Friday, May 22, 2009

Arqueologia Alterense e Monfortense

Alter do Chão ( 4 freguesias... 4 019 habitantes) revela amanhã nova descoberta arqueológica
por SERAFIM LOBATO

Um painel, no centro da vila, representando o último canto da 'Eneida' de Virgílio, vai ser desvendado amanhã, no dia do município de Alter do Chão. Um painel, no centro da vila, representando o último canto da 'Eneida' de Virgílio, vai ser desvendado amanhã, no dia do município de Alter do Chão. Alter do Chão vai fazer amanhã a divulgação oficial do último espólio arqueológico romano descoberto mesmo no centro da localidade, cujos documentos mais significativos são os monumentais mosaicos encontrados em razoável estado de conservação. Com características únicas, representa o último canto da obra de Virgílio, a Eneida, e a sua datação aponta para o século IV d.C.As intervenções arqueológicas realizadas nos últimos anos, cujos vestígios mais salientes agora se tornaram públicos, permitiram identificar um conjunto digno de nota de estruturas com características romanas que teriam sido, muito provavelmente, um conjunto habitacional bastante ampliado. O arqueólogo Jorge António, há vários anos a trabalhar no local, assinala que esse conjunto habitacional se poderá enquadrar entre os séculos II e IV d.C.Além dos mosaicos, foram descobertos objectos numismáticos, esculturas, cerâmica, quer doméstica (como por exemplo grandes recipientes destinados a conservação e transporte de alimentos) quer de construção, como telhas de vários modelos.Conforme referiu o arqueólogo, o processo de pesquisa arqueológica irá continuar, até porque os indícios já detectados apontam para uma maior extensão de um conjunto ainda submerso que pode ser desbravado.Foi durante trabalhos de obras públicas nos anos 50 do século XX, que os vestígios começaram a ser descobertos, o que levou, em 1956, a uma intervenção de escavação, onde foi encontrado o primitivo balneário, as canalizações e mesmo os primeiros mosaicos com motivos geométricos. Era normal e vulgar, os habitantes locais encontrarem, há 20, 30 anos, "moedas antigas" quando andavam a pastar o seu próprio gado no local. Entretanto têm sido escavados noutros locais do centro de Alter do Chão vestígios de períodos antigos, como uma necrópole tardo-antiga, cujos trabalhos não estão terminados. Vestígios localizados numa zona desabitada e em ruínas, mas que tem uma certa importância histórica, pois nela foram encontrados materiais que vão dos tempos romanos dos meados do século I DC até enterramentos que teriam sido consumados nos séculos VII-IX, ou seja quando aquele território já estaria sob ocupação árabe.Um dos espólios descobertos diz respeito a uma placa funerária, cujo epitáfio se refere a uma senhora de nome Sentia Laurila, que viveu no século I d.C. e que foi encontrada à cabeceira de uma sepultura, cuja datação, por radiocarbono, de um dos ossos enterrados, o situa nos finais do século VIII, princípios do IX. Esta necrópole era cristã, mas a região, nessa altura, já estava sob a alçada moura, possivelmente com uma ocupação muito lassa, do ponto de vista administrativo.De acordo com o estudo do epitáfio em que participaram o arqueólogo Jorge António e o catedrático José d`Encarnação, verifica-se que a mulher terá morridos aos 85 anos. Na placa, são identificados os seus herdeiros. Aqueles investigadores admitem que o nome Laurila tem ascendência indígena. Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1237931Circuito turístico vai integrar este património arqueológicoAmanhã, depois da inauguração, será colocada a questão: como preservar e dar relevo aos documentos arqueológicos expostos e, naturalmente, outros?O Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Alter do Chão, pela voz de Jorge António, tem um projecto que denomina Via Hadriana para "recuperação, valorização e promoção histórico e arqueológico", visando "a criação de um circuito turístico integrado de visitas e animação cultural" no concelho.Para aquele gabinete, "é indiscutivelmente um projecto bastante ambicioso, estruturante, de longo prazo e deve assumir-se como uma referência para todo o Norte alentejano". Ou seja, na sua especificação: "pretende-se a fruição pública imediata ao património a intervencionar, aos laboratórios de Arqueologia e Antropologia, às reservas e ao laboratório de conservação e restituo, apostando fortemente no aumento do fluxo turístico e na sensibilização dos visitantes e da população local para a importância do património do concelho".Do ponto de vista do arqueólogo Jorge António, há nove anos a trabalhar em Alter do Chão, os vestígios romanos encontrados em vários pontos desta localidade, bem como a existência ainda hoje de uma ponte autenticamente romana - talvez a única do país, conhecida como 'A Ponte de Vila Formosa', situada sobre a ribeira de Seda (monumento nacional desde 1910, mas a necessitar de urgentes trabalhos de manutenção que, caso não se façam rapidamente, podem vir a contribuir para a sua deterioração), levam a admitir que todo esse conjunto arqueológico edificado poderá ter uma correspondência com a antiga Abelterium, de origem romana, um tecido urbano já de certa dimensão, que tem levado os investigadores a prever que possa ter sido uma sede de civitas.Um dado curioso, no entanto, é que até agora, nas escavações já empreendidas nesta, como noutras regiões vizinhas, também de grande dimensão, não tenham sido encontrados objectos de cariz militar.Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1238229Outros vestígios romanos a caminho de MonfortePontes romanas sugerem a existência de uma antiga estrada que, na época, asseguraria a ligação de Monforte a Alter do Chão.A apenas 20 quilómetros de Alter do Chão, na estrada que liga este concelho a Monforte, e não muito longe da estrada, no interior de um antigo latifúndio, está situada uma das maiores villas romanas descobertas na Península Ibérica: a villa romana de Torre da Palma.Todas as indicações e vestígios apontam que este grande aglomerado teve uma ocupação contínua desde o século I d.C. ao século VI, tendo ao longo dos séculos estado na posse de diversas famílias . Os Basilli - admite-se - terão sido a última família proprietária da villa, cujo período áureo, segundo os investigadores, se situaria no século IV.O arqueólogo e historiador Manuel Heleno fez os primeiros trabalhos de escavações. Nesta altura, descobriram-se importantes mosaicos, que foram dali retirados e levados para o Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia (reproduções podem ser vistas no centro de Vaiamonte).Por essa altura, escavou-se a área residencial da villa, foram encontrados dois cemitérios visigóticos, descobriu-se uma área dedicada ao deus Marte e tiveram lugar as primeiras escavações de uma basílica paleocristã, bem como foi posto a descoberto um grande baptistério em forma de Cruz de Lorena, anexo à citada basílica.Do que os investigadores puderam identificar esta villa foi criada em duas partes separadas. A parte urbana, ou doméstica, era onde girava a vida diária da família patriarcal. Depois há uma parte rural, onde se notam restos de apetrechos ligados à actividade agrícola: lagares, um deles para vinho, um poço, uma prensa, diversas dependências de armazenagem e os locais onde habitavam a mão-de-obra, provavelmente escrava. Foram encontrados objectos de várias expressões artísticas (pintura, escultura, estatutária, entre outros). Os mosaicos, que estão em Lisboa, são dignos de serem vistos. Estão muito ligados à mitologia grega.Quando depois nos dirigimos para Monforte, encontramos a chamada Ponte da Vila. Localiza-se na Ribeira Grande ou de Monforte, próximo do Rossio da vila. Deve ter sido um ponte romana típica. Verifica-se hoje que sofreu muitas alterações. Apresenta, agora, sete arcos todos de volta perfeita (cinco grandes e dois pequenos).O vereador Gonçalo Nuno disse-nos que no século passado a ponte sofreu várias modificações que mudaram bastante o traçado primitivo. Admite, no entanto, que esta via deveria servir de ligação na movimentação entre Olisipo (Lisboa) e Emérita Augusta (Mérida). Ou seja, deverá haver restos de uma antiga estrada entre Monforte e Alter do Chão, que serviria as duas pontes.
Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/int...ent_id=1238227

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