo Regime a capacidade eleitoral dos indivíduos era definida a partir do estatuto social, isto é, segundo critérios de sangue, o Liberalismo, que tinha como uma das suas bandeiras a igualdade dos cidadãos perante a lei, estabelecerá critérios económicos, criando assim, uma desigualdade política fundamentada na ideia de que «um certo nível de riqueza era garantia da independência de opinião dos cidadãos que, ao mesmo tempo, ficavam ligados por interesse à coisa pública», situação bem diferente daqueles que nada possuíam, «homens rudes, ignorantes, sempre sujeitos ao suborno e dispostos à desordem»51. Portanto, a independência económica andava a par da capacidade intelectual no sentido de conferir aos indivíduos o direito de participar na vida política.” In: pág. 52 de “Elites e Finanças Municipais em Montemor-o-Novo – do Antigo Regime à Regeneração (1816-1851)”, de Paulo Jorge da Silva Fernandes – Colecção Almansor, nº 2, 1999
Comentário – O poder político é muitas vezes considerado o poder por excelência. Mas, isso é discutível. Poderes como o do conhecimento, do espírito e da mente, da integridade e da justiça, do dinheiro e dos bens, das armas, das artes... São também muito fortes. Todavia, podemos talvez, para facilidade de análise, e por muito pouco tempo, dividir, como aliás se fez durante muito tempo, o poder, todos os poderes, em dois: poder temporal, ou político, e, poder espiritual, representados, respectivamente, ao nível de país, o primeiro pelo rei, presidente ou primeiro ministro, e, o segundo pelo chefe do maior movimento espiritual. Tanto a um como ao outro (podem eventualmente ser mulheres, ou dominados por mulheres), como a todos nós, aliás, compete exercer o poder com justiça, sabedoria e bom senso. Uma pessoa não pode receber seja que poder for, de Deus ou dos homens, para os usar injusta e egoisticamente. E, os tempos mais gloriosos e de maior bem estar atingem-se quando os poderes político e espiritual estão de acordo e colaboram perfeitamente um com o outro(a).

9. RIGPA - "é um estado claro e sem distrações onde nenhum apego é possível. Nesse estado, tudo que surge não é mais que uma exibição sem finalidade e se dissolve sem deixar traço, como uma vaga no oceano ou um desenho sobre a água.Comparamos tradicionalmente rigpa a um espelho. O espelho tem duas características: ele é vazio em si-mesmo, e simultaneamente ele tem potencialidade de refletir claramente todas as espécies de aparências, belas ou feias. Essas aparências, visíveis no espelho, são incapazes de o sujar, pois ele permanece vazio por essência. Estar sob a influência da mente comum e do apego, é estar fascinado pelos reflexos e se lançar em perseguição, seduzido por uns, irritado ou desgostoso com outros. Estar no estado de rigpa consiste em contemplar a exibição dos reflexos permanecendo na condição natural do espelho, sem estar distraído. Os reflexos não têm nenhum poder sobre o espelho, e este permanece imutável e sem manchas. Assim, do ponto de vista do espelho os reflexos não criam nenhum problema. Se quando vemos as projeções, esquecemos no mesmo instante a condição natural, a ilusão se instala.
Nos textos antigos do dzogchen, em particular do [semde], rigpa é também chamado [tchang tchoup sem], quer dizer bodhichitta ou "mente de iluminação". Mas esse termo tem uma significação especial no dzogchen. [tchang] significa "totalmente puro", sendo sinônimo de [kadak]. A pureza primordial de rigpa. [Tchoup] significa "realizado", "perfeito", e evocando aqui a natureza espontaneamente realizada de rigpa [lhundrup]. [Sem] é, pois aqui a natureza da mente primordialmente pura e espontaneamente presente, e não mais a mente no sentido comum.
Rigpa é nossa condição natural, nosso modo de ser último e primordial. Presente em cada um dos seres sensíveis, se bem que velado, o chamamos também tathâgatagarbha, a "essência do tathâgatha". Dum ponto de vista último, rigpa é também Samantabhadra, o Budha primordial. Enfim, enquanto presença espontânea capaz de manifestar todos os fenômenos, o chamamos "o rei que cria todas as coisas". Todos esses termos são equivalentes e tais diferenciações são usadas somente com uma finalidade descritiva.
Um último ponto importante a propósito de rigpa. Na nossa condição comum, nós não reconhecemos rigpa, e somente [sem] nos parece ser a mente. Nos textos, falamos em procurar a "natureza da mente", [semnyi]. Descobrir a natureza da mente é descobrir que [sem] não tem realidade, que ela é vazia de existência própria, que ela não tem nem origem, nem lugar, nem destino. Mas isso não é ainda rigpa. Rigpa é apresentado ao discípulo no momento preciso quando a mente comum é temporariamente dissolvida. Se o estudante reconhece no instante esta presença vazia e luminosa, sem nenhum apego nem conceito, podemos então falar do estado de rigpa.
Assim, o Ati-yoga é o veiculo de rigpa que transcende todas as análises conceituais, todas as elaborações e fabricações mentais. Enquanto tal, ele está além de todas as opiniões e da "vias" dos outros veículos, que dependem ainda da mente pensante, [sem]. [...]
O veículo do dzogchen se inicia somente com a compreensão e a experiência de rigpa, existe um modo de transmissão de poder particular no dzogchen, que visa a apresentação direta de rigpa ao discípulo. Esta transmissão, o [rigpa tsel wang] ou transmissão de poder da energia criadora de rigpa", corresponde à quarta iniciação dos tantras, a iniciação da fala.
Existem numerosas espécies em cada uma das três séries dos ensinamentos dzogchen [semde, longde, e menagde]. Esta apresentação pode ser direta de mente a mente, simbólica ou oral. Numerosos procedimentos são utilizados. Assim existem as apresentações metafóricas, as apresentações dos sentidos, e as apresentações do signo[sinal]. Enfim, existem quatro graus de elaborações para essas transmissões de poder: transmissão de poder elaborada, transmissão de poder sem elaborações, transmissão de poder completamente despida de elaborações e transmissão de poder absolutamente despida de elaborações.
Em todos os casos, o mestre, que se encontra no estado de rigpa, tenta desvelar ao discípulo o que é seu rigpa a fim de que ele tenha a experiência direta e, sobretudo a reconheça. Este reconhecimento da visão mesmo que fugaz, é indispensável ao desenvolvimento da prática, porque, sem saber do que se trata, como poderemos "desenvolver" a presença de rigpa? A prática visa, com efeito, um único objetivo, estabilizar a visão e aumentar o poder de rigpa, afim de que ele impregne progressivamente todos os nossos atos." In: SHUNIA (Internet)
Comentário: Há por vezes a ideia do excesso não só de resignação como de passividade não só nos misticismos ocidentais, como, porventura acima de tudo, nas filosofias orientais. Isto mesmo apesar de, por exemplo, a pólvora ter sido inventada na China, e, do Oriente continuar a não ser nada passivo na feitura de filhos. Também faz alguma confusão ao emotivo ocidente, a ênfase posta no oriente no controlo das paixões. Parece-me todavia realmente que sem a profunda base da paz e do auto-controle, da rigpa, portanto, não há condição para a felicidade, a alegria e o prazer tanto do mais ser como do mais fazer ( O "taj mahal" é indiano, claro…). Aliás, a rigpa será mesmo o "o rei que cria todas as coisas".




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