Wednesday, April 19, 2006


Uma gripe de aviário...

"Nós somos sepulturas vivas de animais assassinados, abatidos para satisfazer os nossos apetites. Como podemos esperar, neste mundo, pela paz que tanto ansiamos?"
George Bemard Shaw (Living Graves, 1951)

Em matéria de agitação mediática, a opinião pública é aturdida com a gripe dos aviários, com a doença das vacas loucas, com a brucelose, com a peste suína, com os mil e um vírus que decidem, de uma hora para a outra, infestar o mundo dos humanos coitadinhos.
Já que não há consciência, haja ao menos vergonha e reconheça-se que todo esse holocausto a que estamos a assistir - com abates que evocam os grandes genocídios da História­é da pura e simples responsabilidade do nosso comportamento para com os animais nossos companheiros de viagem no planeta Terra. Do nosso carnivorismo devorador. A famosa fome do 3º Mundo em grande parte deriva também dai: o abismo entre pobres e ricos, mantido pelos blocos hegemónicos que disputam os recursos da Terra, é agravado pelos absurdos hábitos alimentares que colocam a carne no topo da alimentação proteica, quando ela devia e podia estar apenas como um complemento a ser usado em último recurso e em condições especiais de necessidade de sobrevivência (o caso tão conhecido dos esquimós).
Os naturistas, vegetarianos e vegans já provaram, pelas ideias e pelo comportamento, que as alternativas vegetais, nomeadamente a soja, à proteína cárnea são simultâneamente mais saudáveis e mais económicas. Bastava desperdiçar menos recursos e haveria proteína para todos. Mas como o desperdício acciona os mecanismos do lucro, o busílis reside aí e os animais continuarão a ser sacrificados assim como a Amazónia, o tal pulmão verde da Terra que está no centro desta problemática «proteica», com os hamburgers à espreita (ironicamente, a desvastação das florestas amazónicas serve agora também para cultivar soja, não para alimentar os humanos mas sim para alimentar os animais que vão alimentar os humanos...).

A Natureza acaba por responder aos atentados ecológicos contra as espécies ­esperam alguns - mas responde devagar e mansamente. Gripe de aviário, vacas loucas, brucelose, peste suína, não são epidemias suficientes que travem a perversidade humana relativamente às espécies que neste planeta são seus companheiros de eleição. Um mundo sem animais seria mais aterrador ainda do que é. Mas nunca deixará de ser aterrador enquanto não houver uma viragem de 180 graus nos hábitos de relacionamento inter-espécies, a começar nos hábitos alimentares. Viragem que é o famoso Novo Paradigma que alguns hoje propõem como única saída para o holocausto.
A sociedade de consumo está cheia de «necessidades» artificialmente criadas ou de coisas supérfluas que se institucionalizam como necessárias. O desperdício do luxo e do lixo é o que está matando o planeta e tudo o que nele vive.



Fonte: Espiral - Centro Natural Praça Ilha do Faial, 14-A/B e 1.3-C (Jardim Cesário Verde, à Estefânia) - 1000-168 Lisboa - T. 21-355 39 90 - F. 21-355 39 99 Site: www.espiral.pt - E-mail: info@esplral.pt-Blog:daespiral.blogspot.com

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