MONTARGIL MEDIEVAL
Montargil
Povoação fundada por D.Dinis, este rei outorgou-lhe foral em 1315.(161)
As razões para a sua fundação ter-se-ão prendido à necessidade de povoamento das vastas áreas do interior do território, não desempenhando portanto qualquer papel defensivo. Aliás, será este o motivo para a inexistência de qualquer fortificação visível na actualidade ou relatada em documentação sobre a vila.(I)
Essa necessidade de povoamento era aliás manifesta em toda a região pois, como no-lo diz Lopes Correia “...a região era bravia e infestada de animais selvagens...” e, mais adiante, “...a chamada Coutada Velha ... se estendia desde Montemor-o-Novo até Montargil...”.
Várias são as hipóteses apontadas para a origem do topónimo, ainda que nenhum autor seja conclusivo relativamente a qualquer delas. Assim o Pe. Carvalho adianta que “...Na França há uma cidade chamada Montargis.
Pode ser que algum francez... (vindo para estas paragens) ... fosse de Montargis...”, enquanto Pinho Leal propõe que “...o seu primitivo nome foi Monte-Argel e vinha de ser Monte do Infeliz, porque no antigo português Argel significava mofino, infeliz, desgraçado...”. Supomos que não ser de excluir a hipótese do Pe. Carvalho, não nos termos em que a coloca, mas sim no povoamento feito por colonos oriundos de Montargis.
Posição e sítio
Como já foi referido, cremos tratar-se de um simples povoamento de terras bravias pelo que não há qualquer razão de índole comercial ou militar que esteja subjacente à localização.
Já no que diz respeito ao sítio, verifica-se que se procurou um outeiro que domina um vasto território, cuja elevação estaria sobranceira à ribeira de Sôr. Mesmo hoje, ao fundo a capela onde, segundo a tradição local, terá sido o edifício dos primitivos Paços do Concelho. tendo subido o nível da água com a construção da barragem, Montargil surge-nos relativamente elevado.
Traçado e crescimento urbanos
Diz a tradição que a vila teve origem num morro a sul, onde a actual capela seria o edifício dos Paços do Concelho, à volta do qual, de uma forma “orgânica” se teriam disposto as casas e arruamentos. Desconhecemos em que factos se baseia esta tradição mas, a aceitarmo-la, a vila fundada por D. Dinis não passaria de um pequeno lugar como Montoito, (fundada em 1270).
Ora Montoito, à semelhança de outras pequenas povoações alentejanas, foi efectivamente fundada no séc. Xlll, mas sob a forma de colonização de herdade, permanecendo o latifundiário na posse da terra. Outras houve em que D. Dinis outorgou foral, mas elas já tinham existência como pequeníssimos aglomerados.
Não conhecemos, contudo,fundações reais com as características que a tradição atribui a Montargil. Deste modo, cremos que aquela aglomeração seria um povoado pré-existente que serviu de “base” para a fundação dionisina, pois a malha urbana que se estende desde o outeiro já referido, até ao morro onde foi implantada a igreja de Sto. Ildefonso é em tudo semelhante às fundações da baixa Idade Média no Alentejo, como por exemplo Ourique.
A partir do morro norte, onde se implantou a igreja Matriz, foi estabelecida uma malha ortogonal, formada por três ruas longitudinais, no sentido norte-sul,e duas travessas de ligação entre aquelas. Nesta estrutura a rua central implanta-se na linha de festo de uma crista que, descendo no sentido sul, apresenta também declives laterais.
Não se tratando de um alargamento (a tradicional formação do largo) de uma rua ou travessa, mas antes duma criação integrada no plano préestabelecido, a Praça da Vila abre-se entre a rua central (Direita) e a sua paralela poente, sensivelmente a meio da maior extensão da vila.
Em período posterior, a vila ter-se-á expandido no sentido sul pelo prolongamento da rua central e da sua paralela nascente, (acabando esta por entroncarna primeira, em cunha). Este crescimento fez-se por atracção natural que a capela localizada no morro sul - onde a tradição situa a primitiva Montargil - constituía, adoptando a vila, desta forma, o perfil de dupla bossa tantas vezes evidenciado pelas vilas alentejanas.
Também quando o núcleo original se expandiu para nascente, fê-lo pelo entroncamento de duas ruas, a central e a sua paralela norte que, convergindo, contiveram o espaço de trocas comerciais que desde sempre se estabeleceu no Rossio.
Equipamento
A igreja Matriz, implantada no ponto mais elevado do assentamento urbano, conformava e limitava o próprio perímetro da vila, além de constituir um referente visual e estruturante do próprio
território próximo.
No extremo oposto da rua da igreja Matriz - referimo-nos à malha urbana inicial -, situa-se a igreja da Misericórdia a qual, supomos, terá sido precedida pelo templo da irmandade do Espírito Santo e respectiva albergaria.
Na Praça da Vila situavam-se os Paços do Concelho, cujo edifício foi demolido há pouco tempo. Supomos que, dada a diferença de nível existente entre as duas ruas que o confinavam - a central e a sua paralela poente -, a cadeia se situasse em cave com fachada desafogada para a rua a poente.
Albergaria/hospital
Mais diversa é a localização da albergaria/hospital. Ora se situa no arrabalde (Alandroal, Aljustrel, Estremoz, Moura e Veiros), ora na Praça da Vila (Alegrete, Arronches, Barbacena, Nisa, Ourique, Pavia e Redondo), ora na extremidade da vila, eventualmente por razões higiénicas (Viana do Alentejo, Monforte, Évoramonte, Montalvão), ora na rua Direita (Alcáçovas, Terena, Montargil, Marvão) ou ainda no interior da cerca, mas no extremo oposto à Praça (Borba) e no rossio (Almodôvar e Vila Nova da Baronia).
Antecedentes urbanos
-, algumas daquelas fundações fizeram-se sobre traçados pré-existentes legados pela
civilização romana e pela civilização muçulmana. Monforte, e também Serpa e Veiros, pelas
características de traçado que apresentam, podem identificarse como povoações com origem na primeira daquelas civilizações. Embora coloquemos algumas reticências relativamente às segundas, onde só uma investigação
Em Serpa, se por vezes ainda é perceptível o traçado romano, na maior parte do tecido urbano ele foi alterado ao longo dos séculos pelos utentes do espaço urbano.
Se em Monforte (acima) a opção foi encerrar através de um "óvulo" uma parte do tecido recticulado, já em Veiros (pág. seguinte) a Vila medieval muralhada parece ter-se remetido para um extremo da malha quadriculada, encerrando apenas uma parte de um quarteirão.
se em Serpa “...Aos traçados romanos do Cardus e Decumanos Máximos, mais
irregulares devido à topografia, sobrepõem-se as distorsões medievais.” 21, já em Veiros - se se considerar como romana a malha ortogonal que se estende para leste do castelo - o cardo e o
decumano máximos são perfeitamente visíveis: o primeiro vindo de Elvas e dirigindo-se à ponte romana sobre a ribeira de Ana Loura, a poente, o segundo no sentido Estremoz/Monforte. Aos traçados das três povoações é comum uma das dimensões dos quarteirões, ou seja, a distância média entre decumanos é de 70 metros, variando a distância entre cardos de 32 metros em Monforte, 44 metros em Veiros e os mesmos 44 metros em Serpa, se bem que aqui já pouco visíveis.
No tocante às pré-existências de origem muçulmana, pese embora no que se refere à edificação nada ou quase nada ter restado, subsistem os traçados de pequenos núcleos junto aos locais dos castelos de Ourique, Almodôvar e Serpa, a relação entre a alcáçova e a medina em Moura e Marvão e o labiríntico traçado - também consequência do acidentado do local de implantação - em Mértola.
Planeamento urbano
Assim distinguem-se as povoações que apresentam um traçado de ruas praticamente paralelas - correspondente a uma efectiva intenção de plano -, daquelas cujo paralelismo das artérias é apenas sugerido, sendo estas na realidade convergentes num ponto. Estão na primeira situação Arronches, Barbacena, Beringel, Evoramonte, Marvão, Montalvão, Montargil, Ourique, Terena, e Vila Boim, relativamente a algumas das quais é curioso verificar o paralelismo com o traçado urbano de algumas realizações espanholas e francesas coetâneas e na segunda Aljustrel,
Almodôvar e Crato.
Relação entre a área da praça e a área urbana
não há uniformidade na relação entre a área da praça e a área urbana. Em quadro anexo relaciona-se a área da povoação, muralhada ou não, com a área ocupada pela respectiva Praça, concluindo-se que aquela relação varia de 0.7% (em Montargil) até 8.5% (Monforte), se bem que na grande maioria das povoações abordadas aquela percentagem se situe entre os 1 e os 2% (7 povoações) e entre os 3 e os 4% (8 povoações).
Tipologia da praça
Nas vilas de Montalvão, Montargil, Ourique, Pavia e Vila Nova da Baronia, a tipologia da praça rectangular é um espaço não construído entre duas ruas paralelas. Nestas praças a largura é variável e pode corresponder, ou não, ao alargamento de uma travessa.
Notas:
(I) - Há uma referência do general João de Almeida, na obra "Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses" à existência de uma castela em Montargil
(II) - ver desenhos e fotos na fonte (págs 99 a ...)
Fonte:http://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstre...20Alentejo.pdf
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